A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

"Vi o corpo sendo carregado às pressas para longe dali e me deixei ser abraçada por Lissa, que estava assustada, mas, por incrível que pareça, no controle. Alguém estalou a língua em desaprovação, e ergui o rosto para Hans, o chefe dos guardiões e, merda, minha mãe."l



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Passos rápidos e cuidadosos ecoavam nos corredores. Era madrugada, o que seria o meio da tarde para os humanos. Quando me disseram que as melhores festas eram as dadas na Corte, juro, não levei fé.  As festas eram regadas de bebidas, das melhores e mais caras, e eram nos lugares mais incríveis que lindos que se podia imaginar. Claro, e as melhores festas eram aquelas ilegais, cheia de jovens e no meio da noite. Fala sério, a vida de formada não é ótima?

                - Shhh! – pedi com um leve cambalear, segurando-me nas paredes pra não cair – Vão nos ouvir e acabar com a diversão!

                Após uma ‘encontro’ animado no quarto, enorme, do Daniel Conta, seguíamos para a piscina aquecida que ficava ali por perto. Como o sol brilhava quente sobre nós, embora fracassasse em nos aquecer, as chances dos Strigoi atacarem eram praticamente nulas. Havia boatos que eles estavam trabalhando com humanos agora, mas as chances de que aja algum tipo de ataque na Corte eram nulas.

                - Rose, você acha que é uma boa ideia?

                Lissa era minha melhor amiga desde... Bem, desde sempre. Não consigo me lembrar de um dia em que não estivéssemos juntas. E nossa proximidade aumentou muitos graus depois do acidente de carro que quase tirou tudo dela. Seus pais e seu irmão, Andre, morreram na hora, mas fui trazida de volta do mundo dos mortos através das mãos da própria Lissa. Claro, na hora ela não sabia o que estava fazendo. Depois que o resgate chegou e fomos para o hospital, todos acreditaram ser a maior sorte eu não ter morrido. Anos depois descobrimos, de uma forma terrível, que Lissa tinha o poder chamado Espírito. Por isso ela não conseguira se especificar em nenhum dos quatro elementos – terra, agua, fogo e ar -. Ela tinha um pouquinho de todos e mais. Desde esse incidente, no qual ele me trouxe de volta, uma espécie de laço nos uniu. Eu tinha uma conexão direta com sua mente, embora estivéssemos tentando achar uma forma dela conseguir o mesmo comigo. Sempre sabia quais eram seus sentimentos, mesmo quando ela mesma parecia não saber. Sabia de suas preocupações e quando estava com problemas. Foi assim que, há um bom tempo atrás, descobrimos que ela havia sido sequestrada pelo próprio tio, Victor, que queria que ela o ajudasse a curar, de tempos em tempos, uma doença que o levava para a morte. Conseguimos pega-lo logo, e a não ser por uma fraqueza mental, Lissa saíra sã e salva disso tudo.

                - É uma ótima ideia, e você concorda, Liss. – disse lendo sua excitação com a possibilidade de sermos pegas misturada com a vontade imensa que tinha de nadar naquela hora. – Vamos logo, Daniel e Camille estão lá na frente. Se ficarmos pra trás vamos acabar nos perdendo e [i]aí sim[/i] seremos pegas.

                Rindo, ela se apoiou em mim e tentamos andar mais rápido pelos corredores, até alcançarmos os dois anfitriões da nossa pequena festa. Sorte ou não, os corredores estavam vazios. As pessoas deviam estar dormindo, assim como a maioria dos guardiões. Se eles tinham que guardar alguma coisa, era lá fora, nos limites da propriedade, onde o perigo aguardava.

                - Agora façam muito silencio. – pediu Camille ao dobrar um corredor. – Para chegarmos a piscina temos que passar aquela porta lá no fim. Mas ouvi dizer que tem alguns guardiões descansando nesse corredor. Se eles nos ouvirem e nos virem neste estado, estamos fritos!

                Ela não parecia muito preocupada, na verdade. Ria baixinho e achava tudo isso muito divertido. Seria fácil, pelo menos pra mim, passar em silencio por ali sem ser pega se eu estivesse sóbria, mas o tanto de bebidas diferentes que ingeri alguns minutos atrás fazia desta, uma missão impossível. Andar já estava difícil demais!

                - Se atravessarmos a porta, - instigou Daniel – estaremos de boa.

