A princípio Valerie não acreditou em que Henry lhe contara, já era difícil acreditar em vampiros e lobisomens e agora tinha conhecimento de uma nova espécie. Tina era filha de um vampiro com uma humana, ela podia escolher entre beber sangue ou comer outros alimentos e podia sair ao sol, sua pele era rosada e quente como a de todos os humanos, e ela não dispunha de tanta força como os vampiros, mas sua velocidade era tão impressionante quanto a deles.

Tina mudou-se para Daggerhorn após seu pai e sua mãe serem mortos por outros vampiros, ela foi criada desde os doze anos por sua tia avó que nunca soube de sua verdadeira natureza.

- Eu não cheguei até aqui sozinho, Tina me trouxe aqui, ela sabia que havia vampiros nesta cidade – Henry explicou – Tina sabia que Damon era um vampiro desde o inicio, mas nada podia fazer, ele é muita mais forte que ela.

Valerie lembrou-se de quando viu Tina na floresta em Daggerhorn, ela passara a noite fora e seus movimentos eram muito suspeitos.

- Como Damon não desconfiou dela? – Valerie perguntou abismada, pois Damon era muito esperto – Como Peter não desconfiou dela?

- Os lobos não evoluíram tanto como os vampiros, Tina é uma raça nova para eles, isso os confunde – Henry balançou a cabeça negativamente – Quanto a Damon... Ele sempre soube, mas fingia que não para enganá-la, ele podia sentir que Tina era fraca e inexperiente por não conhecer outros vampiros além de seu pai.

- Claude disse que Roxanne a matou, como ela sobreviveu a isso? – Ela perguntou ainda mais perplexa.

- Roxanne só estava se alimentando dela, o sangue dos meios vampiros tem um gosto diferente, é mais saboroso – Henry deu um meio sorriso – Acreditamos que Damon tinha outros planos para ela. Ela também aprendera muito com Suzanne nos últimos dias.

- Ela está do nosso lado? – Valerie perguntou confusa – Por que... Não sei se você se lembra, mas ela queria me matar, assim como a Prudence!

- Ela não queria isso – Ele retrucou – Ela só não queria que Damon desconfiasse dela.

- Tentando me matar? – Ela replicou abismada e irritada com a insistência de Henry em defendê-la.

- Ela também teve medo, assim como você, mas diferente de sua situação ela não tinha Peter e nem a mim para protegê-la – Sua voz soou brava e firme – Está sendo injusta Valerie, você não sabe o quanto é difícil no inicio para nós.

Valerie se calou e não disse mais nada sobre Tina, até mesmo por que ela era o menor de todos os problemas, a lua cheia se aproximava e esta seria a lua de sangue.

- Está bem, prossiga com suas explicações – Ela respirou fundo e aguardou as explicações de Henry.

- Quando Damon me mordeu na clareira, Damon me fez provar de seu sangue para eu me transformar, ele me deixou sozinho na floresta e quando o sol estava preste a nascer corri dentro da primeira caverna que encontrei. Tina assistiu a tudo e após algumas horas ela apareceu, me deu seu sangue e o de alguns animais, quando estava recuperado me trouxe até aqui.

- O que Damon fez para te tirar do caminho? – Valerie se sentia cada vez mais intrigada com os fatos – Como ela te ajudou?

- Verbena é uma planta que deixa os vampiros muito fracos, por ser meio humana esta planta não faz mal a Tina – Henry ficava cada vez mais incomodado com as perguntas de Valerie – Damon usou esta planta contra mim para poder me tirar do caminho dele. E voltando a sua pergunta inicial, quando eu não estava com você, eu estava caçando. Eu sinto uma sede quase que incontrolável, mas Suzanne disse que isso vai passar aos poucos.

Valerie se calou mais uma vez, ela olhou para o chão, pois não conseguia encarar Henry após desconfiar dele, e ela sabia que isso havia lhe deixado muito irritado.

- Sinto por desconfiar de você – Ela tentou amenizar os fatos – Mas é que você não pode deixar de me contar nada, quando você faz isso eu fico no escuro, não sei o que fazer ou em que acreditar.

- Você pode acreditar em Tim! – Henry retrucou, ele temia o fato de que a humanidade de Tim pudesse dar a Valerie o que ele não poderia oferecer a ela.

- Pare com isso! – Valerie ordenou, mas no fundo ela gostou de saber que Henry sentia medo de perde-la – Amo você!

No mesmo instante Henry partiu para cima dela e a deu um beijo que quase a deixou sem ar, ela retribuiu na mesma intensidade, mas foram interrompidos quando uma empregada da casa bateu na porta do quarto.

Valerie deixou que Henry abrisse a porta.

- Suzanne mandou avisar que espera por vocês em seu escritório – A empregada acenou para Valerie que estava sentada na beira da cama, ela sabia que os moradores daquela casa não eram exatamente normais, mas sabia que ela era feita de carne e osso como ela.

