- É o seguinte – Kakashi se pronunciou. – Vocês têm trinta minutos pra reunir tudo o que julgam necessário. Então, daqui a meia hora nos encontraremos no portão da vila. Ja ne. – ele acenou e desapareceu em meio a uma nuvem de fumaça, deixando assim os três jovens ninjas sozinhos. Bom, os três jovens e um quarto componente recém-chegado no time: o silêncio.

Cada um se sentia constrangido a sua maneira; achavam interessante como dias atrás uma situação daquelas não seria nada além de “algo comum” entre os companheiros. No entanto, ali estavam eles, parados no meio da rua sem saber o que falar ou fazer.

A rosada respirou fundo e decidiu fingir que nada tinha acontecido (ou pelo menos tentar):

- Bem, eu já estou indo. – ela se virou e sorriu amigável. – Sasuke-kun? Você quer que eu leve alguma coisa pra comer?

Sakura sempre levava alguma comida para os amigos em sua mochila (sim, ela sabia que eles eram seres humanos capazes e poderiam muito bem levar sua própria comida, mas... Ah, que se dane!). Com certo tempo ela aprendeu o gosto de cada um – Naruto, o tão óbvio rámen e Sasuke... Bem, Sasuke era Sasuke afinal de contas. Ela ainda não tinha atingido tamanho estado de compreensão, mas... Estava perto, sentia isso!

-Hn. Não. – ele se virou e sumiu rapidamente.

Bom... Já é um avanço! Pelo menos ele respondeu na minha língua!

- E você, Naruto? – ela fitou o loiro que ainda encarava o local em que antes estivera o Uchiha. Ele voltou os olhos para a garota. – Ah, esquece, leva o seu rámen de sempre. – a Haruno fez um gesto de descaso com a mão.

Ele pareceu voltar ao normal e abriu um daqueles sorrisos que só ele consegue.

- Sakura-chan... – ele murmurou envergonhado.

Ela sorriu aliviada e acenou.

- Ja ne!

Naruto mantinha o sorriso no rosto até a amiga sumir de vista.

Ela já foi.

O sorriso sumiu, dando lugar a uma expressão triste e cansada. O loiro ergueu os olhos e se pôs a fitar o céu ensolarado. Como podia? Os pássaros cantavam, as árvores farfalhavam, o Sol brilhava intensamente...

Por que ele continuava a se sentir um lixo?

Sasuke estava bem e a salvo! Não era isso o que ele queria? Não tinha sido essa a sua promessa? Então qual era o problema? Por que tudo aquilo continuava a parecer tão... estranho, tão... errado?

Naruto suspirou pesadamente e caminhou rumo a sua casa, mas antes deu uma rápida olhada no caminho por onde certo jovem moreno seguira minutos antes.

Sasuke...

                                               ***

Faltavam dez minutos, o que significava que o ninja copiador estava ali a mais ou menos vinte. Muito pouco tempo, considerando as incontáveis horas em que ele ficava admirando a grande pedra. Isto é, os nomes ali gravados; quase sempre um em particular.

Kakashi via muito de si mesmo em Sasuke. Ambos arrogantes e intocáveis – errar sempre fora algo de outro mundo; indiferentes e frios – emoções são completamente dispensáveis para um shinobi.

Porém, tal como Kakashi, o Uchiha conhecera alguém que conseguira penetrar na armadura supostamente impenetrável que arduamente ergueram em prol de sua própria necessidade. Para protegerem-se de si mesmos.

O ninja suspirou demoradamente.

Espero que ele não demore o mesmo tempo que eu em reconhecer o que realmente importa. Não é mesmo?... Obito...

                                               ***

O garoto fechou o zíper da mochila, convicto de que já tinha tudo o que precisava. Colocou-a nas costas e andou em direção à porta. Passou em frente ao espelho e involuntariamente viu seu reflexo. Parou e pôs-se a analisá-lo. Correndo os olhos pela imagem do jovem, percebeu que estava faltando alguma coisa. Era impressão sua, ou sua testa estava muito... vazia?

A compreensão o atingiu num rompante. É claro... Sua bandana.

Suspirou irritado. Que ótimo. Mais um item em “coisas que diferem Uchiha Sasuke dos demais shinobis de Konoha”. Mas... isso deveria ser uma coisa boa, não? O ninja diferente dos outros...

Praguejou. A irritação dando lugar ao tão conhecido sentimento de frustração. Por que era tão complicado? Por que ele simplesmente não podia ser como qualquer pessoa, ter amigos como qualquer pessoa, viver como uma pessoa comum?

Só ele sabia como era difícil...

Voltando os olhos para seu reflexo mais uma vez, o moreno começou a debater-se mentalmente.

Será que ele realmente tinha que fazer isso? Essa... vingança, ela era realmente necessária?

Aproximou-se do retrato que permanecia do mesmo modo que deixara dias atrás.

Ele... realmente não podia ser uma pessoa normal?

Tocou o objeto, relutante.

Irmãozinho tolo...

Não!

Afastou-se bruscamente. Deu as costas para aquilo que ele, mesmo que hesitantemente, desejava, e rumou decidido para fora de casa, deixando assim o retrato do Time 7 em um mundo distante.

Enquanto caminhava impassível pelas ruas de Konoha, o ninja mais uma vez reviveu aquele último encontro com o maldito Itachi.

Tudo bem. Ele não conseguira fugir da vila. Entretanto... isso não quer dizer que ele vá ficar de braços cruzados esperando o sannin vir a seu resgate. Ele vai treinar... tendo em mente seu único e mais importante objetivo. Relações de amizade só irão atrapalhá-lo, então deverão ser evitadas. Não poderá cometer esse erro novamente.

Ser uma pessoa normal...

Quem sabe num futuro distante? Mas não agora. E nem em um futuro próximo. Esse feito ainda não é possível, porque...

Ele é Uchiha Sasuke, afinal de contas.