A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

"- Rosemarie Hathaway. pela primeira vez ela se impôs desde que chegou. Chega. Chega dessa atitude infantil. Estou apenas querendo o seu bem!
— Querendo o meu bem? Me mandando pra Russia?"



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Esse tal de Abe Mazur deveria ser podre de rico e superimportante, apesar de não ser da realeza. Cinco longas e miseras horas depois, um jatinho particular pousava no hangar da Corte, preparado para me levar ao meu destino. Lissa passou a tarde consolada por Christian Ozera, enquanto os preparativos para a viagem eram feitos. Eles estavam saindo a algumas semanas, e eu ainda não sabia o que ela tinha visto nele. Agora, pelo menos, ela não estaria sozinha enquanto eu estivesse fora. Eu odiava admitir, mas Christian fazia bem a ela, e eu era profundamente agradecida a isso. Não que algum dia ele fosse saber disso.

Enquanto Lissa lidava com a perda, eu lidava com meus carrascos. Por um motivo, até então desconhecido, minha mãe insistira que eu deveria conhecer Abe antes de decolarmos, na presença dela. Se não conhecesse minha mãe, diria que ela estava receosa desse encontro. Vai saber.

- Rose?

Eu estava em uma sala privativa, uma de muitas na Corte. A porta se abriu e uma Janine preocupada entrou. Minha mãe parou na porta, impedindo-me de ver quem estava atrás dela, mas eu já podia adivinhar.

- Ahn, Rose, esse é Abe Mazur. - Quase arrependida, ela deu passagem para a mais bizarra figura passar.

 Ele era um Moroi mediano, devia ser alguns anos mais velho que minha mãe. Tinha uma cor diferente. Não era aquele branco pálido que a maioria dos Moroi tem. Se você já viu pessoas de cor escura adoecerem, ficando pálidas, é muito parecido. Tinha cabelo bem preto e uma barbicha, e tudo nele berrava dinheiro. Usava um casacão preto, quase arrastando no chão e um cachecol vermelho de cashmere. Como ele não estava derretendo debaixo dessas roupas, não saberia dizer. Um brilho dourado de uma corrente de ouro aparecia por baixo do cachecol, combinando com o brinco em uma de suas orelhas. A primeira palavra que me veio a cabeça ao ver a figura foi Máfia. Por que minha mãe tinha contatos desse nível, era um mistério, mas agora entendia sua hesitação. Do jeito que eu era, era capaz dela achar que eu ia largar tudo e virar da máfia também.

- Rosemarie Hathaway. – ele disse meu nome inteiro com uma emoção que não consegui identificar. Mas a forma como disse me fez arrepiar. – É um prazer imenso finalmente te conhecer!

- Ah. Tá. – minha mãe me lançou um olhar de aviso, e eu me levantei para ir cumprimenta-lo - Bem, me desculpe, mas eu não sei quem é você. A não ser que é o meu punidor, ou eu sei lá.

- Rose! – minha mãe exclamou e Abe puxou-a pela cintura, em um meio abraço, pegando nós duas de surpresa.

- Janine, você não havia me dito o quão interessante era sua filha.

- Achei que não precisasse, Abe. – acusou ela, fazendo-me indagar de onde diabos eles se conheciam, e porque ela havia ficado vermelha com o beijo estalado que ele dera nela. O simples fato dela não agir repulsivamente era assustador o bastante.

Abe a largou e veio para meu lado, guiando-me pelos ombros até o sofá para nos sentarmos. Para minha surpresa, ambos se sentaram lado a lado a minha frente. Em um momento de ironia, me fez comparar essa disposição com as de pais quando querem ter algum tipo de conversa seria com os filhos.

- Rose... – minha mãe começou a torcer as mãos uma na outra. Tá legal, agora eu estava preocupada. – Há um motivo no qual Abe esta aqui.

- Eu sei. Ele veio me levar pra sei lá onde na Russia. Eu entendi, mãe. Ele é rico, influente, tem contatos. É capaz de conhecer gente... bem, não vem ao caso, mas seria um ótimo castigo e você o chamou. Simples assim.

Abe riu jocoso. Estava divertido com a situação. Embora não visse graça nenhuma.

- Rose, eu já gostei de você. Aprecio sua honestidade.

- Olha aqui, velhote, me desculpa, mas na sinto o mesmo por você. Não leve para o lado pessoal , mas, você sabe, está atrasando meu posto como guardiã da Lissa, e isso não é nem um pouco legal.

- Eu te entendo, querida. Mas não me chama de velhote.

- Pensarei no seu caso. Velhote.

- Tudo bem! – exclamou minha mãe, interrompendo nossa discussão. – Podemos voltar para o que é importante aqui?

- Claro. – concordo Abe se virando sério para mim, mas com alegria nos olhos. – Rose, eu sou seu pai.

Silêncio.

Eu o encarei por um tempo, esperando que Abe abrisse um sorriso e dissesse ser brincadeira, que queria me irritar ou sei lá o que. Mas ele não fez isso. Muito menos minha mãe, que tinha uma expressão mortificada e culpada.

- Que brincadeira sem graça é essa? – quebrei o silencio olhando de um para outro – não basta vocês me separarem da Lissa, me mandarem para outro país e me obrigarem a mais um ano de treinamento, agora vão ficar de palhaçada pra cima de mim?

