à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 9
As Folhas do Chá




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IX

AS FOLHAS DO CHÁ

Deitado em sua cama, Severo olhava para o teto, perdido em pensamentos – já fazia mais ou menos vinte minutos que desistira de dormir. A conversa que há duas horas tivera com Evangeline havia mexido com ele...

Ele logo percebeu que as árduas semanas que passou lutando para tirar qualquer possibilidade de envolvimento romântico com aquela mulher da sua cabeça, foram em vão: bastou ela se fazer notar como uma mulher sensual, que tudo voltou. As confissões que eles trocaram deixaram Snape com a sensação de que uma certa cumplicidade foi criada entre os dois; uma intimidade bem diferente da que eles antes trocavam... e era justamente esse tipo de intimidade que ele gostava de ter com uma mulher antes de levá-la para a cama.

Ele suspirou, imaginando como seria o corpo dela... Como a pele alva e macia reagiria aos beijos deles... imaginou a mulher implorando pelo seu toque, ofegante...

E se levantou. Severo suspirou e balançou a cabeça, tentando tirar aqueles pensamentos da sua mente antes que o seu corpo começasse a reagir a eles. Decidiu que precisava tomar um copo de água – isso o acalmaria e certamente o ajudaria a dormir.

Sem se calçar, ele começou a fazer um caminho silencioso para a cozinha. O corredor estava ligeiramente claro – o que denunciava que alguma das luzes da casa estava acesa. Foi apenas quando ele chegou à sala que descobriu que o cômodo iluminado era justamente a cozinha. Ainda sem fazer barulho, encaminhou-se para ela. Mas, assim que chegou à sua entrada, paralisou.

Evangeline estava lá. Os seus cabelos castanhos soltos, caindo como uma cascata ondulada até a sua cintura. E o seu corpo – ele engoliu seco. Ela usava uma camisa de algodão branca que só podia ser de John. As mangas eram um pouco maiores que os seus braços, deixando as mãos cobertas... no entanto, as pernas...

Severo prendeu a respiração.

A camisa a cobria apenas até um pouco abaixo das suas nádegas, deixando toda a extensão das pernas alvas e lisinhas à mostra... e a única coisa que ele podia pensar era nas suas mãos passeando por elas.

Ele fechou os olhos e um gemido sofrido escapou involuntariamente da sua garganta. Evangeline virou-se assustada. E a situação de Severo não melhorou.

Os seios se projetavam pelo tecido fino da camisa, que quase deixava transparecer os mamilos proeminentes. Por um momento, ele apenas conseguiu contemplá-la, como se nada mais existisse no mundo...

- Severo...

Ao ouvir a voz macia da mulher o seu olhar finalmente cruzou-se com o dela. Os olhos negros perfuraram os olhos cor-de-mel, e ele não fez nenhum esforço para esconder que estava... faminto.

O rosto de Evangeline imediatamente corou, e ela desviou o seu olhar. Nunca antes ela vira Severo sem a sua grossa quantidade de roupas... Mas agora estava ali, usando apenas uma calça cinza de flanela, e ela podia observar toda a extensão do seu peito nu, branco como cera. Ele era magro, mas tinha os ombros largos e os seus músculos, surpreendentemente, eram ligeiramente definidos... A brancura do seu peito era cortada por alguns ralos pelos negros... pelos que, abaixo do umbigo, não era mais tão ralos assim...

Ela molhou os lábios e não conseguiu evitar que o seu olhar descesse mais um pouco.

Engoliu seco.

Definitivamente havia um volume inconveniente na calça de Severo.

Quando ele percebeu para onde Evangeline olhava, Severo sinceramente corou. Pigarreou, para atrair a atenção dela de volta ao rosto dele.

- Me desculpe – ela disse, com a voz ligeiramente tremida. Começou a caminhar para fora da cozinha. – Eu... tenho que...

