- O que eu direi para ele? - Perguntei, aflita.

Depois daquele encontro com Miguel, eu fiquei pensando o dia todo em como eu poderia mentir para Lucifer. Não dava mais para agir naturalmente. Eu tinha medo, muito medo.

- Você terá que ser forte, e agir como se nada tivesse acontecido. - Loren dizia, enquanto penteava meus cabelos. - Acredite, ele jamais desconfiará.

- Você só precisa ser uma boa atriz. - Lucius disse, mexendo em um colar meu, que estava em cima da penteadeira.

Loren o olhou feio.

- Eu sei que consegue, querida. - Ela disse, prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo no alto da minha cabeça. - Você é Hokegan, pode qualquer coisa.

Tentei não me sentir tão confiente com aquela resposta. Loren saiu do meu quarto, me deixando à sós com Lucius, que sorriu fraco e caminhou em direção à porta.

- Espere. - O chamei, e ele recuou. - Há algo que eu quero perguntar-lhe.

Ele se aproximou, posicionando-se atrás de mim, me encarando pelo espelho.

- Pergunte. - Foi tudo o que ele disse.

Examinei cuidadosamente sua face, certificando-me que aquela pergunta não o surpreenderia.

- Você o conhece? - Perguntei. - O humano por quem me apaixonei.

O queixo de Lucius travou, e ele fitava algo além do espelho, como se pudesse enxergar através dele.

- Isso foi há muito tempo. - Ele disse, sorrindo de leve, ainda sem me encarar. - Ele se foi, para sempre.

Então, ele andou novamente até a porta, deixando-me sozinha naquele quarto enorme.

Completamente sozinha. Eu e minha paranóia.

x-x

Estávamos saindo do carro, em frente a casa que, durante anos, pensei ser meu lar.

Eu conseguia vê-lo na janela, observando tudo. Assim que me viu, um sorriso preencheu seu rosto. 

- Lembre-se do que eu lhe disse. - Loren sussurrou em meu ouvido. 

Dei o meu melhor sorriso para ela, caminhando até a entrada da casa. Lucius me olhava com um sorriso que era um misto de tristeza e amargura. 

Nem precisei bater, a porta se abriu.

- Posso entrar? - Perguntei, se o olhar nos olhos.

- A casa é sua. - Ele disse, dando passagem para eu entrar. Aparentemente, ele não tinha visto minhas asas.

Tudo continuava do mesmo jeito que eu me lembrava. Mas havia tristeza, coisa que nunca surgira quando eu estava aqui.

- O que ele te disseram? - Lucifer foi logo perguntando. O teatrinho começava aqui.

- Quem? Rose, Marius e Phillip? - Perguntei, usando seus nomes antigos. - Nada. 

Lucifer riu, irônico.

- Espere que eu acredite? - Ele perguntou. - A verdade.

Suspirei.

- Me disseram que eu tinha uma escolha, podia ficar com eles, ou com você. - Sentei no sofá, sentindo os olhos de Lucifer sobre mim. - Não os conhecia, é óbvio que escolhi ficar aqui. - Sorri. 

Lucifer não se pareceu convencer.

- Que mais? - Ele disse.

Andei até ele, pousando uma mão em seu rosto. Não pude deixar de sentir um arrepio correr pela minha espinha, afinal, era com Lucifer que eu estava falando, com o Deus do Inferno.

- Die... - Sussurrei seu antigo nome, o que fez ele se surpreender um pouco. - Eu amo você. - Disse como se fosse óbvio. - Não poderia te deixar. E eu não gosto deles. - Me referi a Loren, Gabriel e Lucius. 

Lucifer (era melhor começar a chamá0lo novamente de Dougie) pareceu relaxar, pois seus braços envolveram minha cintura, me puxando contra si, e sua boca beijou meu pescoço.

Eu me sentia mal por estar mentindo pra ele.

Mas ele era um traídor.

- Você não sabe o quanto faz falta. - Ele sussurrou conta meu pescoço, seu hálito quente me fazendo tremer. Incrível como eu aunda possuía sentidos humanos, assim como minhas emoções. Miguel me dissera que isso iria sumir com o tempo, até eu me acostumar com minha nova forma.

Eu estava diferente, mas não aos olhos de Dougie.

Não aos olhos de Lucifer.