~ Matt ~

 Celas diferentes.

 Claro, o que será que me fez pensar que nos deixariam na mesma cela? Pra que facilitar as coisas para nós, não é mesmo?

 Bom, pelo menos o guarda nos empurrou para celas uma ao lado da outra. Mas... Sabe quando você tem a primeira visão de algo ou alguém que só aquela primeira impressão que passa parece dizer, ou melhor, gritar em seu subconsciente: Ferrou ferrou ferrou ferrou!!!

 Pois é. Uma luzinha pareceu começar a piscar na minha cabeça, me alertando, assim que eu entrei e vi o meu companheiro de cela.

 E sabe o pior? Ele me viu também.

 Imagine um gorila. SAbe no filme Tarzan, aquele chefe gorila mal-encarado? Agora tire todos... Não, tire a metade da quantidade de pêlos, coloque um uniforme azul de presidiário nele, juntamente com cabelos negros muito compridos e mal-cuidados.

 Ah! E a expressão é a mesma do desenho; uma careta aparentemente permanente de "eu sou o líder, tenho que fazer pose de mau até minha cara endurecer".

 Imaginou?

 Então já deu pra ter uma idéia de como o meu companheiro de cela parece amigável.

 - Ahn... Oi.

 "Oi"? "Oi"?! Por que diabos eu disse "oi"?!

 O cara me encarou por um longo tempo.

 Muito longo mesmo!

 Olha, eu sei que deveria estar acostumado à pressão e ao perigo iminente por causa dos trabalhos de detetive e derivados e por causa do Mello ( principalmente por causa do Mello ), mas... Deu pra imaginar o gorila, não deu?!

 Ele finalmente falou, e sua voz... Vou adizer apenas que combinava perfeitamente com sua aparência.

 - Você fica com a cama de baixo - indicou o beliche da cela com a cabeça.

 Ufa, era só isso?

 ...

 Mas peraí! Ele vai dormir em cima?! Naquele beliche que parece que foi grudado com cuspe e chiclete?! E eu vou estar embaixo?!

 Muito obrigado, mas eu acho que vou dormir no chão mesmo.

 Até porque, se o gorila dormir na cama de cima, é provavelmente no chão que eu vou acordar mesmo. Isso, claro, depois de ter todos os meus ossos esmagados.

 - Ahn... Você não prefere... - comecei nervoso.

 Ele estreitou os olhos.

 Por que eu abri a boca mesmo?

 - Você fica embaixo - repetiu.

 - Certo - eu é que não ia insistir.

 É impressão minha ou eu estou muito ferrado?

 Acho que vou imitar Dostoievski e escrever um livro sobre a minha experiência na prisão, mas com lições em cada capítulo.

 Primeira lição: sempre confie em seu subcosnciente. Se ele disser que você está ferrado, acredite, você está ferrado.

~ Mello ~

 Ok, ficar em uma cela diferente do Matt não estava em meus planos.

 Tudo bem, a gente dá um jeito.

 Mas...

 - Nossa, que loirinho mais lindo mandaram pra cá - o meu companheiro de cela falou com um sorriso pervertido estamapdo na cara, assim que eu entrei.

 ... Por que tinham que me colocar com um bicha daqueles?!

 Nada contra os gays, tanto porque eu já tive minhas experiências... Enfim, nada contra, mas... Tem limite, certo?!

 Desculpe, mas nem ferrando que eu respeito um cara que deve ter uns quarenta anos, maior do que eu, que tem me lança um olhar pervertido daqueles!

 Existe uma grande diferença entre "gay" e "veado", por favor!

 - Vem cá, loirinho - ele chamou com o dedo indicador - Qual o seu nome?

 Maldito presídio intermediário!

 Aqui é o local onde todos os que esperam julgamento, fiança, ou que estão simplesmente presos para aprender uma lição, ficam. Eu nem queria saber o que aquele cara fez para estar aqui.

 - Qual cama você quer? - ele perguntou - Mas sabe, eu acho que um beliche é completamente desnecessário. Nós podemos dormir juntinhos - e piscou.

Ele piscou!!!

 Tá legal, eu fui preso por tentativa de assalto, mas agora eu vou ser mantido preso por homicídio!

 ...

 Inspira, expira. Inspira, expira.

 Ok, eu tenho que manter o foco aqui.

 Andei devagar até o beliche e joguei meu kit de presidiário na cama de cima.

 Ninguém pode falar que eu não tenho auto-controle.

 Só espero que o Matt esteja melhor do que eu.

 Acho que eu vou fazer uma lista de coisas que aprendi na prisão.

 Primeira lição: eu preciso pensar muito, antes de resolver criar um plano de infiltração.