à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 4
Novo Trabalho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/14146/chapter/4

IV

NOVO TRABALHO

Na manhã seguinte, já pronta para ir ao trabalho, Evangeline encontrou Snape sentado no sofá da sala, silenciosamente observando a televisão desligada. Ela parou por um momento, no pé da escada, lembrando-se da noite anterior e imaginando se já conseguiria falar educadamente com ele.

- Se continuar plantada aí, Redfield, vai se atrasar.

Ela fechou os olhos e bufou — aquele homem tinha olhos nas costas? Encaminhou-se à mesinha de centro e pegou a sua bolsa, tentando ignorar Severo. Apenas o olhou pelo canto do olho quando já estava abrindo a porta da casa, pronta para sair. Percebeu que ele trajava as mesmas vestes negras que usava quando ela o encontrou pela primeira vez.

Olhou-o.

- Você está esperando Alexandra?

Severo lentamente dirigiu o seu olhar frio e negro para Evangeline.

- Sim — ele respondeu com uma voz pausada, ríspida e perigosa.

- E você vai vestir isso? — Snape crispou os lábios e os seus olhos cerraram-se levemente. Evangeline sentiu um arrepio cruzar a sua espinha.

- Em seu leito de morte, Dumbledore também lhe pediu para me dar dicas de moda?

Evangeline, incrédula, observou-o por um momento. Por fim, deu uma risadinha sádica e rolou os olhos. Rapidamente tirou os seus óculos escuros da bolsa e vestiu-os.

- Quer saber? Eu não me importo. Faça o que quiser. Não é problema meu.

E saiu de casa. Severo apenas olhou aborrecido para a porta fechada por um momento, ainda imaginando quem aquela mulher pensava que era para tentar se meter em cada aspecto da sua vida?

Os seus pensamentos foram interrompidos pela porta sendo escancarada novamente. Era Evangeline, que voltava à casa.

- Eu mantenho o que disse ontem! Não quero falar com você.

Severo ergueu uma sobrancelha.

- Não está parecendo.

Ela rolou os olhos e bufou.

- Eu apenas não quero me sentir responsável caso você apareça morto numa vala qualquer! — Dizendo isso, ela tirou da sua bolsa uma caneta e um pedaço de papel. Escreveu rapidamente qualquer coisa e entregou-o a Severo. — Aí estão os números do meu celular, daqui de casa e da casa de John. Se tiver algum problema, ligue.

Deu meia-volta e saiu novamente.

Severo olhou com desprezo para o pedaço de papel em sua mão, antes de jogá-lo de qualquer jeito num dos bolsos das suas vestes. Ele sabia que não teria problemas; sabia se virar muito bem!

Relaxado, ele pegou uma revista que estava sobre a mesinha de centro — Elle — e começou a folheá-la. Parou assim que abriu na página cuja matéria era intitulada “100 maneiras de apimentar o seu relacionamento”. Com um sorriso sarcástico, começou a ler... mas logo uma irritante buzina soou do lado de fora da casa. Só poderia ser Alexandra. Imediatamente, Severo se levantou, largou a revista, pegou as chaves da casa e saiu.

Alexandra o esperava num carro vermelho, para o qual ele imediatamente se encaminhou.

- Olá, Stephen! — Ela disse, sorridente, enquanto Severo entrava no carro. Ele meramente a cumprimentou com um aceno com a cabeça. — Ponha o cinto.

Ele a olhou, com os olhos franzidos.

- Eu estou de cinto.

A mulher riu, achando que Severo estivesse tentando fazer uma piada.

- O cinto de segurança, Stephen.

Severo olhou-a, confuso. Cinto de segurança... certamente deveria ser algum item de segurança do carro; mas, como ele nunca tivera um carro antes, não sabia do que se tratava. Aliás, a única vez em que ele esteve num carro, fora na manhã em que ele chegara à casa de Evangeline... e não se lembrava de ter usado tal aparelhagem.

Observando a mulher ao seu lado, no entanto, ele percebeu que ela se amarrava ao banco por um tipo de faixa resistente, que bem poderia ser o tal cinto de segurança.

Ele crispou os lábios ­— se aquela trouxa estava pensando que ele se amarraria a algum dos objetos letais criados pelo povo dela, ela estava muito enganada!

- Não preciso. Obrigado.

Alexandra suspirou e rolou os olhos.

- Tudo bem...

Ela deu partida no carro e acelerou, fazendo o corpo de Severo colar no banco e o seu coração parar por um momento. Instintivamente, ele se segurou ao banco, imediatamente entendendo a razão do tal cinto de segurança existir.

Fechou os olhos quando Alexandra cortou um carro e quase bateu, fez curvas fechadas em velocidades incríveis, subiu o pneu no meio-fio de uma escola e chegou perigosamente perto de atropelar uma velhinha. Depois de tortuosos minutos, ela finalmente estacionava no que parecia ser uma grande rua comercial, em frente a uma loja relativamente grande chamada mil ervas.

