Rehab Of You escrita por Ana_Lucky
Notas iniciais do capítulo
De volta a 2011...
Tempo presente, 2011
Quando acordei senti o braço dele em volta do meu corpo, envolvendo-me. Afastei-o cuidadosamente para não correr o risco de o acordar. Mesmo depois de me afastar Stefan continuou a dormir profundamente ao meu lado. Invejei-o por segundos pois tinha saudades de me deixar levar por um sono tão profundo e reconfortante como o dele.
Faltavam perigosamente três semanas para o casamento do meu irmão e já fazia algum tempo que as minhas noites se encontravam bem longe da tranquilidade. O meu sistema interno de alerta permanecia em constante actividade obrigando-se a espreitar cada esquina da rua com toda a atenção, a abrir a porta de casa com angústia sempre que batiam, a estremecer sempre que o telefone toca. O esforço é ainda redobrado pelas tentativas constantes para que o Stefan não se aperceba do meu nervosismo. Nem eu sou capaz interpretar a minha estranha forma de agir, mas da mesma forma, sei que não a consigo controlar.
Olhei novamente o rosto de Stefan ainda adormecido. Ele é a ultima pessoa a ser merecedora do meu irritante mau humor e da minha brusquidão durável. Afinal ele é o homem que acabei por escolher para viver ao meu lado e compartilhar a minha vida. A verdade é que esta espécie de casamento improvisado tem resultado bem não fosse a minha recém adquirida aversão à proximidade física. Mas até isso eu acredito ser apenas um mau período passageiro. Nós entendemo-nos muito bem e apoiamo-nos mutuamente, alias como sempre foi desde que nos conhecemos. Ele foi a única pessoa capaz de fazer com a esperança renascesse para mim, foi capaz de colocar novamente um sorriso nos meus lábios. Nunca me deixou só e esteve ao meu lado no momento mais difícil da minha vida.
Fui até ao banheiro tomar o meu habitual banho de água quente e quando voltei Stefan já tinha acordado.
- Bom dia dorminhoco… - Cumprimentei-o dando-me com um suave beijo e sentando-me depois ao seu lado na cama.
- Bom dia amor – Também me cumprimentou, sorrindo-me.
- Estás com pressa para ir para o escritório? – Questionei-o.
- Não, porquê?
- Para saber se posso preparar um café da manhã reforçado para começarmos bem o dia enquanto te preparas…
- Que boa ideia… - Murmurou brincalhão dirigindo-se para a casa de banho não sem antes de dar um leve beijo.
Desci até à cozinha e tentei esmerar-me ao máximo no café. Quando Stefan não está com a pressa habitual para ir para o escritório procuramos sempre fazer um café da manhã mais elaborado e aproveitar melhor a companhia um do outro logo pela manhã. A mesa já estava montada quando ele desceu. Quando se aproximou de mim passei os dedos entre o seu espesso cabelo molhado como já é meu vício habitual.
Estava debruçada sobre a banca a acabar de partir uma peças de fruta quando senti o corpo dele encostar-se ao meu e os seus lábios roçarem no meu pescoço.
- Quero falar contigo sobre algo importante… - Sussurrou-me, fazendo-me depois voltar para ele – Acho que vou aproveitar o facto de estares tão bem disposta hoje, o que não tem sido habitual… - Ironizou torcendo o nariz de forma engraçada.
Olhou-me com aquele olhar especial que utiliza como arma quando quer alguma coisa de mim. Aquele maldito olhar que com certeza era característica de família pois fazia-me sempre recordar um outro olhar que de certa forma era semelhante. Um olhar compenetrante e implorativo, ao qual é tão difícil resistir.
- Ui… Acho que não vem daí boa coisa, até tenho medo…
- Pára com isso… Ainda vou perder a coragem…
- Estou tremendamente curiosa com esse assunto tão importante que requer tanta coragem para ser discutido – Zombei.
