à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 7
A Difícil Arte




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VII

A DIFÍCIL ARTE

As semanas passaram lentamente, e logo o mormaço do forte verão era arrebatado pela brisa fria que anunciava a chegada do outono – e foi apenas então que Snape começou a se sentir confortável com a sua nova vida.

Por um lado, obviamente, havia a mudança de temperatura, que ajudava a melhorar um pouco o seu humor... Mas esse não era o fator principal: a cada dia que se passava, ele se via mais adaptado ao estilo de vida trouxa. E, naturalmente, o mérito era todo de Evangeline.

Depois da incômoda proximidade que eles tiveram no dia em que ele recebera os seus documentos, Severo passou um tempo fantasiando em como a sua vida seria se a mulher de repente começasse a vê-lo romanticamente... Mas a pontinha de esperança logo se dissipou quando ela saiu para passar o fim de semana com o namorado. Ele logo percebeu que não havia nenhuma possibilidade de Evangeline ingressar numa aventura com ele.

Para não pensar nela, ele desenvolveu uma técnica masoquista na qual sempre que ele se deparava com o sorriso de Evangeline, ou com as palavras de Evangeline, ele obrigava-se a pensar em Lílian. Apesar de, de início, a técnica ter funcionado bem, logo ele percebeu que esse esforço para não pensar nela acabou criando uma espécie de muro entre os dois. A proximidade, que antes parecia começar a fluir bem, voltara à antiga forma superficial e forçada e o espaço para perguntas pessoais fora completamente fechado.

Evangeline demorou, mas logo percebeu que ele estava mais distante. Confiando que aquilo se devia tão-somente à personalidade inconstante do homem que morava consigo, decidiu ignorar... No entanto, ela estava incomodada. E sabia que um dia acabaria explodindo num mutirão de perguntas inconvenientes na tentativa de se aproximar dele...

Ela apenas não sabia que esse dia estava tão próximo...

Evangeline ainda estava dormindo quando o telefone da sua casa tocou. Era um sábado. Ela passara parte da noite anterior no apartamento de John, o que explicava o seu cansaço e o fato de estar dormindo até... Ela sentou-se e olhou o rádio-relógio ao lado da sua cama. Já eram onze e meia da manhã!

Levantando-se rapidamente, ela vestiu o seu robe e abriu a porta do quarto.

- Severo! Você pode, por favor, atender o telefone?!

Mas não houve resposta alguma... o aparelho apenas continuou a tocar insistentemente. Bufando e rolando os olhos, Evangeline se apressou pelas escadas. Quando finalmente conseguiu chegar à mesinha, no entanto, ele parou.

A mulher suspirou. Viu que, preso na base do telefone, estava um pequeno bilhete. Ela o pegou. A caligrafia pequena e precisa só podia ser de uma pessoa

.

“Tive que sair. SS”

Ela ergueu uma sobrancelha e colocou o bilhete de volta na mesinha. Apenas Severo deixaria um bilhete tão direto e impessoal... Suspirou mais uma vez e pensou em voltar para a sua cama... Mas o toque do telefone voltou a soar.

- Alô?

“Evan! Você desapareceu mais uma vez, minha querida! É a Alex! O seu tio está aí?”

- Oi, Alex! Ele não está, não.

“Ah.” A Voz da mulher quase expressava um desapontamento. “Onde ele foi?”

- Eu não sei. Ele não me dá muitas satisfações...

“Que pena... Bem, quando ele chegar, diga que eu liguei! Como você está, meu bem?”

- Um pouco ocupada... e você?

“Não muito mal... Eu me divorciei há um mês, Stephen te contou?”

Evangeline franziu o cenho e ficou calada por um momento, até lembrar que Stephen era o nome falso de Severo.

- Erm, não. Ele não disse nada.

“Ele foi um dos primeiros a saber... Não conte a ele, Evan, mas eu acho que tenho uma quedinha por ele!”

O coração de Evangeline pareceu afundar por um momento. Ela sentiu a garganta ficar seca e a sua voz estava ligeiramente falha quando disse:

- Sério? Por que?

“Não sei... talvez seja o jeito misterioso... o estilo meio gótico... Ou aqueles olhos! Você já reparou nos olhos dele?”