- Rose, isso não é uma palhaçada. – minha mãe parecia querer que um buraco se abrisse para ela se esconder – Você é inteligente o suficiente para saber que não estamos brincando.

Eu não respondi. Não podia ser verdade aquilo. Mas olhando bem para ele... Seu cabelo era tão escuro quando os meus, os olhos castanhos, a cor mais escura da pele. E o jeito sarcástico que ele sorria de canto para mim. Afundei no sofá, escondendo o rosto nas mãos.

- Ai merda!

- Rose, entenda que...

- Por quê? Por que logo agora? – eu interrompi seja lá o que ela ia dizer – Arght! Eu passei 16 anos querendo saber quem era meu pai até decidir que não importava. Então, do nada, você chega com ele. E para me levar embora! Francamente, mãe, se você queria uma forma de se livrar de mim, da responsabilidade de ser a mãe da irresponsável Rose Hathaway, poderia pelo menos ser mais sutil!

- Rose eu não quero me livrar de você.

- Não? Admita, você nunca realmente quis ter engravidado. E ainda por cima veio uma menina egoísta, irresponsável, e sem limite algum, esse foi seu pior erro, não é? – ela tentou falar, mas eu já estava em pé, gritando, pondo tudo para fora o que eu vinha guardando há 18 anos – e então o que você faz? Larga o peso na Academia, mal se lembrando de que existe, e na primeira oportunidade, PÁ! Larga com o pai que aparece!

- Rosemarie Hathaway. – pela primeira vez ela se impôs desde que chegou. – Chega. Chega dessa atitude infantil. Estou apenas querendo o seu bem!

- Querendo o meu bem? Me mandando pra Russia?

- Estou te mandando para um ano extra de treinamento!

- Um... – eu parei, confusa – um ano extra de treinamento?

- Abe conhece uma pessoa... – ela o olhou de canto de olho, e ele assentiu algo – Ele vai falar mais dela depois. O importante é: você está indo pra uma pequena cidade na Russia, para treinar com ela.

- Por que, diabos, eu preciso de um ano extra? Eu fui a melhor da turma. A melhor  - complementei antes que ela começasse a falar – nas aulas praticas. Sei das minhas dificuldades nas outras matérias inúteis.

Ela não se deu o trabalho de me contradizer. Apenas me lançou um olhar cansado.

- Okay. – Abe esfregou uma mão na outra, se levantando – Está pronta Rose? O avião está  nos esperando.

- Como se tivesse alguma escolha. – murmurei saindo da sala, sem antes acrescentar para ele – E não espere que eu te chame de papai, ou peça que me leia estórias antes de dormir. Não vai rolar.

Ele riu.                                                                 

- Não esperava menos de você,  Kiz.

Também não me dei o trabalho de perguntar o que isso significava. Algo dizia que não queria saber. Além do mais, estava me preparando mentalmente para ir me despedir de Lissa.

Ela sim estava precisando de ajuda. Não precisei chegar ao hangar para descobrir como ela se sentia. Seus sentimentos vinham me bombardeando o tempo todo desde que eu a deixara. Estava quase impossível ter um pensamento meu sem ter interferência dos dela. Seu coração estava quebrado, e estava difícil tentar parecer superior a tudo isso quando eu mesma me sentia rasgada ao meio.

- Ah, Liss! Por favor! – pedi quando ela me abraçou com força. Eu me segurava para não chorar, mas estava impossível. – está piorando as coisas. Droga, estou me sentindo culpada!

- Você não tem culpa de nada! – fungou ela, apenas afastando o rosto para me ver – a culpa são daqueles guardiões metidos! Ah, Rose, o que eu vou fazer sem você!

- Nenhuma besteira, espero! – consegui sorrir, e faze-la torcer a boca numa tentativa de sorrir também. – É serio, Lissa. Se cuide, viu? Quando menos esperar, estarei de volta!

- Rose... – ela me abraçou de novo, e não precisou falar. Eu senti. Saudades, desespero, raiva. Tudo isso mexia com ela, e agitava uma parte negra em seu interior que eu odiava sentir. Eu fazia de tudo para que não a afetasse mais. Às vezes conseguia absorver parte desta escuridão. O que ela faria agora que eu não estaria ali?

Nos soltamos, e eu limpei suas lagrimas delicadamente. Pousei um beijo em sua testa e, para surpresa de todos, segui para Christian, abraçando-o. Eu não ia morrer de saudades. Meu abraço tinha outra intenção,

- Cuide dela Chris. – pedi baixinho – por favor, cuide muito bem dela! Não deixe o que aconteceu antes se repetir!

Ele se desfez do abraço, segurando meu olhar com determinação. Eu sabia que podia contar com ele, mesmo ele sendo um idiota.

- Pode deixar Rose. – prometeu, lançando um olhar rápido para Lissa – Ela vai ficar bem. Vê se você fica bem também. E volta logo!

Não respondi. Não era algo que poderia prometer.


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Notas finais do capítulo

Thã-thã-thã!!!
Quem quer Romitri comete bastante, o próximo cap é a maior parte Dimitri&Rose ;)

spoiller básico:

"Entreguei o copo pro deus russo – que diabos de nome era Dimka? – que pegou de bom grado e deixou no balcão longe das mãos de Tasha.(...)."

ÓTIMO spoiller...hehe