~Matt~

 Não, não, não, não... Ah, qual é!

 Há um instante, há um mágico breve instante, Mello estava rindo. Estava tudo bem, estávamos levando bem aquela atmosfera opressora de prisão, e mais um tempo quietinhos até agarrar a primeira oportunidade que surgisse pra terminar esse caso, nós poderíamos dar o fora daqui. Apesar de nomes femininos em gorilas e de cigarros assassinos, eu estava vivo. E de alguma forma, Mello esstava se mantendo sob controle. Estava tudo indo bem, apesar dos pesares.

 ...

 Mas o que me fez pensar que isso poderia durar? O quê??

 Claro que não poderia... Nós não temos esse tanto de sorte...

 Não está entendendo do que eu estou falando? Sorte a sua.

 Como eu disse antes, estávamos todos em fila indiana, devidamente organizados para voltar para nossas nem um pouco confortáveis celas, e eu estava na frente do Mello.

 A questão era quem estava atrás dele. E a visão que eu tive ao virar para trás.

 ...

 Levarei anos para esquecer aquilo...

 Aquele brutamontes de antes tentando arranjar briga com o Mello? Andrew lhe oferecendo cigarros suspeitos? Algum guarda provocando os prisioneiros? Tudo isso eu poderia superar. Mas eu vi alguma dessas cenas? Nãaaao, claro que não! Eu tive que virar e dar de cara com o travesti, companheiro de cela do meu tão tolerante amigo, passando a mão com a maior expressão nojenta estampada na cara, bem na bunda do Mello!

 Ah, por favor, alguém apaga o que eu acabei de ver! Por favor...

 -...- Mello não gritou, não xingou, nem ameaçou. Parecia furioso demais até para pensar em fazer qualquer uma dessas coisas. Não, ele partiu pra cima.

 E eu não tentei impedí-lo desta vez. Eu posso culpá-lo? Alguém pode culpá-lo? E também... Eu prezo pela minha integridade física, obrigado.

 Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete... Antes que Mello conseguisse desferir o oitavo soco, com a expressão mais alucinada que eu já o vi fazer, dois guardas o seguraram e o impediram de continuar deformando a cara do travesti como se esta fosse um pedaço de carne a ser amaciado e ele o açougueiro encarregado de fazer o serviço.

Manual do suicídio: caso esteja procurando por um fim certo e doloroso, mas quer fugir dos métodos mais usados, três palavras podem ser a resposta que deseja: assedie o Mello. 100% de certeza de que vai funcionar. Mais cedo ou mais tarde, sem falta.

~Mello~

 Merda, merda, merda ,merda, MERDA!

 EU QUERO MATÁ-LO, EU QUERO DEFORMAR A CARA DELE, EU QUERO CORTAR A MÃO DELE FORA, EU QUERO... Eu quero que esses caras me larguem pra eu poder fazer tudo isso!!!

 Tentei me debater, e até tentar algumas táticas que aprendi com L para me soltar, mas claro, para conseguir conter prisioneiros musculosos, os guardas também precisam ser fortes, não é mesmo?! Tentava, tentava, e continuava tentando, mas por algum motivo eu não conseguia dizer nada. As palavras, os gritos de raiva, pareciam ter ficado presos no fundo da minha garganta, então só me restava tentar bater em qualquer um que estivesse perto para voltar a alcançar o nojento... Aquele... Ahhhhhh, que merda!!

 - Ei, fique parado, loirinho! – um dos guardas que me segurava falou, de dando um forte tapa na cabeça junto.

 Parei de me mexer ao sentir aquele golpe e a parte de trás da minha cebeça começar a latejar. Virei lentamente o rosto para a direção dele – nem sei como estava minha cara na hora, só sei que ele deu um meio passo pra trás, ainda me segurando, e não falou mais nada – com “Você vai ser o próximo” bem explícito nos meus olhos. Tratei de memorizar bem a cara do sujeito; é bom que ele se prepare...

 - Você vai passar a noite na solitária, ouviu bem? – ouvi o outro falar, segurando com mais força  meu braço direito.

 Solitária?

 ...

 - O... O que... – os dois gaguejaram juntos, sem entender, ao me ver sorrindo. Sim, eu estava sorrindo. Por quê? Oras, ouviram o que ele disse?! Eu vou passar a noite na solitária! Não há nada que eu quisesse mais do que isso! Quero dizer, depois de comer chocolate, matar aquele cara e sair daqui.

 - V-Vamos logo – um deles falou, não tenho certeza de qual. Não me importa, também.

 Sabe o que passar a noite na solitária quer dizer? Sabe? Solitário, sozinho. Sem aquele tarado do inferno! Tá que muito provavelmente ele acabaria morto antes do amanhecer caso estívessemos na cela, mas enfim. Dava até pra esquecer por hora minha vontade de degolá-lo... Por hora. É uma promessa: até eu dar o fora daqui, Paullete vai se arrepender de terem me colocado na mesma cela que ele... Ah, como vai...

 E se não dava pra fazer isso agora, então eu esperaria. Sim, esperaria. Era por uma boa causa afinal...

 Por isso, quando começaram a me conduzir para dentro do prédio, eu fui sem resistência nenhuma. Sempre há o dia de amanhã para matar um pervertido...

 Lancei um último olhar para o ser de cara inchada caído no chão e em seguida procurei Matt, mas não o encontrei. Ahn? Ele não estava ali até agora a pouco?

 ...

 Ah, que seja.

 Dica de sobrevivência: nunca, jamais, em hipótese alguma, abuse do meu auto-controle. E também, nunca duvide das minhas ameaças, elas sempre se realizam. Está avisado.