à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 22
À Eternidade - pt.1




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XXII

À ETERNIDADE – PARTE 1

As palmas ecoavam junto com os gritinhos de saudação aos recém-casados. Aos poucos, os convidados levantavam-se e começavam a subir as escadinhas, se encontrado com os noivos e dando-lhes os cumprimentos pelas bodas.

Olhando para aquela cena, Severo não conseguiu evitar que um sorrisinho irônico tomasse conta dos seus lábios – ele sentia como se estivesse anestesiado; uma paz mórbida o cercava, mas ele sabia bem que aquilo provinha do seu provável estado de negação. Logo o efeito da anestesia passaria, e ele estaria só, despeitado e mais miserável do que nunca... voltando finalmente ao seu estado de espírito normal.

Ele suspirou e pensou em sair de lá antes que a anestesia passasse e ele fizesse algo que pudesse lhe causar arrependimento; mas foi impedido por uma mão firmemente postada no seu ombro. Era Minerva McGonagall, estranhamente vestida com roupas trouxas.

- Minerva – ele cumprimentou.

- Por favor, Severo, não faça nada para estragar o dia de Evangeline.

O sorriso sarcástico de Severo acentuou-se, enquanto a sua sobrancelha erguia-se.

- Minerva, eu sou um homem ligado às tradições. Se fosse fazer algo para estragar o casamento, fá-lo-ia na hora apropriada, quando o padre perguntasse se alguém conhece alguma razão para que as bodas não fossem oficializadas.

- Você não conhece nenh--

- Além do fato de que a noiva está apaixonada por mim, eu tenho uma semana de motivos para que esse casamento não acontecesse! – Não demorou muito para que a velha bruxa soubesse a que Severo estava se referindo; o seu rosto corou suavemente. – Mas eu não falei nada! Evangeline é adulta; ela tem todo direito de casar-se com quem bem entender.

Minerva desviou o seu olhar.

- Não sei se você já sabe disso, mas eu tentei convencê-la do contrário. Eu falei algumas coisas sobre você a ela e tentei fazer com que ela desistisse do casamento.

- Eu já soube e não gostei. Eu geralmente não procuro justificar os meus erros; logo não preciso de ninguém tentando justificá-los por mim, entendeu?

- Desculpe-me. Apenas não me pareceu certo que vocês estivessem jogando fora--

- Não é problema seu. – Ele deu um meio-sorriso. – De fato, agora não é mais problema de ninguém. Ela está casada e feliz e eu estou finalmente pronto.

- Para...?

Severo pigarreou e olhou de relance para o casal, que ainda recebiam cumprimentos dos amigos e familiares. Aparentemente, para ambos os nubentes a presença de Severo durante a cerimônia passara totalmente despercebida; e, para evitar conflitos ou despedidas, ele preferia que aquela situação perdurasse. Assim, resolveu se apressar.

- Quando eu vim morar na casa de Evangeline, o meu objetivo era aprender o que eu não sabia sobre o mundo trouxa, e isso eu já consegui. Acontece, Minerva, que eu não posso me incorporar a esse mundo enquanto ainda possuir a minha varinha, ou enquanto mantiver qualquer possibilidade de contato com os bruxos.

A mulher franziu o cenho e afastou-se ligeiramente de Severo.

- O que você quer dizer com isso?

- Eu vou voltar para onde estive vivendo nos últimos dias agora e usarei a minha varinha pela última vez, para alterar o nome nos documentos que você e Shacklebolt conseguiram. Depois deixarei o Reino Unido.

- Mas-- Você realmente acha que essa é a melhor maneira de lidar com tudo?

- Eu gosto de pensar que não estou fazendo isso para “lidar” com algo; apenas estou retornando aos meus planos originais. Para tanto, eu preciso que você esqueça que eu sobrevivi. Eu quero que você nuca mais pense em mim como uma pessoa viva; eu preciso que você e Shacklebolt acreditem que eu estou naquela cova. E, conseqüentemente, eu quero que vocês não tentem me achar ou saber notícias minhas. Você pode fazer isso?

