à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 3
Entrevista de Emprego




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III

ENTREVISTA DE EMPREGO

“Mil ervas, como posso ajudar?”

- Alex?

“Sim. Com quem eu falo?” – perguntou a voz intrigada do outro lado da linha.

- É Evangeline... Evangeline Redfield.

Houve uma longa pausa, na qual Evangeline apenas conseguiu escutar o barulho da respiração de Alexandra Leigh. Mas, antes que ela pensasse em explicar quem era e de onde conhecia a mulher, a voz voltou a soar, surpresa.

“Oh, Evan! É você mesmo? Meu Deus, Evan, por onde você andou??”

Ela deu um longo suspiro aliviado. Alexandra fora uma das grandes amigas de Evangeline durante o colegial... Mas Evangeline acabou ingressando numa faculdade, enquanto Alex engravidava e casava com o capitão do time de futebol. Os interesses, com o tempo se divergiram... e há anos as amigas não se falavam.

- Eu... sinto não ter ligado antes. Mas... Alex, eu acho que preciso da sua ajuda.

“Depois de tanto tempo, uma ligação de Evangeline Redfield... Eu bem que deveria ter desconfiado que havia algum interesse envolvido!” Evangeline pôde ouvir a risadinha abafada de Alex. “Mas, que se dane! Para que servem os amigos? Se eu puder ajudar...”

Evangeline riu educadamente antes de prosseguir com o seu pedido.

- Bem, eu fiquei sabendo que você montou uma loja de produtos naturais...

“E é verdade! Eu não tinha o mesmo tempo que você tinha para estudar Direito, mas também não queria ficar em casa com as crianças!”

- Ótimo! Por um acaso ainda trabalha nela?

“Sim.”

- Bem... Um tio meu teve alguns problemas e vai ter que passar um tempo aqui em casa... Mas ele precisa de um trabalho. Ele é ótimo com ervas e manipulação... se você pudesse empregá-lo... Não precisa pagar muito, de início, mas eu tenho certez--

“Evan, ele é farmacêutico?”

- Não exatamente.

“Eu não posso contratar--”

- Mas ele é muito bom, você vai ver! – Ela mordeu o lábio, sentindo uma prontinha de desespero. – Venha aqui em casa, então. Converse com ele, e, se você achar que ele pode assumir o cargo, o contrate! Por um período experimental, que seja! Você não faz idéia do quanto você estaria me ajudando...

Mais uma longa pausa se passou, antes que a amiga finalmente respondesse:

“Ok, mas você vai ter que me ajudar de graça, caso eu tenha algum problema com a lei! Você ainda mora no mesmo lugar?”

- Sim. – Evangeline sorriu – Eu farei um jantar... Hoje, pode ser?

“Às oito?”

- Ótimo.

“Até lá, então.”

Evangeline deixou uma breve exclamação de entusiasmo deixar os seus lábios enquanto colocava o telefone no gancho. Ela sabia que encontrar um bom emprego para Snape certamente era a melhor forma de fazê-lo deixar a sua casa rapidamente. E, como ela lembrava que, certa vez, Alvo mencionara que o seu protegido era professor de Poções, Evangeline imaginava que esse era o único emprego em que ele se daria bem.

Alegre, ela pegou o controle da televisão e a ligou, quase imediatamente distraindo-se com o humor despretensioso de Friends. Não viu, então, quando Snape apareceu na porta da cozinha, trazendo em suas mãos um prato com o que parecia ser dois sanduíches.

Severo parou por um instante. Aquele era o segundo dia que passava naquela casa, e, até o momento, não havia prestado atenção em sua dona. Evangeline era uma mulher bonita. Tinha traços delicados, uma pele alva, mas levemente bronzeada e um belo par de olhos âmbar que combinavam perfeitamente com os cabelos castanhos. E uma risada maravilhosamente contagiante – ele percebeu, enquanto ela gargalhava com uma piada qualquer da série da televisão.

Voltou a aproximar-se, balançando a cabeça e tirando tais pensamentos da cabeça. Silenciosamente, se sentou ao lado dela.

Evangeline sobressaltou-se ao ver o homem que vestia somente negro ao seu lado. Um pouco irritada, comentou:

- Você poderia fazer algum barulho enquanto anda.

Ele resmungou qualquer coisa e rolou os olhos. Evangeline apenas se ateu a assistir à televisão – sem tantas gargalhadas, agora que ele estava ao seu lado – até que começou o intervalo.

- Nós vamos jantar com uma amiga minha, hoje.

Severo ergueu uma sobrancelha.

- Nós?

- Sim, nós. – Evangeline o olhou. – Eu, você e John.

- Oh. Um encontro às cegas?

O rosto dele era de puro desprezo. Evangeline não conseguiu saber se ele estava fazendo uma piada ou se realmente acreditava que aquilo seria um encontro e não estava muito feliz com a idéia.

