Lua Eterna escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 7
Sangue AB




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Capítulo 6 – Sangue AB

Amy Luna

         Lils me levou em direção aos chalés, onde indicou ser de cada deus. Explicou-me brevemente que havia, há poucos metros dali, outra meia lua com os chalés dos deuses menores e me perguntei se meu pai era um deus menor, pois ele estava no Olimpo, mas já havia doze Olimpianos.

- Seu pai Perseu é como um... Olimpiano temporário. Seu papel é importante no Olimpo, porque ele é o Deus dos Heróis, dos Dragóes e das Águas. Ele ajuda os heróis, assim como, quando os pais não o fazem rapidamente, os determina. Ajuda Poseidon a controlar os mares e controla os dragões soltos pelo mundo que, acredite, fazem muito estrago.

         Minha boca formou um pequeno 'o'.

- Então, seu chalé é este – ela indicou o último do lado dos homens. Era feito de conchas raspadas e brilhantes, com janelas de vidro e em cima da porta havia um dragão expelindo fogo. Dentro o piso era de mármore frio e exalava um forte cheiro de mar, que me acalmou. Só havia três beliches, todas vazias. No teto, penduradas em linhas transparentes, havia dragões de bronze e gotas cristalizadas. Em uma parte do quarto o chão ficava de madeira e chegava a uma pequena fonte de água doce cercada por pedrinhas brilhantes.

- É... É lindo – eu me sentia incapaz de dizer algo, além disso.

         Lilith sorriu torto: - É muito bonito, mas nenhum campista entra aqui, o cheiro de mar é tão forte quanto no chalé Poseidon. – e para dar ênfase fez uma careta falsa.

         Eu ri. Ela me jogou uma mochila bege, dizendo: - Há algumas coisas aí dentro que talvez você goste. Daqui a dez minutos será servido o jantar, não se atrase.

         Assenti e acenei quando ela saiu sorrindo. Tomei um banho rápido e peguei uma roupa que Lils me dera na mochila. Uma camiseta laranja berrante escrito: Acampamento Meio-Sangue. E um short jeans com um crocks azul.

         Saí com o fluxo de campistas, que me olhavam curiosos quase que me analisando. Jéssica me ajudou indicando em que mesa eu deveria sentar. Olhando em volta, reparei em como minha mesa era solitária. Cada mesa tinha um tipo de identificação em letras diferentes e bonitas – como se o próprio deus ou deusa tivesse escritos ali.

         Vi a de Jéssica e Nicholas com uma letra forte, firme, escrita Zeus. A de Jimmy – me senti melhor ao ver que ele também estava sozinho e não era somente eu, e senti-me mal ao pensar assim – tinha uma letra quase itálica escrita Poseidon. A mesa de Lilith estava com cinco garotos e seis garotas, contando com ela e havia um escrito que tinha, estranho, quase um formato de trigo – Deméter. A mesa de Atenas possuía um escrito complexo e complicado, porém uma letra cursiva linda. A mesa de Josh tinha uma plaquinha ofuscante em que eu não conseguia ler, mas já sabia que era Apolo – Uau.

         Olhei para o escrito de minha própria mesa. Era bonito e forte, no P de Perseus havia um dragão enrolado, como se fosse uma cobra, com as asas abertas.

         No meio do delicioso jantar, Quíron levantou-se de sua cadeira e anunciou: - Amanhã teremos Captura a Bandeira – aparentemente isso era muito no Acampamento, pois Quíron necessitou de alguns minutos para acalmar todo o pessoal – e com a chegada de uma nova campista em um chalé novo alguns horários mudaram, por favor, chequem os seus próprios. É só isso.

         Corei de vergonha quando vi alguns olhares para mim. No final, quando já estava indo para minha cabana, Quíron me chamou: - Está gostando daqui, Lua?

- É... É legal – a verdade era que eu não tinha muito a dizer. Sim, a mitologia era incrível, assim como meus pais estarem vivos. Mas eu desejei, repentinamente, ser uma adolescente normal, morando em Nova York, com ambos os pais mortais ali, dando amor de pais normais, com amigas normais e crises adolescentes normais.

- Seu pai pediu-lhe para entregar isso – ele disse, estendendo-me uma presilha em forma de lua minguante prateada – Irá se tornar a arma que melhor lhe convém no momento.

 - Como assim?

- Você irá entender na hora certa, boa noite – ele desejou e, com a essa duvida alegre, partiu, me deixando no meio do pavilhão escuro, pensando em que meu pai tramava.

         Quando acordei do dia seguinte precisei de alguns segundos para me orientar e pensar que nada disso havia sido uma sonho. Vendo o som da fonte do quarto percebi que não, tudo tinha mesmo rolado – eu era uma semideusa.

