à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 17
O Detalhe Mais Perfeito




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/14146/chapter/17

XVII

O DETALHE MAIS PERFEITO

No longo período em que o carro deslizou pelas ruas geladas de Liverpool, nenhuma palavra foi trocada entre os noivos. Evangeline não conseguir falar, tocar ou sequer olhar para John... não enquanto ocupava-se em dedilhar o diamante, que pesava como um fardo no seu anelar direito, e em pensar nas implicações que ele trazia.

Lentamente, depois do que pareceu uma eternidade, o carro foi estacionado em frente à casa da mulher. Os primeiros flocos de neve da noite começaram a cair.

- Você está bem, Evan?

A mulher tentou sorrir, nervosa.

- Estou. É que...

- Você ainda não se acostumou com a idéia?

Dizendo isso, John acariciou levemente o rosto da noiva, obrigando-a a olhá-lo. Na escuridão da noite, os olhos acinzentados brilhavam como faróis, evidenciando que John estava feliz... Era um olhar de pura adoração.

A vontade de Evangeline, era confessar tudo que acontecera na semana anterior e finalmente ficar em paz com a sua consciência... Mas não conseguiu. Não teve coragem de revelar as verdades capazes que tirar o sorriso do rosto daquele homem. Assim, mais uma vez vislumbrando a mentira como a sua única alternativa, disse:

- E, deve ser isso. É um passo muito grande.

- Eu também acho, e isso também me assusta... Mas eu nunca tive tanta certeza de algo. – Ele beijou suavemente o rosto dela. – Tudo o que eu quero é que você seja a minha mulher! Eu até consigo ver a cena: nós dois, morando no subúrbio, começando ter nossos filhos... É isso que você quer, também, eu tenho certeza.

A imagem fez o seu coração acelerar e a sua angústia crescer. Delicadamente, ela o afastou, querendo sair daquele carro tão rápido quanto possível.

- Eu estou cansada, John...

- Tem certeza? Meu plano era passar a noite inteira com você.

- Hoje não... por favor.

John respirou fundo e deu um sorriso triste, mas, como de costume, pareceu compreender a mulher. Gentilmente, acariciou-lhe a mão direita, perto do anel, e lhe beijou suavemente os lábios.

- Boa noite – Ele disse, despedindo-se.

Em fuga, Evangeline imediatamente tirou o cinto de segurança, pegou a sua bolsa e abriu a porta.

- Tchau, John.

- Amanhã de manhã virei te ver.

Evangeline não respondeu, concentrando-se apenas em sair do carro. Do lado de fora, envolta pela brisa gélida, finalmente conseguiu respirar. Sem olhar para trás, ela caminhou lentamente até a sua varanda, não se importando com o frio ou com os flocos de neve que caiam em seu rosto... Por fim, esperou ouvir o som do motor do carro sendo ligado para procurar as suas chaves.

Finalmente, abriu a porta da sua casa. Exatamente como o esperado, Severo estava no sofá, até então concentrado no livro O Senhor das Moscas. Ele não moveu nenhum músculo sequer ao perceber a chegada de Evangeline, mas os olhos negros incrivelmente penetrantes imediatamente encontraram os dela, fazendo todo o seu corpo estremecer.

Enquanto fechava a porta, ela tentou dissipar aquela tensão palpável com poucas palavras:

- Eu acho que--

- Eu sinto muito – Ele subitamente a interrompeu, antes que o seu orgulho o impedisse. Evangeline ficou estática: ele não era o tipo de homem que se desculpava. – Pelo que eu disse essa manhã. Eu estava errado.

Ela suspirou, evitando os olhos negros. Aproximou-se dele.

- Tudo bem.

- Então nó--

- Ele me pediu em casamento.

Os olhos frios recaíram sobre ela, mas, com o seu coração palpitando, Evangeline não teve a coragem de olhá-los. Com a cabeça baixa, ouviu a voz pausada e ligeiramente perigosa soar.

- E?

- E eu disse sim.

Um silêncio mórbido tomou conta daquela sala por longos minutos, até que Evangeline teve coragem de erguer o seu rosto e voltar a mirar Severo. Os olhos negros jamais foram tão intensos; jamais a deixaram tão sem fôlego... Mas o rosto daquele homem era como um quadro em branco – pálido, vazio e totalmente sem emoções.

Ele jamais a intimidara tanto quando naquele momento.

- Eu devo perguntar o motivo, Evangeline?

