A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

"Não estava preparada para o tapa que veio. Forte, estalado e dolorido. Merda, ia ficar a mão dela marcada no meu rosto."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/141578/chapter/2

O silêncio apenas servia para me deixar mais nervosa ainda. Era um silencio tenso e pesado. Aparentemente, a conversa que minha mãe travava no telefone era importante para meu futuro castigo, uma vez que Hans a esperava impaciente terminar para falar algo. O fato dela estar conversando em uma outra linha na qual não tinha ideia qual era o que falava não me ajudava muito. Com a adrenalina em baixa, estar molhada e de roupa intima na sala refrigerada contribuía para que começasse a tremer e meu nariz a escorre. Que bela maneira de ter uma conversa aparentemente seria.

                - Muito obrigada! Mesmo! – terminou ela, por fim, desligando o celular – Está tudo certo Hans.

                - Ótimo, talvez, então queira informar a sua filha mesma de nossa decisão.

                Ela pareceu surpresa e até mesmo hesitante, mas se recompôs logo. Posicionou-se ao lado de Hans e mandou logo o castigo, direto e reto, como de praxe.

                - Rose, você está temporariamente desligada das atividades de Guardiã.

                A encarei. Devia ser uma brincadeira, não era possível. Como assim não seria mais guardiã? Eles não podiam fazer isso, não podiam simplesmente me recusar um cargo que era meu por direito. Quero dizer, os próprios pais da Lissa deixaram bem claro que gostariam que [i]eu[/i] fosse sua guardiã. E depois do que aconteceu, com nosso laço, todos concordaram que seriam uma ótima ideia. Apesar de ser bem... festeira, digamos assim, eu era a melhor da minha turma de longe!

                - Você terá um tempo de treinamento extra para que possa---

                - É uma brincadeira, não é? – interrompi, cruzando os braços para me proteger do frio. – É apenas pressão. Não é? Querem me botar medo. Vão me deixar um ou dois dias sem fazer nada e então vão me chamar me dar um belo sermão e serei novamente a guardiã de Lissa, não é?

                - Novamente? – indagou Hans, erguendo uma sobrancelha. Sempre quis fazer isso, mas nas atuais circunstancia, servia apenas para me irrita mais. – Você nunca foi a guardiã da Princesa Dragomir, Srta. Hathaway. Ele ainda não tem seus guardiões oficiais e você ainda não foi designada a ninguém. E, honestamente, com essa sua conduta, duvido que seja...

Meu queixo caiu em exasperação. Todos sabiam que seria a guardiã dela. Eu seria a guardiã dela! Infernos! O que eles queriam, afinal? Acabar com a minha vida?

                - Woow! Pera ai, pera ai! – Ergui as palmas das mãos, e o espasmo de raiva que seguiu esquentou meu corpo. – O que você esta querendo insinuar? Que eu-

                - Que você não foi, não é, e corre sérios riscos de não ser a guardiã da Princesa. – Interrompeu minha mãe, concluindo minha fala.

                - Qual é!? – Me levantei indignada, provocando olhares reprovadores de ambos  - Eu não sei pra que tanto estresse. Primeiramente, eu não tive nada a ver com o acidente de hoje-

                - Estava bêbada e em um SPA, que deveria estar fechado, no meio da noite, seminua – mais uma vez, minha mãe me interrompeu. Estava começando a me irritar por não conseguir completar uma frase sem sua interferência. – Já são motivos bons o bastante.

                - Se eu não estivesse lá, o cara provavelmente estaria morto! Além da hemorragia, teria se afogado! – argumentei, sentindo a garganta arranhar por estar gritando. – Todos aqueles Morois idiotas ficaram olhando, e fizeram bosta nenhuma pra ajudar!

                - Rose!

                - Mãe! A maioria fugiu assim que viram o que tinha acontecido! E nenhum que estava lá parecia capaz o suficiente para

                - Chega! – o punho de Hans bateu com força na mesa, me fazendo pular de susto. – Janine, acho que chega de enrolação. Esta obvio que sua posição aqui é difícil. Rose – ele virou os olhos irritados para mim – Você está indo embora.

Precisei de um momento para absorver a informação. Senti minhas pernas tremerem e caí pesadamente na cadeira estofada. Isto estava fora de cogitação. Não. Não, isto não estava acontecendo. Era uma brincadeira. Uma brincadeira muito de mal gosto.

- Vocês não... estão falando sério.

- Me desculpe, Srta. Hathaway, mas tratamos de nossos assuntos com seriedade. Isso talvez possa ser um choque para a senhorita.

- Rose. – virei-me, ainda em choque, para minha mãe. – É uma decisão temporária. E é a melhor que temos. Ou prefere não ser guardiã? De nenhum tipo?

- Mas... Vocês não podem fazer isso! – tentava procurar argumentos, mas estava travada. Como minha mãe, minha própria mãe, mesmo que ausente e insensível, poderia concordar com isso?

- Já fizemos. – Hans se recostou na cadeira, visivelmente aliviado e, admito com irritação, parecia feliz por se livrar de mim – Claro, iriamos sentar e conversa civilizadamente com você. De preferencia usando roupas, mas os incidentes de hoje nos obrigaram a apressar. Que bom que o Sr. Mazur tenha sido... compreensível.

- Abe disse que está tudo praticamente pronto. Precisa apenas conversa com ela, mas ele crê que não haverá nenhum tipo de resistência – informou minha mãe. Mas quem, diabos, era esse Abe Mazur? – Na verdade, ele me disse que parecia muito contente em recebe-la.

