CAPÍTULO XVI. - COM QUE VESTIDO?

"Você sabe... Mais”.

Ela, sentindo que a qualquer momento seu coração poderia acabar atravessando o seu peito, deu um passo à frente. Não importava o que aconteceria... Sirius não importava... As pessoas não importavam... Ela apenas não iria recuar.

- Na verdade, eu não sei... – ela sussurrou - Por que você não diz?

Ele deu mais um passo a frente e foi aproximando o seu rosto ao dela, bem lentamente. Eles podiam sentir a respiração um do outro.

- Sabe, - ele foi baixando a voz gradualmente - Black simplesmente não é o cara certo para você.

- Não é? – ela levantou uma sobrancelha.

- Não. Ele é muito... Infantil.

- Infantil? - Ela conseguiu dar um meio-sorriso. Mais que isso era impossível para alguém tão incomodada com a proximidade - Ele tem a minha idade.

- Mas parece ter apenas dez anos de idade.

- Isso é bom. Ele me alegra.

Ele aproximou os rostos mais um pouco. Por um momento, Amélia pensou que ele, finalmente, iria beijá-la... Mas ele acabou tomando um rumo que, na opinião dela, era muito mais perigoso que a boca: direto para o pescoço. Ele roçou de leve os lábios dele no pescoço dela. Ela suspirou. Foi até o ouvido dela e sussurrou.

- Você não precisa de um menininho que te alegre! Para isso se têm amigos. Você precisa de algo mais... Talvez alguém que te faça sentir um pouco mais... Mulher.

- Você se esquece que eu não sou uma mulher...

- Mas, muitas vezes, talvez até vezes como essa você age como uma. - Ele, ainda sussurrando no ouvido dela, roçou a mão esquerda na sua cintura, por dentro do casaco. A mão dele estava fria, roçando suavemente na pele quente dela. Ela não conseguiu controlar e suprimir o arrepio. - Está vendo? - Ele mordeu o lóbulo da orelha dela. Ela suspirou.

- Você... – Ela começou, o coração martelando mais forte do que nunca – Tem alguma sugestão? De quem possa ser esse alguém?

- Talvez...

Ele a olhou, sugestivo. Ela sabia o que estava para acontecer... E sabia que não podia fazer isso com o seu grande amigo, Sirius... E também sabia que há muito tempo queria isso, e não recuaria. Ela não poderia, nem se quisesse. Já estava muito envolvida. Ela fechou os olhos e ofereceu os lábios para Severo. Ele mal tinha chegado a fazer os lábios se encontrarem, quando uma voz histérica causou o rompimento do quase-beijo.

- Severo! Que bom que eu te encontrei! - Eles se repeliram imediatamente, tentando, sem sucesso, fingir que nada estava acontecendo.

Bellatrix se aproximou de Severo e se agarrou ao pescoço dele.

- Ah, Amélia, é você que está aqui. – ela fingiu excitação.

- Não, Bellatrix, é tudo impressão sua. – Amélia imitou, tentando inutilmente controlar a respiração.

- Ha-ha-ha! Muito engraçado, Lair... O que vocês estavam fazendo tão juntos?

- Não é da sua c...

- Eu estava ajudando Amélia a tirar um pouco de pó que tinha na roupa dela. Só isso. – Severo tentou se explicar para Bellatrix... E Amélia o olhou, estranhando a reação dele.

- Realmente, Amélia, - Bella riu sarcasticamente - Como uma filha de ministro pode usar um casaco tão velho e empoeirado assim? - Ela examinou Amélia de cima a baixo - Se você pretende namorar o meu primo, é melhor se vestir menos desleixada... Não que ele seja lá grande coisa, mais é um Black mesmo assim!

- Eu vou tentar cuidar mais das minhas roupas, obrigado! – Amélia respondeu secamente.

- Ótimo! Bom, vocês estavam estudando?

- Sim, Bella. Nós estávamos até você interromper. – Severo disse.