Ela respirou fundo e com sinceridade tentou se explicar:

- Eu não fazia idéia que ele me pediria em casamento e--

- Eu não tenho certeza se entendi, então me corrija caso eu esteja errado: você foi pega de surpresa e por isso aceitou? Porque não conseguiu improvisar uma resposta diferente?

- Severo...

- No entanto – ele a interrompeu com voz alta –, até onde eu sei, não existem muitas opções de resposta para um pedido de casamento: você diz sim, ou você diz não! O que me leva a crer que você quis responder sim. Então você gosta dessa situação? Estar com dois?

Evangeline fechou os olhos, sem querer brigar. Não tinha condições físicas ou mentais de se exaltar como o fizera naquela manhã. Assim, apenas respirou fundo, magoada, e desabou no sofá, enterrando o rosto em suas mãos. Tentou manter a sua voz calma, apesar da rápida irritação provocada pelas acusações e pela falta de compreensão.

- Como, depois de tudo, você ainda pode pensar que eu quero continuar nessa situação? Será que você simplesmente não me conhece? Eu nunca quis--

- Se eu bem me lembro, foi você quem veio para cima de mim.

- Você queria! – O olhou, fazendo força para não deixar nenhuma lágrima cair dos seus olhos. – Tanto quanto eu! E quando eu disse que acabaria com o meu relacionamento, esse realmente era meu desejo!

- A pergunta que não quer calar é: qual relacionamento você queria acabar?

Evangeline mordeu o lábio inferior. Levantou-se, se aproximando de Severo e segurando o rosto dele num gesto quase desesperado. A expressão do homem imediatamente contorceu-se em fúria.

- Severo, me escute! Eu fiquei encurralada! Eu não tive opções! Por favor, pare de fazer isso comigo... por favor, eu não quero brigar hoje! Não de novo! Não pelo mesmo motivo! Eu vou consertar isso!

Com o mais puro desdém, ele tirou as mãos de Evangeline de si e a afastou, segurando-a pelos pulsos.

- Você não vai, Evangeline. Você vai deixar as coisas exatamente como estão. Você vai dizer que tentou, mas teve pena dele! Você vai dizer que quis, mas não tinha opções! Sempre haverá um mas e, no fim, você simplesmente não vai ter coragem de fazer nada. Você disse que eu não te conheço, mas é justamente o contrário: eu te conheço o suficiente para saber que você vai levar isso até o fim.

E saiu em direção à porta.

- Por que você não pode simplesmente parar aqui e conversar? Se eu tenho todo esse efeito sobre você; se a mera idéia de eu me casar com outro te deixa assim, por que você não pode me dá dois minutos para que eu me explique? Por que você não pode tentar me entender?

- Eu já entendi.

Severo vestiu um pesado casaco negro sobre a sua roupa.

- Aonde você vai?

- Eu acredito que Alexandra esteja me esperando. Vou terminar a minha relação com ela... nos mesmos moldes que você terminou a sua, talvez.

E saiu, deixando uma Evangeline só.

A mulher respirou fundo algumas vezes, tentando impedir que uma lágrima de revolta escapasse pelos seus olhos. Sentiu-se tentada a ligar para John e tentar esquecer o homem complicado e rude que saíra pela sua porta... Mas, no fim, sentiu que a única companhia que lhe faria bem naquela noite era a sua cama... e a garrafa de vinho que lhe esperava na geladeira.

XxXxXxX

Alexandra morava no subúrbio, numa casa grande, espaçosa e ricamente mobiliada. Era tão perfeitamente decorada, que quase lembrava a Severo das casas das famílias tradicionais do mundo bruxo. Naturalmente, nada daquilo fora conseguido com o esforço de Alexandra na modesta “Mil Ervas”; era fruto de um oneroso divórcio.

Quando Severo chegou, imediatamente viu dezenas de pessoas amontoadas nos jardins, envoltas em seus casacos e segurando as suas taças de champanhe, enquanto aproveitavam os fogos que não haviam sido laçados à meia-noite. O negro de suas vestes contrastava com as roupas das pessoas e com o manto de neve que cobria o jardim, mas, ainda assim, ele conseguiu adentrar a festa despercebido por quase todos. De fato, apenas ganhou a imediata atenção de uma pessoa.

