Wish You Were Here escrita por Junny


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Nossa, jura que fiquei seis meses sem atualizar essa fic? OMG! O tempo pareceu não ser tudo isso. Cara, mil perdões pela demora. Pegou esse intervalo de ultimo semestre do ultimo ano, pegou enem, pegou provas finais e tudo o mais. Enfim. Agora estou de volta e adorei que a
clara_sousa me cobrou a história. Eu funciono muito melhor sobre pressão e eu adoro ser cobrada! Enfim. Espero que gostem do capítulo!



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Justin's POV

Dez de agosto

-Saudações, caros companheiros. Mais uma invasão concluída com sucesso. A Alemanha está sob domínio nazista. E o Eixo construirá uma nova era!- o alto falante anunciou. Era a voz do comandante. O dia amanhecia lentamente, o sol pintando o céu com uma extensa paleta de cores: vermelho, roxo, amarelo, laranja. Eu ali, vegetava. Mastigava meu pão com má vontade e deixava que a massa, juntamente com a saliva, formasse um bolo praticamente indigesto.

-Que horror, Bieber. Até parece que deixou família esperando.- um dos soldados, que eu nunca me preocupara em guardar o nome, comentou, do outro lado da mesa.

-Não! Parece que nem sente orgulho de usar a suástica sobre o peito.- outro, ao meu lado, corrigiu, dando tapinhas nas minhas costas.

Mandei um sorriso sem mostrar os dentes. Continuei concentrado na simples ação de mastigar, mastigar, mastigar e tentar engolir, simplesmente ignorando todo e qualquer comentário que viria.

-Sabe, Bieber, acho que quando voltarmos pra casa arranjarei minha filha pra casar contigo. Ora, nada melhor do que um companheiro de guerra pra formar família com sua filha única, não é, camarada?

Não consegui não pensar em Heike. Era com ela que eu queria casar-me, formar família. Era ela que eu queria salvar.

-Soldados. Nossos companheiros capturaram mais alguns judeus. Esses estão a caminho do galpão. Preciso de alguns de vocês para fazer o serviço.- o comandante entrou na sala, já falando, já dando ordens. Como sempre.- Bieber, você vai cuidar dos novos prisioneiros, juntamente com Callaghan e Posner.

Fixei meu olhar no comandante. Eu nunca tinha sido escalado pra tal tarefa. E eu devia ser um dos únicos naquele refeitório que não tinha esse desejo impregnado no íntimo. Forcei um sorriso. Levantei-me da mesa, junto com os outros dois selecionados e sai do refeitório.

O dia, de fato, estava bonito. O sol brilhava a leste. O céu já estava tingido em um tom completo de azul. Algumas nuvens conferiam um ar artístico. Atravessamos toda a base nazista até chegarmos a um galpão, aonde os prisioneiros ficavam antes de rumarem pra um dos campos de concentração.

-Vocês sabem o que fazer. São todos seus até segunda ordem.- o comandante abriu a porta do galpão e nos deixou entrar. As palavras saíram por seus lábios por um sorriso vitorioso...e maldoso. Entrei no galpão sozinho. O lugar era o pior lugar para se alojar seres humanos que poderia haver. Haviam alguns estrados que formavam beliches, sem colchões, contornando a parede. Alguns maltrapilhos que deveriam ser os cobertores cobriam a madeira. Algumas pessoas se encolheram nas camas, sentados, juntando o máximo que podiam, seus corpos perto da parede.

-Ok, vamos ver o que temos aqui...- eu disse, pisando no solo areoso com meu coturno. Eu tinha que fazer aquilo. Haviam meia dúzia de idosos, três homens e o resto eram mulheres. Mulheres assustadas e sujas.