Evangeline respirou fundo. Sim, ela já prestara atenção em tudo aquilo... Principalmente nos olhos. Desde a primeira vez que se encontraram, ela soube que jamais encontraria em toda a sua vida olhos tão expressivos e magnéticos quanto os de Severo.

- Eu... não sei.

“De qualquer forma... Eu acho que ele deve ser bom naquilo. Quando eu ainda era casada, costumava prestar atenção nas mãos dele. Ele as usa bem!”

Evangeline mordeu o lábio. A última coisa que ela queria era ter alguém fazendo que ela pensasse em Snape como um ser sexual. Então decidiu que o melhor a fazer era continuar adaptando-o ao mundo trouxa e fazê-lo ter um encontro.

- Alex, por que não vamos jantar nós quatro? Eu e John, você e S-- Tio Stephen? Talvez possa acontecer alguma coisa.

“Eu estava para sugerir justamente isso. Preciso de uma boa desculpa para sair com aquele homem! Eu já o peguei me olhando na loja algumas vezes, mas não tenho coragem de chamá-lo. Acho que um jantar a quarto será a ocasião perfeita para nos entendermos.”

- Muito bem! Quando eu te liguei, você me fez um favor. Agora é a hora de retribuir. Nos vemos no Cesar’s, às nove?

“Nos vemos lá! Eu farei a reserva!”

XxXxXxX

No fim da tarde, John, Evangeline e Severo sentavam-se à mesa de jantar e desfrutavam do tradicional chá das cinco. A mulher preparara uma mesa com ótimos biscoitos e bolos, tudo com a intenção de deixar os dois homens de bom humor. Ela sabia bem que a missão de convencê-los a sair para jantar naquela noite não seria nada fácil.

E, pela expressão dos dois, ela não estava tendo muito sucesso.

John suspirou...

- Evan, meu pai acabou de me ligar para dizer que está doente... sinceramente, eu não estou me sentindo muito festivo.

...e Severo assentiu, tomando um gole do seu chá.

- E eu comprei um livro novo hoje; Crime e Castigo. Acho que me divertirei mais o lendo.

Evangeline crispou os lábios.

- Ora, vamos! Será divertido! John, faz eras que não saímos juntos. E, Severo, o livro estará aqui o tempo inteiro! No mais, a Alex estará lá. Ela ficará feliz se você for; ninguém gosta de sair apenas com um casal.

- Eu não me saio bem em ocasiões sociais.

- Nem eu, Severo! Mas o pior que pode acontecer é nós todos desfrutarmos de uma ótima comida francesa em silêncio!

Ele suspirou lentamente.

- Eu realmente não gosto de jantares.

- Dá pra abrir uma exceção? Você só sai daqui para trabalhar, Severo, isso não é saudável.

Severo olhou para Evangeline por um tempo, tentando entender qual o motivo de tanta insistência. Por fim, decidiu pagar para ver. Resignado, disse:

- Tudo bem. Eu vou.

- Ótimo. – Com um sorriso, ela se virou para John. – E você?

O homem deu de ombros.

- Eu já falei. Realmente não quero ir, Evan. Desejo que vocês três se divirtam, no entanto.

- John, posso ter uma conversinha com você?

Dizendo isso, Evangeline levantou-se da mesa e arrastou John ao canto da sala, sob os olhos desconfiados de Severo. Num sussurro quase inaudível, ela falou:

- Nós só precisamos ficar lá por meia hora! Depois disso, inventamos uma desculpa e saímos, deixando os dois sozinhos, entendeu?

Com a indiscrição que era característica de John, ele deu um sorriso e olhou para Severo.

- Oh! Assim, tudo bem!

XxXxXxX

Às nove e meia da noite, os quatro travavam uma deliciosa conversa. O Cesar’s era um lugar aconchegante. Luzes baixas, som provindo de um piano no centro do grande salão... Era, certamente, um ambiente próprio para encontros amorosos. Rezava a lenda, aliás, que todo romance que começava no Cesar’s durava para sempre.

Dessa forma, se Alexandra e Severo começasse um romance agora, Evangeline não mais teria que se preocupar com os olhares que ela trocara com ele há algumas semanas.

