à Eternidade escrita por GabrielleBriant


Capítulo 11
Naquele Momento




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XI

NAQUELE MOMENTO

Ela não sabia se estava dormindo ou se estava acordada... Mas a sonolência a dominava, enquanto lembrava da figura nas folhas de chá... Eternidade. Era um longo tempo.

Uma mudança em sua vida... a mudança podia ser Snape, que logo que chegara e mudou tudo em que ela acreditava ser verdadeiro. No entanto, por outro lado – e numa hipótese terrível – a mudança poderia também ser a chegada da incerteza sobre os seus próprios sentimentos. De qualquer forma, qualquer que fosse a tal mudança eterna, mais parecia para Evangeline uma maldição.

Você faz o seu próprio destino”.

Ela suspirou pensando nas palavras de Minerva e esperando que ela estivesse certa... E, com isso, fechou novamente os olhos. Se ela dormiu ou não, jamais soube; mas logo se via ser expulsa do seu estado de letargia por duas batidas leves na porta do seu quarto.

Lentamente ela se levantou e abriu a porta. Considerando que eles eram as únicas duas pessoas na casa, não ficou surpresa ao ver, do outro lado, Severo.

- Sim?

Ele não a olhou... e procurou não olhar também para o quarto. Parecia extremamente embaraçado por estar invadindo a privacidade daquele cômodo.

- Eu não quis lhe acordar. Desculpe.

- Eu não estava dormindo.

Severo assentiu.

- Eu apenas vim avisar que estou de saída.

Evangeline respirou fundo, sentindo o seu estômago afundar.

- Obrigada por avisar. De que horas você volta?

- Eu não sei.

- É que... – talvez ainda fosse o sono... mas, naquela hora, Evangeline achou que não tinha nada de mal se fizesse a ele aquela pequena revelação. – Eu me preocupo. Com você.

- Ah. – Ele olhou fixamente para o chão. De repente, não tinha mais tanta vontade de sair com Alexandra. – Não precisa. Eu sei me cuidar.

Ela assentiu. Os olhos castanhos lentamente começaram a focalizá-lo à medida que ele se afastava... Evangeline apenas não previu que ele daria meia-volta. Os dois pareceram perder o fôlego quando os olhares finalmente se cruzaram.

- Evangelin--

- Sim?

Severo parou... havia tanto que ele queria dizer. Ele queria dizer que, se ela quisesse, ele ficaria; queria dizer que ele a desejava; queria dizer que ele--

Mas nada disse. Apenas controlou os seus pensamentos e os seus sentimentos...

- Nada.

...E saiu.

XxXxXxX

- Por que você não está aqui, Stephen?

Severo olhou para o rosto sorridente de Alexandra enquanto parava o carro na frente da casa dela.

- Como?

A loira inclinou-se e deu um beijo leve no rosto dele.

- Você está longe... não falou quase nada durante a noite.

- Eu nunca falo muito, caso você não tenha percebido.

Alexandra deu uma risadinha abafada, mas o seu semblante não tinha nada de divertido. Lentamente, ela tirou o cinto-de-segurança e mordeu o seu lábio inferior antes de, incerta, dizer:

- Stephen, eu queria lhe fazer uma pergunta. – Distante, Severo apenas fez um barulho baixo com a garganta, anuindo. – Evangeline é mesmo a sua sobrinha? – E, pela primeira vez na noite, Alexandra ganhou toda a sua atenção. – Ela realmente é filha do seu irmão?

- Sim – ele respondeu, fingindo indiferença.

A mulher suspirou pesadamente.

- Ainda bem.

- Por quê?

- Porque isso é a única coisa que me faz acreditar que você não está apaixonado por ela.

Severo piscou duas vezes, genuinamente surpreso com o que a loira acabara de dizer.

- Por que você pensaria isso?

- Pelo jeito que você a olha, sua linguagem corporal quando está perto dela, pela maneira que os seus olhos brilham quando você fala nela, pela raiva latente que eu percebo em você todas as vezes que John é mencionado...

Severo tentou colocar em seu rosto a mais sarcástica das expressões... Mas, por dentro, todas as palavras que Alexandra acabara de dizer lhe trouxeram um turbilhão de sentimentos, fazendo-o finalmente perceber coisas que, até o momento, ele não quisera ver.

- E como você percebeu tudo isso?

- Observando. É fácil perceber, Stephen... pois é exatamente assim que eu me sinto com você.

Ele ficou estático, mais uma vez sendo surpreendido pelas palavras de Alexandra. A surpresa foi tanta que, quando voltou a si, a mulher já havia descido do carro e adentrava a sua casa, deixando-o sozinho.

Tentando não pensar, ele dirigiu pelas ruas vazias de Liverpool, até que chegou à casa de Evangeline. Tentou ser silencioso ao estacionar o carro e ao descer... tentou silenciar as palavras de Alexandra, que ainda ecoavam em sua mente, dizendo que aquilo tudo era apenas uma atração...

