Porta 54 escrita por That Crazy Lady


Capítulo 12
Verdade




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Catarina estava escondida atrás de uma moita, e seus olhos negros percorriam a extensão do grande muro de pedras brutas que cercava o castelo do rei Dricon. Ela, particularmente, não entendia como todos os habitantes simplesmente aturavam uma monarquia que, levando em conta o grande número de assassinatos mágicos, não dava exatamente certo. Se fosse ela, já tinha movido o pessoal para impor democracia.

Mas ela era Catarina. Não contava.

A noite caíra havia pouco tempo. Ela achava que não conseguiria enxergar nada no escuro, mas surpreendentemente havia muitas vantagens em ser a Alice. Chess passara algum tempo as explicando, mas ela não podia ficar lembrando de todas naquele momento. Assim que recebesse o sinal, teria que correr, correr, correr mesmo!

Então voltou sua atenção para o topo do muro, onde um vigia noturno fora derrubado silenciosamente e a resistência erguera uma escada. Eles haviam invadido em poucos segundos.

Catarina suspirou e se sentou atrás da moita. Ficar agachada machucava seus pés e era cansativo. Se tudo saísse como Kiera prometera, ela teria que esperar um bom tempo ali no meio do mato antes de realmente ter que fazer alguma coisa, então não fazia mal ficar confortável até lá.

- Já decidiu o que vai fazer?

A garota revirou os olhos.

- Sabe, quando Alice disse que você estaria perto de mim sempre que eu precisasse, eu achei que fosse quando eu precisasse – ela reclamou. – Por que vive colado em mim?

Ele continuou sorrindo.

- Eu sei que você me ama.

- É, certo.

Catarina abraçou as pernas e repousou o queixo no joelho. Suspirou. As grandes bolsas escuras sob seus olhos mostravam que estava cansada.

- Falta pouco agora, não falta, Chess? – perguntou quebrando o silêncio. – Depois que terminar aqui, vou poder voltar para casa. Minha mãe deve estar preocupada.

Cheshire virou a cabeça 90° e observou Catarina melhor.

- Algumas pessoas costumavam dizer que o gato que acompanha as Alices tem poderes de vidente – ele comentou. A garota deixou de observar o castelo por um instante para prestar mais atenção. – Na verdade, não tenho. Estou tão ligado à sua natureza que me tornei uma parte de você, Catarina. Por isso sempre estou com você. E, como parte da sua natureza, eu sei tudo o que você sabe. Mesmo o que pretende ignorar.

- Deixe-me adivinhar – ela disse. – Por isso os supostos poderes? Por saber tanto quanto a Alice? Isso é um pouco ridículo, você sabe. Principalmente porque sabe mais do que eu.

Chess piscou, e sorriu enigmaticamente.

- Mesmo o que pretende ignorar – repetiu.

Catarina franziu a testa. Essa coisa de filosofar não era para ela.

Então, de repente, uma luz extremamente forte e azulada subiu pelo céu. Era o sinal.

- Está na hora!

Ela se levantou rapidamente e desceu a ladeira correndo, ignorando as plantas rasteiras que de vez em quando se agarravam aos seus sapatos. Como planejado, o portão principal estaria aberto para que Catarina pudesse correr diretamente para a Sala do Trono; e foi o que fez, com passos fortes, longos e rápidos que a faziam suar e ofegar como nunca. O pátio estava cheio de pares de luta que cruzavam espadas e faziam voar faíscas, e Catarina viu duas garotas baixinhas acompanhadas de uma mais alta correndo com porquinhos alados ao lado.

Quando conseguiu se desviar de todos os guerreiros, entrou no castelo e seguiu as instruções de Kiera. Apesar de ser difícil de lembrar-se de como chegar à Sala do Trono e fugir de flechas e feitiços perdidos que quicavam pelas paredes ao mesmo tempo, Catarina achou que se saiu relativamente bem.

Escorregou em uma esquina, abaixou-se sob a mureta, entrou correndo na porta com as enormes portas escancaradas e ouviu-as se fecharem atrás de si. Então, apoiou as mãos nos joelhos e tomou fôlego.

- Vamos começar logo com isso – Kiera rosnou para o rei sentado ao trono.

Ao ouvir isso, Catarina se deu conta de que tinha um trabalho para fazer e não poderia ficar parecendo uma fracote fora de forma. Ajeitou a postura e olhou em volta.

