Well Be Alright! escrita por CrisPossamai


Capítulo 3
Educação Especial




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Ela olha no relógio pela terceira vez e confirma que teria mais de uma hora disponível antes do horário combinado para o ensaio. Contudo, o som emanava justamente da sala do coral. Rachel Berry, então, apressa o caminhar para averiguar o que de fato estava acontecendo. Normalmente, ela permanecia sozinha no estúdio até a hora marcada. O que diabos estava sucedendo? Palmas sincronizadas, gritinhos eufóricos, barulhos indecifráveis e múltiplas vozes se mesclam com certa harmonia em uma espécie de canção. Quem ousaria praticar um número musical sem a sua presença? A surpresa está estampada no rosto da garota ao encarar metade dos integrantes do New Directions causando a algazarra.

_ O que vocês estão fazendo? Ainda falta uma hora para o ensaio!

_ Já passou pela sua cabeça que a Terra gira em torno do sol e não do Planetinha Berry? – provoca Santana provocando a gargalha dos colegas.

_ Relaxa, Rach. Nós só estávamos improvisando um som para embalar os passos do Mike e do Dan! Você precisa ver como esses caras se movem! – explica Mercedes.

_ Não é nenhuma novidade que o Mike é o nosso melhor dançarino. – concorda a menina recebendo um sorriso do asiático _ Mas, quando é que você começou com isso?

_ Desde que nós humilhamos o Vocal Adrenaline com alguns passos de funk que eu mostrei? – estranha o brasileiro.

_ Não! Quando é que você se tornou concorrência para o Mike Chang? – insiste no assunto.

_ È verdade, eu mesmo não consigo fazer saltos mortais com tanta facilidade. De onde   saíram essas acrobacias? – questiona o dançarino.

_ Ah... Os saltos... – o garoto passa a mão pelos cabelos _ Eu pratiquei capoeira por anos no Rio de Janeiro. – ninguém compreende a explicação _ A capoeira é uma arte marcial brasileira. É uma mistura de dança, jogo e luta, entendem? Os saltos, o gingado e o batuque fazem parte da capoeira.

_ Certo... Nós devemos esperar por mais palestras ou o que? Saber saltar não vai nos beneficiar nas seletivas, Daniel. Você seria capaz de acompanhar ou incrementar os movimentos de dança do Mike? – desafia a principal solista.

_ Nós podemos improvisar... Alguma sugestão de música, cara? – incentiva Daniel.

_ Uma batida característica do hip hop cairia bem. Brittany e Tina, vocês se importam de nos ajudar nessa? – convida educadamente o dançarino.

_ Eu tenho a música perfeita! Puck, você sabe levar Movin do Group 1 Crew na guitarra? – ele confirma _ Artie, eu preciso do seu lado rapper desta vez! – Mercedes organiza o pequeno número.

Hey, if you really wanna move

Hey, hey, you got to get movin'

Aos poucos a impaciência de Rachel é substituída pela admiração ao talento dos companheiros, especialmente, as inesperadas performances acrobáticas do brasileiro. Normalmente, o rapaz se recusaria a uma exibição com mais destaque o que, definitivamente, não fazia sentido para a judia. Se alguém tem algum talento porque não mostra-lo sempre que possível? Ao constatar que conhecia a canção o impulso é se juntar à cantoria de Mercedes e Santana no refrão.

O entrosamento do quarteto de dançarinos entusiasma o restante a arriscar passos e a ovacionar o brasileiro a cada salto mortal executado com maestria. Logo, o quarterback adentra ao recinto e sem quebrar a atmosfera se posiciona na bateria e depois de conferir com Puckerman a levada mais adequada se junta ao improviso.

Yeah, on your mark, get set, here we go

Time to make your future unfold

And put aside what's killing your growth

You know what's best for ya so let's go

A porta se abre mais uma vez e o inesperado atinge o último casal de componentes a ingressar na rara mobilização espontânea e conjunta do New Directions. Intimidado com as proezas dos dois metidos a dançarinos, Sam prefere apanhar um violão e acompanhar os amigos apenas na melodia. Quinn não esconde o fascínio em observar o forasteiro tão a vontade e despojado da costumeira armadura. Ele parecia tão mais leve e bem consigo mesmo que despertou uma pequena centelha de ciúme na loira, por não ser a responsável diretamente por essa aparente libertação. O conflito interno é cessado com a interferência de Mercedes em puxá-la para dentro da brincadeira.