Ela assentiu. Lentamente as mãos enrugadas buscaram as dele.

- E se você precisar de algo?

- Eu não precisarei. Ainda assim, caso algo aconteça, eu sei onde lhe encontrar.

- Então é isso? Você simplesmente vai desaparecer?

- Não é como se nós fossemos amigos de infância, Minerva! Não precisa se emocionar!

A mulher suspirou e tentou sorrir.

- Acontece que eu aprendi a me importar com você, Severo. E me faria muito feliz se de tempos em tempos você mandasse algum tipo de notícia... pelo menos para que eu tenha certeza que você está vivo!

- Eu não poderei fazer isso.

- Então... essa é a última vez que nos veremos? – O homem assentiu. Então, para a total surpresa de Severo, a bruxa que lhe parecia ser incapaz de demonstrar emoções aproximou-se e o abraçou discretamente. – Adeus.

Severo tentou sorrir, desvencilhando-se delicadamente do abraço.

- Posso pedir um último favor? – Ela assentiu. – Diga a Evangeline que eu quero encontrá-la feliz, na próxima vez que vê-la.

- Você quer que ela fique esperando a sua volta?

- Ao contrário; ela não deve esperar por mim; eu não vou voltar. Mas eu sei que nos veremos de novo.

Minerva sorriu melancolicamente.

- A estrela. – Severo assentiu. – Eu não pensei que você acreditava nesse tipo de coisa.

- Nem eu pensei que você acreditava; ainda assim, você fez o possível para jogar Evangeline na minha cama, depois que percebeu o que a estrela significava.

- Severo--

- Adeus, Minerva.

A velha apertou os seus lábios num gesto que oscilava entre exasperação e resignação e assentiu.

- Boa sorte.

E viu o homem dar meia-volta e deixar a casa. À medida que a imagem dele esvaía-se, também diminuía o barulho no lado de fora da casa de Evangeline e aumentava exponencialmente o frio. Minerva virou-se: quase todos os demais convidados estavam dentro da casa – os noivos, ainda onde ficava o altar, recebiam os últimos cumprimentos. Minerva subiu, colocando em seu rosto um sorriso.

- Evangeline!

A mulher abriu um enorme sorriso e abraçou a velha.

- Minerva! Que bom que você veio! – Ela voltou-se ao marido. – John, essa é mulher que tem se portado como uma mãe para mim desde que meu avô morreu!

John sorriu e apertou a mão de Minerva.

- É um prazer finalmente te conhecer! E eu prometo que cuidarei bem de Evangeline!

- Eu tenho certeza que sim! Bem, eu-- eu não acho que vá ficar para festa, então desejo a vocês dois toda felicidade do mundo! Evangeline, será que eu poderia dar uma palavrinha com você?

Os olhos da velha bruxa imediatamente cravam-se em John. Com um sorriso, ele pediu licença e deixou as duas à vontade. Finalmente a sós com a sobrinha-neta de Dumbledore, Minerva sentiu-se livre para dar o recado que lhe fora incumbido.

- O que foi? É algo sobre Severo? Eu vi vocês conversado...

Minerva respirou fundo e balançou ligeiramente a cabeça.

- Sim, é sobre ele.

- E o que é? Ele não vai ficar para a festa?

Minerva abriu a boca e ergueu uma sobrancelha, formando uma expressão de irritação bem parecida com a de Severo.

- Evangeline, você consegue perceber como essa sua pergunta é ridícula?

O sorriso da mulher morreu.

- Eu apenas pensei-- Acontece que eu gosto dele e gostaria de tê-lo festejando comigo um momento feliz.

- E eu que nunca pensei que egoísmo fosse um dos seus defeitos! Ele ama você! E você, sabendo disso, quer que ele fique no seu casamento, celebrando, apenas porque você ainda não está pronta para deixá-lo ir?! – Evangeline tentou responder, mas a voz ríspida de Minerva interrompeu-a. – Acontece que ele estava pronto para ir! E ele tem coragem, Evangeline, então ele se foi! Para sempre!