Alexandra, logo que o percebeu, deixou o seu grupo de amigos e encaminhou-se à Severo. Ela parecia uma bela estátua de gelo, com o casaco de peles totalmente branco, seus cabelos loiros esparramando-se por ele e a sua pele alva. Um sorriso vacilante desenhou-se em seus lábios.

- Feliz 1999.

Severo quase sorriu, sentindo o ímpeto de tocar a mulher... Mas, quando as mãos longas insinuaram-se em direção a ela, Alexandra esquivou-se.

- Feliz ano novo – ele respondeu.

Alexandra suspirou, bebericando o uísque que trazia consigo.

- O que você está fazendo aqui, Stephen?

Ele ergueu uma sobrancelha, pegando do garçom que passava por eles um copo da mesma bebida âmbar que Alexandra aproveitava.

- Eu imaginei que você daria uma festa.

- Eu não me lembro de ter te convidado, no entanto. Se não me falha a memória, você foi convidado para a festa de Natal e não apareceu. Nem me ligou. Nem deu notícias desde então.

- Faz apenas uma semana.

A mulher desviou os seus olhos dos dele.

- Acho que nós podemos dispensar a conversa constrangedora e fingir que nada aconteceu; fingir que sempre fomos apenas amigos.

- Eu não vim para acabar com você, caso esteja pensando isso.

- Pois devia.

Havia apenas uma coisa que Severo realmente não gostava em Alexandra: ela era transparente demais, e aquilo o afetava. Naquele momento, quando ela o olhou novamente e os seus olhos estavam avermelhados e marejados, ele sinceramente quis sentir por ela todo o desejo que sentia por Evangeline.

- Como está Evangeline?

Ele crispou os lábios tomando um gole da sua bebida.

- Não sei. Provavelmente com o noivo.

- Noivo... Eu jamais pensei que ela se tornaria noiva de John.

- Já eu, sempre soube que sim.

Os olhos azuis de Alexandra o procuraram.

- E o que você vai fazer agora?

- Sobre?

Ela rolou os olhos.

- Stephen, se você tivesse a mínima noção do quão óbvios os seus sentimentos por Evangeline são, não faria essa pergunta idiota. – Ele abriu a boca para protestar, mas Alexandra o interrompeu. – E não venha dizer que ela é sua sobrinha: eu sei que não.

Severo estudou Alexandra por um momento, imaginando como aquela mulher conseguira lê-lo com tanta facilidade. Sabendo que seria muito indigno continuar mentindo, ele apenas bufou.

- Agora? Ela está noiva.

- Mas vocês ficaram juntos. Acredite, digo por experiência própria: namorado, marido ou noivo, todos são os mesmo na hora de trair.

- Eu nunca disse--

- É a única coisa que explica o sumiço durante os últimos cinco dias. Eu tentei ligar para a casa de Evangeline, mas estava desligado. – Ela deu um meio-sorriso. – É sério: está tudo bem.

Severo a olhou com admiração, surpreso pela atitude de Alexandra e reconhecendo nela uma maturidade masoquista que jamais lhe creditaria. Surpreendentemente, ele preferiria que ela fizesse um escândalo, como esperado de qualquer mulher traída; dessa forma seria mais fácil despedir-se dela sem remorso.

- Faltei com respeito a você e, por isso, eu peço desculpas.

Alexandra fechou os olhos e respirou fundo.

- Eu sempre soube que isso aconteceria. Não se desculpe.

- Você tem todo direito de ficar--

- Mas eu não estou. Quer dizer, eu estou furiosa, claro; é normal... Mas eu traí o meu ex-marido há alguns anos, então acho sei pelo que vocês passaram. Eu posso ter todos os defeitos do mundo, Stephen, mas hipocrisia não é um deles. Eu entendo vocês. – Ela suspirou. – Então responda: o que você vai fazer agora?

Severo deu de ombros.

- Nada. Evangeline se comprometeu a passar a vida ao lado dele, e ela cumpre as suas promessas. Eu não posso fazer muito contra John Anderson, o homem perfeito. – Seus lábios torceram-se numa curvinha sarcástica ao lembrar-se da conversa que tivera com Evangeline no dia em que eles fizeram amor. – E eu sou apenas o defeituoso Sr. Darcy.

- Bem... Bridget Jones ficou com ele, e não com o perfeito Daniel Cleaver!

Severo franziu o cenho.

- O que?

- Oh! – Alexandra riu-se. – Você está falando de Orgulho e Preconceito, claro! Você jamais gastaria o seu tempo em algo como O Diário de Bridget Jones! Isso é coisa para mentes mais simplórias, como a minha... De qualquer forma, a situação encaixa-se bem em O Diário; John está longe de ser perfeito.