oh don't have to wait anymore

You don't have to wait anymore, it's all yours for sure

It's time to take a step through the door

Let your faith walk it out now, walk it out now

Ao ter certeza de que os vestígios de barulho musical tinham origem exatamente em sua sala de ensaio, Will é forçado a olhar novamente o relógio e confirma que ainda faltavam 15 minutos para o horário combinado com os estudantes. Geralmente, Rachel ou Kurt chegavam adiantados para repassar alguma canção e palpitar ainda mais nos exercícios semanais. A sensação de pesar domina o maestro ao recordar do aluno em particular e na resolução drástica do caso de bullying mais complicado da história da escola. A grata surpresa do professor é testemunhar uma apresentação improvisada de hip hop com a participação dos doze integrantes do grupo. O docente optar por acompanhar o pequeno número de maneira discreta para não quebrar a incrível sintonia dos adolescentes. A ocasião não poderia compactuar melhor com seus planos para as Seletivas. Os argumentos de Emma não poderiam estar mais certos.

_ Me deixe adivinhar o roteiro para a competição. Finn e Rachel vão fazer uma balada, certo? Vão ser seguidos pelas outras crianças em um número de rock clássico e Mercedes vai arrasar gritando a última nota. – ele parece surpreso com a descrição exata _ É o que você sempre faz. Vocês são uma constelação de estrelas e eu odiaria pensar que você pode estar ignorando algumas só porque o brilho não é tão obvio como os outros.

As palavras da conselheira estudantil ecoaram na mente do professor de espanhol, modificando radicalmente o planejamento para o confronto de corais programado para o final de semana. Porém, a concentração imediata está direcionada para a performance espetacular realizada a sua frente. A atenção se foca brevemente em seu protegido e o orgulho floresce ao perceber o progresso que o rapaz havia feito nas poucas semanas desde seu regresso a cidade. E é impossível conter o sorriso ao notar a significativa troca de olhares entre Mike e Daniel. Obviamente se tratava de um sinal para alguma manobra combinada. E que manobra! Os garotos encerram a apresentação executando dois mortais com uma sincronia invejável.

A comemoração pela excelente improvisação é geral e as palmas servem para atentar aos alunos da presença do adulto no recinto. Will não poderia estar mais contente com a união e o talento de seu Glee Club, entretanto, a harmonia não duraria muito.

_ Apresentação espetacular, pessoal! Eu fico cada vez mais orgulhoso de vocês... Principalmente, deste cara! – aponta para o brasileiro _ Esse tempo todo se escondendo? De onde saíram esses saltos? Incrível! Eu vou cobrar um solo em breve, Daniel!

_ O que eu posso dizer? Faz parte do meu show... – brinca mencionando a música do genial Cazuza _ Piada nacional. – explica pela referencia não ser captada por ninguém.

_ Novidade! Você é péssimo para fazer piadinhas... – Quinn solta divertidamente, ele intensifica o sorriso ao encará-la.

A suspeita estava certa. Desde o retorno, Willian acreditava que a ligação entre Dan e Quinn havia se tornado muito mais profunda que a simples troca de ajuda escolar. A maneira com que a menina reagiu no retorno do rapaz, os olhares discretos, a tristeza do estrangeiro com a confirmação do suposto namoro com Sam e a intimidade da jovem em debochar publicamente do mais introspectivo integrante do New Directions era a peça que faltava para completar o quebra-cabeça. A última pendência era encontrar uma forma para que o forasteiro lhe revelasse todo o envolvimento por livre e espontânea vontade. Apesar da boa convivência que mantinham era perceptível que o menino desenvolvera um bloqueio para confiar plenamente ou depender exclusivamente de um adulto.

A prova da dificuldade patológica do garoto ocasionou o primeiro conflito entre os dois ainda no quarto dia em Lima. Daniel havia arrumado um emprego no Breadstix e frustrado o professor que deseja sua dedicação apenas aos estudos, pelo menos, até colocar o conteúdo escolar em dia. Com a carga horária dispensada ao serviço, os treinos de atletismo e aos ensaios do Glee Club o rapaz estaria sobrecarregado e inapto para se focar na escola. A repetência sempre foi um dos maiores receios do educador, independentemente do aluno em risco. Agora, com o perigo rondando o seu protegido legal, a aflição triplicava. Mas, tudo em seu devido tempo. As Seletivas eram prioridade naquela semana.

