à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 23
À Eternidade - pt.2




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XXIII

À ETERNIDADE – PARTE 2

- Eu pensei que lhe encontraria aqui.

Severo disse enquanto se aproximava da mesinha no canto esquerdo do café que ele e Alexandra tantas vezes freqüentaram juntos. A loira estava lá, escondida pelos seus gigantescos óculos-escuros e enterrada num imenso cappuccino, enquanto lia um livro qualquer.

Ela suspirou lentamente e tirou os seus óculos, mirando-o com frios olhos azuis.

- Você tem de parar de recorrer a mim todas as vezes que algo não dá certo entre você e Evangeline.

Severo crispou os lábios.

- Como você pode saber o que aconteceu lá?

- Evangeline, nos tempos do colégio, era apaixonada pelo meu namorado, Casey. Eu também gostava muito dele, mas não deu certo: quando eu engravidei de William, meu ex-marido e, na época, capitão do time de futebol, a nossa relação ficou insustentável. O fato é que, uma semana antes do baile de formatura, o Casey a convidou a pedido meu, detalhe que ela jamais soube. Ela ficou tentada, mas acabou indo com um nerd, o Steve, porque não sabia como dar um fora nele. No fim, ela ficou com Steve por três anos e perdeu a virgindade com ele, antes de descobrir como sair daquele relacionamento.

Severo franziu o cenho, sentando-se à mesa.

- Por que você está me contando isso?

- Porque eu aproveito oportunidades de ser feliz; por isso dormi com outro. Evangeline, por sua vez, pensa um milhão de vezes antes de agir e coloca a felicidade dos outros na frente da dela. Se ela se sentia obrigada por causa de um mero baile de formatura, imagine agora, por causa de um casamento! Ela jamais largaria John por você. Não hoje.

- E quando?

- Bem, com Steve foram três anos; com John, Deus sabe! – Ela riu-se. – Diga-me que eu estou certa; diga-me que ela está devidamente casada.

Severo suspirou.

- Eu não pedi para que ela não se casasse.

Alexandra deu um sorriso sarcástico e revirou os olhos.

- Eu não sou masoquista, Stephen. Então eu gostaria que você se afastasse de mim.

- Eu pretendo fazer isso. Eu vou sair do país.

Ela abriu a boca, paralisada por um momento. Mordeu levemente o lábio inferior.

- Para onde você vai?

- Para o Canadá, viver em Fort St. John. Quando chegar lá lhe enviarei o endereço e lhe darei os meus telefones.

- Evangeline sabe?

- Não e eu estou confiando que você jamais dirá a ela onde eu estou.

- E porque você está me dando essas informações?

- Porque eu não quero perder contato com você.

Alexandra suspirou.

- Como ela reagiu?

- Eu não disse a ela. – Ele se levantou. – Adeus, Alex.

A mulher rapidamente segurou o braço dele, impedindo-o de ir.

- Stephen, espere!

Ele olhou-a.

- O meu nome é Severo. Severo Snape.

- O quê?

- É uma longa história; eu não tenho tempo ou vontade de contar agora. Talvez algum outro dia. O fato é que eu tive que mentir, não só para você, mas para todo mundo. Apenas Evangeline e John sabem o meu nome verdadeiro... e você, agora. Desculpe-me.

Alexandra sorriu, levantando-se. Lentamente acariciou o rosto dele e beijou levemente os seus lábios.

- Não tem importância... Stephen. Adeus.

Ele sorriu e começou a se encaminhar para fora.

- Stephen! – Ele se virou. – Eu teria ficado arrasada se você não tivesse vindo se despedir. Pense nisso.

XxXxXxX

O coração palpitava, parecia querer sair pela boca! E Evangeline tinha plena consciência de que estava cometendo um erro; de que ela não deveria simplesmente ter abandonado o seu casamento para correr atrás do seu ex-amante. Ainda assim, a idéia de jamais voltar a ver aquele homem dominava todas as outras; todos os medos, todas as convenções e todos os pudores que poderiam querer reprimi-la.