Severo afastou-se discretamente para o lado no intuito de abrir o caminho para Evangeline... Mas, ela já havia se desviava e, conseqüentemente, os dois foram para o mesmo lado. Ela apenas percebeu isso quando sentiu a proximidade do corpo de Severo. Parou bruscamente e olhou para cima.

Os rostos jamais haviam ficado tão próximos antes. Ela viu os lábios de Severo partirem-se e sentiu o hálito quente dele contra o seu rosto. O olhar negro brilhava com uma força incrível e atraía o seu, como se fosse uma grande e irresistível armadilha. E, por um momento, ela pensou que não conseguiria resistir – de fato chegou a inclinar-se ligeiramente na direção dele, sentindo o seu corpo arrepiar-se apenas pela antecipação do beijo...

Mas ela conseguiu voltar a si em tempo. Evangeline respirou fundo, molhou os lábios e afastou Severo com os braços, murmurando um pedido de licença. Com o coração palpitando e o corpo queimando de desejo, ela deixou a cozinha, sem olhar para trás.

E Severo não teve outra escolha senão beber um copo de água e voltar para a sua cama, onde, certamente, não conseguiria dormir.

XxXxXxX

Ressaca moral era um conceito que Evangeline sinceramente desconhecia até então. Quando, na manhã seguinte, ela finalmente acordou, sentia um característico gosto ruim na boca, uma dor de cabeça de matar e, naturalmente, uma angústia que jamais esperava. Não sabia como descer as escadas e encarar Severo, depois do que ocorrera na noite anterior – de tudo o que eles conversaram e, principalmente, do que não acontecera na cozinha...

Quando pensou na expressão que vira naqueles olhos negros ao encontrá-lo no meio da madrugada e no corpo dele, sentiu o seu próprio corpo arrepiar-se e a boca ficar seca. Respirou fundo: aquilo estava ficando perigoso demais.

Preocupada, Evangeline vestiu-se e desceu, para encontrar Snape sentado em seu sofá.

- Me desculpe.

Ele virou-se lentamente, com a mesma expressão indecifrável que geralmente trazia no rosto.

- Como disse?

Evangeline mordeu o lábio inferior, encaminhando-se perto de Severo. Não se sentou no sofá, no entanto. Achou melhor acomodar-se numa poltrona – não queria ficar perto demais.

- Me desculpe por ontem. Vinho geralmente me deixa um pouco indiscreta. Eu sei que não tinha o menor direito de te fazer todas aquelas perguntas pessoais.

Severo deu de ombros, voltando a sua atenção para a televisão.

- De fato, não tinha. Mas eu respondi porque quis, logo você não tem que se desculpar.

Ela mordeu os lábios levemente.

- Mas eu ainda não acho que tenha sido apropriado. Quer dizer, eu não sou uma mulher solteira, e você está morando em minha casa.

- Para todos os efeitos, eu sou meramente um tio. Não se preocupe: a sua reputação não será manchada; eu não contarei a ninguém o que foi dito ontem.

Ela engoliu seco e olhou para a televisão. Suspirou.

- Eu vou passar a próxima semana na casa de John.

Severo a olhou por um momento. Ele ainda não sabia ou não queria admitir o motivo, mas aquela frase displicente o machucou... E ele pareceu não raciocinar antes de dizer:

- Eu não acho que seja uma boa idéia.

Evangeline franziu o cenho e obrigou-se a olhá-lo.

- Por quê?

- Porque não é preciso.

- Dada às novas circunstâncias, eu acho que é preciso, sim.

- Que novas circunstâncias?

Ela ergueu uma sobrancelha e olhou-o.

- Você acha que não há nada novo, Severo? Você acha que nada aconteceu ontem? Eu pensei que você era mais realista e--

- Eu não vou negar nada, Evangeline. Mas o que ocorreu ontem se chama desejo, nada mais. Você não precisar sair correndo de casa por causa disso; somos seres humanos, é perfeitamente normal. Eu não pretendo atacar você, se esse é o seu medo. Mas passar uma semana longe não vai mudar em nada a situação.

