à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 10
A Estrela




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A ESTRELA

- Oi!

Sob o olhar espantado de John, Evangeline adentrou o apartamento, levando consigo duas malas. O homem logo soltou os processos que vinha estudando e levantou-se.

- Evan? O que--?

Ela deu um breve sorriso, arrastando as malas pela pequena sala. Evangeline decidira seguir o conselho de Minerva e passar mais tempo com John. Ela não tinha certeza se aquilo era o que estava precisando para esquecer as idéias malucas que vinha tendo ultimamente, mas tentaria. Sabia que o que tinha com John era muito bom e raro para jogar fora apenas por uma atração.

- Eu... – Ela suspirou, tentando pôr seus pensamentos em ordem. – Eu vim passar uma semana com você. Ou duas.

John riu-se, confuso, e foi até a namorada. Beijou levemente os seus lábios e tomou as malas para si, carregando-as para o seu quarto.

- Eu sempre pensei que quando fôssemos morar juntos seria na sua casa. É muito mais espaçosa e bem localizada.

- Nós não vamos morar juntos.

Ele parou por um momento e a olhou, tentando disfarçar o seu desapontamento.

- Ah. Claro que não – ele comentou, rolando os olhos. – No dia que você quiser assumir um compromisso como esse, Evan, é capaz do mundo acabar!

E voltou a carregar as malas. Evangeline seguiu o namorado, tentando sorrir.

- Eu apenas acho que faz tempo que não ficamos juntos; só nós dois.

- E, por enquanto, eu me contento com isso! – Já no quarto, John virou-se, enlaçando a cintura de Evangeline com as suas mãos e beijando suavemente os seus lábios. – Pois um tempo livre do seu tio é tudo que eu queria!

Ela desviou os olhos à menção de Severo.

- É tudo o que eu quero também.

- Evan? – Os olhos castanhos lentamente voltaram a encarar os de John. E ele deixou claro em seu olhar que percebera o tom melancólico de Evangeline. – Aconteceu alguma coisa?

Ela respirou fundo e mordeu levemente o lábio inferior. Não podia mentir... Não daquela maneira. Não para ele.

- Aconteceu.

- Você quer conversar?

- Não... Agora não.

John, gentil, apenas deu um sorriso condescendente. E Evangeline sentiu-se bem. É... estar perto dele era tudo que ela precisava.

XxXxXxX

No dia que Evangeline disse que sairia de casa, Severo não acreditou – nem mesmo quando viu a mulher pegar as malas e, de fato, sair. No segundo dia, ele vigiou a porta, esperando que, a qualquer momento, ela a abriria e, quem sabe, diria que o desejava. No terceiro, quarto e quinto dia, ele vigiou o telefone – ela ligaria certo? Pelo menos para saber se ele ainda estava vivo...

Mas ela não voltara. Tampouco telefonara.

No sexto dia, ele percebeu que estava obcecado. E, no fim da primeira semana, ele estava se odiando por isso.

Era um sábado quando Severo Snape decidiu que não ficaria sentado na casa de Evangeline, vendo-se mais uma vez ser tomado por uma fantasia que, ele sabia, jamais se realizaria. Assim, no intuito de esquecer suas ilusões e começar a viver, ele vestiu um casaco e saiu sem rumo pelas ruas de Liverpool.

Sozinho, ele passou por praças, viadutos... viu andarilhos talvez tão solitários quanto ele... Passou por bêbados e por casais... passou por ruas movimentadas, lotadas de jovens e tomadas pelo barulho ensurdecedor dos carros que formavam grandes engarrafamentos.

E, numa das suas ruas, ele viu um bar... no qual entrou... e, quase imediatamente, avistou entre os jovens que bebiam cervejas escuras uma figura conhecida numa mesa. Ele não quis admitir na hora, mas ver a bela mulher fez com que o seu coração se alegrasse... e ele simplesmente não conseguiu conter os seus passos, que logo o levavam até a mesa em que ela estava sentada, rodeada de amigos.

O olhar dela logo cruzou o dele, e um belo sorriso iluminou a sua face. Com essa visão, o próprio Severo permitiu-se um breve sorriso.

- Olá!

Ela disse, levantando-se da mesa e pedindo licença aos amigos. Logo se aproximava, muito mais linda do que ele poderia imaginar, envolta num vestido vermelho. O carmim em seus lábios evidenciava que, sim, aqueles lábios foram feitos para ser beijados...

- Eu jamais pensei que o encontraria aqui!

- Mesmo? – Ele ergueu uma sobrancelha.

- Eu acho que te conheço bem... Você é reservado. Parece gostar mais de um pub vazio do que um bar badalado como esse. No entanto – ela sorriu – você sempre conseguiu me surpreender...

A mulher deu uma risadinha baixa e mordeu levemente os seus lábios. Severo assentiu.

- Eu acho que sim.

