Porta 54 escrita por That Crazy Lady


Capítulo 13
Explicação




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Doze horas antes

Pekkala não era exatamente o que se podia chamar de mestre feiticeira.

Quero dizer, sua educação tinha sido um tanto quanto “pela metade”, se levarmos em conta que a irmã que lhe ensinava magia tinha sido queimada na fogueira logo que Pek fez 14 anos. Entretanto, a vida geralmente é uma professora melhor do que jamais esperamos, e por isso ela sabia que estava sendo seguida enquanto descia os degraus da masmorra.

Não seguida seguida. Os passinhos hesitantes de seu perseguidor mostravam que este não tinha experiência alguma em tentar ser discreto quando estava na presença de feiticeiros de sentidos aguçados. Mas, ainda assim, aonde quer que Pekkala fosse o perseguidor inexperiente ia atrás.

E era exatamente isso o que ela queria.

Sabia que era uma jogada arriscada, e que provavelmente perderia a vida caso desse errado. Mas tinha que tentar. A reta final de um jogo sempre é muito perigosa, e exige esse tipo de estratégia para se ter sucesso.

Por isso, quando Pekkala terminou de descer as escadas e dispensou o guarda, rapidamente tirou algo enrolado em um pano de dentro da bolsa e estendeu o objeto para dentro de uma das celas.

- Tome. Roubei um pouco de pão e bolo da cozinha. Sei que não te alimentam muito bem aí dentro.

Trivel puxou a comida para dentro, desdobrou o pano com as mãos tremendo e começou a enfiar tudo na boca. Quando finalmente tomou fôlego, disse com a voz tremendo:

- Obrigado, tia.

- Não foi nada. – Pekkala sabia que esta era a deixa. Mordeu o lábio inferior, respirou fundo e disse, sem olhar para trás: – Por que não sai das sombras e se junta a nós, Clysse?

Alguns segundos em silêncio. Então, a princesa saiu lentamente do cantinho em que estivera escondida, mas não se aproximou. Parecia assustada.

- Você é... Tia dele? – perguntou. O tom de voz ligeiramente em pânico mostrava que ela gostaria de estar em qualquer outro lugar. – Tia do homem que matou o meu noivo?

Pek observou Clysse, então sorriu.

- Você o chama de homem... Ele não cresceu tanto, cresceu? Tem só 14 anos.

Clysse estava em total estado de choque. Era a primeira vez que Pek a tratava como “você”, ou que dizia que tinha um sobrinho, ou que esse sobrinho era um feiticeiro assassino de 14 anos. O que estava acontecendo?!

- Sente-se – a moça chamou com delicadeza. – Eu não mordo. Trivel talvez, mas tudo bem, ele está seguro dentro da cela.

A princesa hesitou por um segundo. Então avançou timidamente e sentou-se a alguma distância de Trivel e Pekkala, como se resguardasse aquele pequeno espaço para uma potencial fuga.

- Clysse, Trivel – Pek fez as apresentações. – Clysse é a princesa de Kae, e minha ama. Trivel é meu afilhado, sobrinho e acusado de assassinato com feitiçaria.

Nenhum dos dois disse “prazer”. Não era.

- Eu... Pek, eu não entendo – a princesa disse, erguendo o rosto para observar a criada. – Você... Eu pensei que você tivesse vindo do deserto ocidental. Como o conheceu? Como ele pode ser seu sobrinho?

Clysse então baixou o olhar discretamente. Não era o que ela queria perguntar. Precisava desesperadamente fazer A pergunta, mas tinha tanto medo!

- E o que uma coisa tem a ver com a outra? – Pek perguntou com os olhos brilhando gentilmente.

- Eu... Pensei que feiticeiros só vivessem nas grutas...

- Isso é o que eles querem que você acredite. Aliás, não tem feiticeiros nas grutas. Eu já fui lá.

Poucos segundos de silêncio.

- Pek, você é uma feiticeira? – Clysse soltou por fim em uma vozinha abafada.

