à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 21
Beijando a Noiva




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XXI

BEIJANDO A NOIVA

O endereço descrito do pedaço de pergaminho que Minerva lhe dera não era totalmente desconhecido... ou assim Evangeline pensava, até que, na companhia de Rúbeo Hagrid, ela apareceu num beco sujo, escuro e cheio de pichações no que parecia ser um bairro perigoso.

- Você acha que essa é uma vizinhança segura? – Perguntou o meio-gigante, aproximando-se de Evangeline um pouco, enquanto espiava a movimentação na rua principal. – É melhor que eu lhe acompanhe.

Evangeline suspirou, abraçando-se. De fato, pela aparência daquele lugar, seria mais prudente contar com a presença intimidante de Hagrid – com um segurança daquele tamanho, dificilmente alguém lhe faria mal. No entanto, ela tinha plena consciência de que não tinha o direito de colocar o segredo de Snape em risco. Assim, relutante, ela abriu um sorriso amarelo e olhou o homem ao seu lado.

- Não será necessário. Eu não pretendo passar muito tempo aqui.

- E como você vai voltar para casa?

- Eu acho que tem uma estação de metrô aqui perto.

O meio-gigante bufou, incerto.

- A Professora McGonagall me encarregou da sua segurança quando me pediu para lhe transportar. Eu não posso deixar que nada lhe aconteça. Por isso gostaria de lhe acompanhar. Duvido que alguém se meteria a lhe fazer algum mal comigo por perto.

- Não é tão perigoso como parece. Eu sei me cuidar. Obrigada, Hagrid.

O homem a olhou com um pouco de desconfiança.

- Posso saber o que a senhorita quer nesse lugar?

- É pessoal.

Resignado, Hagrid deu de ombros e, com um menear de sua varinha(1) e um estampido seco, sumiu. Evangeline suspirou pesadamente, sentindo-se sozinha e vulnerável... Mas, ao ouvir as palavras de Minerva ecoar em sua mente, ela respirou fundo para tomar coragem e apressou os seus passos para a rua principal.

O centro de Liverpool geralmente tinha ruas cheias e barulhentas... Mas não naquele momento – e era justamente isso o que assustava Evangeline. Em meio a um rigoroso inverno, as pessoas que se aventuravam nas ruas eram poucas. Apenas aquelas que, aparentemente, não tinham escolha; mendigos e alguns grupos que não pareciam ser muito confiáveis. Ela tentou caminhar rapidamente, olhando apenas para a sua meta: o pequeno albergue que se encontrava do outro lado da rua.

O seu coração parecia querer sair pela sua boca quando ela finalmente atravessou a rua e chegou à pesada porta de madeira que, para o seu contentamento, estava aberta. Ela entrou numa pequena e simples recepção e logo ganhou a atenção do único funcionário do local: um homem muito jovem, de pesados cabelos acobreados e rosto ainda marcado por espinhas.

- Bom dia! Procurando um quarto?

Evangeline se aproximou, enquanto, atrás do balcão, o homem digitava furiosamente no velho computador.

- Nós temos vagas! Sabe, se você chegasse há alguns dias, não encontraria nenhum quarto sequer: tudo cheio por causa do ano novo! Mas agora acho que posso lhe encaixar, sim!

Ela mordeu ligeiramente o seu lábio inferior.

- Não, eu... Eu estou procurando por um homem...

O atendente imediatamente largou o computador e debruçou-se sobre o balcão.

- Todos estamos, querida, não é verdade?

- Erm... O nome dele é Severo... ou Stephen. Ele é alto, moreno...

- ...olhos negro, branco feito vela e se veste de forma esquisita. Não o vejo há dias!

Evangeline franziu o cenho.

- Dias?

- Parece que ele teve de fazer uma viagem de trabalho, ou algo assim. Eu não sei, querida; obviamente o meu trabalho não é perguntar! E, mesmo que fosse, duvido que conseguiria arrancar qualquer coisa daquele homem!

