à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 6
As Maravilhosas Invenções Trouxas




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VI

AS MARAVILHOSAS INVENÇÕES TROUXAS

- Passe a primeira.

Severo pegou a marcha o carro e a forçou para frente, sem jamais, no entanto, conseguir engatá-la. Desolada, Evangeline suspirou e ficou olhando para os esforços inúteis do homem até que, quando pensou que ele fosse acabar quebrando o câmbio do seu carro, decidiu intervir.

- Faz doisdias que eu te digo que você tem que pisar na embreagem para conseguir passar a macha.

Os olhos frios de Severo recaíram sobre ela. Seria um olhar que certamente a faria arrepiar-se até os ossos... mas ela estava tão cansada de ficar dentro do seu carro que sequer se importou.

Seco, ele replicou:

- Eu sou acostumado a desaparatar. Sinceramente, qual o mérito de aprender a operar essa máquina?

Evangeline suspirou e rolou os olhos.

- O mérito é que, se você simplesmente aparecer no meio de Londres,acredite, algumas pessoas poderão, talvez, achar estranho! Vamos, Severo! Você não era super inteligente?! Qual é a dificuldade de pisar na embreagem e passar a macha, por Deus?!

Ele a olhou por um tempo.

- Você está dizendo que eu não sou inteligente?

- Bem, até as pessoas mais obtusas conseguem dirigir...

Severo cerrou os olhos, talvez não acreditando que aquela mulher simplesmente tivera coragem de chamá-lo de estúpido, mesmo enquanto ele usava o mais intimidante dos seus olhares. De uma forma estranha e surpreendente, ele gostou disso.

Bufando, ele voltou a sua atenção para o carro. Pisou na embreagem e passou a primeira.

Evangeline respirou fundo, aliviada. Com um sorriso começando a se esboçar em seus lábios, ela disse:

- Continue com o seu pé na--

- ...embreagem, ligue o carro e retire o pé lentamente, enquanto pressiona levemente o acelerador. Obviamente, eu já sei a teoria! Estou escutando-a a dois dias!

- Então tente!

Severo bufou mais uma vez e tentou seguir a teoria... No entanto, exatamente como todas as outras vezes, o carro deu três solavancos para frente e parou.

- Morreu... – Evangeline comentou com os lábios crispados.

- Eu disse que sou um assassino, Evangeline! Aparentemente, nem o seu carro escapa! – Ele suspirou e recostou a cabeça no banco. – É oficial! Eu entendo Alexandra!

Evangeline abafou a risada.

- Nós apenas não tivemos tempo de treinar, Severo! Acredite, vocênão vai ser o terror dos pedestres!

- Quanto a isso você está certa, pois não quero mais ter aulas de direção. É inútil, Evangeline! Apenas me mostre como usar o metrô e eu ficarei bem!

Evangeline começou a tirar o cinto.

- Não... Você não conhece Liverpool, certamente se perderia. Estando de carro, pelo menos você não vai ficar a mercê dos trombadinhas que vivem nas estações.

- Se eu me perder, eu posso simplesmente desaparatar em sua casa.

- De maneira alguma! John pode estar aqui.

Severo a olhou, erguendo uma sobrancelha e com um sorriso maldoso em seus lábios.

- Ah! John! Aquele que não sabe quem você é!

Os lábios finos de Evangeline crisparam-se novamente. Os olhos castanhos logo ficaram opacos.

- Sem julgamentos, Severo. Nós combinamos isso.

Ele assentiu lentamente em concordância. O silêncio se instalou entre os dois... e, depois de alguns minutos, a já muito incomodada Evangeline decidiu falar:

- Eu comprei ontem algumas roupas para você. Creio que são o seu número. E enviei uma carta a Minerva... Para ver se ela pode conseguir alguns documentos para você.

- Você se deu a todo esse trabalho...?

Evangeline o olhou novamente.

- Você vai precisar de tudo isso. Eu perguntei também se seria possível falsificar um diploma... assim você poderia encontrar um emprego mais rentável. Eu acho que deveria ir trabalhar, agora.