_ Nosso foco é inteiramente nas Seletivas. Em primeiro lugar, a nossa concorrência é formada por clássicos corais de bancos, ou seja, ótimas vozes, mas, totalmente parados. Agora, se quisermos vencer temos que fazer o que não conseguem: dançar. Por isso, eu decidi usar os incríveis movimentos de Brittany e Mike Chang em nossa apresentação. – a dupla comemora – Só que por causa das descobertas do pequeno improviso desta tarde, eu espero que Daniel e Tina possam ajudá-los na coreografia. – o quarteto celebra.

_ Espera. Eles vão dançar na minha frente enquanto eu canto o solo? – questiona Rachel.

_ Você não terá um solo nesta competição, Rachel. – assegura Will para o espanto de todos.

_ Finalmente! Então, qual música eu irei cantar? – se anima Mercedes.

_ Eu estava pensando que os vencedores do campeonato de duetos poderiam tomar as rédeas. – sugere o maestro.

_ O Ken e a Barbie? O que está tentando com isso? – gagueja irritada Rachel.

_ Pela primeira vez, eu tenho que concordar com a Berry! O Will só pode estar me sacaneando! – sussurra o brasileiro para a Mercedes, que não esconde a insatisfação.

_ Você costumava ser apenas desagradável, mas, agora eu tenho vontade de te dar um soco toda vez que você abre a boca! – provoca a loira.

_ Escutem! Eu estou há um ano falando sobre todos se sentirem especiais e a apresentação de vocês serve para comprovar o extraordinário talento que cada um possui. Francamente, eu não tenho demonstrado muito, mas, isso vai mudar! – justifica Willian.

_ Eu sou a favor de animar o time, fazendo todos se sentirem especiais, só que isso é para praticar. Não se tira o quarterback antes do grande jogo. – contesta Finn sob clara influência da namorada.

_ Você é tão hipócrita! – protesta Santana.

_ Como se você soubesse o que é isso! – Rachel sai em defesa do amado.

_ Isso significa que o seu namorado é uma bela porcaria, hobbit! – a latina dispara provocando a risada dos demais.

_ Quer saber? Desde o casamento você tem pegado no meu pé e estou cansada disto!

_ Relaxa, Rachel, ela não vale a pena! – Finn tenta argumentar com a jovem.

_ Sério? Porque não foi isso que você pensou ano passado naquele quarto de motel. Isso mesmo, anã. O seu docinho tem mentido para você, pois nós transamos no ano passado! – a declaração cala a pequena solista.

_ Chega! Eu já disse que vamos nos concentrar apenas nas Seletivas! Mike, Brittany, Dan e Tina, vamos começar com a coreografia? – Will tenta apaziguar os ânimos.

O professor entra em casa e o primeiro pensamento que lhe ocorre é o problema apresentado pelo diretor Figgins após a inscrição do Glee Club: participantes insuficientes. Com a saída de Kurt para a Academia Dalton, a questão parecia estar solucionada com a volta do seu ilustre hospede. Só que as coisas sempre pioram para o New Directions, certo? O tempo de matricula de Daniel estava abaixo do estipulado no regulamento da competição. Os estudantes deveriam freqüentar a escolar participante há no mínimo três meses para evitar possíveis fraudes, entretanto, não estavam descartadas inscrições de novos integrantes nas vésperas das Seletivas se cumpridas todas as exigências. Por isso o pedido para que Puck conseguisse usar sua aparente popular na escola para influenciar alguém a preencher a vaga restante.

Apesar da fama de encrenqueiro, o time de futebol não se intima e nem se compadece com a proposta do bad boy, que acabou sendo alvo de trote. Preso em um banheiro químico, Puckerman é salvo por Lauren Zizes, uma jovem grandalhona e extremamente auto-confiante. A moça aceita se juntar ao coral com a condição de que desse alguns amassos no garoto do moicano. Impressionado pela mudança no comportamento de seu estudante mais polêmico, Will recepciona a nova componente e agradece o empenho do rapaz.