- Você sabe se ele pretende voltar?

O atendente deu de ombros.

- Bem, ele deixou um pagamento adiantado até terça; acredito que ele possa voltar na quarta, então... pelo menos para pegar as coisas que ele deixou aqui!

- Você pode dar um recado a ele? – O homem assentiu. – Assim que ele chegar, diga que Evangeline o procurou e quer muito falar com ele.

- Evangeline... Nome bonito! Não esquecerei.

Ela sorriu.

- Obrigada.

XxXxXxX

- Ora, vamos! Vai dizer que você nunca voou antes, Stephen!?

Severo fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes. Ele sempre pensou que a pior sensação do mundo era a de estar suspenso, seguro apenas por uma vassoura... No entanto, aquela pequena viagem provou-lhe equivocado: a sensação de estar num avião era terrivelmente claustrofóbica e pelo menos um milhão de vezes pior do que a seguridade de uma vassoura no ar.

- Prefiro manter meus pés no chão.

Alexandra riu-se, enquanto pegava as suas pesadas malas na esteira.

- Tenho certeza que sim... Mas você é racional demais! Não deveria ter medo de um transporte tão seguro!

- Não é uma questão de medo; é apenas a idéia pré-concebida de que uma coisa de metal que pesa toneladas não deveria estar suspensa no ar! – “não sem o auxílio da mágica”, ele completou em seu pensamento.

- Sempre soube que você não confiava na tecnologia... mas jamais pensei que chegasse aos extremos com isso!

Severo bufou e começou a caminhar ao lado de Alexandra pelo Aeroporto de Liverpool. Poucas horas depois da visita de Minerva, há quase duas semanas, Alexandra o tentara com uma proposta irrecusável: congresso euro-americano de medicina e farmácia alternativa, sediado em Monte Carlo.

Foi, justamente como o previsto, um congresso maravilhoso. Severo ficou impressionado com a quantidade e qualidade do conhecimento trouxa sobre ervas que ele pensava existir apenas no mundo bruxo, e se deparou com fórmulas bem parecidas com algumas poções simples que ele costumava ensinar – como um sonífero apresentado por um grupo de farmacêuticos alemães, que parecia ter como base a poção de dormir sem sonhos. Naturalmente, além dos conhecimentos adquiridos, houve uma divertida semana na Riviera Francesa na agradável companhia de Alexandra.

No entanto, se alguém o tivesse avisado que ele teria de usar como meio de transporte aquele trambolho de metal, jamais teria ido.

- Eu acredito que poderíamos ter chegado à França de trem; não vejo o motivo, então, de termos engajado numa viagem mais desconfortável e potencialmente perigosa.

Alexandra suspirou e agarrou o braço dele, ficando tão perto que, aos olhos dos desconhecidos que transitavam pelo aeroporto, eles pareciam um casal acabando de voltar da lua-de-mel.

- Porque nós queríamos chegar logo! Porque não queríamos perder o nosso precioso tempo! Porque eu queria passar pelo menos um dia inteiro em Nice, sem me preocupar em perder as palestras! E porque você queria me fazer companhia! Admita, Stephen: valeu a pena!

- De fato, lhe ver num biquíni brasileiro na piscina do hotel valeu o estresse da viagem.

O rosto de Alexandra enrubesceu e um enorme sorriso iluminou a sua face. O tempo em que eles passaram juntos na França foi totalmente preenchido por pequenos flertes, como aquele. E ela sabia bem que, com o casamento de Evangeline, ela estaria novamente livre para conquistar o seu espaço junto a Stephen.

- Você já me viu vestindo muito menos...

- De fato.

Ela não falou mais nada, antes de ao sair do aeroporto, chamar um táxi.

- Eu vou para casa... e você deve ir ao albergue, certo?

- Sim – ele disse, ajudando Alexandra a colocar as suas malas no carro.

