à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 8
Inebriar




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VIII

INEBRIAR

Era quase duas e meia da madrugada quando Evangeline chegou à sua casa. John não mentira no restaurante quando disse que a saúde do pai piorara. Nem que a irmã passaria na casa dele para pegar alguns documentos. No entanto, a sua preocupação fora uma completa farsa. A única coisa que o preocupava no momento em que dissera aquilo a Severo e Evangeline no restaurante, era se a namorada entenderia ou não que aquela era a deixa para eles saírem.

Assim, depois de longas horas onde eles apenas tomaram (mais) vinho, conversaram, riram e fizeram amor, John concordou em levar a namorada de volta para casa.

Ela o beijou demoradamente antes de descer do seu carro. Teve um pouco de dificuldade em colocar a chave no trinco e, logo que entrou, foi direto para a cozinha tomar um grande copo de água, na tentativa de amenizar a ressaca que certamente teria no dia seguinte. Ainda o bebia quando escutou o barulho da chave sendo virada no trinco da porta da frente.

Ao lembrar que estava no meio da madrugada, sorriu: certamente ela e John não foram o único casal a se dar bem naquela noite.

Ainda com o copo na mão, ela encaminhou-se de volta para a sala.

- E então?

Severo ergueu uma sobrancelha.

- Ainda acordada?

- Acabei de chegar. Mas, e então?

- É a segunda vez que você me pergunta isso, Evangeline, e eu sinceramente preciso pedir que me faça perguntas completas para que eu possa respondê-las.

Ela rolou os olhos. Ele estava sendo desagradável de propósito. Ela já conhecia essa tática; Severo usava todas as vezes que queria evadir de algum assunto. Colocou o copo com água sobre a mesa de jantar e se aproximou dele.

- Como foi o resto da noite?

- Eu fiz uma incrível descoberta.

- Qual?

- A capacidade que a Sra. Leigh tem de tagarelar é diretamente proporcional à quantidade de álcool que ela tem no sangue.

Evangeline riu audivelmente, enquanto dava mais um passo em direção a Severo.

- Nós somos amigos, certo?

Ele fez a expressão dura que era tão característica dele.

- Acredito que, nesse quesito, eu não tive outra escolha.

- Então me conta. O que mais aconteceu? Vocês estavam no restaurante até agora?

- Eu vou relevar a sua total indiscrição, Evangeline, por causa da absurda quantidade de vinho que você consumiu durante o jantar. Mas de antemão devo alertar que você ainda não tem liberdade de falar comigo sobre estes assuntos.

Por um breve momento, Evangeline se calou. Mas logo foi tomada por uma súbita onda de coragem – talvez provinda do vinho – e fez a pergunta que estava martelando há dias em sua cabeça:

- Nós estávamos indo bem; você tinha começado a confiar em mim e estava começando a se abrir! Por que você voltou a ser... você?

- Eu nunca disse que seria o seu amigo. Eu nunca disse que queria me aproximar de você. Foi você, Evangeline, quem insistiu que nós deveríamos ter uma relação! Eu jamais a quis!

- Sim, Severo, você está certo! Para o bem ou mal, eu forcei essa situação! Eu me impus! No entanto você, em algum ponto, cedeu! E eu quero saber o que te fez voltar atrás!

Severo desviou os seus olhos imediatamente dos de Evangeline. Ele bebera mais do que devia... e sentia que, se aquela discussão exaltada continuasse, ele poderia acabar revelando a ela que o único motivo que o fez regredir na aproximação dos dois, era a remota possibilidade dele acabar se apaixonando.

- Eu apenas não quero me aproximar de ninguém.

- Por quê? Nós moramos na mesma casa, pelo amor de Deus!

- Está tarde, Evangeline, vá dormir!

- Não, eu não vou! Eu apenas vou sair daqui quando você me disser por que eu não posso perguntar algo como... – Ela parou por um momento. Talvez tenha sido por causa do vinho que ela não conseguiu segurar a primeira pergunta pessoal que veio à sua cabeça: – você sente falta de sexo?

Snape a olhou no mais absoluto choque. Jamais imaginara que a mulher com quem convivia fosse capaz de fazer uma pergunta tão indiscreta de uma maneira tão displicente.

No entanto, ele chegou à conclusão que era melhor responder à pergunta indiscreta, do que falar a Evangeline sobre os seus motivos. Assim, tão displicentemente quanto ela, Severo respondeu:

- Sinto.

Evangeline ergueu uma sobrancelha, quase sem acreditar no que escutara. Poderia ela estar derrubando as defesas de Snape? Apenas para confirmar que ele estava pronto para falar de sua vida pessoal, ela perguntou:

- É sério? Você vai falar sobre isso?

Snape crispou os lábios, deu de ombros e sentou-se no sofá.

- Se você quer tanto saber...

Ela franziu o cenho e sorriu. Lentamente sentou-se ao seu lado. Evangeline podia sentir o coração acelerado, mas ignorou. Quando pensou na próxima pergunta, sentiu as suas faces ficarem quentes e tinha a mais absoluta certeza que estavam ridiculamente vermelhas, mas se obrigou a prossegui; não desperdiçaria aquela oportunidade de conhecer Snape mais a fundo.

- Há quanto tempo...?

- Por volta de seis meses. E a resposta é não; – ele cravou os seus olhos incrivelmente negros nos dela. – eu não fiz sexo com Alexandra.

Evangeline engoliu seco e desviou o seu olhar. Ainda muito vermelha, confessou:

- Eu já passei quase dois anos sem. Fiquei solteira por um ano inteiro e, logo em seguida, tive que abrigar Sirius Black e--

- Você abrigou Sirius Black?