Evangeline mordeu o lábio e fitou o chão. Ele estava certo. Era apenas desejo.

- Ainda assim, eu vou.

Severo deu de ombros, sentindo uma raiva incomum que há muito ele não sentia: ciúmes.

- Você que sabe.

- Então, espero que você não se importe...

- A vida é sua, Redfield. Eu vou trabalhar.

Sem mais, ele se levantou.

- Mas é domingo!

- Eu sei.

E deixou-a sozinha.

Evangeline suspirou e recostou-se à poltrona, desligando a televisão. Passou um tempo apenas olhando a porta fechada, enquanto as dúvidas tomavam conta da sua cabeça... Ele disse que era apenas desejo; então por que ele estava agindo daquela maneira? E realmente era apenas desejo, certo? John era quem ela amava. Ele era especial... certo?

Ela sentiu a angústia aumentar e um nó se formar em sua garganta... Mas impediu as suas lágrimas de caírem quando ouviu duas batidas na porta. Ela se levantou, esperando que fosse Severo... ou que fosse John. Mas, ao olhar pelo olho-mágico, viu que se tratava apenas de Minerva McGonagall.

Abriu a porta.

- Minerva! Que surpresa!

- Evangeline.

A velha senhora sorriu para Evangeline e entrou na casa. Logo se encaminhou para a mesa de jantar no canto direito da sala e sentou-se.

- A sua cidade é um inferno! Londres é pior, claro; mas Liverpool também é infernal! Nunca pensei que fosse encontrar tanta gente pelas ruas numa manhã de domingo!... De qualquer forma, vim encontrar-me com Severo.

Evangeline crispou os lábios, fechando a porta atrás de si e encaminhando-se para a cozinha para providenciar um chá para a velha amiga do seu tio.

- Ele acabou de sair. Não faço idéia para onde.

- Isso não é bom! Se ele se perder no meio dessa cidade, provavelmente jamais será achado! Ele não tem saído com a varinha, eu suponho?

- Na maior parte das vezes, não – ela falou alto, colocando água no fogo e pegando em seu armário uns potes de vidro cheios de folhas secas. – Ele prefere não ficar tentado a usar magia.

Minerva entrou na cozinha. Pegou duas xícaras, leite e açúcar e levou-os para a mesa da sala. Voltou logo em seguida para junto de Evangeline e recostou-se no balcão de madeira.

- E como ele está se saindo?

- Muito bem. Ele tem os documentos convincentes, já sabe dirigir, usar cartões de créditos, usar o telefone e ligar a TV. Isso é basicamente o que nós, trouxas, precisamos para viver.

- E eu devo supor que vocês começaram a se dar bem...

Evangeline suspirou, lembrando, mais uma vez, dos eventos da noite passada. Precisava conversar com alguém... e, talvez, ninguém melhor que Minerva, que conhecia Severo.

- Eu não sei...

- Como? Eu pensei que, depois da nossa última conversa, você se esforçaria, Evangeline.

- Eu me esforço! E acho que consegui ter uma relação saudável com ele, mas... Minerva, eu acho que estou começando a gostar dele.

- Que bom! Afinal, viver com alguém que você não gosta não deve ser a coisa mais agradável...

- Não, Minerva. Você não entendeu! Eu acho que estou gostando dele.

Quando a velha bruxa finalmente entendeu, olhou espantada para Evangeline. Nos seus olhos, uma nítida reprovação podia ser lida, e nenhuma das duas falaram nada por um longo tempo, no qual o silêncio apenas foi cortado pelo apitar da chaleira.

Evangeline bufou, desligou o fogo e levou a água quente para a mesa da sala. Enquanto servia os chás, ouvia a voz áspera de Minerva:

- Não! Não é possível e, definitivamente, não é certo! Você tem namorado! Está quase casada!