- Eu... – Ela olhou discretamente para trás. – Eu disse às minhas amigas que estava de saída. Então, se você não estiver acompanhado, essa saída pode ser com você.

E Severo genuinamente sorriu, sentindo o coração bater um pouco mais forte.

- E eu nunca pensei que você me faria um convite assim. Mas você sempre conseguiu me surpreender. – Ele tomou o braço da mulher com os seus e começou a se encaminhar para fora do barzinho. – Considerando, é claro, que você está me chamando para um encontro.

Ela riu-se.

- Estou, sim!

- Então eu o aceito, Alexandra.

Severo não pensou em Evangeline naquela noite. E nem dormiu só.

XxXxXxX

Mais uma vez, ele passara o fim de semana na casa de Alexandra. Era o Terceiro. E ele estava adorando.

Em três semanas, Evangeline não dera notícia alguma. Não voltava em momento algum para a casa e nem tampouco telefonara. Talvez a distância, combinada com a deliciosa proximidade de Alexandra, o tenham feito esquecer...

Pelo menos era o que ele achava.

No entanto, toda convicção de que já havia esquecido Evangeline dissipou-se quando, ao abrir a porta de casa naquela segunda-feira, ele a viu lá, sentada no sofá com o seu pijama de flanela, vendo televisão como se nada tivesse acontecido; como se ela jamais tivesse partido.

- Oi!

Ele parou por um momento. O seu coração acelerou e ele tinha que admitir para si mesmo que as pernas bambearam um pouco. Especialmente quando viu um sorriso breve iluminar o belíssimo rosto.

- Você? Aqui?

- Essa é a minha casa, não? Agora estou de volta... como nos velhos tempos.

- Como nos velhos tempos... – Severo repetiu, franzindo o cenho, enquanto entrava em casa. Fechou a porta atrás de si e não conseguiu olhar nos olhos castanhos.

Ouviu Evangeline suspirar, antes de dizer:

- Você chegou muito tarde e saiu muito cedo, ou você não dormiu em casa, Severo?

Ele engoliu seco e finalmente a olhou. Os olhos castanhos o miravam com um brilho de... seria esperança? Não. Severo não queria mais ter essas idéias. Ainda assim, não quis responder à pergunta.

- O que você está fazendo aqui?

Evangeline sorriu nervosamente.

- John teve que viajar. O pai dele está pior.

- O que ele tem? – Ele perguntou sem interesse, mas querendo a todo custo evitar assuntos inconvenientes e embaraçosos.

- Câncer de esôfago. Com metástase.

- Por que você não foi com ele?

Evangeline respirou fundo, tendo a impressão que ele não a queria por perto. Doeu. Sentiu o seu coração desacelerar por um momento.

- Eu tenho uma grande amiga cujos pais são americanos; eles sempre comemoram o dia de Ação de Graças, e eu participo das festas desde que tinha uns 10 anos de idade. É meio que uma tradição... Como está muito próximo, eu decidi não perder.

Severo assentiu, sentando-se de frente para Evangeline. Deu um meio-sorriso.

- E o dia de ação de graças será...?

- Quinta-feira(1). E na sexta eu pegarei o avião.

Os dois ficaram em silêncio por um momento... Um silêncio constrangedor e que pareceu se arrastar por décadas. Os olhares jamais se cruzavam... Até que a voz de Severo soou:

- Eu tenho que ir trabalhar.

Os olhos de Evangeline finalmente repousaram sobre ele, enquanto ele se levantava.

- Eu pensei que você não fosse, já que acabou de chagar em casa.

- Alexandra prefere que nós cheguemos separados no trabalho, por isso me deixou aqui antes.

Foi como se Evangeline tivesse recebido um grande golpe. A sua respiração cessou por um instante, e ela não conseguiu esconder o seu constrangimento e surpresa ao constatar que...

- Você estava com Alexandra?

- Sim – Ele simplesmente respondeu.

- Que... – ela desviou os seus olhos. – bom...

Severo olhou-a por um momento, sentindo o ímpeto de beijá-la ao perceber que, sim, ela ficara afetada pelo relacionamento dele. Mas, ao invés disso, cedeu à sua personalidade sádica e não conteve a curvinha maldosa que se formou em seus lábios.

- Sim. É muito bom.

XxXxXxX

A semana foi se passando lentamente, e, ao ver que Alexandra era uma visita cada vez mais freqüente, Evangeline começou a querer que a sexta chegasse logo... queria voltar para John. Queria expulsar o que sentia. Ciúmes. Poucas foram as vezes que ela se deparara com aquele sentimento... E jamais fora tão forte.

- Evan? No que você está pensando?

Evangeline corou levemente e levou a xícara de chá que segurava aos seus lábios. Estivera calada, perdida em seus pensamentos pelos últimos minutos... Mas quem poderia culpá-la? Ela não era obrigada a fazer sala todas as vezes que Alexandra visitava Severo.

- Nada – disse assim que tomou um gole do seu já frio chá. Tentou sorrir. – Nos problemas.