A mulher sorriu.

- Eu posso te acompanhar... passar um tempo lá com você, tomar um vinho... Conversar sobre a nossa viagem...

Severo assentiu.

- Seria mais interessante se eu fosse à sua casa. Convenhamos que é mais agradável e infinitamente mais calma.

- Pois bem; passamos no albergue para deixar as suas roupas e vamos, depois, para a minha casa.

Com o combinado, Alexandra e Severo entraram no táxi e logo começara a se encaminhar para o pequeno albergue no centro de Liverpool. Era uma manhã de domingo e, apesar do frio extremo, não nevava. As ruas, no entanto, estavam desertas e não demorou mais que alguns minutos para que eles chegassem ao albergue.

Severo rapidamente desceu, pegou as suas malas e apressou-se para a portaria – o taxímetro estava rodando; melhor seria ir rápido.

Brian, o jovem que ficava na recepção, logo abriu um grande sorriso ao vê-lo.

- Stephen Prince, onde você esteve?! Você sabe que está me devendo quatro diárias?! Eu tive que pagá-las do meu mísero salário para manter o seu quartinho intacto!

Severo deu de ombros, aproximando-se do balcão.

- E por que você não deixou que levassem as minhas coisas?

- Bem – o homem disse, desviando o olhar. – Eu tenho medo de você! Você me deu ordens expressas de não deixar ninguém entrar no seu quarto; e eu não deixei!

Ele suspirou, vendo nos olhos azulados de Brian o mesmo brilho aterrorizado que costumava ver nos olhos dos seus alunos. Na hora ele não quis admitir, mas gostou; e sentiu uma breve pontinha de saudade dos seus tempos em Hogwarts.

- Obrigado. A chave, por favor.

Brian pegou, num molho de chaves, a que correspondia ao quarto em que Severo se hospedava e entregou-o.

Ele agradeceu brevemente e começou a fazer o seu caminho... Mas logo foi impedido pela voz de Brian:

- Ah! Sr. Prince!

Severo girou nos calcanhares lentamente e olhou-o.

- Sim?

- Uma mulher veio lhe procurar.

Os olhos de Severo imediatamente estreitaram-se. Fazia dias que ele não pensava nela... seria possível?

- Que mulher?

- Não era um nome muito comum... Mas ela era bonita... cabelo longo, castanho... olhos meio claros, rosto bonito, bem feita de corpo...

O coração de Severo pareceu parar por um momento. Era ela.

- Evangeline? Evangeline Redfield?

Brian sorriu quase em alívio.

- Sim! Essa mesmo!

- O que ela queria?

- Ela apenas disse que queria falar com você.

Ele assentiu.

- Quando?!

- Faz... uma semana!

Ele assentiu novamente. Colocou, apressado, as malas sobre o balcão.

- Leve isso ao meu quarto. Eu tenho que ir.

E deu meia-volta. Surpreendeu-se quando viu, parada à porta, Alexandra. Os seus olhos estavam duros e os seus braços cruzados. Os lábios ligeiramente crispados deixavam-na extremamente parecida com Narcissa Malfoy.

- Não vá – ela disse com a voz firme e dentes cerrados.

Severo bufou.

- Eu não pretendo me explicar para você, Alexandra.

- Nem eu estou esperando as suas explicações. Evangeline é minha amiga, Stephen. E eu não vou deixar você procurá-la hoje.

- Por que não?

- Porque ela está se casando.

Impaciente, ele se encaminhou até ela.

- É exatamente por isso--

- Você não entendeu! Ela está se casando. Agora.

XxXxXxX

Não seja tarde demais. Isso era tudo o que ele queria e tudo o que ele pedia. Durante todo o tempo em que o táxi deslizou rapidamente pelas ruas vazias, Severo entoava aquele mantra com uma vã esperança, apesar de ter a certeza que nada daquilo adiantaria.

