Porta 54 escrita por That Crazy Lady


Capítulo 14
Luta




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Fim do flashback

Trivel e Pekkala corriam pelos corredores cheios do castelo, desviando-se de vez em quando de flechas, feitiços soltos e afins.

- Devemos mesmo interferir? – Trivel perguntou ofegante para a tia. – Caphirina não tinha que fazer isso sozinha?

- Ela não conseguirá, Trivel – Pekkala respondeu. – Não sozinha. Precisa da sua ajuda. Não da minha, nem da de mais ninguém; da sua.

Trivel balançou a cabeça.

- Eu gostaria que ela começasse a me dizer quando precisa ou não precisa de ajuda. Ter uma garota orgulhosa assim como referência é muito complicado.

Pekkala sorriu e virou a esquina final com uma agilidade quase felina. Os dois feiticeiros pararam em frente a enorme porta que levava à sala do trono, das quais ecoavam palavras soltas do tipo “destronar”, “sinto muito”, “sairá desta sala!”.

- Não falhe, Trivel – Pekkala lhe disse. Então ergueu as mãos na frente do corpo, apontando suas palmas para a porta, e exclamou um encantamento que não posso revelar por motivos de segurança própria.

As duas portas pesadíssimas se abriram. E Trivel quase não podia acreditar no que via.

O salão era gigante, sim, e com muitas peças de ouro, joias preciosas ou porcelanas caríssimas; o que não espantava muito devido à personalidade conturbada de seu rei. O que realmente espantava no local era que um vulto de três metros de altura estava ameaçando duas meninas pregadas de choque no meio do salão e uma mulher no canto direito que aparentemente estava tendo uma crise nervosa.

Não era muito o que ele esperara, afinal. Ficar gigante era muito apelatório para o seu gosto, e gastava muita energia. Rei exibido.

- Caphirina! – gritou, tentando chamar a atenção da menor das meninas. Catarina virou o rosto, tão ou mais chocada quanto Trivel, e os lados de sua boca se curvaram em uma falha tentativa de sorriso.

- Trivel! Você veio, eu...! – Catarina interrompeu-se. Por algum motivo que Trivel não conseguiu entender no momento, ela agarrou o braço de Clysse e a puxou com força para a direita, no exato instante em que um punho gigante socava o chão exatamente onde as duas estavam antes, deixando uma cratera no chão de pedra caríssima vinda do leste.

Tão apelatório!

Clysse, como esperado, já estava em prantos novamente. Trivel correu até elas sem saber muito bem o que faria, enquanto o rei puxava lentamente o punho de volta. Aparentemente, precisava de força para erguer só Deus sabe quantos quilos de mão.

- Caphirina, o rei! – ele começou, mas ela o cortou rapidamente.

- Eu sei, eu sei! Eu tenho um plano! – Um plano? Sério? – Escuta, leva a Kiera e a Clysse para longe, vou precisar de espaço.

Catarina então interrompeu-se novamente e puxou Trivel e Clysse para longe do punho de Dricon. Era como se ela soubesse exatamente o momento em que ele atacaria, o garoto constatou surpreso. O rei puxou o punho de volta.

- Mas, Cah, a tia Pek disse que eu devia te ajudar!

Catarina pareceu que ia dizer alguma coisa, mas parou no meio. Olhou para trás, para o rei que rosnava enquanto preparava outra investida com o punho, e então voltou seu olhar para Trivel. Um olhar de medo, o garoto constatou, que escapara de seu rosto inexpressivo por um instante descuidado.

- E-Eu vou ficar bem! – exclamou, balançando a cabeça e escondendo novamente seu medo.

- Não, não vai. Cah...

- Vou sim!

-... Deixe de ser orgulhosa...

- Não sou orgulhosa!

-... E aceite que precisa de ajuda, ou de um estímulo...

- Não preciso!

-... E que eu quero te ajudar. Você está com medo...

- Não estou!

-... E só precisa de um motivo para acreditar que consegue.

Catarina abriu a boca, provavelmente para exclamar um “Não preciso!”, mas foi rapidamente interrompida por lábios duros e urgentes que a fizeram corar. Trivel então afastou o rosto e apanhou Clysse pela mão, se distanciando.