- Como?

- Ele também te enganou?

Severo ergueu uma sobrancelha.

- O que você quer dizer com isso?

- Meu ex-marido é advogado; John trabalhava com ele, na firma do meu ex-sogro, então eu o conheço há uns dez anos. John é provavelmente a pessoa mais manipuladora que eu conheço. Ele é o melhor em joguetes psicológicos e costuma conseguir tudo o que quer. Se você não tirá-lo do caminho, ele passará por cima de você. Ele sabe como fazer isso.

- Por que você está me dizendo isso?

Alexandra suspirou pesadamente e tentou sorrir.

- Porque eu gosto de você. Apesar de tudo, eu gosto muito de você, Stephen. E, se você está apaixonado por ela e ela por você, quem sou eu para impedir que algo aconteça? – Ele não conseguiu responder àquilo. – Bem... aproveite a festa! Você sabe que é bem-vindo aqui. – Ela sorriu. – Eu tenho que cuidar dos meus convidados.

Dizendo isso, Alexandra voltou à balbúrdia da festa, deixando-o só.

XxXxXxX

As festas de Alexandra tinham a fama de jamais terminarem antes do amanhecer... E a grande festa que comemorou a chegada do ano de 1999 jamais poderia ser diferente. Assim, mesmo com o dia já claro, ainda haviam por volta de quinze pessoas na casa da mulher.

Naturalmente, todos os convidados remanescentes estavam embriagados e, em voz alta, conversavam sobre bug do milênio, apocalipse e futebol – fosse a vitória da França na Copa do Mundo ou as chances do Liverpool no campeonato europeu.

Severo, no entanto, apenas esquivava-se das conversas fúteis, bebericando o seu uísque e esperando que a única pessoa ligeiramente sóbria fosse lhe fazer companhia... Mas Alexandra preferiu passar a madrugada longe dele, apenas se aproximando naquele momento.

- Sobre Orgulho e Preconceito: sempre me revoltou o destino de Caroline Bingley! Ela apenas queria a atenção do Sr. Darcy! Ela também o ama e também merece ser feliz.

- Por que você está falando isso?

- Eu apenas quero que você se lembre disso... Caso não dê certo com Elizabeth! – Suspirou. – São quase nove da manhã. Eu acho que vou começar a expulsar o pessoal.

- Você está começando por mim?

Alexandra deu um sorriso divertido.

- Bem... Sim.

Severo, da maneira discreta e disfarçada que lhe era peculiar, sorriu de volta. Deixou que a mulher viesse ao seu encontro e depositasse em seu rosto um carinhoso beijo, antes de lhe entregar o copo de uísque e deixar a casa.

Uma grossa camada de neve cobria Liverpool naquela manhã. Mas, enquanto ele fazia o longo caminho até o metrô, não era no frio que ele pensava: as palavras de Alexandra não saiam da sua cabeça. Severo sempre achara que sabia julgar as pessoas; como, então, o que ela dissera sobre John poderia fazer sentido?

Durante o seu caminho, ele analisou todas as ações e palavras já diferidas por John; todas que ele podia se lembrar... Mas não achou nada. Nada que pudesse mudar a sua opinião a respeito daquele homem.

Mal sabia ele, que não demoraria a encontrar tais motivos.

Quando Severo finalmente chegou em casa, já chegara à conclusão que o que Alexandra expressara era tão-somente uma implicância; mas que o que fora dito sobre tirar John do caminho antes que ele expulsasse Severo totalmente da vida de Evangeline fazia total sentido. Assim, pronto para seguir os conselhos surpreendentes de Alexandra e fazer as pazes com a morena, ele entrou em casa.

Mas o que ele encontrou não era o previsto ou o querido: esparramado no sofá, John confortavelmente lia o jornal. E, assim que o viu, sorriu-lhe.

- Severo, oi!

A surpresa o fez emudecer, enquanto fechava a porta atrás de si. Severo sentiu um antigo ódio aflorar, junto com a necessidade bruta de querer fazer mal... de querer ferir o inimigo.

- John. – Cumprimentou friamente. Mas o homem não pareceu perceber a hostilidade. – O que você está fazendo aqui?

O sorriso de John abriu-se.

- Eu dormi aqui.

- Dormiu?