         Vesti a mesma roupa de ontem, porém com um tênis Nike, e saí do chalé, olhando meu horário: Arco e flecha com o Chalé de Apolo. Ok. Caminhei em direção ao que parecia o lugar dos arcos e flechas. Fiquei vermelha quando alguns filhos de Apolo me lançaram olhares maliciosos, olhando paras minhas pernas, mas Josh, que era o Conselheiro-chefe do Chalé mandou todos voltarem a suas atividades.

- Tudo bem, Lua? – ele sorriu para mim alegremente, os dentes brancos a mostra – Você não me conheceu direito ontem, mas sou Josh Stuart, namorado da Jéssica.

- Olá – eu sorri de volta.

- Você vai gostar daqui e talvez goste de arco e flecha tanto quanto nós – ele indicou os filhos e filhas de Apolo – venha, vou lhe dar um arco para experimentar, afinal, até o final do dia, na Caça a Bandeira você vai querer saber qual arma você usa melhor, não é?

         Pensei em mim mesma, uma idiota com uma arma, e uma guerreira poderosa com uma arma que sabia usar.

- Com certeza – respondi prontamente, tomando o arco em minhas mãos.

         Eu calculei a distancia, e foi perfeitamente no alvo, no meio. Josh sorriu e aplaudiu. Na segunda, porém, achei que tinha demorado demais para lançar, e deixei a flecha escapar por meus dedos logo, resultado: acertei o traseiro de um filho de Apolo, que teve que ir para a enfermaria.

- Ops? – soou como uma pergunta, mas o Chalé todo ria. – Acho que não sirvo para arco e flecha, gente.

         Os garotos pareceram decepcionados, o que me rendeu mais bochechas vermelhas. As meninas, que pareciam realmente legais, sorriram tristemente.

- Bom, já acabou nosso horário, vá descobrir seu dom, Lua – sorriu Josh, voltando para seus meio irmãos.

         Caminhei em direção a arena onde eu teria luta com armas com os Chalés de Poseidon e Atena. Uma garota de cabelos castanhos claros e olhos acinzentados veio me cumprimentar sorridente.

- Lua, né? – ela sorriu – Sou Margareth, filha de Atena. Tome – ela me entregou uma lança que logo senti pesada em minha mão.

         Descobrimos rapidinho que lanças não era minha praia e espadas eram leves demais, ou pesadas demais para mim. Adagas e facas eram incríveis em minhas mãos, conclui quando ganhei de Thuany, uma garota de Atena, mas ainda assim, senti que pareciam erradas.

         A presilha na minha cabeça incomodou e tirei-a para arrumar de novo, mas, antes que eu pudesse sequer pensar em ajeitá-la novamente, ela tornou-se uma espada na minha mão - irá se tornar a arma que melhor lhe convém no momento.

         O cabo da espada era de bronze e a lâmina era de bronze celestial, fiz alguns movimentos, sentindo-a perfeita para mim: era a minha arma. Apertando os olhos, vi um escrito pequeno na lâmina. Antes sequer que eu pudesse pensar em como as letras voariam até sumir, elas trocaram rápido demais formando a palavra: Κουκουβάγια. Surpreendi-me ao ver que traduzi rapidamente para Coruja – e me perguntei o significado desse nome para minha arma.

- Wow! – exclamou Jimmy, próximo a mim, sorridente – Donde surgiu essa arma? Que massa!

         Sorri para Jimmy, não sei por que, mas ele era como um irmão para mim ou um primo próximo – e com surpresa notei que se meu pai era filho de Poseidon antes de ser um deus, Jimmy era como um "meio-tio".

- Ah, veio de Coruja, minha presilha de lua – ok, isso soou esquisito.

- Vem, vamos lutar uma vez e deixar você testar essa belezinha – ele quase gritou, atraindo atenção dos campistas de Atena, que se sentaram na arquibancada, e seus olhares ansiosos me fizeram corar.

         Que raiva! Detesto ficar vermelha.

         Posicionei-me e antes que pudesse pensar, Jimmy tinha atacado. Ele usava uma espada de lâmina larga e pesada, o que fez com que eu tivesse que usar força nos punhos para fazer minha espada impedir seus ataques rápidos. Depois de várias defesas, decidi que o momento para atacar era esse e minha espada acertou o punho de sua lamina, fazendo com que a espada voasse para trás e Jimmy tropeçasse.

         Apontei-lhe Coruja para seu pescoço e ele foi rastejando para trás, sorrindo, ofereci minha mão para ajudá-lo a levantar – a luta tinha acabado. Engano meu. Num movimento rápido ele pegou a espada atrás dele.

         Ele era um bom ator, usou isso para ir para trás e pegar sua espada. E foi com essa espada que ele cortou meu antebraço.

         Gritei agudo com a dor inicial. Meu braço pingava sangue e com isso os campistas ficaram desesperados, vi um correndo para provavelmente chamar Quíron. Mas, estranhamente, a dor foi passando na medida em que algo dourado começava a escorrer de meu braço ferido.

         A poça de sangue vermelho misturou-se ao liquido dourado que pingava num mesmo lugar. A dor tinha parado e o sangue dourado continuava caindo – e, com um susto e com medo, reparei o que era: icor, o sangue dos Deuses.