Valerie retribui a empregada com o mesmo gesto. Henry fechou a porta e a olhou confuso.

- Enquanto você não estava aqui eu me aproximei muito dela – Valerie se explicou.

- É bom saber que sua amizade não se limita só ao Tim! – Henry sorriu irônico e depois lançou um olhar sério e misterioso que deixou as pernas de Valerie bambas.

- Você está ficando bom nisso! – Ela disse com a mesma ironia que ele.

- Bom em que? – Henry perguntou ainda sério.

- Em ser vampiro! – Ela lhe olhou e deu um meio sorriso.

Ambos caminharam até a sala norte, onde se localizava o escritório de Suzanne.  

- Soube que Damon vai voltar a Daggerhorn, antes ele deve se encontrar com Katherine – Suzanne falou diretamente a Henry, ignorando totalmente a presença de Valerie.

- Como soube disso? – Henry a questionou.

- Damon não é previsível, tenho que ficar de olho nele a todo o momento – Suzanne explicou – tenho meus informantes!

- Está preparado? – Uma voz feminina ecoou pela sala.

Tina entrou na sala reverenciou Suzanne e abraçou demoradamente Henry. Valerie ficou irritada com a cena, mas por outro lado Henry se sentia mais seguro ao perceber seu ciúme.

- Você vai com Tina para Daggerhorn antes do sol se pôr – Suzanne disse ao se levantar da cadeira de seu gabinete – Eu vou após o sol se pôr.

Suzanne saiu da sala, no escritório ficou Henry, Valerie, e Tina.

- Quem é Katherine? – Valerie perguntou a Henry.

- Katherine é a criadora de Damon e Suzanne – Tina respondeu antes de Henry, e isso a deixou ainda mais aborrecida – Ela quer montar um exercito de vampiros.

- Por quê? – Valerie ficou ainda mais agoniada ao pensar em Daggerhorn.

- Não sabemos, isso vai contra os princípios de Katherine – Henry explicou – Não entendemos por que ela quer fazer isso, e mesmo que ela seja criadora de todos, Suzanne concordou em confrontá-la.

Valerie sentiu um frio na barriga, as coisas que estavam por vir não seriam muito boas. Henry ao perceber sua inquietação a abraçou e sussurrou em seu ouvido “tudo ficará bem”.

- Vou arrumar minhas coisas! – Valerie disse e caminhou rapidamente para a porta do escritório.

- Não! – gritou Henry, que já estava parado do lado de fora da sala.

- Você ficará aqui com Tim, isso é mais prudente! – Ele disse calmamente a ela.

- Não mesmo! – Valerie tentou passar por ele, que por sua vez a segurou firmemente pelo o braço – Eu ordeno que fique aqui, as coisas serão muito perigosas para você!

Contrariando a vontade de Valerie, Henry a levou para o quarto e trancou todas as janelas, ele sabia que ela ficaria furiosa com sua atitude, a ponto de não perdoá-lo, mas ele preferia ser deixado por ela ao colocá-la em grande risco, ela havia deixado de ser uma vingança contra Peter para ser um capricho pessoal de Damon.

Antes de partir, Henry beijou Valerie mais uma vez, ela estava muito aborrecida com ele, mas retribuiu o beijo por temer ser a ultima vez que o veria. Henry saiu do quarto e trancou a porta, Tim estava a observar no final do corredor que terminava na escadaria.

- Você gosta dela tanto quanto eu? – Henry perguntou seriamente a ele.

- Se você se refere a nossa amizade... Pode apostar que sim – Tim respondeu firmemente.

- Fique com esta chave e cuide para que ela não saia do quarto – Henry o instruiu – Não confie nela, não hoje. Valerie é astuta e fará de tudo para sair!

Naquela tarde Tina e Henry caminharam juntos a Daggerhorn, Tina voltara para tentar proteger sua tia avó e seus outros amigos, ela sabia que nada podia fazer contra Damon e Katherine, mas estar lá para protegê-los era fundamental para ela.

Henry estava confiante em sua força, ele não sabia o que o aguardava, mas estava disposto a morrer para proteger Valerie da crueldade de Damon. Ele tinha um plano inicial, ele iria ao encontro de Peter para alertá-lo e convencê-lo de lutar junto a ele, em nome de Valerie.

Assim que chegaram a Daggerhorn Tina foi ao encontro de seus entes queridos, Henry foi ao encontro de Peter, o sol ainda brilhava no céu e o vilarejo parecia ainda estar em paz. Depois de uma longa conversa com Peter, cheia de discussões e ofensas, ambos concordaram em deixar suas diferenças de lado, eles iriam lutar juntos e quando tudo acabasse, eles resolveriam suas pendências.

Não demorou muito e a lua vermelha brilhou no céu. Seu vermelho era como o sangue que seria derramado há poucos instantes sobre Daggerhorn.

O mal estava por vir.