No começo, o whiskey não tinha um objetivo específico. A bebida só era ingerida por capricho, porque ele apreciava o gosto e pronto, nada mais que isso. Bons tempos aqueles – ótimos tempos – em que um copo de whiskey servia apenas para aliviar a sua sede e fazer com que ele apreciasse o seu gosto.

Depois, em uma época específica de sua vida, a bebida serviu para fazê-lo se esquecer das inúmeras coisas que haviam acontecido. O sangue transbordando com álcool era o suficiente para que ele tivesse uma boa noite de sono, sem ter que ficar com medo de encontrar uma conhecida e aterrorizante sombra em seus sonhos. Algumas doses de whiskey e tudo ficava melhor. As palavras cruéis do pai, os olhares cheios de pena da mãe, as fofocas dos habitantes do vilarejo, os olhares curiosos dos empregados... Tudo sumia como num passe de mágica.

Mas a fase na qual ele aproveitou mais a bebida fora, com certeza, a última. Durante esse tempo, ele estava lúcido o suficiente para apreciar o sabor e se controlar para não entrar naquele buraco de depressão no qual ele costumava se enterrar... Outra coisa que mudara fora o fato de, que se antes o whiskey servia para fazê-lo parar de pensar, agora uma dose fazia exatamente o contrário. Não fora apenas uma ou duas vezes em que ele se pegara parado no meio da sala, de madrugada, com um copo na mão e a cabeça cheia com pensamentos mais alheios possíveis... Sonhos que foram descartados, possibilidades para a sua vida, memórias, questionamentos... Toda uma linha de pensamento desencadeada por alguns goles de álcool.