Era tarde demais. Ele tinha se atrasado. De novo.

As suas suspeitas apenas se confirmaram quando o táxi parou na frente da casa de Evangeline. Na varanda havia um pequeno altar estava montado de onde duas dúzias de pessoas que já ocupavam cadeirinhas brancas no jardim deveriam assistir o matrimônio de John e ela. Ele suspirou pesadamente, pagou ao taxista e desceu. Com cuidado, observou a casa.

Os jardins, antes descuidados e sem vida devido ao inverno rigoroso, encontravam-se perfeitos. Uma camada de grama parecia ter sido espalhada pelo chão apenas para aquela ocasião e alguns pinheiros foram plantados, substituído as árvores secas. Perto da escadinha que levava á varanda descansavam umas trinta ou quarenta cadeiras brancas, adornadas por cetim dourado... cetim dourado, aliás, que combinava com a decoração da própria varanda e seu pequeno altar.

Severo respirou fundo e fechou os olhos para reunir um pouco de coragem... E logo começou a se encaminhar para a varanda, tentando se manter invisível para as pessoas que já ocupavam os seus lugares no jardim. A única pessoa que pareceu perceber a presença de Severo foi o Padre que provavelmente celebraria o matrimônio – Severo reconheceu-o como o mesmo celebrante da igreja Anglicana que ficava ali perto. Ele, no entanto, ateu-se a cumprimentá-lo brevemente antes de dar-lhe passagem para dentro da casa.

A sala de Evangeline estava irreconhecível. Haviam espelhos cobrindo quase toda a parede e todos os móveis foram removidos para dar lugar a poucas mesas redondas cobertas pelo mesmo cetim que adornava o lado de fora. Enfeitando o centro delas – Severo deu um sorriso sarcástico – estavam belos e irônicos Lírios. As mesas eram dispostas em meia-lua e, na parede oposta a elas, ficava uma outra mesa, essa retangular, certamente para os noivos, padrinhos e pais. No espaço central, reservado para a primeira dança do casal, estava, de costas para Severo, uma mulher elegantemente vestida num longo azul turquesa que falava alto num celular. Os seus cabelos loiros, que caiam até perto da cintura, escondiam parcialmente o que o enorme decote nas costas do vestido pretendia revelar. A presença de Severo não lhe passou despercebida: através dos espelhos, os seus olhos imediatamente cravaram-se nos dele, quase furiosos. A mulher logo soltou o carrinho de bebê duplo que nervosamente balançava e virou-se.

- Escute aqui, meu bem: – ela continuou ao telefone, apesar de seus olhos mirarem diretamente os de Severo. – meu marido é um ótimo advogado. Se você não aparecer aqui em quinze minutos e consertar o bolo, vou te processar e vou tomar tanto dinheiro da sua firmazinha incompetente que até a faxineira passará as próximas gerações endividada! – Ela respirou fundo, desligando o celular. Com os lábios crispados, ela dirigiu-se finalmente a Severo – E eu espero que você seja o costureiro!

Ele franziu o cenho.

- Não, meu nome é Stephen. Eu sou... tio de Evangeline.

A expressão no rosto da mulher mudou imediatamente. Lívida, ela quase deixou o telefone derrubar-se no chão.

- Você é? Bem, eu sou a organizadora do casamento e, sinto muito, não tem lugar para você aqui.

Severo franziu o cenho.

- Eu entendo.

- O que dizer – ela acrescentou rapidamente. – Que você terá que parabenizar Evan agora. – Ela pegou novamente o telefone e discou qualquer coisa. – Britanny, Val eu preciso de vocês na cozinha. – Ela olhou novamente para Severo e sustentou o olhar enquanto duas mulheres trajando longos vestidos de seda cor de champanhe desciam rapidamente as escadas. – Eu encontro vocês logo! – E elas desapareceram na cozinha antes da loira começar a falar novamente. – Agora ela está no quarto, convenientemente sozinha. Vá.

