Mona Lisa escrita por Alana5012, YagamiMegumi


Capítulo 4
Recordações


Notas iniciais do capítulo

Legenda
Narração: (Ponto de Vista dos Personagens - 1a Pessoa)
Mudança de POV - Point of view (Ponto de vista): ●๋..●๋
Diálogos: - Então por que? Por que nos fazer lutar? Só não consigo descobrir o propósito.
Poesia: "Itálico"
Lembrança: Negrito



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●๋•..●๋•                

"Guardo os sonhos que sonhei,

Os momentos que vivi;

São tantos que já nem sei

Se de algum me esqueci..."*

             

Alice

  À princípio, não entendia porque o temor pelo meu tão querido irmão. Então, estivera preso todo esse tempo? Que fizera? Infelizmente, nunca descobri. O fato era que ele havia mudado. Via ira em seus olhos, enxergava a fúria em sua face. Pensei em ir ao seu encontro, mas ao vê-lo tão diferente, senti pela primeira vez, em muitas eras de existência, aquilo que os humanos chamam de medo. Aquela áurea malígna, repleta de rancor, definitivamente não podia ser o mesmo irmão que tanto amei. Afastei-me, trêmula. Achei que seria bom revê-lo outra vez, acreditava veemente que ele sorriria quando me visse; agora, me perdia num mar de incertezas. 

  Logo descobri que as criaturas que tanto me assustavam eram a criação dele. Era à ele que as pessoas se referiam em suas orações, quando pediam proteção contra o mau. Ele, Lucífer, que um dia fora a luz, agora era trevas: o próprio Satã, o Diabo. Como ele, que cultuava o belo e o sublime poderia gerar tais seres? Rancorosos. Arrogantes. Atrozes. Os demônios eram subordinados dele, afinal. Mas por que Gabriel jamais me dissera? 

  Ao tomar conhecimento sobre o embate que deveria ocorrer entre Lucífer e Miguel, estanquei. Experimentei outra emoção que me era desconhecida: desespero. Como assim meus irmãos iriam começar uma Guerra? Ninguém me dizia nada, sentia como se esse tempo todo estívesse vivendo uma mentira...Revolta. A palavra perfeita para descrever minha aflição.

  Contudo, me mantive calada. Continuei fingindo não saber o que se passava na presença de Miguel, no entanto, naquele dia, eu não aguentei.

  - Então, o tempo todo, você sabia?! - Dizia entre soluços - Achou que se escondendo tudo iria ficar bem, não é?

  - Querida, eu não... - Gabriel tentava se explicar, mas eu não queria ouvir, não podia! 

  - VOCÊ É UM COVARDE, SEU MENTIROSO! - Gritei, por fim, permitindo-me, pela primeira vez, perder o controle. Já não suportava mais aquela farça, aquele era o fim da encenação. Miguel me olhava, estupefato. Era a primeira vez que nos encontrávamos em semanas, e agora eu sabia porque: ele estava possuindo o receptáculo que substituía Dean - Adam Milligan.

  - Quer dizer que também sabia durante todo esse tempo? Esteve ao lado deles? - Encarava-me incrédulo - Como pode fazer isso por minhas costas?! 

  - Como VOCÊS puderam sustentar essa mentira que se tornou a minha vida? - Chorava como nunca fizera antes. 

  - Lucífer é um monstro, Alice. - Ele continuava, indiferente - Não podemos perdoá-lo pelo que fez.

  - Eu é que não irei perdoá-los! - Olhei para Gabriel, que permanecia calado. Assistia a tudo em silêncio - Dean tem razão, você é um egoísta: não se importa com ninguém, não é?! Vai continuar fugindo por mais quanto tempo?

  - Alice, chega. - Miguel me fitou, frio. Quando dei por mim, estavámos no Éden novamente - Não pode mais ir à Terra. Está proibída de deixar o Céu, sobre qualquer circunstância. 

  - O QUE?! - Bradei, exasperada.

  - A influência dos Winchesters sobre você...

  - Não... NÃO! - Repetia pra mim mesma - EU TE ODEIO, MIGUEL! - Sem importar-se com minhas ofensas, deu-me as costas e desapareceu.

  Jamais esquecerei-me da noite em que Miguel encontrou Gabriel. Ainda pude ouvir parte da troca de insultos entre os dois. Talvez minhas palavras tenham surtido efeito sobre ele, pois decidiu ficar ao lado de Dean e Sam. Mas Lucífer os encontrou. Não sei o que aconteceu, porém, aquela foi a última vez que vi Gabriel. 

