Tsunade caminhava rumo ao quarto 210. Abriu a porta lentamente, procurando não fazer barulho.

Observou a figura que estava deitada na cama, com o corpo coberto por diversas faixas. Aproximou-se e tocou sua testa. “A febre passou...”, constatou a hokage. Fez algumas anotações em uma plaqueta que continha vários papéis presos e deu mais uma olhada no ninja loiro que ainda estava inconsciente.

Virou-se e seguiu em direção à porta. Mas antes que pudesse abri-la, parou ao escutar uma voz fraca.

- Ele foi embora?

Tsunade ficou atônita, pensava que ele ainda não tinha acordado.

- Não... Kakashi chegou antes que ele pudesse partir. – ela respondeu hesitante, ainda de costas.

O silêncio tomou conta do local. Tsunade, já incomodada, virou-se para olhar o ninja.

Naruto estava sentado na cama, ainda enrolado no lençol, e mantinha a cabeça abaixada.

Então, no fim, ele não fora capaz de deter seu amigo... Não fora capaz de ajudá-lo... Que tipo de amigo era esse?

- Você estava certa, Tsunade obaa-chan...

A hokage o fitou confusa.

- Eu nunca vou poder ser um hokage... Nunca.

Tsunade ficou espantada.

- Por que está dizendo essas coisas Naruto? Eu já disse! O Sasuke está... Bem... Kakashi chegou a tempo... – argumentou ela.

- É isso. Eu não fui capaz de pará-lo. Se Kakashi sensei não tivesse chegado, o Sasuke não estaria mais aqui. Eu não fui capaz de cumprir a promessa que fiz para a Sakura-chan. Eu não fui capaz de pará-lo... Mesmo eu sendo seu... Melhor amigo... Mesmo ele sendo... O meu melhor amigo. – retrucou Naruto, sem emoção. – Que tipo de hokage eu seria?

Tsunade o encarava boquiaberta. Sim, ela se lembrava de tudo que dissera naquela noite em que o conheceu. Lembrava-se de todas as palavras proferidas, desencorajadoras e até mesmo egoístas... Ela tentara fazer com que ele desistisse de seu sonho. Seu único sonho.

Mas ela percebeu que estava errada. Percebeu que esse menino era especial e que fazer com que ele desistisse do seu sonho, era o mesmo que fazer com que ele desistisse da vida. Isso ficou muito claro para ela. Ficou óbvio que isso era impossível.

Porém, olhá-lo assim tão desmotivado, só fazia com que essa cena se tornasse ainda mais absurda.

- Naruto. Você sabe que isso não é verdade. Eu... Eu acredito em você. Todos nós acreditamos. E para aqueles que não acreditam, resta você provar que é capaz. – começou Tsunade, com a voz convicta.

Naruto ainda mantinha a cabeça abaixada, recusando-se a encarar a hokage.

Tsunade ignorou o silêncio e continuou.

- O que aconteceu entre você e o Sasuke no Vale do Fim... Não foi sua culpa. Você sabe que não. – continuou ela.

- Nada do que vocês disserem vai mudar a verdade... Eu sou um inútil. Eu sou um fracassado. – Naruto soltou uma risada sem humor – Então, o Neji estava certo também... Todo mundo estava certo. Eu que sou o imbecil da história. O idiota que achava que poderia mudar seu destino e se tornar hoka...

- Cale a boca!

Naruto ergueu a cabeça, surpreso com o tom de voz alterado da hokage.

- Se você tem tempo para ficar reclamando do quanto você é inútil e idiota... Do quanto sua vida é injusta... Talvez você deva dar prioridade a coisas mais importantes, não acha? Não desistir daquilo que você ainda não conseguiu me parece uma boa forma de começar. Afinal, você não volta atrás com suas palavras, certo? Ou você não é mais aquele garoto que prezava tanto suas promessas? – sibilou Tsunade, antes de sair do quarto e deixar um Naruto atordoado com suas palavras.

Sakura acordou cedo. Vestiu-se rapidamente e saiu de casa gritando um “vou ao hospital!” sem olhar para trás.

Resolveu passar na loja dos Yamanaka e comprar flores para seus amigos. Entrou no local e começou a passar a vista pelos diversos arranjos floridos que enfeitavam a loja. Até que encontrou as flores perfeitas.

Apanhou os dois raminhos de mesma espécie e seguiu em direção do caixa.

Mostrou a mercadoria em silêncio e pagou.

Ino, já incomodada com o silêncio da rosada, disse cautelosa:

- Bom dia Sakura... – cumprimentou-a com um sorriso amigável.