Ela colocou a chaleira sobre a mesa e sentou-se, sendo imediatamente seguida pela bruxa.

- Isso é o que me assusta! Severo é diferente de todo e qualquer homem que eu já conheci em toda a minha vida. Eu não gosto de admitir isso, Minerva, mas ele me atrai.

- Ele é um homem perigoso, Evangeline. Eu já vi! Ele é possessivo, obcecado. Fique longe dele!

Sarcástica, ela quase riu, enquanto tentava tomar um gole do seu chá.

- Não foi você quem disse que ele era um homem bom que merecia um pouco de paz?

- E ele é! Mas Severo tem a tendência de destruir tudo que toca! Ele causou a morte da mulher que amou! Ele matou Al--

Evangeline ergueu a sobrancelha, esperando com um pouco de medo que ela concluísse aquela frase. Mas Minerva apenas desviou o seu olhar e tomou um gole do seu chá.

- Ele matou quem, Minerva?

A velha respirou fundo.

- Apenas Merlin sabe quantas pessoas ele já matou na vida. Evangeline, ele não é o tipo de homem que você deve ter ao seu lado!

Ela se levantou, sentindo uma vontade quase irracional de defender Severo.

- Mas é o tipo de homem que eu quero ter morando em minha casa? Minerva, você está se contradizendo!

- Eu sei disso! Eu quero apenas proteger você. Ele é um homem mais velho, que teve uma experiência de vida traumatizante! Eu tenho medo que ele possa machucar você!

- E eu não tenho medo de me machucar! Um homem que tinha tantas flores em sua lápide não pode ser mau!

- Ele não é! Mas eu tenho medo que ele não seja bom para você!

Evangeline mordeu o lábio e sentou-se novamente, tentando se acalmar. Serviu-se de mais um pouco de chá.

- O que eu quero dizer – Minerva também recomeçou com mais calma. – É que ele tem muitas feridas. E será um trabalho imenso tentar cicatrizá-las. Eu acho que você merece mais. John, pelo que você me fala, é um homem honrado e...

- Eu amo John.

- Então? Você sabe que ele jamais te machucaria, ao mesmo passo que você tem que saber que Severo machucou todas as pessoas que ele amou. Eu não quero isso para você.

- Mas Minerva--

- O que você precisa é passar mais tempo com John. Saia mais com ele, trabalhe menos, durma mais vezes na casa dele! Você se mantém muito distante do seu namorado, é apenas natural que se sinta atraída por um outro que tem muito mais intimidade com você!

Evangeline suspirou e, resignada, assentiu.

Minerva imediatamente respirou fundo, e sentindo-se ligeiramente vitoriosa, tomou o último gole do seu chá.

- Você acha que ama John, certo?

- Sim... – Evangeline deu de ombros e tomou também o último gole do seu chá. Divertida, ela entregou a sua xícara para Minerva. – No entanto, seria ótimo de você pudesse ler nas folhas do meu chá se ele é o meu verdadeiro amor!

Ela riu-se, enquanto Minerva, exasperada, pegava a xícara e olhava os restos do chá.

- Eu vejo que nós fazemos o nosso próprio destino. E as folhas de chá não podem revelar quem é o verdadeiro amor... Logo, essa estrela aqui, pode ser interpretada como uma forma geométrica criada pelo acaso. Deixe de bobagens e siga o meu conselho, Evangeline.

Evangeline sorriu e pegou a xícara de volta.

- Obrigada, Minerva.

Olhou para a estrela que começava a se dissolver e deu de ombros.

Minerva pensou que não mais pensaria no pedido bobo de Evangeline pelo resto da sua vida... Mas isso foi apenas antes dela se lembrar, com um misto de horror e incredulidade, o que a forma da estrela significava, e como ela podia ser interpretada naquela situação...

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