Evangeline parou de respirar por um momento.

- O que você quer dizer com isso?

- Ele vai deixar a Reino Unido! Ele vai mudar novamente de nome e ir-se Merlin sabe aonde! Ele vai desaparecer.

Ela engoliu seco e respirou fundo. Sentiu os seus olhos queimarem levemente... mas aquele era o dia do seu casamento. Não podia chorar por outro. Tentando se controlar, ela afirmou baixinho:

- Ele não pode fazer isso.

- Ele já fez!

- Mas ele volta? Ele não... – Ela parou um pouco, tentando controlar a voz tremida. Respirou fundo algumas vezes, mas dessa vez não conseguiu evitar que seus olhos se enchessem de água. – Ele não pode desaparecer para sempre, pode?

- Você o conhece.

Evangeline sentiu uma lágrima deixar os seus olhos, mas não se importou. O que se passava dentro dela não deixava que ela se preocupasse com maquiagens borradas; era como se um pedaço lhe houvesse sido estripado. Quase instintivamente a mão de Evangeline pressionou o seu peito, tentando fazer a dor desaparecer, enquanto ela respirava com dificuldade.

- Evangeline – Minerva disse um pouco mais calma. – Você acabou de casar-se. Veja isso como uma oportunidade de esquecê-lo.

- Mas... – Ela mordeu levemente o seu lábio inferior. – Ele não disse adeus. – Soluçou. – Por que ele não disse adeus?!

Minerva deu um meio-sorriso.

- Ora, Evangeline: lembre da estrela. Vocês se reencontrarão um dia.

- Mas não em vida?

- Essa foi a sua escolha.

- O que está acontecendo aqui?! – Pela porta, vinha Gabrielle cautelosamente. – Meu Deus, Evan, vamos! Nós temos que ajeitar a sua maquiagem! Não podemos deixar-- Quem é você?! – Ela perguntou, finalmente notando Minerva.

McGonagall suspirou.

- Tente ser feliz, Evangeline. Ele queria isso.

E deu meia-volta, deixando a casa. Gabrielle agarrou os braços da amiga e fez-la encará-la.

- O que houve?

- Ele foi embora!

- Sim, mas você está aqui! E todos os seus amigos estão aqui, e os seus novos familiares estão aqui, e todos eles contam com você! Você fez o mais difícil, a escolha; agora a confirme!

Evangeline, incerta, assentiu. Gabrielle respirou aliviada, segurou a mão da amiga e começou a encaminhá-la para dentro de casa... mas não conseguiu fazê-la passar pela porta; ao invés de entrar, Evangeline quedou-se como uma pedra.

- Eu não posso!

Gabrielle fechou rapidamente a porta e virou-se exasperada.

- O quê?!

- Me dê as chaves do seu carro!

- Evan! Eu não--!

- Por favor, Gaby! Eu só quero falar com ele! Eu preciso dizer que eu sentirei saudades, e que eu jamais o esquecerei!

- Por quê?!

- Porque se eu não fechar esse capítulo da minha vida eu sempre me perguntarei se ele pensa em mim, e onde ele está, e com quem ele está e eu nunca poderei ser feliz! Porque eu preciso que ele saiba que eu--

- Que você?!

Evangeline suspirou.

- Que eu o amo.

Gabrielle mordeu ligeiramente o lábio de uma forma que lhe era usual sempre que tentava segurar as suas lágrimas.

- Você já disse isso a ele hoje. Eu estava escutando.

- Mas eu não disse direito! Eu preciso que ele saiba o quanto--

- E quanto é?

- Mais do que eu imaginava ser possível.

A loira suspirou, enxugando uma lágrima que escapou dos seus olhos.

- Mais que a John?

Evangeline deu um sorriso.

- Mais que a mim mesma.

Rapidamente, Gabrielle abriu a bolsa e retirou de lá as chaves do seu carro.

- Volte rápido.

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