Quem é que vai me receber? Maldição! Inferno! Por que eles estavam fazendo isso comigo afinal? Não podia simplesmente me tirar da Lissa. O que ela seria sem mim? Não podia ficar assim, longe! Como eu iria protege-la dela mesma estando... sei lá onde?

Quem é que vai me receber? Maldição! Inferno! Por que eles estavam fazendo isso comigo afinal? Não podia simplesmente me tirar da Lissa. O que ela seria sem mim? Não podia ficar assim, longe! Como eu iria protege-la dela mesma estando... sei lá onde?

- Tudo ótimo! – Hans esfregou as mãos umas nas outras – Rose, eu sugeriria que você fosse arrumar suas malas, mas creio que suas roupas de frio não serão o suficiente. – o que? Eles iriam me mandar para a Antártida, para morrer congelada? – Fique preparada. O Sr. Mazur é muito pontual. A próxima vez que ele ligar, estará esperando por você.

Arregalei os olhos. Rápido assim? O que eu tinha feito era tao grave que eles queriam me enxotar logo para longe, junto com um desconhecido de nome estranho que iria me levar para outra desconhecida? Olhei pra minha mãe em busca de um apoio que sabia que não ia encontrar.

- Para onde, afinal, eu vou? – exigi, ignorando a educação.

- Russia. – Respondeu Hans antes que minha mãe se manifestasse.

Para ser justa, ela pareceu realmente incomodada com a interferência de Hans. Ele era direto e reto, era pratico, como todo guardião. Às vezes, imagino, restos maternais dela viam a tona, como agora, quando ela encarava meu rosto lívido.

- Não! – exclamei me levantando da cadeira de um salto, acordando para o que estava acontecendo – Vocês não podem fazer isso! Não podem simplesmente...

- Chega Rose! – ela me interrompeu autoritária. – Não cabe a você decidir o que fazer. Ameaças não funcionam mais. Isto aqui é o mundo real! Quando vai perceber isso? Não há mais nada o que discutir aqui!

- Ah, então é isso? Por causa de uma merda que aconteceu no mesmo lugar que eu, coincidentemente, estava, serei chutada daqui? – ela fez menção de falar, mas não deixei. – Só por que você falhou como mãe, eu terei que pagar o prejuízo? – seus olhos ficaram perigosos, e ela ergueu uma sobrancelha.- Inferno! Vão me mandar pra Rússia pra que? Pra ficar como uma Meretriz de Sangue, é isso então?

Não estava preparada para o tapa que veio. Forte, estalado e dolorido. Merda, ia ficar a mão dela marcada no meu rosto. Assim que desferiu o golpe, ela recuou arrependida. Mas não me importava. Joguei um olhar cheio de ódio para os dois e me dirigi para a porta. Antes de sair, me virei, preparando-me para uma saída teatralmente dramática.

- Tudo bem, que seja! Eu vou pra merda de país que vocês querem. Melhor que fica aqui e ser obrigada a encara vocês.

Sai do escritório batendo a porta, deixando que meus olhos embaçassem, mas me recusando a cair no choro.

****

- Você não pode estar falando sério! Me diz que é uma brincadeira, Rose! Rose! Olha pra mim!

Assim que sai do escritório, me dirigi diretamente para o meu quarto. Lissa já me esperava por lá. Me disse que Ian, o tal acidentado que me envolveu nesta enrascada, estava sem risco de morte. Bom pra ele.

Sua reação assim que lhe contei do que haviam decidido por mim não poderia ser pior. Sua mente fraquejou, e pude sentir, lá no fundo, uma agitação escura e pesada. Fez meu estomago se retorcer, mas procurei não me preocupar mais do que já estava. Liss não se conformava. Nunca estivemos separados e era acordo nosso nunca se separar! Como ela poderia ficar sem sua melhor amiga? Sem sua guardiã? Não piorei mais as coisas dizendo o que o Hans me havia dito, sobre nunca ter sido, não ser e as nulas chances de ser no futuro sua guardiã.

- Liss, não há o que dizer.  – disse socando as poucas roupas de frio dentro da mala. Nunca precisei delas, e agora estava fodida. Chegando lá teria que dar um jeito. – Já foi decidido. Merda, estava decidido a tempos! Estavam apenas esperando a hora... Malditos, parecem cobras dando o bote.

- Eu posso convencê-los. – afirmou com convicção. – Rose, eu posso dar um jeito nisso!

- Não, Liss! – Deixei as malas de lado e me sentei ao seu lado, olhando firmemente em seus olhos cor de safira – Me prometa! Não vai usara compulsão neles! Sabemos muito bem que sua influencia não é o suficiente para faze-los mudar de posição, portanto não se atreva a apelar para a magia!

- Mas... Rose!

- Eu vou dar um jeito! – prometi – Assim que chegar lá, arranjo uma forma de falar com você. Eu vou dizer onde estou, e você foge pra ficar comigo!

Eu sorri, tentando anima-la. Uma tentativa vã. As duas sabíamos que isso seria impossível. Os olhos dela marejaram, e Lissa jogou os braços ao meu redor, me abraçando com força.

- Eu vou sentir sua falta, Rose! –

- Eu também vou, Liss...

Pude ler em sua mente que elas estava convencida. Sabia que não teria volta. Por enquanto. Íamos conseguir arranjar uma forma de lidar com isso. Em pouco tempo, esperávamos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mais um capítulo postado. Acho que a partir daqui vocês terão uma ideia concreta do que irá acontecer, hein? ;)