Dessa forma, ela não se sentiu envergonhada quando desceu do carro da sua amiga em frente a um albergue no centro de Liverpool ostentando o seu caro vestido de noiva. Nem se sentiu acanhada pelos olhares enviesados dos transeuntes, enquanto, ofegante, entrava no pequeno estabelecimento.

O atendente logo a notou, mas pareceu levar um século para que ela, com o seu coração martelando e o nervosismo deixando uma sensação estranha apoderar-se do seu estômago, conseguisse se aproximar um pouco dele.

O homem, embasbacado, logo exclamou:

- Por Deus, você realmente estava casando!

Evangeline ignorou o comentário, acelerando o passo até ele. Um sorriso vacilante apareceu em seus lábios e ela sentiu as mãos ficarem ligeiramente trêmulas.

- Ele está aqui?

Ele deu de ombros.

- Meu bem... ele se foi.

Ela sentiu uma pontada em seu coração.

- O quê? Como assim?

- Ele chegou aqui há alguns minutos, pegou uma maletinha e foi embora. Você chegou tarde demais.

- Mas... Para onde? Ele disse alguma coisa?

Ele negou com a cabeça.

Os olhos de Evangeline começaram a queimar e o nó na garganta parecia mais forte do que ela poderia suportar... do que ela conseguia controlar.

- Mas...

- Você deveria voltar para o seu noivo, se não for tarde demais para isso também.

Não era tarde demais... Ela mesma dissera que voltaria para a celebração, que apenas diria adeus a Severo. No entanto, apenas naquele momento ela soube: jamais poderia seguir numa vida ao lado de John. Ou ao lado de qualquer outra pessoa.

- Não... não posso. Eu – ela o olhou. – Eu preciso de um telefone.

Rapidamente, o atendente entregou a ela um velho celular. Evangeline discou o número de Gabrielle. A amiga não demorou a atender.

- Gaby?

“Evan!” – O tom de voz da mulher refletia o mais puro alívio. – “Todos estão perguntando por você!”

- Então... diga-os que eu não voltarei. A festa acabou. – A sua voz começou a ficar pesada. – Diga ao John que eu sinto muito... e diga ao seu marido que ele me representará no pedido de anulação.

“Amiga você... você tem certeza?”

- Sim, tenho. Você pode fazer isso por mim?

Ela ouviu um longo suspiro do outro lado da linha.

“Sim. Dê-me uma hora e meia para tirar todos da sua casa e não se preocupe com o carro. Você poderá me entregar amanhã.”

Evangeline respirou fundo e entregou o telefone ao atendente. Apesar de ter feito o seu melhor para segurar-se, não conseguiu impedir que as lágrimas começassem a escorrer. Ainda assim, ela jamais tivera tanta certeza de fazer algo certo.

Ela sentiu a mão do atendente sobre a dela.

- Eu acho que você precisa de um chá... venha comigo.

XxXxXxX

Quanto tempo ela passou falando sobre a sua vida com aquele desconhecido ela não sabia; mas quando Evangeline estava voltando para casa tudo estava escuro e ela não mais se sentia triste; ela sentia raiva de si mesma: Brian lhe dissera para assumir a responsabilidade pelos seus atos, e que tudo aquilo era uma conseqüência dela ter sido cautelosa demais... e ele estava certo.

Quando o carro que ela tomara emprestado finalmente estacionou em frente à sua casa, Evangeline apenas queria arrasta-se para a sua cama e ficar lá pelos próximos dias; não esperava se deparar com as lembranças do casamento que ela abandonara espalhadas pelo seu caminho: cadeiras no jardim e o altar improvisado, no alto da sua varanda... Mas não precisou de muito esforço para ignorar tudo aquilo: não se arrependia, afinal – Não ainda, ela pensou.