Dizendo isso, Evangeline pegou a sua bolsa no banco de trás do carro e abriu a porta. Quando ia descer, no entanto, foi impedida pela voz de Severo... que tinha um tom que ela ainda não ouvira.

- Evangeline.

Ela se virou. Severo permaneceu um momento apenas a olhando, talvez procurando as palavras mais apropriadas para dizer aquilo. Por fim, decidiu apenas dizer:

- Obrigado. Mas eu não pertenço a esse lugar.

Evangeline abriu um sorriso reconfortante e bateu duas vezes na mão dele, que ainda descansava sobre a marcha.

- Você vai ficar bem.

E, feliz, saiu.

Severo olhou a mulher caminhando, até desaparecer por uma rua, no caminho do metrô. Suspirou, olhando para o carro. Com cuidado, ele pisou na embreagem, ligou o carro e viu que a primeira marcha já estava engatada. Fechou os olhos e suspirou novamente. Enquanto um pé soltava suavemente a embreagem, o outro pisava no acelerador... e, pela primeira vez, o carro deslizou.

Com um sorriso triunfante, ele pisou na embreagem e freio e parou o carro. Desligou-o.

Se ele conseguia dominar o carro, ele conseguiria se adaptar. Evangeline estava certa: ele ficaria bem.

XxXxXxX

As semanas se passavam rápidas em Liverpool, e o apogeu do verão fazia o clima quente ficar quase insuportável. Severo, no entanto, era o que mais sofria com isso: acostumado com as masmorras frias e os mais diversos feitiços para baixar a temperatura corporal, ele se sentia sufocar dentro das roupas negras – cor que ele jamais abriria mão.

Há duas semanas, Evangeline o apresentara a uma maravilhosa invenção trouxa chamada desodorante anti-transpirante. Ele não tinha certeza se esse era o motivo, mas, desde então, ele parecia trabalhar mais perto das pessoas na loja. E Alexandra com certeza estava mais próxima, encontrando qualquer desculpa para ficar ao lado dele.

Mal sabia ele que estava pronto para experimentar uma outra invenção trouxa... essa um pouco mais interessante.

O sol já se punha quando ele chegou na casa de Evangeline. John, que ainda estava lhe dando caronas para o trabalho, parecia ocupado e decidira ir direto para o seu apartamento.

Severo desceu do carro e, quando abriu a porta, viu imediatamente Evangeline sentada no sofá. A mulher abriu-lhe um grande sorriso, pôs-se de pé e começou a se encaminhar rapidamente para a cozinha:

- Não vá a lugar algum!

Severo franziu o cenho e fechou a porta. Recostou-se atrás do sofá, esperando que ela voltasse da cozinha. Ele ainda estava se acostumando com a personalidade de Evangeline. O humor daquela mulher oscilava constantemente, ela era intrometida e totalmente controladora... mas, ainda assim, encontrava maneiras de lhe surpreender com suas atitudes. Ela fazia um óbvio esforço para ajudá-lo, levando-o em lugares famosos e comprando novos aparelhos trouxas, apenas para que ele aprendesse a usá-los. Ela também parecia ter a idéia fixa de que eles deveriam ser amigos, desde que estavam morando juntos... E por isso esforçava-se também ao tentar conversar com ele. Nas primeiras semanas, ela passara por muitos períodos de silêncios constrangedores... mas, agora, os dois já conseguiam fazer uma conversa displicente fluir.

E o que ela conseguira com isso? Severo sabia que ainda demoraria muito até ele admitir tal coisa... mas gostava dela.

Ligeiramente saltitante, Evangeline saiu da cozinha, trazendo em suas mãos duas garrafas. Entregou uma a ele – estava gelada.

- O que é isso?

Evangeline ergueu uma sobrancelha. Ainda não se acostumara com o desconhecimento de Severo das coisas mais simples.

- Uma cerveja.

- Ah. Meu pai costumava tomar. Mas era quente.

Ela sorriu, abrindo a garrafa dele e depois a dela. Ergueu-a levemente.

- Que seja. Vamos brindar, Severo!

- A que?