- Ah, claro! – Ela disse com um sorriso amigo. – Stephen me contou o que houve com o pai de John. Eu sinto muito. Espero que ele melhore logo.

Evangeline olhou de esguelha para Severo, que se sentava no sofá ao lado de Alexandra. O seu semblante era calmo, talvez um pouco entediado, e com os seus dedos longos ele brincava com a xícara.

- Duvido muito que vá melhorar, para ser sincera. John já está se preparando para o pior. E eu também.

- Sinto muito. Mesmo – A mulher sorriu mais uma vez para Evangeline, mas logo se voltou para Severo. – E hoje à noite?

- O que vai ocorrer essa noite? – Evangeline perguntou rapidamente e sem pensar.

Alexandra voltou-se para ela, com um inconfundível ar de desculpas no rosto.

- Nós vamos sair... eu te convidaria, mas...

- Ok. Entendi.

Mais uma vez, Evangeline deixou os seus olhos perderem-se no nada e tomou o último gole do seu chá frio. Lembrou-se de Minerva quando viu, no fundo do seu copo, a imagem que em muito lhe lembrava uma estrela.

- Stephen?

Não se importou com o fato que a voz de Alexandra soava na sala e que ela provavelmente estava interrompendo o que parecia ser um assunto muito interessante. Assim que a loira calou-se e ela tinha a total atenção de Severo, entregou-lhe a xícara.

- O que isso significa?

Severo ergueu uma sobrancelha, olhando ligeiramente para as folhas que descansavam no fundo do chá.

- O que?

- Eu estive conversando com Minerva há alguns dias e pedi que ela lesse para mim as folhas de chá... tinha dado essa mesma figura: a estrela. Mas ela não quis dizer nada... Então, o que significa?

Alexandra olhou de Evangeline para Severo com um brilho nos olhos.

- Stephen! Eu não sabia que você se interessava em esoterismo! Se eu soubesse poderia tê-lo apresentado a uma das minhas amigas que é uma cartomante maravilho--

- Eu não me interesso e tampouco acredito nesse tipo de coisa – Ele devolveu a xícara a Evangeline. – E não sei de onde Evangeline tirou a idéia de que eu saberia ler isso.

Evangeline viu Severo olhar de esguelha para Alexandra e logo soube: não deveria falar desse tipo de assunto na frente dela.

- É uma pena... – A loira disse, levantando-se. – Bem, de qualquer forma, obrigada pelo chá, Evan... Severo, nos encontramos mais tarde!

- Eu passo na sua casa às oito.

E Evangeline apenas observou Severo levar a loira até a porta. Quando finalmente a fechou, o seu semblante era furioso.

- No que você estava pensando? Não podia ter feito aquela pergunta absurda depois que Alexandra fosse embora?

Evangeline crispou os lábios. Pela primeira vez me dias, teve coragem de olhar Severo nos olhos.

- Não era você quem vivia criticando o meu relacionamento porque eu não revelo ao meu namorado coisas sobre a minha família? Você faz o mesmo, Severo. Por que não diz a Alexandra quem você é?

Severo rolou os olhos e aproximou-se dela.

- Porque, caso você tenha esquecido, eu estou me escondendo do mundo! Eu não posso revelar quem eu sou!

- Tudo bem... desculpe. É que-- – Ela suspirou. – Eu não gosto de ficar bancando a anfitriã para ela.

- Por que não? Pensei que ela fosse sua amiga.

Evangeline crispou os lábios.

- Ela é. Eu acho que apenas não estou acostumada a vê-la com tanta freqüência.

Severo crispou os lábios e rolou os olhos – gesto que foi imediatamente interpretado por Evangeline como o fim daquele assunto. Assim, ela apenas começou a encaminhar-se ao seu quarto. No entanto, foi impedida pela voz de Snape:

- Eternidade.

Evangeline virou-se lentamente.

- Como disse?

- A estrela. Ela significa eternidade.

- Eternidade? – Ela franziu o cenho. – Como assim?

Severo suspirou.

- Pelo que eu me lembro, a estrela significa que uma grande mudança em sua vida veio e será eterna. Pode ser um milagre ou uma maldição.

Ela apenas deu um meio-sorriso.

- A única mudança que eu tive em minha vida foi voc-- – Evangeline impediu-se de terminar a sua frase, já sabendo todas as suas implicações. Antes de desviar os seus olhos, viu um brilho aparecer nos de Severo. Ficou muito séria. – Então você acredita que eu estou fadada a essa mudança?

Severo deu de ombros.

- Eu não acredito em nada.

- Nem eu.

E deu meia-volta, subindo para o seu quarto, sentindo-se angustiada. Snape certamente era a mudança eterna. Só faltava saber se ele era um milagre ou uma maldição.


(1)O dia de ação de graças é comemorado nos EUA na última quinta-feira do mês de novembro. No caso, no ano de 1998, foi no dia 26 de novembro.

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