- Tu nunca falas sobre isto, nunca mesmo… - Enredou – Tanto que até fico sem jeito de tocar neste maldito assunto…
- Bem… vais desembuchar ou nem por isso? – Perguntei já ligeiramente irritada com tantos rodeios.
- Tenho pensado imenso sobre isto ultimamente, na verdade não penso noutra coisa, eu queria tanto ser pai… - Confessou por fim.
Tal foi o choque que inevitavelmente a minha boca abriu contra a minha vontade. Engasguei-me na minha própria saliva e comecei a tossir compulsivamente fazendo uma figura um pouco ridícula perante o olhar incrédulo dele. De todos os assuntos que poderiam ter surgido naquele momento, aquele foi o mais inesperado. Tentei automaticamente organizar as minhas ideias e recompor-me. O assunto era imprevisto por pura e clara inocência minha. Ambos temos vinte e sete anos, estamos juntos há três, temos a nossa vida organizada e somos por isso um casal normal. Deveria ter sido óbvio para mim que seria uma questão de tempo até aquela questão vir à baila mas a verdade é que nunca havia pensado nisso. Aquele não era um assunto normal e banal para mim e ele sabia disso. Talvez o facto dele saber o quão delicado é este tema para mim, me tivesse feito pensar que jamais aquilo viria à baila. Também nunca até aquele instante eu havia reparado que havia essa vontade da parte dele pois na realidade da minha parte não existia a mínima vontade. Talvez estivesse tão em pânico por precisamente não saber como lhe fazer entender isso.
- Não vais dizer nada? – Perguntou com certa frieza perante a minha apatia.
- O que queres que diga? – Interroguei ainda completamente atónita – Eu não sei o que dizer…
- Eu digo à minha namorada que adoraria ser pai e ela simplesmente diz que não sabe o que dizer? – Indagou olhando-me perplexo e um tanto furioso.
- Stefan isto é um assunto complicado, que queres que te diga? Fui apanhada desprevenida… Tu sabes que eu nunca pensei em ser mãe…
- Nunca mesmo? – Questionou num tom de escárnio que me fez ruborizar e me deixou ofendida. Mal pude acreditar que ele estava a trazer à tona recordações que me magoavam profundamente.
- Sabes bem o que quis dizer… Nunca pensei em ser mãe agora…
- Pois… agora… bem sei… - Continuou ironizando.
Encarei-o boquiaberta devido à frieza que ele demonstrava. Uma atitude que não era própria dele e que me surpreender negativamente. Eu queria corresponder àquelas expectativas, encarar com felicidade aquela nova possibilidade que surgia como tantas outras mulheres o fariam. No meu lugar muitas mulheres ficariam felizes e expectantes com aquela ideia, por darem aquele passo tão importante junto do homem com quem compartilham tudo. Só que eu não posso negar o que sinto e muito menos quem sou. Esta vida que hoje tenho é o reflexo de uma outra completamente diferente que já vivi. Já tive outros sonhos, outros planos e também já assisti ao desmoronar do mais perfeito dos cenários. Essas vivencias tornaram-me numa pessoa de certa forma descrente.
- Tudo bem Elena… - Disse por fim em tão de conclusão – Já percebi tudo… Estou de saída…
- Então e o café da manhã? – Ainda perguntei vendo-o afastar-se.
- Perdi o apetite… - Verbalizou antes de sair de casa.
Não pude deixar de me sentir abatida por toda a situação mas por outro lado sei que não consigo lutar contra o que sinto.
Quando no final da tarde sai da loja caminhei ainda extremamente consternada em direcção à casa da minha tia Jenna, uma vez que, ainda não havia conseguido processar por completo a proposta do Stefan.
Tudo o que precisava era distrair-me, desfrutar da companhia da minha tia e do meu irmão e afastar das minhas ideias aquele assunto que me torturou durante todo o dia.
Foi Bonnie que me abriu a porta e eu não esperava encontrá-la lá. Dirigi-lhe um sorriso quando ela se afastou dando-me passagem. Contudo, não bastaram mais do que alguns segundos para o meu sorriso desvanecer por completo. Bonnie encarou-me com uma expressão ligeiramente assustada e no mesmo instante pude antever o que se seguiria.