- Não. Ela possui uma loja de produtos naturais. E, já que você ensinava poções, eu imaginei que ela podia lhe empregar. Você acha que consegue manipular produtos... trouxas?

As feições de Snape voltaram a ficar impassíveis e ele desviou os seus olhos de Evangeline para a televisão.

- Uma entrevista de emprego, então. Parece melhor. Como você sabe o que eu fazia em Hogwarts?

- Alvo – ela simplesmente respondeu.

- Aparentemente, ele falava muito de mim?

- Não, na verdade. Tudo o que eu sabia era que, por algum motivo, você era o seu protegido, era um gênio em poções e, aparentemente, eu era a única pessoa suficientemente calma para agüentar você... Só.

Os lábios de Severo se curvaram levemente e ele deu uma risadinha infame de escárnio.

- Alvo nem sempre estava certo, Srta. Redfield. Eu sinceramente duvido que a senhorita seja tão calma quanto ele previa.

Evangeline suspirou, voltando a prestar atenção na televisão. De fato, ela também tinha as suas dúvidas quando a sua capacidade de cumprir a última tarefa que lhe fora incumbida por Alvo... Esperando estar errada, olhou-o novamente, tentando desesperadamente encontrar alguma coisa sobre a qual pudessem conversar.

- Erm... O que você tem ai?

Snape olhou para o prato que descansava em seu colo.

- Almoço. Você estava ao telefone, não quis interromper. Espero que não se importe.

- Não, pode entrar na cozinha sempre que quiser.

Snape suspirou, erguendo levemente o sanduíche e, em seguida, deixando-o cair no prato.

- Você deveria considerar comprar alimentos melhores. Eu não pude encontrar absolutamente nada que tivesse a mínina possibilidade de me prover uma alimentação saudável em sua geladeira.

Evangeline piscou duas vezes, quase sem conseguir acreditar na audácia do homem, que mal chegara e já estava reclamando da sua comida.

- Bem, eu não costumo comer em casa, desde que eu tenho muito o que fazer no escritório em que trabalho. De qualquer forma, eu posso comprar algumas coisas hoje... Tenho que ir ao mercado, mesmo...

Severo rolou os olhos.

- Não se dê ao trabalho. Eu não cozinho.

Evangeline passou algum tempo o olhando, mais uma vez não acreditando em seus ouvidos. Por fim, decidiu que melhor do que entrar numa discussão infindável seria apenas rolar os olhos, suspirar e se levantar. Logo, ela pegava sobre a mesa de jantar a sua bolsa, as chaves do carro e deixava a casa.

XxXxXxX

Às oito da noite, a mesa de jantar já estava posta com um assado que Evangeline passara parte da tarde fazendo. John acabara de chegar e Severo ainda vestia somente negro; porém, desta vez, ele trajava roupas trouxas – uma camisa de botão e uma calça.

Todos estavam na sala; Severo numa poltrona e John e Evangeline dividiam o sofá branco. Até que a capainha soou.

- É ela.

Evangeline levantou-se, ajeitando o vestido azul em seu corpo e caminhando para a porta.

- Alex!

A mulher abraçou Evangeline e logo foi notada por Severo. Ela era muito atraente: loura, alta e com olhos extremamente azuis; ela lembrava-o Narcissa Malfoy... com um pouco mais de busto. Atrás dela, estava um homem alto de cabelos castanhos.

Alexandra mordeu o lábio e apontou para o homem.

- Evan, você se lembra do Bill?

- Sim! – Evangeline sorriu, apertando a mão dele. – Fico feliz em ver que ainda estão juntos! Entrem!

O casal entrou na casa e Evangeline imediatamente começou a fazer as apresentações.

- Bem, esta é a Alexandra e o seu marido, William. Alex, Bill, este é o John, meu namorado – John cumprimentou-os com a cabeça – E aquele é o meu tio, S--

- Stephen. – Snape antecipou-se. Evangeline ergueu uma sobrancelha, mas ele apenas continuou. – Stephen Prince.

- É um prazer lhe conhecer, Stephen.

Feitas as apresentações, Alex e William sentaram-se junto ao trio e logo travavam uma conversa amigável.

Como um bom homem de poucas palavras, Severo contentou-se em apenas responder às perguntas de Alexandra e observar os demais integrantes da mesa. Não foi difícil perceber que, vez por outra, William dava alguns olhares não muito inocentes para o decote de Evangeline. E era fácil saber que a morena os percebeu, pois evitava olhar nos olhos de William quase tanto quando se esquivava dos carinhos de John. Alexandra, por sua vez, mal trocou mais de duas palavras com o marido; no entanto encontrava qualquer desculpa para fazer uma pergunta a Severo. E, no meio disso tudo, estava John, que mal abrira a boca durante todo o jantar... sempre parecendo um cãozinho solitário, tentando com todas as forças agradar a sua dona.