Alexandra desceu do carro. Severo suspirou aliviado, agradeceu por ainda estar vivo e a seguiu.

- Eu não dirijo muito bem...

Severo ergueu uma sobrancelha, olhando-a.

- Mesmo?

- Bem, eu disse para você colocar o cinto... — Alexandra sorriu simpaticamente. — Está é a minha loja. Eu concordei em te dar o trabalho, apesar de você não ser farmacêutico, porque a maioria das coisas que nós fazemos é revenda.

- Eu passei a minha vida inteira trabalhando com manipulação de ervas. — Eles entraram na loja. Em suas prateleiras, ervas e plantas que ele muito conhecia. Reconheceu também alguns aparelhos laboratoriais não tão sofisticados quanto os seus caldeirões e as suas precisas balanças, mas que dariam para fazer boas poções. — Posso garantir que serei de muito ajuda na preparação de poções e--

- Poções? Como a poção do amor? — Ela riu-se. — Aqui nós trabalhamos com comprimidos!

- Jamais serão tão eficazes quanto os medicamentos em forma líquida. Com o tempo, acredito que poderei mostrar as minhas habilidades.

- Você está falando sério? Você realmente pode me ajudar na confecção de produtos?

- Se você tem alguma dúvida, Sra. Leigh, eu posso te dizer o nome científico, usual e popular de todas as ervas que você tem aqui.

Ela olhou-o, impressionada, e abriu um belo sorriso.

- Não precisa. Eu não sei o nome de todas as ervas que têm aqui! Me chame de Alexandra, por favor.

Alexandra suspirou, afastando-se um pouco de Severo e encaminhando-se para a sua esquerda, onde ficava um balcão e a máquina registradora.

- Por hora, Stephen, você trabalhará aqui. Com o tempo, se me provar que tem toda essa habilidade, poderá começar a auxiliar os meus farmacêuticos... você é bom com produtos de beleza?

- Não é a minha especialidade, mas eu sei fazê-los.

- Ótimo! — Ela apontou para a caixa registradora. — Agora venha! Tome seu posto!

Severo apenas suspirou e foi para onde a mulher o apontou.

- Espero que você não se importe em trabalhar com as vendas...

- Eu não me importo. Mas poderei precisar de um pouco de ajuda.

- Como o que?

Severo pousou a mão sobre a caixa registradora.

- Você poderia começar, por exemplo, me dizendo o que é isso?

XxXxXxX

- E por quanto tempo essa situação vai durar?

Evangeline suspirou. Assim que saiu do trabalho, fora ao apartamento de John, tentar convencer o namorado de que ter Severo em sua casa, talvez não fosse uma coisa tão ruim.

Agora, no entanto, esparramada no sofá enquanto recebia uma boa massagem nos pés e tomava uma taça de vinho tinto, ela realmente se arrependia; não só em nada estava adiantando, como John estava fazendo muitas perguntas.

- Eu não sei... Ele não estava convivendo com a civilização, e pode levar um tempo para ele se adaptar ao emprego e ao estilo de vida...

- Evan, meu amor, por favor! Onde ele estava vivendo? Numa floresta?! Não existe ninguém que não saiba usar um cartão de credito, pelo amor de Deus! E, mesmo que existisse, não demoraria a se acostumar com ele.

- Ele vivia num tipo de sociedade alternativa, John! Não sei como ela é, eu nunca a visitei! O fato é que ele não sabe sequer operar o controle da televisão!

Ele deu uma risadinha sarcástica e revirou os olhos.

- E agora você vai dizer que é nessa mesma sociedade que vive a sua família e por isso você não pode me contar nada sobre ela?

- Exatamente.

Ela tirou os pés das mãos do namorado, sentando-se direito. John respirou fundo, passando as mãos pelos seus cabelos.

- Me desculpe, Evan, mas dessa vez eu não vou ficar calado! Por Deus, aquele homem parece um marginal! E você está mantendo-o na sua casa!... E tem a história do nome dele... Porque ele não deu o nome verdadeiro a sua amiga?

- Ele deu o nome certo! Você ouviu a explicação dele!

- Vocêacreditou naquela explicação?! Meu amor, ele chegou à sua casa sem nenhum documento e com aquela ferida! Como você explica aquilo, aliás? Um acidente, você disse... E eu não acreditei! Aquele homem é perigoso, acredite em mim!

Ela mordeu o lábio, pensando na discussão que tivera no dia anterior com Severo. John estava certo. Mas, ainda assim, tinha que cumprir o que prometera a Alvo.

Levantou-se do sofá, deixando a sua taça de vinho sobre a mesa e encaminhou-se até John. Ajoelhou-se em sua frente. As mãos delicadas passearam pelo joelho e pelas coxas dele, até encontrar as mãos que ali repousavam. Segurou-as.