Mas, ao abrir a porta e ver Evangeline adormecida no sofá, coberta com uma manta grossa e com o seu rosto banhado pela luz da televisão ainda ligada, ele não conseguiu evitar a onda de calor que inundou o seu coração...

Severo não conseguiu controlar os seus passos que, lenta e silenciosamente, o levavam para perto dela... Suavemente a mão grande e fina desceu para o rosto da mulher. Um rosto tão pacífico e belo... Ele acariciou levemente, colocando uma mecha dos cabelos castanhos atrás da sua orelha.

Evangeline mexeu levemente o rosto e os seus lábios curvaram-se num breve sorriso... como se ela tivesse em meio a um sonho bom. Severo também sorriu, sem nenhuma máscara.

Sequer cogitou controlar as suas pernas quando elas se ajoelharam ao chão... E nem quis controlar os seus lábios quando lentamente, levemente, carinhosamente, depositaram um beijo suave na testa de Evangeline. Os seus olhos que se fecharam ao sentir a textura macia da pele dela, tão quente contra os seus lábios...

Severo passou um tempo parado, beijando-a... até ouvir um grande suspiro. Lentamente, afastou-se e olhou os olhos sonolentos de Evangeline se abrirem.

Com a voz afetada pelo sono, ela falou:

- Eu disse que ia ficar preocupada...

Ele riu, levantando-se e segurando-a no colo.

- Está tarde...

Ela era tão leve e, quando o abraçou e recostou a cabeça em seu peito, ele sentiu que os corpos mereciam estar juntos. Eles se encaixavam perfeitamente e... ele apenas precisou abaixar um pouco a cabeça para sentir o perfume inebriante que provinha dos cabelos dela... Sem querer, deixou que o seu coração acelerasse.

A porta do quarto dela estava aberta e logo ele a depositava delicadamente na cama. Evangeline o olhou ternamente e as mãos pequenas foram ao rosto de Severo e o acariciou lentamente.

- Obrigada.

Ele sorriu mais uma vez e deixou o quarto. E foi apenas naquele momento que Severo soube que Alexandra tinha razão: ele se apaixonara.

XxXxXxX

O barulho estridente do seu telefone celular foi o que acordou Evangeline no dia seguinte. Ligeiramente sobressaltada, ela sentou-se em sua cama e pegou o aparelho.

- Alô?

“Evangeline Redfield, não pense você que poderá vir à minha casa e desfrutar da minha festa se não me ajudar! Os gêmeos estão me enlouquecendo, Murillo é um inútil que não sabe fazer nada além de ver o jogo de rugby enquanto toma a cerveja que eu tenho que levar para ele, mamãe – como você sabe – mais atrapalha que ajuda e a minha irmã decidiu que era mais proveitoso passar o dia com o noivo do que ficar atulhada na minha cozinha! Eu realmente preciso de você!”

Evangeline piscou algumas vezes, tentando encontrar sentido nas palavras que foram ditas tão rapidamente.

- Oi... Gaby.

“Eu acabei de ligar para a sua casa e falei com o seu tio-que-não-é-tio! Ele me disse que você estava dormindo! O que eu acho um absurdo, tendo em vista que eu tenho que dar de mamar com uma mão e mexer as panelas com a outra! Por favor, Evey, será que você não pode vir me ajudar?”

- Ok... estou indo...

E, sentindo um pouco de dor de cabeça, ela desligou o telefone. À medida que despertava, começava a lembrar, ainda que muito vagamente, o que acontecera na noite anterior: ela no colo de Severo, sendo carregada para o seu quarto numa cena quase nupcial...

Sentiu um leve arrepio ao lembrar do cheiro másculo que ele exalava... O seu coração acelerou tanto que até achou bom ter que ajudar Gabrielle na festa; seria uma boa desculpa para sair de perto de Severo.

Logo que estava pronta, desceu... para ter a não tão agradável surpresa de encontrar, ao pé da escada, Alexandra.

- Evan! Estávamos falando de você! Soube que você dormiu na sala, ontem... Não precisava: o seu tio estava em boas mãos!

Evangeline tentou sorrir.

- Eu tenho certeza que sim! Eu tenho que ir, me desculpe...

E não olhou para Severo quando saiu.

Não demorou muito para chegar à casa de Gabrielle. E nem para perceber que a amiga não disfarçara a sua aflição ao telefone: exatamente como descrito, a casa estava um caos: os gêmeos, nascidos há pouco mais de seis meses, choravam desesperadamente – um no colo da avó e outro nos braços da mãe que, sem sucesso, tentava mexer o molho do peru e acalmar o filho. Longe de tudo, tranqüilo, Murillo, marido de Gabrielle, tomava uma cerveja e assistia rugby com o sogro.