Com um sorriso meio triste, meio resignado, ela abriu a porta. A escuridão dominava toda a sala... e talvez por isso ela não tenha visto o homem que a esperava de pé, recostado à parede oposta à entrada, ainda cheia de espelhos.

- Evangeline.

Ela não conseguiu respirar, não conseguiu será mover-se na direção de onde vinha aquela voz. Pensou até mesmo que pudesse está ficando louca; pensou que a vontade de ouvir novamente a voz aveludada e máscula lhe fosse tão forte que a sua mente começara a lhe pregar peças. Mas se aquilo fosse uma brincadeira do seu subconsciente, era uma das mais elaboradas, pois imediatamente ela sentiu os seus olhos queimarem e o seu coração disparar.

- Severo?

Nada. Nenhuma voz. Nem uma só palavra.

Mas ela pôde escutar os passos no escuro, ecoando contra o assoalho de madeira, cada vez mais próximos. Ela fechou os olhos, sentindo-se desfalecer. Evangeline podia sentir a energia da mão dele sobre o seu rosto, sem, no entanto, tocá-la. Sentiu a respiração quente perto do seu ombro e subindo... passando pelo seu colo e seus seios arfantes... pelo seu pescoço, queixo... e, finalmente, parando sobre os seus lábios... confundindo-se com o seu próprio hálito.

- Eu – ela tentou articular, mas era difícil controlar as palavras quando o seu coração queria sair pela boca.

- Não. – Ele interrompeu-a, roçando acidentalmente os seus lábios nos dela. – Não fale nada.

Ela deixou a sua primeira lágrima cair.

- Eu estou com medo – ela sussurrou sob a boca dele.

- De quê?

Mais uma lágrima.

- De abrir os olhos e não lhe ver aqui.

Lentamente, ela sentiu o hálito quente lhe subir a face, até que a pele dele tocou a sua num respeitoso beijo na sua testa... um beijo tão demorado que, quando os lábios dele deixaram a sua pele Evangeline sentia-se queimar.

- Me desculpe – ela escutou, antes da presença forte deixá-la.

Evangeline escutou alguns passos afastando-se dela. Quase desesperada para mantê-lo em sua vista, ela apertou o interruptor ao lado da porta, ligando a luz. Severo já estava no meio da sala quando foi surpreendido pela luminosidade. Lentamente, ele se virou. Olhou-a. A mulher deu um meio-sorriso e caminhou alguns passos em direção a dele.

- Por que você está se desculpando?

Severo desviou o olhar.

- Você está casada. E eu não vim para desrespeitar a você ou ao seu marido, mas eu espero que você entenda o quanto é difícil.

Ela soluçou, sem ousar se aproximar dele.

- O que você está fazendo aqui?

Ele suspirou.

- Eu vou sair do país; não sei se Minerva já lhe falou sobre isso. Então eu vim me despedir.

Ela sorriu, como se um grande peso tivesse sido tirado do seu peito.

- Você veio? Eu estava pensado que você não se importava o suficiente, e por isso--

- Como você pode pensar isso?! A minha vida inteira eu tive dificuldade de admitir ter qualquer sentimento, mas por você eu admiti! Eu inclusive tentei fazer tudo certo e estava disposto a ficar ao seu lado nos seus termos! Eu estava disposto a lhe dar tudo o que eu tenho, material ou imaterial, sem pedir absolutamente nada em troca, e você acha que eu não me importava o suficiente?!

- Desculpe...

- Esqueça. Foi um erro vir.

E, dizendo isso, Severo começou a se encaminhar para a porta, passando como um raio por Evangeline... Mas ela não estava disposta a deixá-lo sair de sua vida tão facilmente; então, com o coração batendo descompassado, segurou-o firmemente pelo braço.

