Last Sacrifice por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Por favor, não me matem...



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Aquilo me surpreendeu. Rose estava se cobrando demais. Ela não podia se julgar invencível. Todos nós seremos derrotados algum dia. Eu experimentei isso várias vezes. E em seu caso, era algo praticamente inevitável.

“Isso... isso é loucura, Rose. Você não pode se punir por algo sobre o qual não tinha controle”

“É? Então porque você ainda-“

Ela se interrompeu e eu sabia o porque. Eu estava dando a ela um conselho que eu mesmo não seguia. Eu também me culpei por um longo tempo por tudo que eu fiz quando era um Strigoi, mas agora eu entendia que não era nada que eu pudesse ter evitado. E agora, não era nada que eu podia mudar.

“Quando? Quando mudou? Quando você percebeu que podia continuar vivendo, mesmo com toda aquela culpa?”

Eu olhei para ela, e as lembranças destes últimos dias passaram pela minha mente. Tudo aconteceu tão lentamente em tão pouco tempo. Chegava a ser uma contradição. Cada dia era um pouco que, no futuro, tinha efeitos gigantescos dentro de mim.

“Eu não tenho certeza. Aos poucos, na verdade. Quando Abe e Lissa vieram até mim para lhe libertar, eu estava disposto a fazer isso porque ela havia me pedido. Mas, quanto mais eu pensava nisso, mais isso se tornava pessoal. Eu não conseguia suportar a idéia de você estar trancada em uma cela, isolada do mundo. Não era o certo. Ninguém deveria viver assim, então me ocorreu que era assim que eu estava vivendo -  e por escolha própria. Eu estava me isolando do mundo com culpa e autopenitência. Eu tive uma nova chance de viver e estava jogando isso fora.”

Rose me ouvia atentamente. Eu sabia que não era uma hora apropriada para falar com ela sobre todo esse sentimentalismo que me oprimia, que ela ainda estava com toda aquela tristeza a sufocando, mas também sabia que aquela era a conversa que nos devíamos ter tido há algum tempo. Eu não podia mais adiar, não com a nossa vida sendo vivia no limite, desse jeito. Eu queria falar aquilo e se ela estava ouvindo, eu não tinha motivos para me impedir. Isso iria expor todos os meus sentimentos, mas ajudaria a Rose enxergar o que eu não enxerguei, quando fui restaurado.

“Você me ouviu falar sobre isso antes. Sobre o meu objetivo de apreciar os pequenos detalhes da vida. E quanto mais nós continuávamos essa nossa jornada, mais eu lembrava de quem eu era. Não só um lutador. Lutar é fácil. O motivo que nos leva a lutar é que importa, e no beco, naquela noite com Donovan...” senti um calafrio passar por mim “Aquele foi o momento em que eu podia ter cruzado a linha da razão e ter me tornado alguém que luta só pelo prazer da matança. Mas você me trouxe de volta. Você me salvou... da mesma forma com que Lissa me salvou com a estaca. Ali eu soube que deixar minha vida de Strigoi para trás era lutar para ser o que eles não são. Eu tinha que abraçar o quê eles rejeitam: beleza, amor, honra.”

Apesar da tristeza dela ainda ser latente, havia algo na sua expressão que mostrava que algo estava mudando dentro dela. Tive a impressão de ver um pequeno brilho de alegria em seus olhos. E eu, senti que podia confiar nela plenamente.

“Então você deveria entender. Você disse honra. Isso importa. Nós dois sabemos que importa. Eu perdi a minha. Eu perdi naquele estacionamento, quando matei um inocente”.

“Eu matei centenas deles. Pessoas muito mais inocentes que Victor Dashkov” falei sem rodeios.

“Não é a mesma coisa! Você não podia evitar! Porque ficamos repetindo a mesma coisa de novo e de novo?” ela exclamou, com a instabilidade retornando a sua voz.

“Porque elas não estão entrando na sua cabeça! Você também não podia evitar!” falei, sentindo minha paciência se esvair. “Sinta culpa, lamente isso, mas siga em frente. Não deixe isso lhe destruir. Perdoe-se a si mesma.”

Rose se levantou com um rompante e avançou em minha direção se colocando a poucos centímetros do meu rosto. Eu permaneci sentado e fiquei imóvel, tanto pelas palavras que saíram dela, quanto pela proximidade daquele gesto.

“Eu me perdoar? É isso que você me sugere? Você, de todas as pessoas?”

Eu só consegui acenar com a cabeça.

“Então me diga. Você diz que venceu a culpa, decidiu aproveitar a culpa e tudo mais, mas você conseguiu, no seu coração, realmente se perdoar? Eu lhe disse, um tempo atrás, que eu lhe perdoei por tudo que você fez na Sibéria, mas e quanto a você? Você fez isso?”

“Eu só disse-“ela me interrompeu, impedindo que eu dissesse que eu estava falando isso por que queria o seu bem.

“Não. Não é a mesma coisa. Você está me dizendo para eu me perdoar e seguir em frente, mas você mesmo não faz isso. Você é um hipócrita, camarada. Somos ambos culpados ou ambos inocentes. Escolha”.

O que ela estava falando era a pura verdade. Tudo isso era hipocrisia minha. Eu não tinha autoridade para falar aquelas coisas para ela. Eu não podia dar conselhos que eu mesmo não estava disposto a seguir, que eu não conseguia seguir. Mesmo assim, eu senti que não podia deixar que ela me intimidasse. Então, me levantei e a olhei do topo da minha altura.

“Não é assim tão simples”

Apesar da sua pouca altura, Rose não se sentiu intimidada com a minha postura. Antes, cruzou os braços e tomou uma posição desafiante. Eu me preparei para um novo rompante dela, que não veio. Ao contrário, ela falou algo que eu ainda não tinha percebido.

“É assim tão simples. Somos a mesma coisa. Até Sonya diz que somos. Nós dois sempre fomos a mesma coisa e estamos agindo da mesma maneira estúpida agora. Nós nos colocamos em um padrão mais alto do que os outros.”

“Eu-Sonya? O que ela tem a ver com isso?” falei franzindo o cenho. Eu não entendi porque ela colocou Sonya no meio da nossa conversa. Pareceu totalmente fora de contexto.

“Ela disse que as nossas auras combinam. Ela disse que nós nos iluminamos quando estamos perto um do outro. Ela disse que isso significa que você ainda me ama e que estamos em sintonia e...” Rose suspirou e começou a andar pelo quarto pensativa “Eu não sei. Eu não devia ter mencionado isso. Não devíamos acreditar nessa história de auras quando vem de uma usuária de magia que já é meio louca.”

Rose caminhou em direção à janela e encostou sua cabeça no vidro. Eu permaneci calado. Sem conseguir acreditar no que eu tinha acabado de ouvir.


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Notas finais do capítulo

Se vcs me matarem, não vou conseguir postar o próximo capítulo rs E eu tenho um pressentimento que ninguém quer ficar sem o capítulo 37...