- Evey! – Ela ouviu a mulher gritar assim que a viu. Logo largou as panelas e correu ao encontro da amiga. Praticamente jogou a criança em seus braços. – Aqui! Segura a Angelina enquanto eu termino o molho! Você não tem idéia de como você vai me ajudar hoje! Tem um vinho gelado na geladeira... por favor, sirva duas taças! Ah! E ela deve estar morrendo de fome! A mamadeira está ai em cima!

Sobre a mesa, Evangeline viu a mamadeira. Logo que o bebê começou a ser alimentado, calou-se.

- Eu pensei que teria mais gente aqui...

- Teria! Mas foi como eu disse: Anna quis ficar com o noivo, e eu imaginei que você traria o seu namorado para ajudar! Não deu para chamar ninguém de última hora... Pode entregar Angelina para papai depois que ela comer... ele só consegue segurá-la quando ela está quieta. – Evangeline assentiu. Gabrielle deu um breve sorriso para ela e bufou exasperada, tirando os cabelos loiros de frente do seu rosto ligeiramente suado. – MAMÃE! POR DEUS, TROQUE A FRALDA DE WILLIAM!

Evangeline tentou rir enquanto, um tanto desajeitada, alimentava Angelina. Assim que a criança terminou, foi à sala e entregou-a ao pai de Gabrielle, finalmente podendo ajudá-la com a refeição.

- Então – a sua amiga disse – o vinho, por favor! Eu estou precisando!

Evangeline deu um meio-sorriso enquanto servia duas taças.

- Eu também estou precisando...

- Ah! – Gabrielle olhou-a. – Deixe-me adivinhar: você está pensando no tal Severo e em Alexandra, certo?

- Como você sabe sobre eles? – Ela perguntou, tomando um grande gole do seu vinho.

- Alex me contou! Ela não é boa em guardar segredos.

A morena deu de ombros, começando a cortar algumas verduras.

- Eu acho ótimo que eles estejam juntos.

- Quem você quer enganar? A mim ou a você? Te conheço desde sempre, Evey! Você está odiando essa situação!

Evangeline olhou para a amiga e, num ímpeto, decidiu falar tudo que veio à sua mente... Gabrielle era a única, além de Minerva, que conhecia toda a situação. Não faria mal nenhum desabafar um pouco.

- Ok. Talvez eu esteja! Odeio quando Alex vai à minha casa, odeio quando ela fala com ele, odeio quando ele sai com ela e, principalmente, odeio me sentir afetada por isso! O que eu posso fazer?

- Nada. Você não pode mandar na vida dele, e nem na dela! Especialmente apenas por que você tem essa... atração.

- Então me diz como não pensar nisso?! Ela estava lá em casa essa manhã, Gaby! Eu não posso viver assim!

- Bem, você sempre pode recorrer ao nosso bom e velho amigo – E, dizendo isso, ergueu a sua taça de vinho e entornou todo o seu conteúdo.

Evangeline apenas virou os olhos e repetiu o gesto da amiga. Em seguida, encheu as duas taças novamente.

- Eu não sei porque ainda sigo os seus conselhos, Gaby... Realmente não sei!

XxXxXxX

E ela realmente seguiu o conselho de Gabrielle. Quando o jantar finalmente terminou, nem Evangeline e nem a amiga sabiam quantas garrafas haviam sido consumidas por elas. No fim, Anna acabou dormindo no sofá, enquanto o pai dela tentava por Gabrielle, a filha mais velha, na cama... e Murillo, o marido, foi o responsável por levar Evangeline em casa.

- Eu preciso do meu carro... – Ela disse com a voz levemente alterada.

- Amanhã a Gaby vem deixar aqui. Você precisa dormir, Evey!

Ela bufou e rolou os olhos, abrindo a porta do carro. Por duas vezes ela tentou sem sucesso descer; isso antes de Murillo tirar o cinto-de-segurança dela.

- Precisa de ajuda?

- Não... estou bem!

O homem deu um longo suspiro e ficou vigiando enquanto Evangeline descia do carro e, com passos trôpegos, encaminhava-se para a sua porta

Teve uma certa dificuldade para encaixar a chave na fechadura, mas assim que conseguiu e destrancou a porta, voltou-se para Murillo e deu um tchauzinho. O homem logo deu a partida em seu carro e afastou-se da casa de Evangeline.

Rido-se, Evangeline abriu a porta... e paralisou ao ver Severo no sofá, assistindo televisão.

- Você me esperou?

O homem se levantou lentamente, talvez um tanto apreensivo.

- Não. Ainda são nove e meia da noite.

- Oh...

E, lutando para se manter equilibrada, Evangeline encaminhou-se até onde Severo estava... antes que ele pudesse opor qualquer tipo de resistência, as mãos pequenas tocaram suavemente o rosto dele e os seus lábios colaram-se aos dele.

Naquele momento, ela também soube.

XxXxXxX


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