- Agora vai lá e mostra praquele rei de uma figa quem manda na parada.

oOo

Catarina tentou parecer muito concentrada enquanto escapava de outro golpe do rei, como uma daquelas heroínas de filmes de ação que recebem um beijo do mocinho e depois mostram toda a sua fúria para o vilão.

Mas ela tinha treze anos e era seu primeiro beijo. Tudo o que conseguia pensar era: “AI MEU DEUS EU BEIJEI UM MENINO EU BEIJEI UM MENINO OMG EU VOU MORREEEEER”.

Até que a parte ainda lúcida do seu cérebro deu um bicudo no resto retardado enquanto gritava: Vai morrer sim! Vai morrer num soco desse cara! Acorda pra vida, coisa lerda! E ela acordou.

Mas acho que você vai ficar um tanto quanto surpreso ao descobrir que SIM!, ela não mentira e realmente tinha um plano. Na verdade, era algo em que andara refletindo há algum tempo. Se as coisas podiam sair da cartola, por que não podiam entrar?

- Pff! E ela se denomina Alice! – o rei zombou, puxando o punho uma última vez. Agora que só havia ele e Catarina no salão, a coisa ia começar a esquentar. Um cajado foi materializado, e ele o segurou com a mão esquerda. – Só sabe pular de um lado para o outro, como um macaco... Vamos ver, então, o que você consegue fazer, garotinha.

Catarina mal teve tempo para pensar. Tirou sua cartola da cabeça, puxou dela o guarda-chuva florido e o abriu em sua frente no exato instante em que o rei mandava uma descarga de chamas cegantes.

E o guarda-chuva as aparou.

A garota mal podia acreditar em como era sortuda. Parecia só menos confusa do que o rei, que deixava claro por sua expressão chocada que não era para isso ter acontecido.

- Acho que eu sou a Alice, afinal – Catarina provocou.

- Golpe de sorte! – E o rei mandou mais e mais rajadas de chamas, cada vez mais quentes e cegantes, que simplesmente não afetavam Catarina. Por fim, a garota remexeu a cartola novamente e dela tirou...

Um unicórnio de pau.

Sério. Sabe aqueles cavalinhos de madeira com rodinhas embaixo? O dela tinha um chifre. E isso fazia dele um meiguíssimo unicórnio, com a crina cor de rosa meio desbotada e um sorrisinho entalhado. Catarina quase morreu ao ver o que a cartola lhe estendia como arma, mas não podia reclamar.

- Agora é a minha vez! – exclamou por fim, tentando parecer muito corajosa.

Então, segurando o guarda-chuva na mão direita como se fosse um escudo e estendendo o unicórnio na mão esquerda como se fosse uma lança, Catarina avançou correndo para seu oponente e enfiou o chifre arco-íris de seu unicórnio meigo no dedão do rei – o ponto mais alto que ela alcançava.

Mas tudo bem. Posso afirmar com certeza que doeu muito.

A garota rapidamente recuou enquanto o rei balançava o pé e urrava xingamentos nada bonitos. Ele aparentemente chegara à conclusão de que ela apelara, pois a observou com olhos furiosos.

- Sua *censura*, *censura*, *censura*! – E levantou o punho para um golpe certeiro.

Que nunca veio.

Pois Catarina apenas ergueu a cartola na direção do rei e apertou suas extremidades como se sua vida dependesse disso. Então, como se um ímã muito forte ou um furacão qualquer estivesse dentro daquela peça de vestuário, o punho furioso de Rei Dricon não baixou sobre a pequena Alice – e sim foi sugado para dentro da cartola, com uma rapidez impressionante.

Ele mal teve tempo de dizer suas últimas palavras. E elas não foram nada bonitas.

Quando o vento passou e Catarina teve certeza de que Dricon estava seguro dentro da cartola, deixou-se cair sentada no chão e respirou fundo. Acabara.


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Notas finais do capítulo

Então, grilos ~~keritos~~ que lêem minha história, esse é o penúltimo capítulo!
Sim, não acabou.
Mas devo avisar que, caso goste de finais felizes, não continue lendo. Pare aqui. Imagine que Catarina levou Trivel para a superfície, e eles se casaram e tiveram filhinhos e viveram Happily Ever After.
Caso não tenha problemas com finais nada felizes, continue lendo.
-A que vos escreve, Lah~



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