Momento delicado. Pekkala discretamente passou a tranca na porta com um bom e velho encantamento silencioso.

- Isso mudaria quem eu sou?

Era uma confirmação mais óbvia do que um “Sim!”. Porque um “Sim!” ainda pode vir seguido de um “... HAHA, caiu como um patinho!”, mas um “Isso mudaria quem eu sou?”? Não. Bastou para a princesa. Ela enterrou o rosto nos braços e pareceu soluçar.

- Ah, que ótimo. Agora a Srta. Mimada vai começar a chorar – Trivel disse em um tom nada agradável. – Por que a trouxe aqui, hã? Ela não vai nos ajudar. Vai só correr para o papai e ir contar que você é uma feiticeira também!

Clysse, como uma boa madame passiva, apenas aumentou o volume do choro. Pekkala fuzilou o sobrinho com o olhar, mas continuou inalterada.

- Vocês precisam saber. Vocês dois. Eu sinto... Sinto que serão a continuação para algo muito importante. Uma garota de nome estranho também. Sem vocês, o destino não conseguirá seguir seu caminho.

A princesa espiou de trás dos dedos. Seu rosto estava lavado de lágrimas.

- Sente?...

- Minha tia se especializou na arte da adivinhação – Trivel explicou rapidamente. – O que você viu, tia Pek?

Ela balançou a cabeça.

- Ver? Eu jamais poderia ver isso, Trivel. Eu descobri.

Trivel a observou de forma surpresa, como se não esperasse que houvesse algo que sua tia não pudesse ver.

- O que vou contar agora – ela continuou – é de máxima importância e deve ser mantido em extremo segredo. Clysse, você deverá contar apenas quando for a hora certa, mas precisa dizer que foi Trivel que revelou-lhe esse segredo, pois eles não podem saber que estive envolvida. Promete?

A princesa balançou afirmativamente a cabeça.

- Pois bem.

“Meus planos iniciais não eram vir para o castelo. Quando eu, Larin e Cat viemos para o norte, estávamos na verdade caçando uma presença maciça de magia que senti. E qual não foi a minha surpresa quando descobri que ela se estabelecia justamente no castelo!

“Fiquei animada. Talvez pudesse pedir ao feiticeiro que a exalava para me aceitar como sua aprendiz, e então continuar o treinamento que sua mãe, Trivel, interrompeu. Mas ficou muito claro que as coisas não funcionariam assim.”

Pekkala calou-se. Trivel esperou alguns segundos, então perguntou ansioso:

- Por que não?

- Porque o feiticeiro que a exalava – Pekkala continuou – era seu pai, Clysse.

A princesa arregalou os olhos e levantou-se imediatamente.

- Está mentindo.

- Não, não estou – Pekkala respondeu, levantando-se também e tentando manter Clysse calma. – Que motivos eu teria para mentir para você?

- Você... Eu... Eu descobri que você é uma feiticeira! Só está falando isso para que eu não te dedure para meu pai!

- Clysse, é claro que não. Escuta, eu sabia que você estava vindo, eu queria que você soubesse para que pudesse...

- Dar continuidade ao destino? – Clysse estava histérica agora. – BESTEIRA! Você quer libertar seu sobrinho! E quer que eu ajude! Eu sei que é isso! – Ela virou-se para a porta e começou a sacudi-la violentamente. – Deixe-me sair! Deixe-me sair!

- Não, não deixo – Pekkala disse então. Ela arrumou a postura e olhou Clysse de cima. – Abra-a por si mesma. Seu pai é um feiticeiro, não é? Isso faz de você tão mágica quanto ele.

Clysse estava em prantos. Continuou sacudindo a porta de forma violenta, até que, por fim, a tranca moveu-se sem nenhuma explicação aparente. A princesa, horrorizada, afastou-se até se encolher em um canto.

- Não pode ser – repetia em uma vozinha chorosa. – Não pode ser.


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Notas finais do capítulo

Eu não gostei muito desse capítulo D:
Talvez o reescreva qualquer dia desses.



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