- Aos seus documentos! – Ainda sorridente, ela bateu a sua garrafa contra a dele e tomou um gole. Lentamente, ele acompanhou-a. A bebida era amarga, mas não era forte. O gosto era muito característico e, num primeiro gole, Severo não teve certeza se gostara ou não. – Minerva mandou-os há algumas horas! Severo, ou melhor: Stephen, você tem tudo! Identidade, passaporte, seguro social, diploma de farmacêutico... E carteira de motorista, o que eu não acho que você precisará.

Ele deu um meio sorriso. Evangeline não sabia que ele vinha dirigindo todos os dias e que já estava suficientemente bom.

- Eu sei dirigir. – Ignorou o olhar atônito de Evangeline e ergueu levemente a cerveja. – Isso é bom. Por que eu nunca vi na geladeira?

- Eu gosto mais de vinho. Mas, nesse calor, a cerveja é melhor... o que você quis dizer antes? Você sabe dirigir?!

Ele assentiu levemente e rodeou o sofá, sentando-se nele.

- Eu gostaria de ver os documentos.

Severo ouviu os passos lentos de Evangeline aproximando-se dele. Ela sentou-se ao seu lado, entregando-o um grande envelope pardo. Dentro dele, vários papéis e cartões plastificados... tudo que ele precisava para continuar com a sua vida no mundo trouxa, todos com o ridículo nome Stephen Prince.

- Com quem McGonagall teve de falar para conseguir tudo isso.

- Bem, parece que o auror que sabe que você está aqui é agora Ministro da Magia. Então não foi muito difícil conseguir os papéis e manter a sua existência em segredo.

Ele assentiu, guardando todos os documentos e jogando o envelope sobre a mesinha de centro.

- O que esses documentos mudam para mim?

- Bem, já podemos passar a sua conta para o seu nome, e você já poderá comprar um carro, um apartamento... – Evangeline parou por um tempo e olhou-o. Apressou-se em completar: – pelo menos assim que tiver dinheiro para isso. Eu não estou te expulsando!

Severo mais uma vez assentiu, com um esboço de sorriso formando-se no canto dos seus lábios.

- Você também poderá procurar um novo emprego. Um que pague mais!

- Ainda não. Acho que o ideal seria comprar um estabelecimento comercial e começar a vender as minhas poções.

- Isso não traria muita visibilidade?

Ele deu de ombros.

- Acredito que não. Não quero algo grande, mas apenas que possa me sustentar bem.

Evangeline recostou-se preguiçosamente no sofá. Deu um longo suspiro e se aproximou um pouco de Severo.

- Logo você vai sair daqui e esquecer que eu existo...

Ele virou o seu rosto, vendo Evangeline lentamente tomar mais um gole da sua cerveja. Ela estava perto demais. Os seus olhos fechados, deixando-a com uma expressão suave... um breve sorriso no canto dos seus lábios rosados... lábios esses que estavam ligeiramente respingados pela bebida.

- E isso será uma coisa ruim?

- Eu não sei... – Ela o olhou. Sorriu docemente. – Você é mandão, sarcástico, irritante, fechado, quadrado, calado... mas eu acho que gosto de você. Você é um bom amigo.

Os seus olhos negros cravaram-se nos olhos castanhos de Evangeline. Por um breve momento, Severo sentiu aquela proximidade e, ao olhar para os lábios entreabertos de Evangeline, algo puramente instintivo queria se apoderar dele. Mas, ao invés de se entregar a isso, Severo apenas desviou o seu olhar e a imitou, recostando a sua cabeça no sofá e tomando um gole da sua cerveja.

- Você deveria comprar cervejas com mais freqüência...

Evangeline sentou-se ereta e virou lentamente o rosto para olhá-lo. O seu coração parecia querer sair pela boca. O que acabara de acontecer?! A troca de olhares, a maneira que ele olhou para os lábios dela... por um momento pensou que ele fosse beijá-la. E, o pior de tudo: ela não tinha certeza se o impediria. Imediatamente, Evangeline soube que algo estava muito errado... e que tinha que fazer algo para mudar aquela situação.

- Bem, eu sempre gostei mais de vinho...

XxXxXxX


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