Meu sonho naquela noite decididamente não foi um dos melhores, se é que eu posso chamar isso de sonho e não pesadelo ou visão sinistra.

A primeira coisa de que me dei conta era o Princesa Andrômeda, navio onde o exército de Cronos  estava se reagrupando. Concentrei-me nos detalhes e consegui identificar as pessoas que estavam a bordo. Ou melhor, os monstros. Dracaenaes vigiavam as portas e telquines rondavam o convés. Pude perceber dois semideuses perto da piscina, onde jazia um enorme caranguejo vermelho.

-Está atrasado, Percy- disse Luke. Tenho que admitir que minha respiração parou quando o vi. Ele estava usando uma calça jeans clara e uma blusa branca. Parecia um simples adolescente comum, a não ser pelo fato de estar rodeado de monstros. –Estamos esperando você há dias.

Ele piscou rapidamente e seu corpo estremeceu. Sua voz tornou-se mais profunda e grossa e, mesmo sabendo que era um sonho, senti medo dele.

-Venha curvar-se diante de mim. –disse Cronos. Seus olhos de um dourado intenso brilharam com a luz.

-Certo, fique esperando- Percy murmurou.
Meu coração disparou quando o vi após tanto tempo, mesmo ele estando completamente sujo de óleo e sua camiseta rasgada. 

Uma parede de lestrigões se formou, esperando que ele escapasse. No mesmo instante que alguns semideuses apareceram armados com arcos e alijavas dois cães infernais pularam do balcão rosnando, como se tivessem o plano pronto há muito tempo.

Era uma armadilha. Cronos já sabia sobre a invasão do Princesa Andrômeda. Mas... Como? Mantínhamos  isso  em segredo entre apenas os campistas do Acampamento Meio-Sangue, nem os deuses sabiam do plano. Uma voz em minha cabeça alertou: espião. Havia um espião no acampamento, alguém que estava passando todas as informações para o inimigo. A idéia é tão horrível que a expulsei dos meus pensamentos.

Luke olhava diretamente para Percy.

Não. Ele era Cronos e eu não poderia esquecer. Mas... quando não via seus olhos ele era, para mim, apenas Luke. O mesmo Luke que me salvara quando eu tinha sete anos, o mesmo Luke por quem eu havia me apaixonado.

Lá estava ele de novo em minha cabeça. Tentei concentrar-me em meu sonho.

Olhei para Cronos novamente. Ele não estava tão diferente de quando o vi pela última vez no labirinto, talvez um pouco mais confiante do antes. Pensei nas mudanças no seu comportamento e na sua voz, e me ocorreu que Luke ainda poderia estar vivo, mas sobre o domínio do titã. Só precisaria de um jeito de expulsá-lo sem destruir o corpo de Luke. O corpo de Luke. Percebi que isso não era possível, a força do titã deveria o ter consumido na primeira tentativa. Pude sentir minha mente trabalhando nisso, mas nenhuma das idéias que tive parecia ser a certa.

Percy encarava Cronos ferozmente. Soube  no mesmo instante no que ele estava pensando: atacar. Uma pequena parte do meu cérebro dizia: Não, ele não pode por em risco a profecia! A escolha seria dele em apenas alguns dias em seu aniversário não agora! Mas a outra parte de mim pensou que, se não houvesse escolha ele seria obrigado a se defender, ou morreria.

Cronos deu um sorriso perverso e olhou para mim, como se realmente soubesse que eu estava ali.

-Aproxime-se... se tiver coragem.

Embora ele olhasse em minha direção não soube se as palavras se dirigiam a mim ou a Percy. Um caminho se abriu entre os monstros que os ligava, como se uma corrente invisível barrasse todos a sua volta. Enquanto Percy subia as escadas, retirou sua caneta, Contracorrente, que logo se transformou em sua espada habitual.

Cronos também fez sua arma aparecer em suas mãos.

Veja bem: uma foice de quase dois metros de altura que matava tanto monstros quanto mortais não é lá uma coisa muito convidativa, mas mesmo assim Percy atacou, e soube que estávamos fritos.