- Espere! – Ele se virou; seus olhos incrivelmente negros recaíram sobre a mulher com uma intensidade inexplicável... Era como se ele a acusasse, a odiasse. Evangeline engoliu seco antes de continuar. – Como eu poderia saber o quanto você se importa? Como eu poderia saber o que você sente, quando tudo que você fez foi me tratar como se eu não fosse necessária; como se você não ligasse para o que eu quero e o que eu sinto? Porque, se não era assim, Severo, você fez de tudo para me passar essa imagem! – Ela mordeu o lábio e, respirando fundo para tomar um pouco de coragem, aproximou o seu rosto do dele. A expressão nos olhos negros, no entanto, não mudou. – Não é uma questão de admitir o que você sente, mas de demonstrar. Dizer que ama é fácil. São só palavras.

Ele bufou, também se aproximando. Apesar dos lábios crispados e do ar perigoso que Severo exalava, Evangeline não queria fazer outra coisa, senão beijá-lo. Sentiu-se perder o ar.

- E de que teria me adiantado bancar o idiota apaixonado? Eu já tentei, há vinte anos, me humilhar para uma mulher! Ela não veio para mim! Então que razão eu teria para pensar que você viria? Acredite ou não, Evangeline, eu fiz o meu melhor; e você fez a sua escolha!

- Nós não somos a mesma pessoa, quando você vai perceber isso?! Eu não tomarei as mesmas atitudes ou as mesmas decisões que tomou a mulher que um dia você amou!

- Não? – Sarcástico, ele ergueu uma sobrancelha. – Porque eu tive a ligeira impressão de lhe ver casando-se com outro homem!

Evangeline baixou a cabeça.

- Eu o abandonei. Vou entrar com o pedido de anulação.

Severo, por um momento, se quedou paralisado, totalmente sem resposta. O seu primeiro impulso foi o de tomar os lábios que estavam tão perigosamente pertos dos seus, sem se importar se aquilo que ela dissera era verdade ou não... mas ele era Severo Snape; então, ao invés de seguir o seu instinto, ele apenas deixou um sorrisinho sarcástico acentuar-se em seus lábios.

- Anulação? E quando ele chegar para você dizendo que a ama e que não pode viver sem você, o que você vai fazer? Anular a anulação?

Evangeline voltou a olhá-lo, decidia a não se deixar intimidar. Tentando manter a sua voz firme, retrucou:

- Não. Eu vou dizer que sinto muito, mas não posso fazer nada, porque eu amo outra pessoa.

Severo rolou os olhos e deu uma breve e forçada risada rouca. Cruzando os braços, ele repetiu as palavras há pouco proferidas por Evangeline:

- Dizer que ama é fácil. São só palavras.

- Nesse momento não é.

Ela deu um passo em direção a ele. As mãos delicadas tentaram fazê-lo descruzar os braços, numa tentativa de quebrar a resistência dele e romper um pouco a distancia que os separava, mas Severo não permitiu. Com lábios crispados e uma voz dura, ele limitou-se a dizer:

- Eu estou indo embora.

- Você não tem que fazer isso--

- Eu tenho. Eu sempre tive. É perigoso para mim ficar perambulando pelo Reino Unido, desde que me tornei uma figura popular. Eu não quero ser reconhecido, e não pretendo dar chance às estatísticas! Cedo ou tarde alguém me reconhecerá.

- Então me leve! – Severo respirou fundo, finalmente descruzando os seus braços. Aproveitando-se do breve descuido, Evangeline roubou-lhe um beijo rápido e inocente. Ele a olhou surpreso, e ela nada pôde fazer senão tentar sorrir e implorar baixinho. – Por favor.

- Você viria comigo?

- O que você acha?! – Ela bufou impacientemente. – Eu estou aqui, vestida de noiva, dizendo que tudo que eu quero é ficar ao seu lado! Você não vai conseguir uma demonstração de amor maior do que essa!

- Eu suponho que não.

Evangeline suspirou, mordendo ligeiramente o lábio inferior; tentando ler qualquer emoção nos olhos negros... mas era impossível. O ódio não estava mais lá; mas também não estava o carinho. Os olhos de Severo eram dois buracos negros vazios... como se ele não tivesse guardado nada além do desprezo para ela.