Restando poucos dias para a estréia oficial do Glee Club na nova temporada de competições, o clima pesa entre os participantes e o caos impera com a ruína do relacionamento entre Finn e Rachel, a confusão armada pela menina que não aceita ser mera coadjuvante nas Seletivas e as constantes provocações de Santana. A atmosfera não estava nada agradável no ensaio. Mesmo assim, Brittany e Mike conseguem empolgar o restante do grupo não envolvido nas tramóias sentimentais com o trabalho efetuado para a coreografia. Dan e Tina dão o suporte necessário para que a performance da dupla principal seja excepcional.

Com a aproximação da competição e o aumento da pressão sobre os ombros dos dançarinos, o peculiar humor de Brittany se torna uma válvula para suavizar os encontros do quarteto. Aos poucos, o brasileiro se sente mais confortável para permitir que a relação com os três tome trejeitos de amizade. A inocência da cheerio desarmou o forasteiro que sempre admirou a facilidade com que a garota enxergava o ambiente no Willian McKinley. A calma e a camaradagem por parte de Mike também não passaram despercebidas. O asiático era extremamente tranqüilo para lidar com qualquer situação mesmo nas inúmeras discussões com a namorada. Tina. A teoria de que os opostos se atraem se encaixava perfeitamente no casal. A garota era genuinamente original. Os colegas de coral viraram amigos e o forasteiro nada pode ou quis fazer para impedir. O impasse é que amigos podem cobrar de amigos e agora, isso incluía o introvertido tupiniquim.

_ Eu tenho uma pergunta para você e exijo a verdade, Daniel. – intimida a asiática antes do sinal para a aula de matemática _ Você tem participado de todos os ensaios de dança?

_ Não, porque nós decidimos que eu faria apenas uns saltos durante a coreografia do Mike e a Brittany, lembra?

Artie se aproxima da dupla e tencionava cumprimenta-los ao interrompido pela enfurecida asiática.

_ Nós temos um grande problema! – grita a garota para o cadeirante.

_ Eu não estou envolvido, não é? Então, eu vou deixar vocês conversarem e me apressar para o... – a menina interrompe novamente.

_ Você fica! – ele aceita a ordem _ Mike e Brittany estão tendo um caso. – o deficiente físico revira os olhos _ Você não reparou que ela tem te ignorado ultimamente? Eles estão inseparáveis!

_ Eles vão fazer um número juntos nas Seletivas e precisam se preparar! – Artie continua incrédulo.

_ Eu e o pula-pula também estamos incluídos neste número, mas, não estamos participando nem da metade destes malditos ensaios! Não é verdade? – vira-se para o brasileiro.

_ Por que diabos as pessoas inventam apelidos para mim? E sim, é verdade. Só que eu já expliquei! A minha parte na coreografia se limita a uns mortais durante a dança! – irrita-se Daniel.

_ Desculpas! Eu beijei o Mike e o tinha gosto de brilho labial, sabe quem usa isso? Brittany.

_ Ela não liga em dividir, eu mesmo adoro pegar os brilhos labiais dela emprestados. É como o doce dos seus lábios.

_ Honestamente, eu gostaria muito de continuar ouvindo essa discussão idiota de vocês... Mas, eu tenho treino em 10 minutos e se eu não me apressar vou passar a próxima hora dando voltas em uma pista de 400 metros! – esbraveja o estrangeiro.

_ Espera! Artie, ela é uma líder de torcida e ele, um jogador de futebol... Nós nunca tivemos uma chance real com nenhum deles... – Tina justifica a preocupação e encerra a conversa.

_ Ei! Eu já fiquei com duas lideres de torcida... E... – Artie também se afasta _ Ótimo! Atrasado e falando sozinho... Falta alguma coisa para coroar essa incrível quinta-feira? – pensa em voz alta.

O celular vibra em seu bolso e, discretamente, ele apanha o aparelho para conferir o que havia acontecido. Mensagem de Puck. O dia não poderia ficar pior. Como era previsto, o rapaz chega depois do horário estabelecido pelo treinador e é obrigado a pagar exercícios extras para compensar. Do outro lado do espaço esportivo escolar, as cheerios praticam a mais nova coreografia e os jogadores de futebol americano realizavam seu brutal treinamento. O atleta contorna a parte da pista próxima do time comandado pela treinadora Beister e balança a cabeça contrariado pelas diferenças gritantes entre o esporte americano e a paixão de sua pátria pelo futebol jogado com os pés.