Ao chegar, ela viu com satisfação que Alex escolhera um belo vestido negro. A mulher, com o seu corpo escultural e seus lindos cabelos loiros, chamava a atenção de qualquer homem do salão... certamente chamaria a de Severo. No entanto, quando eles conversavam, Evangeline pôde claramente ver que não pareciam ter muito em comum... Talvez a difícil arte de dominar uma conversa com Snape apenas pudesse ser adquirida com tempo e convivência – e por isso apenas Evangeline a possuía.

Duas garrafas de vinho, no entanto, foi suficiente para que a conversa fluísse mais naturalmente. E, enquanto Alexandra começava a dominar a conversa com a sua personalidade expansiva, e Severo ficava mais participativo, Evangeline começava a ter esperanças que Severo e Alexandra pudessem terminar a noite na cama.

- Eu vou retocar a minha maquiagem, Evan. Me acompanha?

Evangeline olhou da mulher para a terceira garrafa de vinho que o garçom vinha trazendo e decidiu declinar do convite. Enquanto Alex se retirava, ela abriu um sorriso maroto e inclinou-se ligeiramente na mesa, na direção de Severo.

- E então?

Finalmente Severo entendeu o motivo da insistência de Evangeline. O seu semblante imediatamente fechou.

- Então o que, Redfield?

Ela deu uma risadinha, enquanto via John rolar os olhos, pegar o seu telefone celular e deixar a mesa.

- O que você achou dela? Ela gosta de Você, Severo.

- Creio que isso não seja da sua conta. Eu posso muito bem cuidar da minha vida pessoal.

- Ainda assim! Admita, ela é linda! E, não conte para ela que eu te disse isso, mas o jantar foi sugestão dela, e não minha! Ela disse que não conseguia nenhum pretexto para conseguir te ver fora do trabalho... eu dei apenas um empurrãozinho!

Apesar de, por dentro, Severo estar se sentindo ligeiramente vaidoso por ter atraído a atenção de uma mulher tão bonita quanto Alexandra, ele crispou os seus lábios e olhou para Evangeline com um ar de reprovação.

- Eu pensei que o nosso trato era que você me ajudaria apenas a me adaptar ao mundo trouxa.

- Então veja isso como mais uma lição! – Evangeline sorriu. – Você está aprendendo a namorar!

- E também concordamos que você ficaria fora dos meus assuntos pessoais.

Ela respirou fundo.

- Eu sei, mas... Tudo bem, foi um erro, e não vai mais se repetir. Obviamente você não é o tipo de homem que gosta de sexo. – Snape ergueu uma sobrancelha e Evangeline imediatamente soube que o vinho começava a falar por ela. E o vinho tinha se expressado mal. – Quer dizer, você não é o tipo de homem que curte sexo casual, totalmente sem significado. Estou certa?

- Você ainda não me conhece, Evangeline.

- Eu já disse que quero conhecer!

Os olhos de Snape mudaram de uma forma que ela jamais vira antes. O brilho negro se intensificou de forma que Evangeline não conseguiu desgrudar os seus dos dele. O seu corpo arrepiou-se e a sua garganta ficou seca. Ela já ouvira falar muito em sua vida de olhares intensos... mas jamais havia sido presa por um de tal intensidade.

A voz aveludada de Severo saiu baixinha, da maneira mais amarga do que ela jamais ouvira.

- Se você soub--

Mas ela jamais soube o que Severo falaria... Pois ele logo foi impedido pela voz de John, que soara atrás dele.

- Parece que papai piorou. Minha irmã vai viajar para Vermont daqui há algumas horas. Ela vai passar em meu apartamento antes, para pegar alguns documentos. Eu tenho que ir.

- Eu vou com você; quero dar um abraço em Nina. – Ao longe, ela viu a loira aproximar-se. Levantou-se. – Severo, Alex está vindo. Espero que você não se importe em terminar o jantar com ela, a sós.

E, sem esperar uma resposta, saiu.

Severo observou a bela mulher de cabelos castanhos atravessar o salão e deixar o restaurante. Pensou um pouco na conversa que á pouco tiveram, talvez culpa do vinho... Ela estava certa. Severo Snape não era o tipo de homem que gosta de sexo casual. Sexo para ele, era um ato de intimidade que deveria ser praticado não com a loira que se sentava ao lado dele, mas com alguém como...

Ele engoliu seco, assustando-se com a constatação enquanto via a mulher que trajava vermelho desaparecer pela porta do restaurante.

...com alguém como Evangeline.

XxXxXxX


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