Ele assentiu. Antes que pudesse sair, no entanto, a mulher segurou o braço dele.

- Mas que fique claro: eu tentei lhe expulsar.

- Tentou?

- Sim, tentei. De fato, eu tinha certeza que você já tinha ido embora quando fui ajudar as damas de honra da cozinha! Você praticamente invadiu a casa, certo? – Ela sorriu. – Ponha um pouco de juízo na cabeça dela.

- Obrigada, Sra...?

- Me chame de Gabrielle. Agora vá.

Dando um último olhar para ele, Gabrielle encaminhou-se em passos largos para a cozinha e deixou Severo sozinho.

Lentamente, começou a subir as escadas. O coração estava aos pulos quando chegou à porta do quarto dela. Na sua mente, um turbilhão de pensamentos sobre o que ele diria, o que ele faria... como pediria desculpas e como tentaria fazer com que ela desistisse daquele casamento...

Mas, quando abriu a porta, tudo aquilo se dissipou... ele estava completa e irremediavelmente sem palavras: Evangeline estava deslumbrante... Os cabelos castanhos estavam presos por um broche delicado, cheio de pedrinhas que pareciam diamantes e pérolas... eles caíam em cascatas de cachos e brilhavam... A sua pele reluzia mais que as de pérolas do seu colar, chamando atenção para o colo e ombros nus pelo decote do vestido... O vestido branco longo, salpicado com pedrinhas brilhantes sobre os seios e na sua barra, junto com as luvas que eram detalhadas por uma renda discreta, a faziam parecer uma princesa... e, claro, havia o rosto... lindo, lindo! Os olhos castanhos jamais pareceram tão brilhantes e os lábios avermelhados nunca gritaram tanto pelos lábios de Severo. Naquele momento, ela era, sem dúvida alguma, a mulher mais bonita que ele já via em sua vida... ele também não lembrava de ter sentido o seu coração bater tão fortemente em momento algum.

Evangeline olhou-o com preocupação.

- O que você está fazendo aqui?

Ele deu um passo em direção a ela.

- Eu pensei que você desistiria.

Evangeline suspirou, abraçando-se.

- Como eu posso desistir? Olhe para mim; olhe para a minha casa... As pessoas estão me esperando... John está me esperando. Severo, depois de tudo o que passamos, você não tem o direito de vir aqui... não nesse dia.

- Eu sei. Ainda assim, tinha esperança que pudéssemos ao menos conversar como duas pessoas civilizadas.

- Sem acusações? Sem xingamentos e sem mágoas? Você acha que nós conseguimos?

Ele assentiu lentamente. Evangeline sentiu o seu coração disparar e tentou sorrir. Encaminhou-se para a cômoda que ficava no canto do quarto – Severo apenas então notou que lá repousava um buquê de lírios. Ela se sentou.

- Porque você não veio antes?

Ele deu alguns passos para trás, até recostar-se na parede do quarto... mantendo uma longa distância entre ele e Evangeline – exatamente como seria apropriado naquele dia.

- Eu estive viajando. Houve um congresso na França e eu achei que seria uma boa oportunidade de ficar longe de você.

- Quando você decidiu isso?

Ele deu de ombros.

- Quando McGonagall me disse que você estava de casamento marcado. Eu acho que percebi naquele momento que tinha te perdido. Não podia fazer nada além de viver a minha vida.

- Você foi com ela?

Severo assentiu. Evangeline respirou fundo na tentativa de controlar os seus pensamentos e o ciúme inapropriado que sentiu. Não conseguiu olhá-lo enquanto ele respondia:

- Alexandra tem sido uma boa amiga. Sempre foi.

- Vocês reataram?

- Ainda não.

Ela suspirou, controlando-se para não deixar os olhos ficar marejados.

- Alex gosta muito de você, sabia? Você deveria tentar novamente.