Imediatamente, a saudade preencheu a mente e o peito do adolescente que há mais de um ano não pisava em solo brasileiro. As poucas notícias que recebia do lado verde e amarelo das Américas era através da internet ou dos raros telefonemas da mãe ausente. Ela estava morando provisoriamente com uma prima distante e trabalhando como empregada doméstica em uma casa de classe média alta. Patrícia Aragão jamais ousou questionar sobre o paradeiro do homem que a abandonou grávida e achava que estava cumprindo o papel de pai concedendo o nome a certidão de nascimento e enviando cartões de Natal com míseros cem dólares. Não é estranho concluir que o menino nunca sequer se aproximou das notas estrangeiras. As primeiras cédulas de dinheiro norte-americano que Daniel segurou foram correspondentes ao seu miserável salário no antigo emprego. 

A treinadora do esporte brutal levanta os olhos para corrigir uma estúpida formação que o quarterback havia errado novamente e se impressiona com o vigor com que um estudante seguia correndo na pista de atletismo há mais de 20 minutos. Ela reconhecia o menino de algum lugar... A recordação da confusão no vestiário masculino protagonizada por Karofsky reforçou a boa impressão sobre o desconhecido. Beister retorna a atenção para seu próprio treinamento e bufa por ter que repetir a mesma ordem pela quarta vez para o atrapalhado Hudson. Exatamente setenta minutos depois, a técnica finaliza a pratica ao mesmo tempo em que a equipe de atletismo abandonava a pista. Ela nota o aceno de Puck para o rapaz observado.

_ Puckerman, - o encrenqueiro corre ao ser chamado _ O aluno que você cumprimentou agora também está no Glee Club? – ele confirma _ E estava na briga com David Karofsky, não é? – o bad boy reluta em responder _ Eu não vou colocar o seu amigo em apuros, fique tranqüilo. Só fiquei impressionada pela resistência do rapaz... E bem, não é todo mundo que se dispõe a bater de frente com o Karofsky. Esse garoto poderia facilitar a minha vida e a sua. Teríamos mais alguém para lançar a bola e, consequentemente, você seria menos espancado nos jogos.

O moicano tenta processar as palavras da treinadora e trata de recepcionar o amigo. A sugestão de recrutar alguém para alguma finalidade gera aflição no rapaz, contudo, não teria motivos para ser chacota do time de futebol se estivesse convidado um cara para se juntar a eles, não é?

_ Ei, ligeirinho, gostei da roupinha colada! – provoca o recém-chegado.

_ Sem piadinhas, Puck. Eu estou com pouco tempo para passar em casa e me arrumar para o trabalho.

_ Tranqüilo, cara. Eu posso te dar uma carona. Você ta a fim de jogar? – refere-se ao futebol americano _ Eu fiz uma besteira... E acho... Que alguns lançamentos podem me ajudar a relaxar.

_ Tudo bem, só que eu nunca joguei esse troço... O nosso futebol favorece a inteligência e o talento ao invés da força bruta. – debocha o brasileiro apanhando o primeiro lançamento.

_ Boa pegada para um novato! – elogia Puck _ Mas, cara... Você não faz idéia do que aconteceu... E o pior... É que... Bom, as Seletivas são em dois dias! – se culpa.

_ O que pode ser tão ruim? Você não engravidou outra garota do coral, não é? – gargalha ao devolver a bola, o jogador fica sério _ Você não seria tão idiota, seria?

_ NÃO! – grita _ Mas, foi parecido. Depois daquela briga no ensaio, bom... Eu fiquei com a Rachel e... Bom, você entende o problema.

_ Ah não... Esse moicano ridículo só adianta mesmo para você e para o Neymar. – se irrita, o colega se confunde _ Piada nacional, deixa para lá. Você vai contar para o Finn?

_ Não, a Rachel pediu para manter segredo até passar a competição. Acho que ela mesma vai contar tudo.

_ Me lembra de quebrar a sua cara assim que eu arrumar uma namorada. – ironiza o brasileiro.

Puck sacode os ombros sem se importar com a brincadeira de péssimo gosto do companheiro de lançamentos. O forasteiro raciocinava sem encontrar vestígios da data em que se tornou o confidente do maior encrenqueiro de Lima. Não que ele realmente se importasse em pegar carona ou sair para beber às vezes, porém, jamais houve atitudes dignas de amigos. Pelo menos até aquela estranha quinta-feira.