- Ora, Severo, você sabe que a sua sobrinha não é mais uma criança. Eu a pedi em casamento, ela aceitou, nós comemoramos! Simples assim.

- Eu ainda estava aqui quando ela chegou em casa. Ela estava sozinha.

- Sim, mas ela me telefonou. Disse que pediu que você saísse de casa para podermos ficar juntos... obrigado por isso, à propósito.

Ele respirou fundo, controlando seus pensamentos. Lentamente, sentou-se ao lado daquele que tinha acabado de declarar como inimigo. Os olhos negros jamais deixando os olhos acinzentados, como um animal prestes a abater a sua presa.

- Você me agradece?

- Sim. Tive uma noite maravilhosa.

Os olhos estreitaram-se.

- Imagino que sim.

- Algum problema?

Os lábios finos se crisparam, numa tentativa de disfarçar a curva maldosa que se formava. Os olhos negros, no entanto, não disfarçaram, brilhando perigosamente.

- Não. Apenas acho estranho...

- O que?

- Evangeline ter aceitado se casar com você.

John calou-se por um tempo, antes de perguntar:

- Por quê?

- Apenas você não percebeu, John: eu não sou tio de Evangeline. Nem primo. Ou parente de qualquer grau. Sou apenas um homem solteiro, que passou todos esses meses ao lado de uma mulher atraente. – Riu-se. – Agora, por que você não junta dois mais dois e começa a imaginar o que acontecia nessa casa quando você não estava?

O rosto de John, no entanto, não expressou surpresa, dor ou ódio, como Severo pensou que ocorreria. Ao contrário, tornou-se duro de uma forma que ele jamais pensaria ver naquele homem. Os olhos cinzas empalideceram, de uma forma que muito lhe lembrou os olhos de Lúcio Malfoy, quando prestes a matar.

Mas Severo apenas o encarou, sustentando um olhar tão frio quanto, sem medo ou vergonha. Afinal, na guerra você tinha que ser impiedoso... E o que era o amor, se não uma grande, sangrenta e violenta guerra?

- Ao contrário do que você pensa, Severo – A voz fria de John cortou o silêncio –, eu não sou tão ingênuo. Eu já havia imaginado que as suas intenções aqui não eram boas.

Severo rolou os olhos, acentuando a sua máscara fria e recostando-se no sofá.

- Intenções? Você não me ouviu?

- Eu ouvi. E acredito que, o que quer que tenha acontecido entre vocês, você aumentou e encheu de malícia. Ao contrário de você, eu conheço Evangeline. Eu conheço o seu caráter e eu conheço o respeito que ela tem por si e pelos outros. E, se algo realmente chegou perto de acontecer, você deveria tratá-la com mais respeito.

Ele considerou o que o seu rival dissera, sabendo que ele estava certo. Mas o sorriso sarcástico no canto dos seus lábios não morreu. E, com o mesmo tom ferrenho, ele disse:

- Acredite no que lhe convir.

- O que convém acreditar é que ela vai se casar comigo. É que ela vai ficar comigo para o resto da vida, e você vai ficar só. Então, não importa o que houve: eu ganhei.

- Isso não é uma competição.

Foi a vez de John de sorrir.

- Não é? Porque você acha que eu fazia questão de exibir a você a minha felicidade? O que você acha que, naquele dia, eu fui fazer na biblioteca? Eu apenas entrei lá porque te vi! E eu queria mostrar que estava na frente da disputa. Você foi o único que não percebeu. Isso se tornou uma competição há muito tempo, Severo. Eu não acreditava que você fosse o ingênuo.

Por um momento, Severo ficou sem fala, apenas vendo o homem se levantar e encaminhar-se para a porta. Ele já havia a aberto, quando ele finalmente pôde dizer:

- Parabéns, então.

John virou-se.

- Obrigado.

- Pelo menos eu tenho o meu prêmio de consolação: sempre que fechar os meus olhos, poderei visualizar o... Como você chama? Ah! O “detalhe mais perfeito”.

John pareceu perder o ar por um instante.

- O que você disse?

- O detalhe mais perfeito. É assim que você costuma chamar aquelas três adoráveis pintinhas que Evangeline tem perto do umbigo, não?

- Como você--?

- Eu preciso ser mais óbvio? Eu dormi com ela. – A curvinha infame acentuou-se. – Acredita, agora?

John não respondeu, apenas virando-se e, como um raio, saindo.

XxXxXxX


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "à Eternidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.