- Eu penso o mesmo.

Ela não respondeu... nem ele fez questão de falar mais nada. Assim, ficaram os dois em silêncio, sem se olhar, pelo que pareceu uma eternidade. Até que Evangeline finalmente conseguiu juntar coragem para voltar a encará-lo.

- O que você veio fazer aqui, Severo? De verdade?

- Eu vim saber o que você queria me falar.

- Minerva me contou umas coisas sobre as quais eu precisava falar com você... Mas agora?! No dia meu casamento? Agora já não importa! Eu já não tenho mais nada a dizer...

- Mas eu tenho. Eu quero que você me perdoe. – Ela parou de respirar por um momento. – Pelo que eu fiz, pelo que eu disse, pela forma que eu disse. Eu agi de uma forma inapropriada; mas o homem com quem você está casando não é o poço de virtudes que você imagina! Eu vi--

- Pare. – Ele calou-se. Evangeline se levantou. Mas, ao contrário do que ele esperaria, ela não parecia aborrecida. – Você acha que eu não conheço John? Você acha que, depois desses anos ao lado dele, eu não conheço os seus defeitos?

- Você realmente acha que os conhece?

- Claro que sim! Ele gosta de manipular a verdade para conseguir o que quer! Eu sempre soube disso! Acontece que ele me ama! Nem você pode negar isso, Severo! E se ele usou desses artifícios em qualquer momento com você, foi para me manter ao lado dele! Então como eu posso condená-lo por isso?

Ele assentiu.

- De fato. Você está certa. Mas eu espero que você saiba que ele não é o único.

- Que...?

- Que ama você.

O coração dela deu uma guinada e Evangeline não mais pôde evitar que os seus olhos enchessem-se de água. A sua voz saiu baixa, quase um suspiro:

- Eu sei.

- Você realmente acha que vai casar com ele e ser feliz para sempre, Evangeline? É isso que você quer?

- Para sempre é muito tempo, Severo. Basta-me ser feliz durante a minha vida, e eu tenho certeza que ele pode me fazer feliz, sim.

Ele se calou por um tempo. Quando estava para abrir a boca para respondê-la, ouviu duas batidas na porta.

“Evey, Severo...” - Era a voz de Gabrielle. – “John já está pronto e os convidados estão esperando. As damas estão loucas para entrar aqui e eu não sei por quando tempo conseguirei segurá-las! Apressem-se”.

Divertida, Evangeline olhou-o.

- Eu deveria ter desconfiado que Gaby era a responsável por essa visita!

- Eu devo admitir que simpatizei muito com a sua amiga.

Ela rolou os olhos.

- Sempre se metendo onde não é chamada... – ela riu-se – Depois terei uma conversinha com ela!

- De forma alguma. Ela deixou bem claro que eu invadi a casa enquanto ela resolvia um problema na cozinha.

- Claro...

Por um breve momento Severo pareceu sorrir... Mas logo o seu rosto fechou-se, e a sua expressão ficou séria.

- O que Minerva lhe contou?

- Sobre os seus motivos de ir à guerra. Sobre a morte do meu tio.

Ele crispou levemente os lábios.

- Sobre isso--

- Não precisa! Minerva me explicou... já passou.

- Mesmo assim, eu peço perdão.

- Eu não tenho do que lhe perdoar, Severo. Sinceramente.

Severo deu um meio-sorriso. Evangeline, suspirou, lembrando de outra coisa que Minerva lhe dissera... e sabendo que aquele era um assunto proibido. Mas aquela parecia ser a única oportunidade que ela jamais teria de falar sobre isso... e pensando assim, mordeu o lábio inferior e disse cautelosamente:

- Ela também me contou sobre a sua vizinha.

Severo imediatamente desviou os seus olhos... Quando Evangeline pensava que ele evadir-se-ia do assunto, no entanto, a sua voz aveludada encheu o quarto num tom pesado, carregado... Sofrido.