Apesar do esforço em se focar na participação destacada durante a performance nas Seletivas, o forasteiro se perdia constantemente invejando a possibilidade do quarterback reserva em dividir os holofotes com a garota que deveria ser sua, especialmente, em uma música expressiva como aquela. Entretanto, a mensagem estampada no rosto de Quinn desde seu retorno à Lima era objetiva e imutável. Não havia mais espaço na vida da capitã das cheerleaders para o forasteiro. A questão era digerir e se acostumar a nova realidade de espectador e não mais protagonista.

Em compensação, a ligação com o restante dos companheiros do coral nunca esteve tão evidente. Os ensaios extras de dança resultaram em uma bela parceria com o casal asiático e a hilária Brittany, lhe rendeu as primeiras palavras trocadas com Artie. O posto de homem de Mercedes acarretou em horas entediantes ouvindo as histerias de Rachel Berry. Mesmo com o revés, a judia tinha seus lapsos de simpatia. Consequentemente, as reservas couberam a Sam Evans. O novato até tentou comentar dois ou três tópicos com o brasileiro nos intervalos de aula ou durante o Glee Club, contudo, a presença da namorada inibia qualquer resquício de amizade ou companheirismo. Situação oposta a convivência com Santana regada de provocações pouco inocentes a respeito do breve relacionamento que mantiveram. A única exceção a essa constante evolução atendia por Finn Hudson. O atrapalhado adolescente se comportava ora como colega de grupo, ora como sério candidato a amigo. A dificuldade recaia em adivinhar os dias em que poderia contar com a ajuda do grandalhão.

O trajeto para o palco das Seletivas é realizado em tamanho silêncio e marasmo, que relembrava a péssima situação enfrentada na edição anterior. A tensão era gritante em mais da metade dos componentes e parecia ter atingido o maestro. Curiosamente, a integrante mais afetada naquela época exalava uma paz invejável confortavelmente acomodada nos braços do novo par romântico e musical. O brasileiro se distrai conversando amenidades com Mercedes, resultando nas únicas risadas que ecoaram na mórbida viagem. O brilho do New Directions estava tão apagado quanto o humor de seus membros.

A apresentação de Kurt no coral adversário Warblers, os famosos “Rouxinóis”, resgatou algo da auto-estima dos antigos companheiros através do single “Hey, Soul Sister”. Rachel apressou em levantar e ser a primeira a aplaudir o número adversário. Novamente acomodados na sala de espera do teatro, os estudantes da escola Willian Mckinley armavam formas de conter o nervosismo ou a indesejável correnteza de lembranças. Os nervos estavam exaltados e faíscas poderiam gerar conflitos desnecessários.

_ Eu estou enlouquecendo, porque da última vez em que nos apresentamos para um júri, eu entrei em trabalho de parto. – a recordação da jovem queima na carne do brasileiro _ Eu acho que estou uma crise de estresse pós-traumático.

As palavras saem de Quinn antes que o estrago seja calculado e o resultado é encontrado na expressão frustrada do forasteiro. Ele ainda se culpava por não estar presente, por não ter cumprido a promessa de estar ao lado dela independentemente da situação. O inoportuno comentário de Mercedes se colocando a disposição para uma possível substituição implode a última fagulha de paciência do seu homem, que vaga incessantemente pela sala. A entrada insana de Rachel na sala retrata fielmente o dito popular que prega a sentença: “nada está tão ruim que não possa piorar”.

_ Você contou para o Kurt? – grita a pequena notável.

_ Eu não lembro. Talvez. – responde o intrigado quarterback.

_ Sobre Finn e Santana? Não, acho que eu contei. – esclarece Mercedes sem nenhum vestígio de compaixão.

_ Quem te contou? – exige novamente.

_ Eu. Acho que a Brittany me disse. – confessa Quinn _ Ou o Puck. Eu não sei direito. – o garoto do moicano confirma.

_ Então, todo mundo sabia?

_ Parece que sim. – o brasileiro solta sem querer _ Bom, eu fiquei sabendo há pouco tempo também! – se defende.

_ Ninguém te contou porque você é indiscreta e nós apenas fingimos nos importar com você. – agride Santana.