- Desculpa, não vai mais acontecer. Eu só queria saber, meu amor, se você prefere que eu use hoje o meu vestido vinho ou o amarelo decotado?

‘Meu amor?!’

- O decotado

- Eu sabia que você ia escolher esse, safadinho!

E o beijou. Amélia prendeu a respiração, meio que por raiva, meio que por constrangimento. Desviou o olhar até os dois pararem de se beijar.

- Vocês estão namorando?

- Severo não te contou? Há duas semanas! Eu pensei que vocês fossem mais amigos!

‘Eu também!’

- Eu não tive tempo de contar à Amélia. – Severo disse. Desculpando-se? - Mas agora ela já sabe.

- É. Eu sei! – todos se calaram por um momento. - Bom, eu acho que já estou de saída. Vou deixar vocês dois sozinhos.

Amélia se virou para sair, constrangida com a situação e sentindo uma vontade quase incontrolável de chorar. Mas ela não chegou sequer a dar um passo - Severo agarrou o seu braço dela (não foi um gesto gentil, mas também não foi rude) e se libertou de Bellatrix.

- Não será necessário, Amélia. – ele disse, sério - Bella já está saindo e nós temos que voltar a estudar.

- É verdade, Lair! Ele é todo seu! Aproveite!

‘Se você soubesse do que acabou de quase acontecer, você não diria isso!’

Mas disse. Amélia percebeu que teria que ficar.

Bellatrix saiu e deixou os dois sozinhos. Amélia desviou o olhar para um pequeno grupo de garotos do primeiro ano.

- Se aqueles viram agente, você... Quer dizer, nós estaremos encrencados!

- Relaxa. Eles não viram nada. Estão jogando xadrez.

Ela o admirou por um segundo.

- Como você faz isso?

- O que?

- Consegue ficar tranqüilo... Quer dizer, eu fiquei tão vermelha quanto um pimentão quando ela disse que namorava com você! E você ficou o tempo todo assim... Como se nada tivesse acontecendo!

- Nada aconteceu.

- Mas quase aconteceu! Isso é suficiente pra fazer qualquer pessoa normal... Pelo menos ficar com a respiração irregular!

- E quem disse que eu estava tranqüilo?

- Bom você pareceu estar bem tranqüilo!

- Exato! Eu parecia estar tranqüilo! Mas não estava.

Ela o admirou de novo.

- Wow... Como você consegue?

- O que?

- Fazer essa expressão?

- Que expressão?

- Não é bem uma expressão... É mais a falta de uma!

- É só se concentrar. Meu... Pai me ensinou isso. - Uma nuvem apareceu sobre o olhar dele. Amélia tentou parecer ignorar.

- A se concentrar? - Ela perguntou, certa de que ele acabaria abrindo os segredos que tinha sobre a família dele.

- A ter que se concentrar, na verdade.

Silêncio.

- Sev, o que ele fez? Por que é tão difícil falar sobre ele?

- A minha relação com o meu pai, não é a mesma da que você tem com o seu, Amélia. É bem diferente, na verdade. E isso é tudo que eu te direi agora.

Ele encerrou o assunto. Por um minuto, a única coisa que era ouvida eram os barulhos das peças de xadrez se quebrando. Amélia então respirou fundo e falou.

- Porque você disse para eu ficar?

- Eu pensei que talvez você tivesse... Perguntas.

Essa era a deixa. Agora eles poderiam falar sobre Bellatrix.

- Tenho sim, na verdade. Apenas uma: Bella! Sério?

- O que tem de mais? – ele deu de ombros.

- Bom... É que... Veja bem: É Bellatrix!

- E...?

- E... Quer mesmo a verdade? - Ele ergueu uma sobrancelha - Ela é uma nojentinha pervertida e gananciosa! E preconceituosa! E chata! Eu a odeio com todo o meu ser!

- Uau. Parabéns! Mas o que isso tem haver com o meu namoro com ela?