  Castiel era diferente dos outros. Não temia o poder da hierarquia - pelo menos, não mais. Os rapazes ficariam bem enquanto estivessem com ele. Miguel deixou Raphael encarregado do Paraíso quando se juntou à guarnição. Nosso "General" havia ordenado que este regressasse o mais breve possível da Terra, pois tinha uma tarefa especial para qual iria designá-lo. Ele ficou responsável por mim também. Embora não fosse tão bom e atencioso comigo quanto meus outros irmãos, tratava-me bem. Era meu carcereiro. Eu odiava aquilo, queria ter me juntado aos Winchesters enquanto ainda havia tempo... Felizmente, eles conseguiriam, apesar de tudo, derrotar meus irmãos. Vi o que aconteceu do Paraíso, junto do arcanjo e de seus fiéis seguidores. Não podia fazer nada, então me limitei a observar o que se passou sem esbolçar qualquer reação. Os insultos, a violência, era como se estivessem torturando a minha alma. Tudo sucedeu-se vagarosamente, foram uns poucos minutos que mais pareceram horas intermináveis. Mais tarde, as consequências seriam terríveis.

  As coisas pioraram quando Miguel também se foi. Uma Guerra Cívil ocorria tanto no Céu quanto no Inferno: aqueles leais à Miguel e Lucífer lutavam contra Raphael e Crowley, respectivamente. Jamais entendi de fato o que se passava entre todos eles. Qual o motivo de toda essa Guerra? Aproveitei a anarquia instalada durante a briga entre os poderes e fugi. Deixei para trás todo um passado de omissões e me escondi, tal como Gabriel. Todas as esperanças que havia depositado em Castiel morreram quando soube que estava trabalhando ao lado de Crowley. 

  Os conflitos se intensificavam a cada segundo. Tudo soava confuso: anjos e demônios, adversários e aliados ao mesmo tempo, parecia-me absurdo! Queria poder ter feito alguma coisa, gostaria mesmo... Porém, se Raphael me encontrasse, não poderia continuar protegendo os rapazes. Eles não tinham mais ninguém, precisavam de mim: Cass se mostrara um oponente astucioso, estava ficando perigoso.

  Aquilo era pior do que o Apocalipse: um mundo caótico e sem leis, onde criaturas vagavam como eu, sem rumo, lutando umas contra as outras, sem qualquer motivo. Vivíamos num verdadeiro Inferno... Entretanto, tudo ainda podia piorar - e piorou.

  Fui caçada por Raphael e seus seguidores durante semanas... Consegui ocultar minha presença até mesmo dos anjos. Então percebi o quanto a situação se complicava: observando meus irmãos, fui compreendendo a evolução dos conflitos. O climáx foi assistir Castiel se auto-entitulando Ele. "Um novo Deus"? Qual o problema com ele?! Era ridículo: seu ego estava inflado, pensava que era superior a tudo e todos, arrogante, prepotente, cheio de si, parecia-se até com... Lucífer. Só então, me dei conta: Cass tornara-se um caído, exatamente como Azazel, Lilith e tantos outros. Igual à... Acho que essa foi a primeira vez em que pensei nele desde o ocorrido. Naquele dia, realmente o vi como o irmão que tanto amei e que havia ido sem despedir-se. Enxerguei o sofrimento em seus olhos, podia sentir a ira e o desespero em suas palavras. E não pude fazer nada! Como eu desejava gritar, dizer para cessarem com tudo, implorar para que abandonassem as armas e voltassem pra casa... O mais provável era que me ignorassem, entretanto, poderia ter, ao menos, tentado. De qualquer forma, Castiel passou a lembrar-me ele. De repente, a conversa que haviam tido à tanto tempo fazia sentido.

  - Olá, irmão. - Ele sorria. De um modo perverso e desdenhoso, contente de tê-lo em sua armadilha, satisfeito do outro estar à sua mercê. Este contemplava o criptar do fogo em torno de si desesperado. Provavelmente, buscando uma saída. Foi quando notou que estava sendo observado.

  - Lucífer. - Podia sentir o temor em sua voz. A maneira como o encarou, já a conhecia: era a mesma expressão de horror e perplexidade que eu esbolçara quando o vira novamente pela primeira vez.

  - Presumo que esteja aqui com os Winchesters. - Andava lentamente ao redor do anjo, havia escolhido-o para descontar sua frustração; tinha pena de Castiel: Lucífer sentia prazer em humilhar à todos, era cruel, mas ele era assim. Ou, pelo menos, se tornara assim. Como sempre, assistia a tudo sem ser percebida. Acostumara-me com aquilo. A única coisa com a qual não estava habituada era vê-lo daquela forma...

  - Eu vim sozinho. - Afirmou, sem muita convicção, após refletir por um momento. Talvez estivesse reunindo coragem: enfrentar meu irmão era uma coisa que me assustava, jamais teria tamanha ousadia para fazê-lo.

  - Lealdade: - Parou de repente e mirou o vazio antes de prosseguir - uma ótima qualidade hoje em dia. - Debochou - Castiel, certo? - Ele assentiu - Castiel... - Repetiu para si mesmo, apontando em direção a este, enquanto voltava a caminhar - Me contaram que você chegou em um automóvel.

