Sentindo que a intensidade do beijo havia aumentado, eu me afastei dela, afinal, ela ainda estava fraca e em recuperação.

“Ei, o que foi?”

“Você ainda está se recuperando” falei em tom de brincadeira “você pode achar que voltou ao normal, mas ainda não voltou”

“Isso é o normal para mim. E, sabe, eu pensei que com toda liberdade, autodescoberta, expressão de amor, e tudo mais, poderíamos finalmente parar com aquela toda sabedoria de mestre zen  e merdas de conselhos práticos”.

Eu sorri ao lembrar de toda a irritação que ela tinha por causa da minha forma de pensar e agir. Eu sempre fui muito ponderado e altamente racional, isso sempre se refletiu no meu comportamento. Sempre que eu aconselhava Rose, realmente estava pondo em prática minha maneira de pensar e ela sempre achava que era uma espécie de filosofia zen. Eu não ia conseguir me desfazer disso tão cedo.

“Roza, isso não vai acontecer. É pegar ou largar.”

Ela me deu um leve beijo “Se isso significa ficar com você, eu pego” com estas palavras, ela ficou um pouco pensativa “Dimitri, de verdade, o que acontece agora com a gente?”

“A vida continua. Nós continuamos. Somos guardiões que protegem e, às vezes, mudam o mundo”

“Sem pressão” ela brincou “Mas o quê quer dizer a parte do ‘somos guardiões’? Eu tinha certeza de que a nossa carreira já era”

“Mmm” eu segurei o seu rosto, para olhá-la nos olhos, eu queria ver sua reação diante da notícia que eu lhe daria “Junto com o nosso perdão, recebemos de volta o nosso status de guardiões”

Sua expressão foi de extrema felicidade, mais ainda sim, ela mostrou se importar comigo.

“Até você? Eles acreditam que você não é mais um Strigoi?”

Eu acenei com a cabeça.

“Huh. Mesmo com o meu nome limpo, meu futuro ideal era que conseguíssemos trabalhar um perto do outro” ela falou preocupada.  Essa era uma preocupação normal, visto que um guardião não era dono de seu destino. Mas nós não tínhamos que nos preocupar com isso. Eu a olhei, sabendo que ela adoraria o que eu iria lhe dizer.

“Melhor que isso: você é guardiã de Lissa”

Ela levou um susto, quase se afastando um pouco de mim “O quê? Isso é impossível. Eles nunca...”

“Eles fizeram. Ela terá outros, provavelmente por isso eles acharam que estava tudo bem em lhe deixar por perto, desde que alguém lhe mantivesse na linha.”

“Você não... você não é um dos guardiões dela também, não é?”

“Não. Eu tenho uma tarefa diferente”

“Oh” ela exclamou com um olhar triste.

“Sou guardião de Christian”

Isso fez com que Rose levasse um susto tão grande, que ela se sentou em um rompante, com o rosto em choque. Eu sentei também, não tendo como deixar de me divertir com toda aquela surpresa que ela demonstrou.

“Mais isso... isso é praticamente a mesma coisa”

“Quase. Mas eles não ficarão juntos o tempo todo, principalmente quando ela for para Lehigh. Ele não vai, mas eles ficarão se encontrando. E quando o fizerem, nós também fazemos. E, além do mais... eu acho que você provou para todos que é capaz de colocar a vida dela na frente da sua.”

“Sim, mas ninguém estava atirando em você. Apenas nela.”

Eu sabia o que ela queria dizer com aquilo. Logo quando nos apaixonamos, esse era o principal motivo para não ficarmos juntos: não iríamos priorizar a vida de Lissa e sim, a vida um do outro. E isso era inadmissível para um guardião. Para nós, os Morois sempre deveriam vir primeiro. Mas era difícil colocar isso em prática, quando a pessoa que você ama está na frente do perigo.

“Você me seguiu, quando eu pulei na frente de Lissa, não foi? Para quem você estava indo? Eu ou ela?”

Eu poderia dar a ela uma resposta fácil. Dizer que eu tinha ido até ela, ou mesmo ter tentado proteger as duas, mas eu tinha que ser honesto. Eu não sabia. Na hora que Tasha puxou a arma, eu só consegui enxergar Lissa em perigo e parti para protegê-la, disposto a qualquer coisa para evitar que algum mal a alcançasse. Só depois vi que Rose tinha sido mais rápida do que eu, se colocando na frente dela. Naquele momento, eu não sabia mais a quem deveria defender.

“Eu não sei, Roza, eu não sei” falei com sinceridade.

“Isso não vai ser fácil”

“Nunca é” falei a puxando para os meus braços. Ela se aninhou no meu peito, fechando os olhos. Nós ficamos ali, naquela posição por um longo tempo, cada um de nós absorvendo os acontecimentos das nossas vidas, até que uma leve batida na porta nos separou. Era Lissa que havia entrado. Ela olhou para Rose, e seu rosto se iluminou de felicidade ao ver que ela estava acordada.

“Desculpem. Deveriam ter colocado um aviso na porta. Não sabia que as coisas estavam ficando quentes.”

“Não tem como” Rose falou, segurando levemente a minha mão “as coisas sempre estão quentes com ele por perto”.

Aquela espontaneidade de Rose me assustou. Eu não tinha o costume de expressar publicamente os meus sentimentos, quaisquer que fossem, ainda mais sentimentos românticos. Sempre me contive. Sempre guardei tudo dentro de mim. Até mesmo com a própria Rose, eu demorei muito até conseguir me abrir com ela, mas o fato de não ter reservas com ela, quando estávamos sozinhos, não queria dizer que eu estava disposto a escancarar tudo para todos.

Rose notou o meu desconforto e me beijou na bochecha, aumentando ainda mais o meu constrangimento. Parecia que isso estava a divertindo bastante.

“Isso vai ser divertido. Agora nada mais é segredo” ela falou com um pouco de maldade na sua voz.

“Sim. Eu recebi um olhar bem ‘divertido’ do seu pai outro dia” eu falei levantando e dando um rápido olhar para Lissa. Eu ainda estava totalmente desconcertado em estar numa posição tão íntima com Rose, na frente dela. Ela já foi minha protegida e agora era a rainha. Mesmo assim, ainda me abaixei e beijei a cabeça de Rose.

“Eu deveria deixar vocês conversarem agora” falei me dirigindo até a porta.

“Você vai voltar?” Rose me perguntou, claramente sem querer que eu me afastasse. Eu também não queria ir e nem ficar muito tempo longe dela.

“É claro” respondi, a olhando intensamente.