A confusão se instaura nos bastidores e muitos prometem nem mesmo se apresentar. O professor interfere e se mostra extremamente decepcionado. O sinal para a “hora do show” soa e todos se encaminham para o palco. O celular de Dan indica o recebimento de uma nova mensagem. “Boa sorte no espetáculo. Não desafine”. As econômicas seis palavras do tio reascendem a disposição do sobrinho e, indiretamente, recapitulam o último lanço familiar existente em sua vida. 

Now I've had the time of my life

No, I've never felt like this before

Yes I swear it's the truth

And I owe it all to yo

 

As luzes do teatro se movem de Sam Evans para focar a entrada de Quinn Fabray. O dueto continua em uma sintonia musical inacreditável. A performance dos solistas parecia refletir genuinamente o significado de cada palavra da canção (I've Had) The Time Of My Life. O docente reconhece a entrega do casal e sorri como forma de incentivo. A dupla atinge o palco e se torna o centro das atenções. A sincronia é inegável.

Just remember, you're the one thing,

I can't get enough of

So I'll tell you something,

This could be love

A estrofe “Isso pode ser amor” coincide com a abertura das cortinas e a exposição do restante do elenco. Brincadeira cruel do destino ou do próprio Willian Schuester em proporcionar a visão privilegiada da troca de juras entre alguém que nunca disse adeus e um intruso qualquer. A desconexa relação da rainha e do forasteiro poderia servir como inspiração a um musical da Brodway, a uma épica balada sobre um amor inabalável ou a um inesperado final infeliz. A resolução já não importava, o estrangeiro só não suportaria mais a torturante indefinição sobre o casal que ele jamais formou com Quinn Fabray.

O público ovaciona a primeira canção do New Directions e a adrenalina aumenta drasticamente nas veias dos estudantes. Valerie prometia ser um estouro na incontestável voz de Santana.

Won't you come on over

Stop making a fool out of me

Why won't you come on over Valerie?

O refrão significava a oportunidade de Mike e Brittany brilharem com a elaborada coreografia. A dupla se supera e os gritos eufóricos da platéia restabelecem o fôlego dos quatorze integrantes do Glee Club. O showtime do brasileiro. A seqüência de três mortais combinada com mais uma exibição fantástica de Mike Chang e Brittany. Os aplausos intermináveis quase abafam o canto do coral e a face de Kurt se ilumina diante do sucesso gigantesco dos queridos amigos.

O ponto alto da apresentação ainda estaria por vir no encerramento do solo da latina. O quarteto mostra com perfeição o resultado dos diversos ensaios extras e leva a multidão ao delírio. O maestro não poderia estar mais satisfeito. Apesar das distrações, o espetáculo ganhou proporções inimagináveis graças à diversificação e valorização dos múltiplos talentos do grupo. Pela primeira vez, a sensação de favoritismo foi encarada com naturalidade.

Os adolescentes retornam extasiados para a sala de espera e a maioria dos problemas “sentimentais” é solucionada ainda no calor do momento. Tina e Mike se reconciliam após esclarecem a ridícula suspeita de traição com Brittany, que já estava acomodada no colo de Artie. A resolução do quase casal também seria resolvida ali. A oportunidade surge com o abandono temporário de Quinn do recinto com a desculpa de necessitar de um instante sozinha para recobrar a sanidade. Ela não demonstra surpresa ao ser seguida por Daniel. A decisão dos juizes não seria o único verídico a ser declarado naquela tarde.

_ Você e Sam. Pode ser amor? – o tom é seco, objetivo e derrotado. Ele não a quer de volta, ele quer a sua paz de volta.

_ Eu não sei ainda, mas, o que nós temos é maravilhoso. – a fala é honesta, segura e objetiva. Ela não o quer de volta, porém, não quer abrir mão do que nunca tiveram.

_ O melhor tempo da sua vida? Por isso, você aceitou esse anel? – o timbre é indiferente. Agora, o olhar reflete a desistência. O forasteiro, enfim, se rende.

_ Isso não é da sua conta, Daniel. – ela luta contra o impulso de analisar cada reação do garoto do espanhol. Os olhos fitam o chão para que as palavras reais não saiam inesperadamente.

_ É irônico, não é? Você me pediu em casamento e acabou com a aliança de outro cara. – o deboche oculta a magoa pela ação alheia e a decepção pela própria insuficiência.

_ Isso não diminuiu a sua importância na minha vida no ano passado. Dan... Eu precisava recomeçar depois de tudo aquilo. – a verdade entra em cena.