- Ah. Bom dia Ino. – respondeu ela, como se só agora percebesse que a amiga estava no caixa.

- Hum... Está tudo bem Sakura? – perguntou a loira, com receio.

- Sim – ela murmurou com a voz fraca – Está tudo bem.

Ino não acreditou na amiga, mas resolveu não insistir.

- As flores são pra quem?

Sakura ergueu a cabeça, esquecendo-se de que a loira não sabia do ocorrido.

- Ahm... Bem, são para o Naruto e pro Sasuke-kun. – ela respondeu hesitante.

Ino pareceu ficar confusa.

- Como assim? – ela questionou.

Sakura se remexeu, desconfortável.

- Bem... Eles estão no hospital... Feriram-se durante uma missão. -  eu não estou mentindo... Muito, refletiu a rosada.

- A mesma missão em que o Shikamaru e o Chouji foram? – interrogou – Droga! Por que as garotas sempre são excluídas das missões super legais? Saco.

Sakura sorriu amigável. Essa missão foi tudo, menos “super legal”, pensava a rosada.

- Você sabe se esses dois idiotas também já voltaram?

Sakura negou com a cabeça.

- Ah. Que pena.

- Pois é. Ino, eu tenho que ir. Depois a gente conversa ok? - despediu-se a rosada.

- Tudo bem... MAIS TARDE EU LEVO FLORES PRO MEU SASUKE-KUN!

Sakura limitou-se a soltar um resmungo que não foi ouvido pela Yamanaka.

Enquanto andava pelas ruas de Konoha, a rosada refletia sobre todos os momentos vividos com o Time 7.

Ela sorriu. Que coisa mais estranha... Quem diria que Uchiha Sasuke- o menino prodígio; Uzumaki Naruto- o fracassado; e Haruno Sakura- a garotinha apaixonada formariam um belo time?

Realmente estranho. Na verdade, até engraçado!

Pensando bem, apesar de todas as diferenças e intrigas entre os membros, ninguém podia sequer duvidar de que eles faziam um time perfeito. Analisando todos os detalhes, chegava-se à conclusão de que um completava o outro.

Sasuke e Naruto... Acabaram se tornando amigos...

Sakura percebeu a ótima pessoa que Naruto era...

E Sasuke... Mesmo que não admitindo isso verbalmente, acabou criando uma relação forte com Sakura.

O time perfeito.

Agora está ameaçado. Pode ser rompido devido a algo tão... Errado.

Tão...

Sakura suspirou desanimada.

Por quê? Por que Sasuke-kun?, Questionava-se em silêncio.

- Ai... Nem tive tempo de comprar umas flores.

A rosada virou o rosto, assustada.

- Bom dia Sakura. – Kakashi a cumprimentou. – Sabe, eu pensei que nós iríamos juntos ao hospital.

- Ah... Me desculpe Kakashi sensei... Eu me esqueci... – Sakura murmurou constrangida.

- Entendo.

A viagem se passou em silêncio. Sakura nem tentou começar algum assunto, não estava no clima para isso.

Mas Kakashi não se importou. Ele compreendia muito bem os sentimentos da rosada. Internamente, culpava-se por tudo que tinha ocorrido. Não conseguia se livrar da sensação de dever que não fora cumprido.

“Você é fraco...”

“Você não pode me matar...”

“Falta ódio...”

“Você é fraco...”

“Você não pode me matar...”

“Irmãozinho tolo...”

Sasuke sentou-se na cama, sobressaltado. Sua respiração estava acelerada e todo o seu corpo encontrava-se coberto por uma camada de suor.

O pesadelo fora horrível...

Pesadelos... Tornaram-se quase que comuns desde aquela noite... Aquela maldita noite...

Aos poucos, sua respiração foi voltando ao normal. Depois disso, Uchiha parou para analisar o ambiente em que estava.

Paredes brancas... Hum, um hospital?

Mas que diabos ele estava fazendo em um hospital?

Ele abaixou a cabeça e fitou os curativos em sua pele. Só então as lembranças do dia anterior vieram à tona.

Ele não conseguiu matá-lo...

Estava quase partindo...

Quando...

Kakashi. Ele, de alguma forma, conseguiu chegar antes que o moreno abandonasse de vez sua antiga vida.

Maldição! Por que todos têm que se meter em sua vida?

- Ele está nesse quarto... – o Uchiha escutou uma voz feminina ao longe.

Lentamente, a porta do quarto foi se abrindo.