- Entra Elena… - Cumprimentou-me num sussurro, visivelmente consternada – Ele já chegou, está cá em casa… - Segredou.
Tive vontade de fugir, virar costas e voltar a correr para a minha casa. Fingir que aquilo nunca se tinha passado, que não tinha pisado ali. Fazer de conta que não sabia que ele tinha chegado e ignorar tudo por completo. Mas qual seria o propósito disso? De que adiantaria tentar adiar o inevitável?
Não fui capaz de dar a Bonnie qualquer resposta. Engoli em seco e senti as minhas pernas tremerem como varas expostas a uma ventania. Elas não pareciam resistir em sustentar o meu peso e ameaçaram ceder se eu desse um passo em frente.
Ouvi a sua voz melodiosa soar da cozinha e isso bastou para que o meu ritmo cardíaco acelerasse. Deslizei nervosamente as minhas mãos suadas, uma na outra. O facto é que eu estava ao pé de um verdadeiro ataque de nervos quando tudo o que mais precisava era conseguir manter-me calma e controlada.
Respirei fundo e segui Bonnie em direcção à cozinha mas cada um dos meus passos se tornava mais custoso que o anterior.
Quando por fim cruzei a porta da cozinha observei aquela silhueta que tão bem conhecia. Ele estava de costas voltadas mas foi uma questão de momentos até que se apercebesse da minha presença e se voltasse na minha direcção.
- Entra Elena… - Pediu Jenna que conversava com ele animadamente – Temos visitas…
Ele encarou-me directamente. Depois de tanto tempo Damon Salvatore estava novamente diante de mim e não havia mudado absolutamente nada.
Bastou apenas um vislumbre sobre ele para que eu me sentisse exactamente como à quatro anos, perdida… completamente perdida numa obsessão que destruía tudo o que havia de bom em mim.
- Esperava encontrar-te aqui… - Explicou sorrindo-me, depois de um momento em que apenas nos entreolhamos. Segundos tortuosos esses que me pareceram demasiado longos - Não fazia ideia que já não moravas cá, a minha mãe omitiu essa parte… - Continuou, e nesse instante levantou-se e aproximou-se de mim, encostando o seu rosto ao meu para me cumprimentar.
Senti ódio de mim. Ódio pela minha falta de reacção, por estar ali tão perplexa perante aquela constrangedora situação. Mas senti-me pior ainda por estremecer com o toque da sua pele na minha uma vez mais, por me sentir corar ao ser inundada pela fragrância magnífica que fui incapaz de esquecer.
- Não esperava ver-te por cá tão cedo! – Disse por fim reunindo a coragem necessária para articular algumas palavras.
- Tinha que vir para o casamento e como já não venho cá faz bastante tempo, achei melhor tirar umas férias mais prolongadas. Para matar saudades de todos vocês e da minha família.
Quando ele formulou a palavra família, e devido à forma cuidada com que o fez, o meu estômago apertou-se e contorceu-se provocando-me uma enorme náusea. Damon já devia saber pela mãe da minha relação com Stefan e eu não fazia ideia de qual seria a sua reacção perante a constatação dele facto.
- Sê vem vindo… - Disse, esforçando-me por não deixar transparecer a avalanche de emoções que me invadiam.
Naquele instante o meu telemóvel rangeu no interior da minha bolsa. Completamente atordoada procurei-o insistentemente no meio da confusão a afastei-me para o corredor em direcção à porta da entrada. O nome do Stefan surgiu insistentemente e de forma intermitente no visor e a minha primeira reacção foi rejeitar a chamada. Não me sentia em condições para atender no momento.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que tenham gostado de mais este capitulo... Que trouxe de volta o Damon...
O próximo cap. será passado no ano 2007 e retratará uma parte bastante emocional da história...
Mereço reviews?
Beijinho