- Tudo! Severo, eu sou a sua melhor amiga. Você sabe que tudo o que eu quero para você é o melhor! E Bellatriz, definitivamente, não é o melhor pra você! Ela não está a sua altura!

- Por que...?

- Você é melhor que ela!

- Por que...?

- Por que... Ah esqueça!

Os olhos dele brilharam em deleite.

- Bella é tão inferior para mim quanto Sirius é para você.

- Eu não acho!

- Eu já disse o que eu penso sobre ele!

- Isso é só porque vocês não se batem!

- E o que é entre você Bella, se não isso?

Mas uma vez, Amélia se viu sem resposta.

- Porque você não me disse que estava namorando?

- Eu previ a sua reação.

- Eu sou tão previsível assim?

- Pode apostar nisso.

- Mas, se você está namorando, porque você deu em cima de mim hoje?

- Por que você aceitou? Até onde eu sei, você também está namorando.

- Sabe, é melhor esquecermos tudo que aconteceu aqui, OK?

- Mas nada aconteceu!

- Argh! O que quase aconteceu!

- OK!

- Então, boa noite.

Ela já estava quase na porta quando ouviu a voz dele.

- Lembre-se que eu odeio o seu namorado, Lair! Nunca o respeitei e não vou começar a respeitá-lo agora!

Sem querer entender o que ele tinha dito, ela saiu.

XxXxXxX

Ela estava caminhando rápido, mas, à medida que a torre da Grifinória se aproximava, ela diminuía o ritmo dos seus passos. Agora tinha que enfrentar a curiosidade dos Marotos e de Lílian.

Ela chegou. Respirou fundo.

- Amenófis.

O quadro se deslocou e revelou o salão decorado em vermelho e dourado. Ela olhou em volta para, graças a Merlin, não encontrar os Marotos (não sabia o que fazer se visse Sirius! Estava se moendo de culpa)... Mas não conseguiu se livrar do olhar do Lílian.

- Onde é que você tava? Já está tarde! Sabia que eu deveria te denunciar para algum professor?

- Mas você não vai fazer isso, Ly, porque você está muito interessada no boato de que eu estou com Sirius.

- Na verdade, ele mesmo me contou essa história!

- O que?! Você falou mais de duas palavras com Sirius Black! – Amélia riu.

- E com Potter. – Lílian deu de ombros.

- Nossa, Ly, que evolução, hein? Daqui a pouco você sai com um deles!

- Potter me chamou.

Os olhos de Amélia brilharam.

- E...?

- E nada! É lógico que eu dei um fora nele!

- Eu sabia! Estava muito bom para ser verdade!

- Sabe, ele realmente pensa que eu vou sair com ele. Ele é um brutamontes descerebrado! Eu nunca! Jamais!

- Sabe, Ly, já faz um tempão que Tiago te chama para sair e você responde do mesmo jeito! As pessoas cansam de levar toco, OK!

- Eu-não-gosto-dele!

- E não para de falar nele!

- Vamos mudar de assunto?

- Você que sabe! – Amélia se jogou no sofá.

- Você estava na sonserina, não era?

- Estava... Aliás, eu preciso falar com alguém sobre isso!

- O que aconteceu?

- Eu quase beijei Severo. – Ela baixou o olhar.

- Mas você está...

- Com Sirius, eu sei! Mas foi quase inevitável!

- E por que ficou no quase?

- Bellatrix chegou.

- Black? – Lílian se levantou bruscamente e pôs a mão sobre os lábios.

- A própria!

- A prima de Sirius?

- E namorada de Severo!

- COMO?

- Também me pegou de surpresa!

Ela se levantou e caminhou de um lado para o outro, tentando raciocinar sobre o que tinha escutado. Até que...

- Bom, então isso e uma solução! Quer dizer, você namora, ele namora... E logo os dois esquecem do quase beijo!

‘É... Eu vou fazer isso... Esquecer o quase beijo... E esquecer Severo...’

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