Last Sacrifice por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 35
Capítulo 35




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Eu fiquei observando Rose, sentindo o pânico tomar conta de mim. Ela tinha conseguido se recuperar de outras vezes, mas agora, tudo parecia pior.

Ela colocou o colar dado por Sonya e logo sua expressão se tornou serena. Quando ela falou novamente, suas palavras foram bem mais coerentes.

“Isto é um talismã de cura” Rose sussurrou.

“Eu não sabia se ia funcionar com a mente. Eu não acho que será uma cura permanente... Mas entre ele e seus instintos... tudo vai ficar bem por um tempo” Sonya falou para ela.

Rose ficou pensativa por alguns momentos e olhou para o corpo de Victor.

“O quê foi que eu fiz?” ela sussurrou. Jill a envolveu com um abraço.

“O que você precisava fazer” eu respondi, sabendo que aquelas palavras não adiantariam muito. Ela tinha culpa na voz.

Nós resolvemos sair dali. Tínhamos que nos livrar do corpo de Victor. Seria mais fácil se ele fosse um Strigoi, era só deixar ao sol até virar pó. Corpos Morois eram muito mais difíceis de esconder. Mas eu e Sonya tínhamos um passado como Strigoi. E até Strigois têm algumas regras básicas de sobrevivência. Uma delas era manter nossa existência em segredo, não deixando corpos espalhados por onde passávamos. Então tínhamos algumas maneiras infalíveis de esconder corpos, de forma que fizessem com que as pessoas constassem apenas nas listas de ‘desaparecidas’ e não na lista de vítimas de um ‘assassino em série’.

Colocamos Rose no carro, o mais distante possível de Victor. Fomos para um lugar ermo, que havia um desfiladeiro com um lago no final. Colocamos o corpo de Victor envolvido na barraca que tínhamos comprado, amarramos com grandes pedras e o lançamos penhasco abaixo.

Quando voltamos ao carro, não falamos a Rose o que tínhamos feito. Apenas alegamos que o problema estava resolvido.

Tomamos a estrada novamente, agora em direção à Corte. Resolvemos que seria mais prudente que Sonya levasse Jill, uma vez que eu e Rose ainda éramos bastante procurados. Jill queria ligar para seus pais para dizer que estava bem, mas achei isso muito arriscado. Os guardiões podiam ter grampeado os telefones dos Mastranos, ou pior, John já tinha se mostrado que não merecia confiança. Ele podia nos entregar novamente. Sonya acalmou Jill dizendo que tentaria contato com Emily por meio de sonhos.

E Rose... ela estava me preocupando profundamente. Ela estava calada, com um olhar perdido, e sua expressão era como se ela tivesse sentindo uma imensa dor. Apesar dela ainda usar o colar que Sonya encantou, ela ainda tinha um ar alheio a tudo. A todo tempo eu checava como ela estava, pelo canto do meu olho. Até que eu vi que ela estava na cabeça de Lissa.

Resolvi que era tempo de Sonya me dizer o que de fato estava acontecendo com ela.

“Sonya, como funciona essa escuridão do espírito? Eu já conhecia os acessos de raiva dela, mas nunca imaginei que tudo isso pudesse afetar a sua sanidade mental” perguntei com a voz baixa.

“É o espírito. Ela está absorvendo bastante escuridão do espírito de Lissa. Isso trás muito alívio para Lissa mas pode ter conseqüências terríveis para Rose. Eu pude ver toda essa escuridão nela. Eu a avisei que ela era como um barril de pólvora, bastava uma faísca para que tudo isso explodisse.”

“E essa faísca foi a provocação de Victor” eu pensei alto.

“Sim... não era algo que ela pudesse controlar ou impedir. Eu fico surpresa de que ela tenha suportado tanto por tanto tempo. O espírito é um elemento muito poderoso, nós sabemos muito pouco sobre ele. Ele pode levar seus usuários a fazer coisas inimagináveis. Boas e ruins. Rose é uma shadow kissed e sofre com isso tanto quanto um usuário”

Com essas palavras ela ficou silenciosa e pensativa. O carro caiu num profundo silêncio. Quando entramos no perímetro de uma cidade, Sonya sugeriu que encontrássemos um hotel para descansarmos um pouco. Eu concordei com ela que seria bom, Rose havia passado por um abalo mental muito forte.

“O que está acontecendo?” Rose perguntou, voltando da mente de Lissa, enquanto eu parava o carro.

“Estamos parando. Você precisa descansar” falei.

“Não, eu não preciso. Precisamos continuar indo para a Corte. Precisamos colocar Jill lá, há tempo para as eleições.”

Eu olhei para Rose de uma forma que ela conhecia bem “Você estava com Lissa agora. As eleições já estão acontecendo?”

“Não” ela falou hesitante.

“Então você vai descansar”.

Aquele descontrole dela voltou. Ela explodiu.

“Eu estou bem!" Ela gritou e eu tentei acalmá-la, até que Sonya retornou. Ela tinha ido tentar conseguir um quarto, isso era uma tarefa difícil, pois não tínhamos cartão de crédito, restando a Sonya usar a compulsão. Entramos no hotel e  fomos para o nosso quarto. Rose ainda estava nervosa, quando paramos em frente a porta.

