Eu nunca tinha visto um lugar como aquele, nem em meus mais insanos sonhos. Difícil acreditar que ele realmente existia.

Eu já tinha me acostumado com as asas, embora nos primeiros dias elas me incomodassem um pouco, pois pesavam.

Tive também que abandonar certos hábitos, como dormir e comer. Sim, anjos não precisam disso, é uma necessidade puramente humana.

Assim que passei por aqueles enormes portões de ouro maciço, e adentrei o enorme salão, pude sentir meu coração batar mais forte e rápido.

Sentado em um trono, com uma pose que exaltava muito sua divindade, estava um belo rapaz de traços delicados. Seu rosto era jovial e relaxado. Seus olhos, do mais puro azul do céu e dos oceanos, demonstravam imensa felicidade por me ver ali. O nariz fino estava apontado para mim, erguido. Seus lábios finos estavam levemente repuxados para cima, exibindo um leve sorriso. Os cabelos loiro-escuro estavam presos em um rabo de cavalo baixo, caindo em grossas mechas pelas suas costas. Uma túnica cobria-lhe o corpo, deixando à mostra seus braços esguios. Um belo par de asas brancas arrematavam sua figura angelical. Era bem maiores que as minhas, e assim que me aproximei dele, elas pareceram dobrarem de tamanho.

Miguel levantou-se, andando em minha direção. Esticou os braços, me puxando para um abraço. Minhas asas baixaram automaticamente, como num gesto de respeito. As suas, ao contrário, me envolveram, me cobrindo por inteira. Me perdi na imensidão delas.

- Minha menina. - Ele sussurrou em meus cabelo, aspirando o aroma que parecia tão vital para ele. - Está exatamente como me lembro.

Ergui minha face, observando-o de perto, e pude notar ainda mais o quão ele era perfeito. Exibi o meu melhor sorriso para ele, sentindo uma lágrima brotar de meus olhos.

- Não chore. - Ele disse, limpando a lágrima com a ponta do dedo. - Quero vê-la sorrindo sempre, me faz feliz vê-la sorrindo.

O abracei ainda mais forte, como se a qualquer momento ele pudesse sumir de meu abraço. Ele cheirava à canela. Eu sempre gostei de canela.

- Me diga que isso não é um devaneio meu. - Sussurrei, temendo que aquele momento fosse alguma loucura da minha mente paranóica.

Miguel riu baixinho, segurando em minha mão e me levando mais para dentro.

- Esse momento é tão real quanto você. - Ele também sussurrou.

Passamos por um arco, que nos levou até um enorme salão, onde eu pude ver algumas pessoas.

Anjos, eu diria.

- Estes são Gabriel, Rafael, Uriel, Fanuel, Zaraquiel e Simiel. - Ele sussurou no meu ouvido.

Lembrei-me de todos. Eram os 7 Arcanjos Originais. Seriam 8, com Lucifer. Tentei afastar este pensamento.

- Meus irmãos. - Miguel começou, e todos os 7 celestiais presentas no salão o olharam. - Os convoquei aqui para um momento muito importante nos Céus. Finalmente, a anjo Hokegan está de volta ao seu Lar. - Ele me olhou, sorrindo.

Houve murmurios em todo o salão, até Rafel dizer alguma coisa.

- Seja bem-vinda, Hokegan. - Disse ele, sorrindo. - Finalmnete a temos conosco.

Não pude deixar de sorrir. Aqueles rostos tão perfeitos me encarando, exibindo sorrisos magníficos, me faziam sentir uma sensação que eu jamais provara.

- Temos uma missão para você, Hokegan. - Começou Miguel. - Você já sabe qual é. - Sim, eu sabia. Destruir Lucifer. - Você voltará à Terra, voltará a ficar com Lucifer. - Ele disse isso com um certo nojo. - Como ele caiu, não poderá ver suas asas. Apenas os celestes podem vê-las. Por isso, a Estrela da Manhã ahará que você ainda é humana. - Miguel acariciava meus cabelos. - Você se infiltrará, literalmente, em Lucifer, descobrindo seu ponto fraco. Quando o Grande Dia chegar, vocês irão lutar, e você vencerá, é claro.

Engoli em seco.

- O que acontece se eu não vencer? - Perguntei, com medo da resposta.

Miguel me encarou, sorrindo.

- Então a Criação estará sobre o controle de Lucifer, e permanecerá assim até o dia do Julgamento Final.