                Seu sorriso era tão confiante e encantador, que não pude deixar de acreditar. Ele foi indo na frente, cambaleante. Mas chegou a porta de vidro inteiro e em silencio. Se ele podia fazer isso, eu também podia.

                De braços dados com Lissa, atravessamos o corredor o mais silencioso possível, e ultrapassamos a porta. Ela dava para um pátio aberto, com um belo jardim e alguns bancos. O vento frio bateu em meu rosto me fazendo tremer, mas continuei a seguir os Conta, na promessa de logo entrar na agua quente da piscina.

                - O quanto estamos longe? – perguntei um pouco mais alto. Segundo Daniel, onde estávamos era tranquilo, e não seriamos pego tão cedo.

                - Atravessamos a porta do outro lado e vai dar na recepção do spa. Não vai ter ninguém lá agora, relaxem. – respondeu Camille ao ver que Lissa arregalara os olhos – Depois é só dobrar uns corredores e descer umas escadas e pronto. A piscina aquecida é toda nossa!

                O saguão da recepção estava de fato vazio. Foi muito mais fácil a partir dali. Apesar das escadas parecerem se mover sob meus pés, fiz um bom trabalho não me esborrachando no chão e acabar quebrando alguma coisa.

                - Caramba... – disse assim que desci o ultimo degrau da segunda escada, dando para um amplo espaço com uma porta a minha frente e uma de cada lado, identificadas como masculino e feminino, devia ser os banheiros. – Acho que estou bêbada demais... estou ouvindo vozes - vozes abafadas e gargalhadas que pareciam ao longe. – Vozes e risos.

                Daniel abriu a porta de frente a nossa, o barulho aumentando significantemente.

                - Não, isso não é a bebida. É festa!

                Caramba! A piscina estava cheia de adolescentes recém-formados pulando e bebendo. Contei pelo menos uns vinte. De onde veio toda essa gente? Lissa, senti pelo laço, dividia a mesma preocupação que eu: bando de adolescentes que queriam nada com nada, bêbados, na piscina. Isso não era bom.

                - Rose... Eu acho que, afinal, não foi uma boa ideia.

                - Você acha? – indaguei, de repente não me sentindo mais tão bêbada – eu tenho certeza. Droga, Liss! Não podemos deixar eles assim também...

                - Chamamos alguém?

                - Por Deus, não! – exclamei, puxando-a para o canto, antes que alguém esbarrasse nela e a levasse junto pra piscina – Não. Estaremos encrencadas também. Eu estarei encrencada.

                Não era segredo nenhum que era um milagre ter me formado. Meu currículo escolar era marcado de atrocidades, segundo Kirova. Primeiramente, as festas, as bebidas e os rapazes. E então, fugi com Lissa para longe, ficando dois anos fora. Depois, mais festas, mais bebidas, mais rapazes. Sem contar a minha terrível mania de discutir com professores. Mas o que posso fazer se eles se acham o dono da verdade? Era irritante, não podia ficar quieta. Lissa, por ser da realeza e, mais ainda, ser a ultima Dragomir, foi recebida de braços abertos. Enquanto a mim, já fora difícil ser aceita de volta, e nos meses que me separavam da formatura, andei sobre a corda bamba perigosamente.

                - Qual é o plano então? Ficar dando uma de babá e salva-vidas?

                Lissa reprovou. Ela queria chamar alguém. Alguém responsável, diga-se de passagem. Algum guardiã, algum Moroi. Qualquer pessoa que acabasse com a bagunça. Mas ela se preocupava mais comigo. Sabe-se lá o que fariam comigo se me descobrissem ali!

                - Tudo bem então. Mas se algo der errado...

                - Se algo der errado – interrompi, já sabendo o que ela falaria – você corre para chamar alguém.

                Infelizmente a segunda opção veio primeiro. Merda!

                Alguém, uma garota pela voz, gritou. Mas não era um som divertido. Era de desespero, fazendo com que todos parassem e a olhassem. Ela estava na beirada da piscina, próxima do trampolim. A sua frente havia um corpo, não reconhecia quem era, mas era de um garoto, boiando. Estaria tudo tranquilo se não fosse o sangue que começava a colorir a água.

                - Só pode ser brincadeira! – Tirei a blusa que vestia, ficando apenas com o sutiã preto de renda que vestia. Ninguém estava preocupado com essas coisas agora. – Lissa, corre! Chama alguém, e avise que temos alguém ferido! – me preparei para correr ate a piscina. Todos estavam em choque e bêbados demais para saber o que fazer. Iam acabar matando afogado o pobre rapaz. Mas Lissa ainda continuava parada. – Agora não! Lissa! Vai!

