Já estava prestes a explodir de preocupação.

   Beckendorf saíra do acampamento há 2 dias e até então não tínhamos nenhuma notícia dele ou de Percy. Não sabíamos nem se eles chegaram de fato ao Princesa Andrômeda, o navio onde o exército de Cronos estavam se agrupando.

   Nós tínhamos planejado aquele momento havia semanas, mas eu ainda temia que tudo desse errado. Já havia perdido Percy uma vez, e não o perderia de novo. Pensei no verão anterior, no Labirinto de Dédalo e no Monte Santa Helena. Uma avalanche de lembranças vieram à minha cabeça, uma delas a de Rachel toda pintada de dourado fingindo ser uma estátua. Me lembrei que ela estudava na mesma escola que Percy e que eles saíam juntos, às vezes.

   Rachel Elizabeth Dare era uma simples garota mortal que também vivia em Nova York. Aliás, seu pai era o dono de praticamente todos os edifícios da cidade. Quando entramos no Labirinto, Percy teve a brilhante idéia de usar um mortal que pudesse ver através da Névoa, não a normal, mas a do tipo mágico que impede os humanos  de verem as coisas como realmente são.
Infelizmente, Rachel era a única que conhecíamos.

   Enfim, todos os campistas estavam preocupados desde a saída de Beckendorf. Silena chorava o tempo todo. Silena Beauregard era a nova namorada de Beckendorf e conselheira líder do chalé de Afrodite. Ela andava tão deprimida nos últimos dois dias que até seu cabelo castanho encaracolado havia perdido o brilho habitual de quem o lava três vezes ao dia. Sem contar que Clarisse, sua melhor amiga, estava fora em missão. Ainda não entendia muito bem como uma filha do deus da guerra e uma filha da deusa da beleza e do amor pudessem se dar tão bem.

   Vai entender o que se passa na cabeça daquelas duas.

                                                                        
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O clima de tensão dominava o acampamento. Poucos campistas conversavam, e menos ainda se divertiam. Passavam praticamente o tempo todo treinando na arena, e alguns se aventuravam a lutar na floresta.

Dioniso estava fora em uma batalha junto com os demais deuses. No verão anterior Percy sem querer libertou Tifão e todos os deuses foram convocados para lutar contra ele e, pelo o que eu sabia, as coisas não iam muito bem. Quíron também estava preocupado com a guerra, embora tentasse não demonstrar. Ele ficava quase todo o tempo na Casa Grande e raramente aparecia para comer no horário das refeições. Hoje teria uma pequena competição amistosa de Captura à Bandeira, mas a chegada de Clarisse e Michael Yew acabou com a nossa tarde.

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O Chalé de Atena se uniu com o chalé de Apolo, Dioniso (que basicamente se resumia à Polux, seu único filho sobrevivente) e Afrodite, o que nos dava uma boa chance de ganhar. Infelizmente, o Chalé de Hermes era nosso inimigo junto com Ares e Deméter. Os campistas de Ares não eram tão espertos, e facilmente controláveis; bastava dizer que um chalé falou mal deles era um mês na enfermaria, na certa.

Eu estava treinando no pátio quando ouvi o som de cavalos relinchando. Michael e alguns dos seus irmãos filhos de Apolo vinham em cima de uma carruagem voadora dourada descendo a Colina a toda velocidade e acordando o dragão de sentinela Peleu, que se enroscava na àrvore de Thalia. Clarisse veio atrás deles na carruagem de Ares xingando em grego antigo.

-Certo, tampinha. Agora nos devolva a carruagem!

Michael se ergueu com seus 1,40m, na ponta dos pés para olhar diretamente nos olhos de Clarisse.

-Se quer uma carruagem só pra você, por que não pede para o seu papaizinho?  Ou ele está ocupado demais arrumando encrenca com todo mundo?

Ela deu um passo à frente e, por sorte, Quíron chegou trotando a tempo de evitar uma briga feia.

-O quê está acontecendo aqui?

-Eles acham que, só porque sabem usar esses arcos e ficar longe da batalha como covardes, podem ter tudo o que quiser!

-Hey, calma aí! Fomos nós que cuidamos de todos aqueles semideuses assassinos! Portanto ela é nossa!- gritou Michael Yew. Estava óbvio que a  carruagem voadora pertencia ao Chalé de Apolo, mas é claro que Clarisse não deixaria isso passar reto.

-Pode até ser, mas foi o nosso chalé que a pegou! Quíron, pode falar para esse nanico que a carruagem pertence a nós?- Perguntou Clarisse. Achei que ela fosse explodir ou, mais provavelmente, matar alguém com sua lâmina elétrica.

-Clarisse, vamos deixá-la com Michael, certo querida?- ele parecia pensar antes de cada palavra, com medo de deixá-la ainda mais irritada.

-Mas...

-Chega de discussões! E todos voltem a suas atividades! A Captura à Bandeira foi cancelada por hoje.

Um coral de vozes murmurou tristemente. Os campistas que estavam assistindo a cena foram se dispersando devagar pelo pátio principal, enquanto Michael fazia uma careta e seguia levando a carruagem dourada.

-Olha,-comecei a falar, mas Clarisse não estava muito afim de me ouvir.

-Eu ainda mato ele com aquela maldita flecha! Escreva o que eu digo!

Resolvi não discutir com ela e fui dar uma olhada na sra.O’Leary.