“Deixe que eu converso com ela sozinho. Eu posso lidar com isso” murmurei para Sonya.

“Tome cuidado. Ela está frágil” Sonya falou preocupada.

“Caras! Eu estou bem!” Rose exclamou. Sua expressão não era nada normal. Ela não estava bem. Qualquer um podia ver que não estava.

Nós tínhamos quartos interligados, então Sonya levou Jill para o quarto do lado e nós ficamos com o outro. Eu abri a porta e a deixei passar, observando cada gesto dela. Rose entrou e sentou na ponta da cama.

“Nós podemos pedir serviço de quarto?” ela perguntou.

Realmente, eu não sabia como começar. Eu olhava para ela, sentindo meu coração apertado. Ela estava muito diferente daquela garota que estava prestes a me interrogar, enquanto esperávamos Victor aparecer naquele estacionamento. Agora, ela estava agitada, com os olhos percorrendo tudo de forma rápida, respirando forte. Eu queria encontrar as palavras certas, mas nada me vinha. Como eu poderia lidar com uma instabilidade emocional daquelas, se eu mesmo não podia lidar com a minha? Mesmo assim, puxei uma cadeira e sentei à sua frente.

“Precisamos conversar sobre o que aconteceu com Victor” falei cuidadosamente. Talvez, se ela começasse a desabafar, pudesse se sentir mais aliviada.

“Não há nada para conversar” ela respondeu friamente.

Mas logo depois, sua expressão ficou sombria e o seu olhar negro. E vi, lentamente, o descontrole tomando conta dela novamente. Parecia que Rose estava andando em uma corda bamba. Eu não estava sabendo como conduzir isto. Eu nunca pude imaginar que a mágica do espírito tivesse um lado tão negro como esse.

“Eu realmente sou a assassina que todos dizem. Não importa que tenha sido com Victor. Eu o matei a sangue frio”

“Aquilo não foi sangue frio” falei tentando chamar a razão para ela, mas foi inútil.

“O inferno que não foi!” Rose gritou, com as lágrimas saindo descontroladamente dos seus olhos. “O plano era segurar ele e Robert. Segurar. Victor não era uma ameaça para mim, ele era um homem velho, pelo amor de Deus!”

Ela estava muito descompensada, mas eu assumi que era melhor que ela soltasse tudo que estava dentro de si. Não havia motivos para que eu a reprimisse, então, apenas mantive a minha calma, tentando ponderar os fatos, de forma que ela conseguisse enxergar que não era tão culpada assim.

“Ele parecia uma ameaça. Ele estava usando magia contra você”

Ela colocou as mãos no rosto, sacudindo fortemente. “Isso não ia me matar. Provavelmente ele só conseguiria manter sua mágica por pouco tempo. Eu poderia ter esperado tudo acabar e ter escapado. Droga, eu escapei! Mas, em vez de capturá-lo, eu o soquei contra uma parede de concreto. Ele não era páreo para mim. Era um homem velho! Eu matei um homem velho. Sim, talvez ele fosse um velho manipulador e corrupto, mas eu não o queria morto. Eu o queria preso novamente. Eu queria que ele passasse o resto de seus dias na prisão, pagando pelos seus crimes. Vivo, Dimitri!”

Eu a observava, enquanto ela dizia estas palavras, sabendo que esse sentimento que ela tinha, reconhecendo seus atos, demonstravam que ela não era fria como estava se considerando. Ela estava se culpando, eu podia ver que ela não ia se perdoar. Rose não era uma assassina fria. Ela agiu movida por uma força maior que ela, que ela não podia controlar. Não era o seu instinto natural.

“Não havia honra no que eu fiz com ele” suas palavras, desta vez, eram quase inaudíveis.

“Sonya disse que não foi sua culpa. Ela disse que foi um efeito colateral do espírito” eu falei gentilmente.

“Foi...” Ela olhou para o nada, com os pensamentos perdidos. “Eu nunca entendi o que Lissa experimentava em seus piores momentos, até então. Eu só olhei para Victor... e vi nele tudo de mal no mundo. Um mal que eu tinha que parar. Ele era mal, mas não merecia isso. Ele nunca terá outra chance”

“Você não está ouvindo, Rose. Não foi sua culpa. O espírito é uma mágica poderosa que nós não conhecemos bem. E o seu lado sombrio... bem, nós sabemos que ele é capaz de coisas terríveis. Coisas que não podem ser controladas."

Ela olhou diretamente para mim, pela primeira vez desde que começamos esta conversa.

“Eu deveria ter sido mais forte. Eu deveria ter sido mais forte. Eu fui fraca”

Um grande remorso passou por mim. Eu tinha colocado essa cobrança na cabeça dela. Eu passei meses a fio, lá na Academia, cobrando que ela fosse forte, imbatível, exigindo o máximo dela. Raramente eu passava para ela lições sobre perdas e derrotas. O resultado era esse.

“Você não é invencível. Ninguém espera que seja” falei, sabendo que era tarde demais para dar essa lição a ela.

“Eu espero. O que eu fiz... foi imperdoável” ela falou, engolindo um soluço.


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