                Após empurra-la em direção as escadas, e ela pareceu acordar para a realidade. Sabia o que ela queria fazer. Era de sua natureza. Mas também sabia que se deixasse interferir, ela quem acabaria perdendo nessa história. E não podia deixar que isso a afetasse. Eles vem primeiro.

                Pulei na água, todos se afastaram, e muitos fugiram com medo das consequências. Sobraram uns dez Moroi. Entre eles Camille e Daniel Conta. Camille chorava e era consolada pelo primo. O Moroi em questão era um total desconhecido pra mim. Devia ter seus vinte anos, e não me lembrava de tê-lo visto na academia. Apoiei seu corpo na borda da piscina e sai logo em seguida para dar uma olhada nele. E, merda!, estava feia a coisa. Havia um corte na nuca, e não conseguia ver sua profundidade, apesar de ser comprida. E saia muito sangue. Ele ainda respirava, mas precisava de um medico urgente!

                Usei minha blusa para tentar estancar o sangue. Era uma blusa branca que não demorou para ficar vermelha. Meu coração começou a bater forte no peito. Maldita hora pra ir a uma festa! Maldita festa! O cara precisava bater a cabeça? Eram pensamentos egoístas eu sabia, mas não conseguia pensar em algo racional naquela hora. Só queria que Lissa chegasse com ajuda logo.

                - Ele...está morto? – perguntou Daniel, temendo a resposta. – não parece estar respirando. Está morto não é?

                - Cale a boca, seu idiota! Ele não está morto! – pedi rispidamente. – Ele não esta morto  nem vai morrer. – Por que eu não vou deixar! Ele não vai morrer! Não pode!

                - Rose... – Camille se sentou ao meu lado, as mãos, tremulas, segurando nas minhas, mas parecia estar mais calma que eu – Você está chorando.

                Droga, eu estava mesmo chorando! Estava nervosa, por que sabia que seria seriamente castigada por estar bêbada e em uma festa no alto da noite. Estava nervosa por um cara Moroi ter se machucado. E estava beirando o pânico porque, realmente, ele parecia estar morrendo. Não podia estar acontecendo comigo!

                - A respiração está fraca, mas alguém vai chegar logo vão leva-lo e tudo ficará bem. – Disse a ela, mais tentando me convencer que a qualquer um ali. – Vão leva-lo para um hospital, verão que não foi grave, apenas muito sangue.  A cabeça tem muito sangue, não deve ter sido nada. Ele desmaiou porque estava bêbado demais, é isso.

                - Rose... – Foi a vez de Daniel se posicionar ao meu lado. Mas sua atenção foi desviada e tanto ele quanto Camille se levantaram.

                Não havia reparado a presença de outro, muito menos a de Lissa, até que ela tenha se abaixado pra me levantar com pressa para que alguns guardiões pudessem leva-lo sobre uma maca que saiu não sei de onde. Vi o corpo sendo carregado às pressas para longe dali e me deixei ser abraçada por Lissa, que estava assustada, mas, por incrível que pareça, no controle. Alguém estalou a língua em desaprovação, e ergui o rosto para Hans, o chefe dos guardiões e, merda, minha mãe.

                - Por que será, Srta. Hathaway, - começou ele – que sempre que acontece alguma coisa, a senhorita está envolvida?

                Minha mãe usava sua máscara de guardião, o rosto inexpressivo. Mas sabia muito bem o que ela devia estar pensando ”Que vergonha, Rose. A filha da Janine Hathaway sempre envolvida em escândalos...” Lissa, por sua vez, mandava mensagens positivas a minha mente, tentando me acalmar para o que viria a seguir, e sabíamos o que vinha.

                - Precisamos ter uma conversa séria, Hathway. – disse Hans, pressionando os olhos  - Agora mesmo, em meu escritório.

                - Deixe pelo menos que ela ponha uma blusa! – interveio Lissa – olhe só o estado dela!

                - Pensasse nisso antes de andar por ai... desse jeito. Agora. Não quero falar de novo Rosemarie Hathaway. - Ele começou a andar com minha mãe a tira colo, e então se virou bruscamente – Ah, e não pense vocês que também sairão ilesos. Seus pais já serão avisados.

                Sem olhara para trás, segui os dois para fora do SPA, em um percurso lento e silencioso. Estava ferrada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do primeiro capitulo! Fãs de Romitri, não surtem, Dimitri aparecerá logo!:)