Os olhos castanhos finalmente se encheram de lágrimas quando Evangeline constatou:

- Você ainda está convencido a ir, não está?

Severo assentiu brevemente, sem tirar os seus olhos dela.

- O que você esperava?

- Severo, essa manhã, antes do casamento, você veio me ver. Se, naquela hora, eu desistisse de tudo e aceitasse lhe seguir, o que teria acontecido?

- Seria diferente.

- Por quê? – Ela segurou o rosto dele, trazendo-o para tão perto do rosto dele quanto o possível... mas dessa vez não ousou beijá-lo. – Teria sido o mesmo! Eu teria igualmente deixado o meu marid--

- Ai está a diferença! – Severo disse com a voz ligeiramente alterada. – Ele é o seu marido, agora! E não há nada que eu ou você possa fazer: vocês estão ligados para sempre!

Evangeline suspirou.

- Esse não é o mundo bruxo! Casamentos não são laços mágicos e eternos! Seja lá o que o seu povo pense sobre casamento, não é aplicável aqui. Especialmente para um casamento não consumado cuja noiva não podia estar mais arrependida.

- E o que você sugere? – Evangeline não sabia se estava enlouquecendo, mas podia jurar que Severo aproximou o rosto do dela, mesmo que apenas um pouquinho. Sentiu seu coração falhar. – Que simplesmente esqueçamos que você está casada e vivamos felizes para sempre?

- Vocês, bruxos, têm uma fixação pela eternidade! – Tentou sorrir, apesar do nervosismo. Arriscou se aproximar só mais um pouco. Para sua surpresa e contentamento, sentiu uma mão tímida de Severo pousar em sua cintura. – Eu estava pensando em algo a curto prazo... como uma semana com os telefones desligados.

Severo respirou fundo.

- Nós já tentamos isso uma vez.

- E foi maravilhoso, não foi?

Ele assentiu levemente.

- De fato.

E, dizendo isso, Severo apenas precisou inclinar um pouco o rosto para capturar o lábio inferior de Evangeline de uma forma tão apaixonada, apesar de casta, que fez todo o corpo da mulher estremecer. Mas, justo quando ela pensou que Severo a tomaria em seus braços, ele se afastou; e, quando ela menos percebeu, ele encaminhava-se em passos largos para a porta.

A dor que ela sentiu naquele momento a fez esquecer qualquer traço de orgulho que mantinha em seu corpo. Com os olhos voltando a marejar-se ela se encontrou a ponto de fazer o que antes era, para ela, impensável: implorar.

- O que mais você quer que eu faça?! – ela falou alto. – Eu larguei tudo, não era isso o que você queria? Eu já disse que não quero que você vá! Eu--

- Do que você está falando, Evangeline?! – Ele disse, virando-se para ela. Com uma curvinha sarcástica formando-se em seu rosto, Severo empurrou a porta que estivera aberta. Com um baque seco, ela fechou-se. – Eu não estou indo embora. E você está ficando neurótica.

Ela suspirou e riu.

- Você é um idiota.

Até mesmo Severo se permitiu um breve sorriso... antes de, com passos lentos, começar a se aproximar da noiva que ansiosamente o esperava. As mãos grandes foram à cintura de Evangeline e os lábios finos buscaram imediatamente a base do pescoço, pouco acima do colar de pérolas. Lentamente, os lábios passearem pelo pescoço e queixo, arranhando-os levemente com a barba mal feita e levando arrepios ao corpo da mulher... E, então, finalmente, uma boca encontrou a outra, que esperava aberta e sedenta pela dele. As línguas se encontraram com ferocidade e necessidade.

Foi como se os corpos se fundissem; foi como se eles estivessem para tornarem-se um. E talvez por isso que Evangeline não se importou que ele apertasse o seu corpo contra o dela quase dolorosamente e a empurrasse lentamente para o sofá... Os beijos firmes e intensos e ávidos jamais deixando os lábios dela enquanto ela se deitava e ele se inclinava sobre ela.