- Sabe o que é interessante? – Os olhos negros cravaram-se nos dela... tão transparentes. Ele parecia tão frágil... – No dia do casamento de Lílian eu fui vê-la, da mesma forma que estou fazendo agora. No momento em que a vi, tudo o que eu queria era raptá-la e evitar que aquele casamento acontecesse.

Evangeline mordeu o lábio inferior nervosamente.

- E agora? Você quer fazer o mesmo?

Severo suspirou.

- Não. – Ele desviou novamente os seus olhos. Por um momento, Evangeline pensou que a voz aveludada ficara pesada demais... carregada demais. – Eu quero apenas que você seja feliz. Comigo ou com ele, eu quero que você seja feliz.

Finalmente Evangeline permitiu que uma lágrima caísse dos seus olhos. Apressou-se em enxugá-la com delicadeza, certificando-se que aquilo não estragaria a sua maquiagem.

- Obrigada.

Ele rolou os olhos.

- Não agradeça. Se pudesse escolher, certamente estaria sentindo a vontade de estragar a cerimônia e raptar a noiva; é mais fácil de lidar com esse tipo de sentimento.

Ela sorriu e, lentamente, aproximou-se de Severo. Com as suas mãos delicadas, segurou as dele.

- Eu também te amo, Severo.

Ele suspirou.

- Posso beijar a noiva?

Evangeline assentiu. Lentamente, Severo levou as mãos delicadas encobertas pelas luvas brancas aos seus lábios e as beijou demoradamente... então levou os seus lábios finos aos carmins, demorando-se sobre eles, sentindo o gosto, a textura... sabendo que aquela era a última vez que os sentia. Sentiu dor, como se tivesse ferido de morte, quando os lábios lentamente deixaram os dele, muito embora o seu sabor insistisse em permanecer impregnado em sua boca... Sentiu o seu coração bater descompassado e sentiu o seu rosto contorcer-se num sorriso.

Acariciou o rosto de Evangeline disse:

- Vá. Estão lhe esperando.

Como se tomando coragem Evangeline respirou fundo. Apressou-se à cômoda e pegou o buquê de Lírios. Virou-se para Severo e alisou levemente o vestido.

- Como estou?

- Eu jamais vi uma mulher mais bonita no mundo inteiro.

Ela sorriu.

- Me deseje sorte.

- Boa sorte.

Evangeline respirou fundo novamente, enquanto Severo abria a porta. Do lado de fora, Gabrielle a esperava. A loira lhe sorriu.

- Então?

- Eu estou pronta.

- Severo – Gabrielle disse, olhando-o. – Espere alguns minutos e saia pelos fundos... Não é nada contra você, mas a cerimônia se dará na varanda, então...

Ele assentiu e, rapidamente, Gabrielle tomou a mão de Evangeline e a puxou escada abaixo. Severo ouviu os passos ecoarem cada vez mais baixos... quando, finalmente silenciaram, ele sentiu-se livre para descer, atravessar a sala vazia, sair pela porta dos fundos e adentrar os jardins.

A música que deveria estar conduzindo Evangeline ao altar começou a soar, enquanto ele começava a se encaminhar para o portão...

Mas ele não conseguiu dar mais nenhum passo quando viu Evangeline subir os três pequenos degraus e ir ao encontro do seu noivo... Então ele apenas ficou ali, parado, vendo-a segurar a mão de John...

E viu quando John fez os seus votos... E viu quando Evangeline, com um sorriso no rosto, disse que o aceitava como marido... E viu quando as alianças foram trocadas e o padre os declarava casados... E viu, por fim, quando os lábios dela encontram os de John, selando o compromisso recém firmado.

Ele, de fato, chegara tarde demais.


(1) Imagino que Hagrid tenha ganhado o direito a ter uma varinha, depois da guerra, devido à sua participação.

XxXxXxX


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