Quando eu te vejo

Espero teu beijo

Não sinto vergonha

Apenas desejo

_ É, talvez eu precise de mais tempo para poder seguir o seu exemplo... – ele bagunça ainda mais os cabelos com as mãos. Ela percebe a aflição pelo gesto tão familiar.

_ Exemplo? – ela ri amargamente _ Você só pode estar brincando... – Quinn rende-se a dramaticidade da conversa _ Eu senti tanta saudade...

Daniel sorri pela menção do termo em português e repousa a testa na dela antes de selar definitivamente o indecifrável romance que não teve nem o mínimo direito descobrir a nomenclatura mais apropriada para o eterno quase.

Minha boca encosta

Em tua boca que treme

Meus olhos eu fecho

Mas os teus estão abertos

_ Daniel... – ela suplica ainda com os rostos colados _ Por favor, me deixa ir... Eu... Eu... Nós não podemos ficar juntos...

_ Por que não? - o olhar é indiferente, opaco. Agora, o timbre reflete a derrota. O forasteiro está exausto demais para contestar o verídico.

_ Eu não consigo... Eu não quero me sentir daquela forma novamente... Carregar aquele peso é insuportável... E eu não quero ter que dar conta... Eu quero me livrar de tudo que me lembra aquela dor... E da forma assustadora com que você mexe comigo... Eu quero poder controlar o que eu sinto para nunca mais ter que lidar com aquilo... - a fala é desesperada, insegura e covarde. Ela não o quer de volta e quer descobrir como abrir mão do pouco que tiveram.

Ele silencia e acaba com a milimétrica distancia entre os corpos beijando levemente a menina, que não impede a ação. Ele sorri amargurado. É a rendição.

Esse foi um beijo de despedida

Que se dá uma vez só na vida

Explica tudo, sem brigas

E clareia o mais escuro dos dias

_ Tudo bem, Quinn. Eu entendo que não deu certo... Só acho que nós chegamos tão perto... – a estrofe de uma canção brasileira serve para dar adeus ao quase.

Ela esconde o rosto no peito do rapaz para se proteger do futuro que viria sem a possibilidade de transformar o quase em eterno e a possibilidade em realidade. O jogo particular que não voltaria a ser repetido. A lógica que não funcionou para ambos. O encontro que jamais traria a conclusão para o improvável enlace. O inesperado final infeliz de uma quase história sobre um quase casal ou quase qualquer coisa.

Mas você lembra!

Você vai lembrar de mim

Que o nosso amor valeu a pena...

_ Ei, crianças... – Will flagra a inexplicável situação e se cala momentaneamente _ Estamos esperando vocês para voltar ao palco. O resultado já vai ser anunciado.

Os acontecimentos das últimas 24 horas foram extremamente críticos e surreais. O empate concedeu vagas para o New Directions e Warblers nas Regionais e a confissão de Emma de que havia se casado em Las Vegas é intragável para o professor de espanhol. Rachel cumpre a promessa e conta a verdade sobre a traição com o bad boy e Finn não aceita a nova repetição. Finchel estava oficialmente arruinado. Esgotado pela intensa carga extra da semana, Daniel recusa o convite dos colegas de Glee Club para comemorar a vitória e se dirige diretamente para o apartamento de Willian Schuester após seu expediente no Breadstix.

_ Então, funcionário do mês, me conte quais os planos para o tão esperado sábado a noite, especialmente, depois que arrasamos nas Seletivas. – descontrai Will sentando no sofá assistindo a um filme de ação.

_ Sossegar em casa e se possível, dormir o domingo inteiro. – declara o brasileiro atirando-se na poltrona.

_ Pensamos exatamente no mesmo passatempo. Mas, tem algo que eu gostaria de conversar com você. – o rapaz imagina se tratar da cena na competição – O que eu vi entre você e a Quinn era um recomeço ou um acerto de contas?

_ Um adeus. – responde simplesmente.

Lembra é o nosso final feliz

Você vai lembrar...

Vai lembrar...sim...

Você vai lembrar de mim...

(Nenhum de Nós – Você vai lembrar de mim) 


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Notas finais do capítulo

spero que a história do brasileiro atraia cada vez mais interessados. Bem fico a disposição para qualquer dúvida ou opinião eventual... Até semana que vem com o próximo capitulo!



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