As mãos longas, finas e atrevidas logo encontraram o seu caminho por dentro do vestido de noiva, acariciando e apertando levemente as pernas encobertas pela meia-calça... Fazendo-a suspirar ao chegar à parte interna da coxa e lá demorar-se, ocasionalmente encontrando a lingerie e provocando o seu sexo. Enquanto mordia o seu ombro, Severo a fez abrir as pernas e encaixou-se nela, pressionando levemente o quadril contra a sua intimidade, fazendo Evangeline sentir o efeito que ela provocava nele... Ela gemeu alto e, quando teve a certeza que nada mais a surpreenderia naquela noite, Severo simplesmente se afastou, cessando todas as carícias.

Ofegante, Evangeline o olhou.

- O que houve?

Severo suspirou.

- Isso não está certo.

E se levantou. Evangeline sentiu o seu coração palpitar outra vez com o medo da rejeição. Rapidamente, ela se sentou e começou a ajeitar o seu vestido, cobrindo novamente o corpo.

- O que não está certo?

- Olhe o que você está vestindo; sexo rápido no sofá não me parece ser a alternativa correta.

Ela suspirou aliviada e sorriu. Divertida, mordeu o lábio inferior.

- Eu tenho certeza de que não seria rápido.

- Ainda assim...

Ele não precisou de muito esforço para erguê-la em seus braços. Evangeline deu um gritinho agudo e se abraçou a ele, enterrando o seu rosto no pescoço másculo e sentindo o cheiro maravilhosamente inebriante da loção pós-barba. Riu-se.

- Severo! Você não precisa fazer isso!

Ele a olhou com um semblante divertido.

- Não? A cena me parece adequada.

Ela riu.

- Não! Eu lhe libero da obrigação de agir como um príncipe encantado! Os heróis byronianos sempre foram mais interessantes, de qualquer forma...

- Ótimo! – Ele disse, colocando-a no chão. – Então será que podemos, por favor, ir para o quarto e chegar àquela parte que as fábulas infantis não mostram?

Evangeline riu-se novamente e segurou a mão dele, guiando-o o mais rápido que podia escada acima.

A porta do quarto pareceu mais distante do que nunca para o casal, que nada mais queria além de se tocar... Os beijos lascivos que ele aplicava no pescoço e ombro dela, enquanto apertava-a contra o seu corpo, fazia Evangeline perder a capacidade de andar direito, fazendo-a tropeçar uma ou duas vezes na escadaria. Depois do que pareceu uma eternidade, eles conseguiram adentrar o quarto.

Rapidamente, Severo a fez virar-se, ficando de frente para ele. Os seus lábios famintos imediatamente procuraram os lábios dela... e, entre beijos, a guiou para a cama, na qual ele fez com que ela se deitasse lentamente. Debruçado sobre ela, Severo cravou os olhos negros nos seus castanhos, e ela viu transparecer uma paixão que pensava não ser possível. O seu coração pareceu querer explodir e, pela primeira vez naquele dia, as lágrimas que vieram aos seus olhos não eram de tristeza. A causa era justamente a contrária.

As mãos frias acariciaram o rosto dela com delicadeza... Evangeline imitou o gesto, passando a ponta dos dedos pela pele branca como uma vela.

Lentamente, os lábios dele beijaram a testa dela, desceram para o nariz, cada um dos olhos – molhando-se com as lágrimas que acabavam de cair – as maçãs do rosto, o cantinho dos lábios e o pescoço... Então ele a olhou novamente.

- Eu imagino que isso quer dizer que eu posso voltar para a sua casa?

Evangeline riu-se e, subitamente, ergueu o seu rosto e capturou os lábios dele, num beijo sôfrego, apaixonado e possessivo... Os seus olhos brilhavam quando soltando brevemente os lábios dele, respondeu:

- Para sempre.

XxXxXxX

fim

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