- Você o conhecia? Alvo me pediu. Mas não era para incorporá-lo ao mundo trouxa, mas para sim escondê-lo. Um ano inteiro. Quase enlouqueci!

Pela primeira vez em muito tempo Evangeline viu Snape sorrir verdadeiramente. Era um sorriso maldoso e maquiavélico, mas, ainda assim, um sincero.

- Eu também nunca fui muito fã dele.

- Foi por causa do período que ele passou aqui que eu não queria te abrigar. Ele era uma boa pessoa, mas fiquei feliz quando percebi que você não era espaçoso e inconveniente como ele!

Snape riu-se.

- Interessante, porque nos tempos de Hogwarts ele era bem popular entre as mulheres.

- Ele parecer ser esse tipo de homem. Mas eu prefiro os mais reservados... – Evangeline viu a sobrancelha de Snape se erguer, olhando-a. Quando pensou no que acabara de dizer, apressou-se em completar. – Como o John.

O sorriso sincero de Severo morreu e, talvez por causa do vinho, ele não conseguiu evitar que os seus lábios despejassem a pergunta que vinha a sua mente.

- Então John Anderson é o seu tipo?

Evangeline respirou fundo, como se considerasse aquela pergunta. Mordeu o lábio antes de responder e, sinceramente, não conseguiu encarar aqueles olhos negros enquanto dizia:

- Eu não sei... por enquanto sim. Eu não me sinto bem quando tenho que esconder dele tudo sobre as minhas origens. Mas gosto do fato que John me ama o suficiente para não fazer nenhuma pergunta.

- E você acha saudável--?

- Eu não quero falar sobre isso – Ela interrompeu. – Pelo menos não sob este aspecto. Sexo é o assunto em pauta. Então, voltando para ele, você vai me dizer que não teve vontade de dormir com a Alex?

Snape deu um meio sorriso, olhando-a de uma forma divertida.

- Tive.

- Severo, você está a seis meses sem transar! Como deixou passar a oportunidade?! Aquela mulher parece uma coelhinha!

Ele ergueu uma sobrancelha.

- Eu realmente não acho que a Sra. Leigh lembre tal animal.

- Não! – Evangeline riu-se. – Uma coelhinha da Playboy! É uma revista masculina que as mulheres posam nuas.

- Entendo. Deve ser algo parecido com a Playwizard. No entanto, por mais que eu ache a Sra. Leigh atraente, você estava certa sobre mim: não gosto de sexo casual.

- Eu jamais o tomaria por um romântico, Severo.

O semblante dele se fechou, como se aquilo tivesse sido um grande insulto.

- Eu não me considero um.

- Mas parece ser. Isso é bom. Você é um bom homem. Mas sem ser bonzinho.

- Um bom homem que não é bom?

Ela corou.

- Ora você sabe! Você parece ser bom, mas, em certas ocasiões...mau.

Novamente, Severo ergueu uma sobrancelha – o seu semblante, no entanto, deixava claro que ele entendera muito bem o que Evangeline queria dizer com aquilo... e que estava se divertindo muito com o constrangimento dela.

- Não, eunão sei. Mais uma vez, Evangeline, terei que pedir que você seja mais clara.

Ela respirou fundo.

- Você parece ser um homem decente e discreto, Severo. Mas que, na cama, se revela justamente o contrário.

- Oh, entendo. E por que você acha isso?

Evangeline olhou para a o chão, ficando ainda mais vermelha. Começou a se arrepender por ter forçado o assunto.

- Pelo seu jeito misterioso. Sua linguagem corporal. Pelo tamanho das suas mãos.

- O tamanho das minhas mãos? – Ele pareceu sinceramente intrigado.

- Bem, você sabe o que dizem... Quando um homem tem mãos grandes geralmente tem... outras coisas igualmente grandes.

Agora foi a vez de Snape corar levemente. Evangeline sentiu-se vingada.

- Ah.

- De qualquer forma – ela disse, tentando desfazer o sorriso envergonhado. – É isso que eu acho. E por isso achei que você faria um bom par com uma mulher que transpira energia sexual, como Alex.

- Você também transpira energia sexual, Evangeline. E nem por isso eu vejo você ao lado de um homem, como você classificou...? Ah! Descente e discreto mas, que na cama, prova ser o contrário.

Ela abriu a boca, fingindo indignação.

- Saiba você que John...

- ...é um deus do sexo?

Ela riu.

- Não exatamente. Mas não deixa a desejar. Ele apenas tem medo de machucar e é carinhoso demais.

- Morno.

- Um pouco.

Evangeline abaixou a cabeça, ainda sorrindo. Mas logo o famoso e constrangedor silêncio invadiu a sala. Ela não demorou a perceber que aquele assunto estava, por hora, encerrado.

- Está tarde. Boa noite, Severo.

- Boa noite.

Ela se levantou. Lentamente atravessou a sala e começou a subir as escadas... mas logo foi impedida pela voz suave e aveludada de Severo.

- Mas você está certa.

Ela se virou.

- Sobre?

- Mim. Descente e discreto. Mas não em todas as ocasiões.

Ela abriu a boa para responder, mas, ao ver o olhar de Severo, percebeu que não precisava responder àquilo. Sem palavras, então, ela virou-se, subiu às escadas, entrou no seu quarto e fechou a porta atrás de si.

Apenas quando recostou à porta ela conseguiu respirar, sentindo uma deliciosa sensação de frio na barriga e sem conseguir tirar do rosto um sorriso. Alexandra estava certa: aquele era um homem muito atraente.

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