-São todos seus, Justin.- Posner disse, batendo em meu ombro, saindo do galpão junto com Callaghan. Eu tentei dizer algo em minha defesa, mas eles simplesmente bateram os portões, fazendo com que os judeus que lá haviam se recolhessem mais ainda. Ajeitei meu quepe, meu uniforme e segurei na ponta da facoza, caso alguém tentasse algo contra mim. Comecei a andar, rondando-os. Minha vontade era de levá-los pra longe, de volta pra suas famílias. Mas não era possível. Não, ainda.

E então. Em um dos quatro cantos imundos do celeiro. Eu a avistei. O cabelo cobria grande parte do seu rosto. E sua pele, branquinha e alva, estava colorida em um tom cinza. Meus olhos brilharam, certamente, e um sorriso brotou em meus lábios. Ela arregalou os olhos e esboçou algum sorriso. Mas tinha medo. Tentei chegar mais perto, mas ela se afastou. Lancei um sorriso amarelo para os outros capturados, fingindo que nada tinha acontecido. Dei passos para trás e saí do galpão. Avistei o soldado Posner sentado junto à uma árvore, afiando sua faca.

-Heil...Posner. Que tal levá-los para a triagem?- sugeri, cauteloso

-Ahn. Eu?- ele resmungou, relutante em levantar-se

-Sim, você. Oras, levante-se e vá.

Posner se levantou e resmungou algumas palavras em alemão. Ele caminhou até o galpão e, alguns minutos depois, uma fila se arrastou pra fora. A última pessoa da fila, que olhava pra trás com frequência. Lancei um sorriso fraco à ela. E ela continuou rumando. Me esgueirei pra dentro do galpão e fui direto para o canto onde ela estava. Revirei lençóis, cobertores e trapos. E achei. Bem no canto. Envolto a muitos trapos. Dormindo feito um anjo. O Jaxon. O meu Jaxon. O Jaxon da Heike. Segurei-o no colo. Ele pareceu sorrir diante disso e eu sorri, automaticamente. Então, senti algo por debaixo da roupinha maltrapilha da pequena criança. Era um papel. Segurei em mãos e me sentei ali, na cama improvisada. Eu estava trêmulo e suava frio. Então, eu li palavra por palavra.

Enger, 04 de agosto de 1940.

Bieber,

Desculpe-me por escrever-te nessa folha suja e surrada. Mas não consigo esperar mais um segundo para responder-te.

Sua carta chegou em um momento horrível. A cidade fora, por fim, invadida. TUDO está em ruínas e tenho a leve suspeita de que eu e Jaxon somos os únicos sobreviventes do quarteirão.

Acabei de enterrar papai e mamãe no jardim da senhora Katja, que está morta em algum lugar da sua casa que fora reduzida a escombros. Cavei a terra com minhas próprias mãos, o que explica esse papel sujo. Meus dedos dóem e sinto que algumas unhas cairão logo, de tão doloridas- o que me leva a crer que alguma força me ajuda a responder-te.

Uma bomba, vinda do céu, caiu na rua, na casa ao lado, destruindo tudo. Papai e mamãe me jogaram no abrigo anti-bombas, e não tiveram tempo de salvarem suas próprias vidas.

Não consigo dormir há dias, fico sempre na vigia para ver se não descobrem a pequena portinha atrás da geladeira. Mas meus olhos doem e eu irei dormir há qualquer instante, desprotegendo esse refúgio.

Sinto que meu fim está próximo e algo me diz que essa é minha última correspondência a ti.

Fraquejei Bieber. Me desculpa.

Adeus.

Te amo.

Heike.”

Acabei de ler e sentia lágrimas escorrerem silenciosas. Segurei o pequeno Jaxon entre meus braços e o cobri com minha farda. Me esgueirei pela porta do galpão e voltei a sentir a luz do sol sobre minha pele. Caminhei até o alojamento dos soldados, tomando cuidado pra não ser visto.

-Heil, Bieber. O que você tem em mãos?- o cabo disse, assim que adentrei o refeitório. Senti meu coração parar de bater e minhas pernas tremerem.


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Notas finais do capítulo

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