Estava tão absorta em meus pensamentos que mal havia percebido a maneira com que ele se expressava.

Na verdade expressava; era até elogio para aquilo.

“-Daí nóis subimo pra cima, pra pula na cachoeira, depois nóis fumo de novo!”

Depois daquilo não olhei para Sam por um tempo. O que deveria ser engraçado me deixou incrédula.

Por um minuto pensei: Será que ouvi direito? Será que devo pedir pra que ele repita o que disse há pouco?  

Melhor não, pensei comigo mesma. A resposta pode ser ainda pior.  Melhor tentar traduzir.

Tradução: Então nós subimos para pular da cachoeira e depois todos foram novamente.

Porque eles não poderiam subir para baixo. E na segunda parte, será que ele quis dizer que eles fumaram um cigarro?

Ele continuou com sua tagarelice. Naquele momento percebi que as coisas estavam de mal a pior.

Eu sei que não sou nenhuma professora de língua portuguesa, e muito menos sou perfeita em minhas palavras e escrita, mas aquilo era demais pra qualquer um.

E tentando mudar o rumo da conversa resolvi pedir mais uma daquelas balas que se vende em farmácia. Ele estava com um pacote recheado mesmo.

-Você poderia me dar mais uma daquelas balas?

Minha garganta estava arranhando sinal de que vem uma infecção daquelas se eu não cuidar.  Ele olhou no meu rosto de um jeito sério. Tive a  impressão que uma infecção seria o menor dos meus problemas.

 “-Mas eu já te di pra você!”

G-Zuis me socorre! Traduzi rapidamente o que ele tentou dizer.

Tradução: Mas eu já lhe dei! 

Tradução: Mas eu já lhe dei! Ou Mas eu já dei pra você!

Engoli em seco enquanto pensava em como faria para livrar-me dele depois que ganhar o livro.

Mas então a consciência bateu. Eu já sabia que ele veio a pouco tempo do interior, mesmo isto não justificando sua maneira de pronunciar as palavras. 

O lado anjinho que existia dentro de mim traçava uma estratégia de como poder ajudá-lo a falar de maneira correta, sem envolver-me muito é claro. No máximo  poderia até dar umas aulas pra ele se fosse necessário. Nada Além disto.

Não é certo  um rapaz tão bonito como Sam falar  desta maneira. Tenho até medo de encontrar algum conhecido e ele abrir sua boca enorme.

Imagino o pobre coitado ao lado de minhas amigas por dois minutos que seja... tenho até dó do garoto.

Ele riu me entregando a bala, como se dissesse não sou egoísta gata. Comentou que sua garganta também estava querendo inflamar.

Procurei pensar desta maneira quando fiquei com uma única bala vendo-o engolir as duas ultimas na boca. Espero sinceramente que ele fique bom.

Continuamos conversando. Como já havia imaginado as coisas pioraram drasticamente.