O rei, que era um homem extremamente velho e dava a impressão de poder ser derrubado por um sopro, sentava-se com elegância em um trono altamente decorado com as mais caras pedras preciosas. A princesa Clysse encontrava-se à sua esquerda, em um trono muito menor, e parecia ligeiramente amedrontada. Já Kiera posicionava-se no meio exato do salão, com os braços cruzados e um olhar assustador.

- Mande que parem o ataque ao meu castelo – o rei ordenou em uma voz imperativa que não combinava com seu corpo frágil – e não vou machucar muito o seu povo.

- PFF! – Kiera fez pouco caso. – Até parece. Escuta aqui, seu velhote! Essa menina aqui do lado é a Alice, e ela veio até aqui por causa do seu reinado. Você causou tantos problemas que alguém de fora teve que vir resolver, então escuta ela!

Curta e grossa, viva a TPM.

Catarina observou os dois, tentando parecer certa do que fazer. De alguma forma, ela tinha tentado muito planejar aquele momento, mas nada muito concreto saíra. Apenas algumas partes soltas se salvaram.

- Hã... A briga de vocês causou um desequilíbrio – ela começou enquanto tentava se lembrar do discurso que montara vagamente. – Que é o motivo de eu ter sido chamada para Kae. A Alice serve como uma... Diplomata. Quando algo ameaça sair do controle e afetar os outros mundos. Então, hm – Branco! – resolvam sua briga, ou eu vou ser forçada a, hm – Pense, droga! – tomar medidas drásticas.

Kiera cruzou os braços e encarou o rei com força. Seria difícil alguma decisão diplomática sair daquela sala, Catarina concluiu.

- E como espera que eu resolva essa briga? – o rei exclamou. – Não podemos viver com magia! Não funciona que alguns sejam tão mais poderosos do que outros que podem acabar com nosso mundo em um acesso de raiva!

Catarina franziu a testa.

- Isso é um tanto quanto suspeito quando dito por um cara que é monarca absolutista, você sabe – comentou.

- Alice tem razão! – Kiera exclamou. – Você está birrento por causa do assassinato da sua mãe, e agora culpa todos nós por alguma coisa que alguém fez no passado!

- O acidente com minha mãe abriu meus olhos para os perigos que feiticeiros podem trazer às outras pessoas! – o rei gritou, levantando-se do trono. Ele ficava muito mais alto de pé. – Estou evitando que outros sofram como eu sofri!

Kiera gargalhou sadicamente e cuspiu ao chão em frente ao rei, que a observou com ódio. Catarina sabia que tinha que fazer alguma coisa antes que a discussão se tornasse porradaria, mas felizmente Clysse pensou mais rápido.

- Parem com isso! – gritou, e levantou-se do trono. – Para, pai – pediu novamente, dessa vez em tom mais choroso. – Eu já sei de tudo.

- Do que está falando? – o rei exclamou, virando-se irritado para a filha. – Volte já para o seu lugar!

A princesa balançou a cabeça e começou a chorar baixo. Catarina ficou confusa. Clysse era mais velha do que ela!

- Clysse, o que está...

- Eu já sei, Trivel me contou! – a princesa berrou. Mas... Trivel? – Eu já sei que você é um feiticeiro e só quer acabar com a concorrência! Eu sei que foi você quem matou a vovó!

Catarina arregalou os olhos. Em que diabo de novela mexicana ela se metera?!

- Isso é verdade? – perguntou atônita. O rei mantinha uma autêntica poker face. – Porque... Caramba!

Kiera parecia ter acabado de levar um tapa forte na cara, e estava em estado de choque.

- Tem uma resistência inteira lá fora tentando conseguir seus direitos – Catarina continuou – sendo que a única coisa errada que fizeram foi nascer, e você na verdade só queria ser o único feiticeiro? Que dramático. Eu poderia te destronar por isso, você sabe.

A parte final saiu no automático, mas Catarina não a contestou. Devia fazer parte do lance de Alice.

De repente, o ar em volta de todos pareceu se solidificar, pesar, ficar denso e insuportável.

- Não vai poder me destronar se estiver morta – o rei disse. Sua figura pareceu aumentar, e sua voz ficou cada vez mais alta, grossa e mortal. – Eu sinto muito. Mas nenhuma de vocês sairá desta sala!

Clysse arregalou os olhos e correu para perto de Catarina, em pânico, enquanto você deve imaginar uma musiquinha sinistra ao fundo e a cena cortada por causa do fim do episódio.

*música de encerramento*


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