         Eu tinha sangue dos deuses saindo de mim.

         Corri para o banco e amarrei uma toalha no meu antebraço, parando o icor por alguns instantes. Alguns segundos depois Quíron chegou galopando com Jimmy correndo numa careta desesperada atrás. Margareth acalmava os campistas de Atena, os dispersando da Arena – e temi que eles dessem uma de filhas de Afrodite e saíssem fofocando pelo Acampamento.

- Quíron... Eu... Sangue... – gaguejei debilmente.

         Simplesmente sai da frente da poça de sangue dourado – o vermelho sumira – e o deixei ver, vendo seus olhos se arregalarem. Tirei a toalha do meu braço e mais icor jorrou aos montes da ferida.

- Venha, alguém de Apolo irá curá-la – ele chamou-me apressado.

         Tentei ignorar os olhares das pessoas enquanto passávamos pelo Acampamento em direção a Enfermaria – sangue dourado deixava um rastro atrás de nós.

- Ah, Lua, me desculpe, eu não queria... Não, é tudo culpa minha, e se você morrer eu não vou me perdoar, e, por favor, desculpe-me – Jimmy dizia com histeria de menina, seguindo-me.

         E isso me fez rir, eu jorrava sangue dourado, mal tinha chegado a um mundo mitológico e ele se preocupava em se desculpar? Puxa, era muita ironia reunida. Quíron me fez sentar em uma das camas e uma ninfa junto a uma menina bonita do chalé de Apolo apareceram.

         Ambas trataram-me com delicadeza e eram amáveis, descobri que a menina se chamava Layla e tinha vinte anos – ou seja, na verdade era uma mulher. Ela disse que ficava no Acampamento o ano inteiro há dois anos e achava aqui incrível, e esperava que eu gostasse daqui tanto quanto ela.

         Tentei sorrir e ignorar a dor que apareceu quando o sangue dourado estancou. Foi uma coisa complicada, a ninfa colocou alguns curativos e o sangue dourado parou. Alguns minutos depois uma mancha vermelha se formou sobre a gaze no meu braço, era sangue mortal – e dessa vez doía muito.

         Quíron me trouxe um copo com o que parecia suco de maçã. Encarei aquilo por alguns instantes, novamente a sensação de dejà vu, porém peguei o copo em minhas mãos, tomando pelo canudinho. O sabor chocou em minha boca, era o manjar dos deuses, literalmente. O gosto era como tudo de bom, tudo delicioso e saboroso no mundo todo reunido. Indescritível.

- Bom – disse Quíron chegando e olhando meu copo que nem reparei tinha tomado tudo – acho que não terá problema de você queimar, não é mesmo? Seu sangue é icor puro.

- Quase – eu disse cabisbaixa – há um pouco de sangue normal do tipo AB – respondi e as palavras voaram de minha boca, mas eu não sabia como sabia isso – quando eu era menor fizeram testes de sangue no orfanato e o meu deu AB, agora entendo porque nunca vi meu sangue sendo icor: nunca me machuquei seriamente, somente superficialmente. E lá na Arena antes de icor jorrar do meu braço veio um pouco de sangue.

         Quíron assentiu em compreensão. Ele aproximou-se, abaixando para conseguir passar pela soleira da porta, e pegou meu braço com delicadeza: - Dói?

- Na verdade, nunca me senti tão bem – e era verdade, era como se nada tivesse acontecido há pouco.

         Ele, com consentimento da dríade, retirou a gaze do meu braço e revelou um antebraço branco sem uma cicatriz sequer – era mesmo como se nada tivesse rolado um pouco antes.

 - Interessante, talvez eu deva falar com o Sr. D e ele saiba algo sobre isso, apesar de que nunca vi em meu séculos de vida nenhum semideus com essas características, no mínimo, fascinantes – Quíron sorriu para mim, tranqüilizando-me.

         No entanto, eu discordava: - Fascinantes? Quíron... Sinto-lhe ser a que vai quebrar a sua realidade, mas eu sou uma aberração! Eu... Eu não sou uma mortal, eu não sou uma deusa, eu sou... – eu não conseguia terminar.

- Uma semideusa, é isso que você é – Jimmy respondeu sorrindo. Ele tocou meu ombro solidariamente e eu encostei minha cabeça em seu ombro, exausta disso tudo.

- E semideuses têm sangue dourado? Podem tomar tanto Néctar? - indaguei questionadora, e Jimmy ficou quieto, sem respostas para minhas perguntas.

- Bom, em todo caso, você está bem e é isso que importa – sorriu Quíron, porém eu ainda via pontilhados de preocupação em seus olhos.

- Descanse um pouco, Lua – Jimmy falou depois que o Quíron saiu – acordo você antes do Capture a Bandeira.

- Não – bocejei longamente – não estou c-com sono... Acorda-me, tá?

         E fechei meus olhos, mergulhando num mundo de sonhos.


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