  - Sim. - Respondeu, hesitante. Assim como eu, certamente estaria se pergutando onde Lucífer pretendia chegar com aquilo.

  - Como foi? - A curiosidade mesclada ao tom de devassidão.

  - Hã... Devagar. Confinante. - Cass estava realmente confuso.

  - Que coisa peculiar é você. - Lançou-lhe um olhar superior, era a mesma forma como fitava seus demônios. Media Cass dos pés a cabeça, sem nada dizer.

  - O que há de errado com seu receptáculo? - Assim como eu, ele também havia notado as feridas que se formavam na face do mesmo. Semelhantes à cicatrizes, eram crostas que começavam a espalhar-se pelo rosto deste.


  - Sim... - Admitiu - Nick está se esvaiando, eu receio. Ele não pode me conter para sempre, então... - Antes que pudesse terminar, foi interrompido. Nós dois sabíamos o que significava.

  - Você.. - Vociferou, frustrado. Avançou, porém, o fogo sagrado do círculo conteu-o. Lucífer o encarou arrogante, quase que presunçoso - Você não irá se apoderar de Sam Winchester. Eu não o permitirei. - As ameaças não intimidavam-no. Mantinha a mesma postura indiferente, o mesmo ar frio.

  - Castiel... - Um olhar de reprovação, junto de certa ironia; e pôs-se a continuar andando, ainda mais vagarosamente. Estou me irritando! Por que ele está fazendo isso? - Não entendo porque está lutando contra mim. Você, entre todos os anjos! - Falava como se fosse algo inesperado, surpreendente.

  - Precisa mesmo perguntar? - Eu também não entendia.

  - Eu me rebelei e fui expulso. Você se rebelou e foi expulso; quase todo o Céu quer me ver morto e se eles tiverem sucesso, adivinhe? - Por um instante, cessou - Você é o novo inimigo público número um deles. - Lucífer estava certo: os anjos tinham ordem para prendê-lo ou matá-lo. O comando partira do próprio Miguel, que o julgava um desertor. Castiel também sabia, porém, não esbolçara qualquer reação - Estamos do mesmo lado, goste ou não, então... Por que não servir aos seus próprios interesses? Os quais, no caso, são os mesmos que os meus. - Terminou por fim, com uma careta cínica. Como eu odiava-o quando agia daquela maneira! Proposta tentadora. No entanto, meu irmão foi recusado. Sorri.

  - Morrerei primeiro. - Afirmou seguro. Houve um breve silêncio.

  - Eu presumo que irá. - Foi tudo que Lucífer conseguiu proferir diante da atitude tão nobre do anjo.

  Não gosto de pensar nele. É como se as coisas terríveis que ele fez e eu presenciei viessem a tona novamente... Não queria me magoar, mas eu ainda o amava. Ele era o meu irmão. E nem sequer... Não, eu não vou chorar. Ele nem ao menos perguntou por mim! Lucífer se esqueceu de mim; e eu ainda o vejo como o ser divino tão célebre que um dia foi. O respeito e admiro, assim como faço com o Papai. Agora não importa. Castiel era diferente. Pelo menos, até começar a agir assim. Tolo. Não percebeu que, ao abrir o Purgatório, libertou também a jaula que prendia Lucífer e Miguel; diferente do que todos sabem (ou consideram saber), a tal da gaiola não está no inferno. Se fosse assim, Azazel ou outro demônio "leal" já teria encontrado-a à muito tempo e o Apocalipse teria acontecido antes mesmo dos Winchesters. Porém, Deus trancou Lucífer nas profudenzas do único lugar em que o destino dos que o habitam é incerto. A chave que Dean possui não é única; há uma forma de entrar em cada um dos mundos espirituais que está ligada à Terra. Os rapazes já conhecem o Portal do Inferno, que Colt protegeu muito sábiamente. Creio que entrar no Paraíso seja um pouco mais difícil, pois é necessário que se passe pela própria Morte para fazê-lo - ele é quem guarda a chave para o Éden (por isto Lucífer caçou-a por tanto tempo). Desta forma é que eu atravessava ambos os mundos, durante as minhas, antes frequentes, visitas à Terra. Bastou que realizassem o ritual para abrir o portal do Purgatório e agora, eles estão de volta. Como eu sei disso? Depois de tudo, as palavras de Gabriel finalmente fazem sentido. Acho que apenas ele, Miguel e Joshua sabiam disso. Estou realmente preocupada. Decidi que não vou mais tolerar as atrocidades que venho presenciando. Preciso fazer alguma coisa, por isso, irei ao encontro dos únicos que já derrotaram Miguel e até mesmo o próprio Diabo antes: falarei com Sam e Dean Winchester.

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Notas finais do capítulo

*Trecho de "As chaves da Memória"; Poema de Célia Gil.Especialmente para Heloisa, que curte esses POV's da Alice... rs