Severo não pôde conter a curvinha infame que surgiu em seus lábios quando chegou à conclusão que, afinal, havia problemas no paraíso.

No fim da noite, Severo percebeu que as suas observações certamente lhe renderam uma boa diversão... e o seu silêncio lhe rendeu um emprego. Alegando gostar de pessoas caladas no local de trabalho, Alexandra concordou em empregá-lo por um mês, em período probatório.

Logo o casal estava deixando a casa. Evangeline sorriu, despindo os seus sapatos e sentando-se ao lado de John.

- Ainda tem algum café, aqui. Vocês querem, ou será melhor encerrar a noite?

John apenas suspirou, entrelaçando com os seus dedos os dedos de Evangeline, e olhou inquisidor para Severo.

- Por que você mentiu sobre o seu nome?

Severo rolou os olhos, levantando-se.

- Não menti. Me chamo Stephen Severo Snape Prince - ele mentiu. - Prefiro Severo Snape; mas as pessoas tendem a achar Stephen Prince mais confiante.

Evangeline o olhou de canto, sabendo que aquela era provavelmente a desculpa mais esfarrapada que Severo poderia inventar. No entanto, John não pareceu querer prosseguir no assunto e, se levantando também, disse:

- Que seja. Respondendo à sua pergunta, Evan, acho que está tarde para café. Vamos para a cama.

Convite tentador, mas Evangeline ainda queria conversar com Snape naquela noite. Por tanto, apenas cortou o namorado:

- Você pretende dormir aqui?

Ele levantou uma sobrancelha.

- Por que não?

- Eu acordarei muito cedo amanhã, John. Podemos ficar juntos no fim de semana.

- Certeza?

Ela suspirou e assentiu. Dando-se por vencido, John aproximou-se, beijou-a levemente nos lábios, despediu-se de Severo e saiu.

Quando a porta finalmente fechou-se, Evangeline voltou-se para Severo.

- Você vai ter que inventar uma desculpa melhor.

- O que você esperava, Redfield? Existem bruxos vivendo no meio dos trouxas e o meu nome ficará bastante famoso com o fim da guerra. Não posso correr risco algum.

- Você poderia ter me dito isso antes de eu te apresentar para o meu namorado. Ele engoliu a sua desculpa esfarrapada por hora, mas logo estará me enchendo com perguntas infindáveis! Afinal, o que aconteceu? Por que você quer ficar aqui?

Ele ergueu uma sobrancelha. Lentamente deu dois passos, aproximando-se de Evangeline.

- Você pôs as suas regras, Redfield, agora está na hora de pôr as minhas. Fique longe dos meus assuntos pessoais. De qualquer dos meus assuntos pessoais.

Ela deu um passo para trás, tentando manter uma distância segura. Severo era apenas um palmo mais alto que ela, mas tinha uma presença tão intimidante que a fazia sentir pequena, como uma garotinha de cinco anos. Tentou controlar a sua voz enquanto replicava:

- Eu apenas fiz uma pergunta, Snape. Acho que tenho o direito de saber quem é a pessoa que mora na minha casa!

- Você quer me conhecer mesmo, Evangeline? Tem certeza?

Ela recuou mais um pouco. Ele soava ameaçador. De repente, Snape abriu o botão do punho esquerdo da sua camisa e mostrou em seu pulso uma espécie de cicatriz; por baixo dela, no entanto, Evangeline pôde ver o que parecia ser uma antiga e fraca tatuagem.

- Isso sou eu! Você sabe o que é isso?

Ela negou com a cabeça.

- As pessoas que carregam essa tatuagem estão mortas ou na prisão. São odiadas e, sinceramente, todos têm o direito de odiá-las. Você sabe que estávamos em guerra. Pois bem: o número de pessoas que eu torturei é maior do que a minha consciência pode suportar; o número de mulheres que eu já violei é maior do que o número de mulheres com quem eu dormi por livre e espontânea vontade, incluindo prostitutas; e o número de amigos que eu assassinei, Evangeline, é infinitamente maior do que o número de amigos que eu tenho. Agora, eu te pergunto de novo: você tem certeza que quer me conhecer?

Evangeline deu mais um passo para trás.

- Você tinha razão, Snape. Alvo nem sempre estava certo. Ele deveria ter me contado que queria que eu abrigasse um assassino. Dessa forma, a resposta para a sua pergunta é não. Eu não quero conhecer você. Você sabe onde é a cozinha, você sabe onde é o seu quarto. Alex passará aqui amanhã para te levar para o trabalho. Não acredito que precise de mim para mais nada. Prometi o abrigo, e isso é tudo que eu darei. Com licença.

E, sem mais, ela subiu para o quarto.

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