- Ele é da minha família. Por favor, confie em mim.

A expressão dele abrandou-se e uma das mãos foi aos cabelos de Evangeline. Ela fechou os olhos.

- O que me aborrece, Evan, é que eu tinha planos... Eu queria que nós passássemos a morar juntos, talvez noivar.

Ela deu um meio-sorriso.

- E o meu medo de relacionamentos? Você não contou com ele?

- Eu pensei nisso, sim. Eu viajaria com você e, no meio tempo, contrataria alguns bandidos para pegar todas as suas coisas e trazer para cá. Depois algumas empregadas para arrumá-las. E Voilá: você não teria escapatória, teria que se mudar.

- Tanto trabalho?

- Eu sei que se fosse esperar você abrir um espaço no seu armário para as minhas coisas, nossa relação nunca iria para frente: eu morreria como seu namorado. Com você, tem que ser assim: à força!

Ela riu. Beijou a mão de John enquanto ele acariciava o seu rosto.

- Você sabe que eu resistiria, não sabe?

- Sei... mas eu sou insistente! Estou com você há dois anos, não estou? Isso prova que tenho força de vontade! O problema é que por causa dele vou ter que adiar meus planos...

- Ok! Finalmente encontrei um lado bom nessa situação.

Ele riu, curvando-se para beijar suavemente os lábios de Evangeline. Quando voltou a sentar-se direito, olhou-a com um sorriso maroto.

- Evan, eu acho que, já que você está ajoelhada no chão, poderia aproveitar essa posição...

Ela ergueu uma sobrancelha, imediatamente entendendo o que o noivo queria. Com um sorriso no canto da sua boca, deslizou as mãos lentamente pelas coxas dele, até que elas se encontraram no cós da calça de John. Lentamente, ela abriu o cinto, o botão e o ouviu gemer baixinho quando deslizou o zíper. Ergueu um pouco a camisa dele e aproximou-se para beijar a sua barriga, logo abaixo do umbigo, e foi descendo...

...até ser interrompida pelo barulho do seu celular.

John suspirou.

- Eu odeio o seu telefone e sugiro que você o ignore!

Evangeline riu, levantando-se e encaminhando-se para a sua bolsa, de onde tirou o telefone. O número era desconhecido.

- Evan...

- Eu volto em um minuto! — E, dizendo isso, atendeu. — Alô?

“Redfield.”

Ela apertou os olhos, imediatamente reconhecendo a voz. Olhou para John com um olhar triste. Com a boca, murmurou: “Desculpe”. Ele bufou exasperado e começou a abotoar a calça, sabendo que o que ele quase fizeram não aconteceria mais.

- Oi... tio. O que aconteceu?

“Tio?” Ele pausou por um tempo. “Ah! Você está com Anderson. Eu não sei como voltar.”

- Alexandra não ficou de te levar para casa?

“Não, ela ficou de me pegar em casa, para me mostrar onde era a loja — aliás, ela quase me matou no caminho. A minha vida nunca esteve tão ameaçada; nem mesmo quando o Lorde das Trevas decidiu me matar! Mas, o fato é que, há umas duas horas ela saiu, me pediu para fechar a loja e perguntou se eu não tinha problema em voltar de metrô. Obviamente, não esperou resposta.”

- Onde você está?

“Na loja, ainda. No panfleto diz que fica na St. Aldates, 98.”

- Tudo bem. Eu vou até ai. — E desligou o telefone. Aborrecida, guardou o telefone na bolsa e começou a calçar os seus scarpins pretos. — Eu preciso de um favor.

- O que foi?

- Eu tenho que pegar meu tio no trabalho. Se for pegar o metrô para casa, vou demorar muito. Você pode me acompanhar e depois me deixar em casa?

John se levantou e vestiu o seu casaco, enquanto Evangeline colocava o sobretudo negro.

- Claro. Onde é?

- St. Aldates, 98. É uma rua atrás da sua firma.

- Eu sei. Vamos.

XxXxXxX

John sequer desceu do carro, quando deixou Evangeline e Severo em casa. A namorada apenas se despediu com um breve beijo e deixou-o ir.

-Eu não queria ter ligado.

Evangeline crispou os lábios.

- Eu disse para você ligar se tivesse um problema.

- Para evitar que isso aconteça no futuro, você poderia me mostrar como usar o metrô.

- Não. — Ela virou-se, claramente aborrecida. — Eu disse ontem que não quero ter contato com você, e não vou ter. Eu falei com John, ele te dará carona diariamente. Quando não puder, eu me comunicarei com você e você pegará um táxi.

Severo olhou-a por um momento. Com a sua infame máscara de indiferença, ele assentiu.

- Muito bem.

- Ótimo. Eu vou para o meu quarto.

E deixou Severo sozinho, começando a se arrepender por ter se exaltado na noite anterior.

XxXxXxX


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!