Ready, Steady, Love escrita por N_blackie


Capítulo 8
Capítulo 8




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Segredos

O sol estava para nascer, e uma fina névoa cobria as torres do castelo enquanto Dorcas trocava de roupa. Ela e Gideon haviam marcado de se encontrar bem cedo na orla da floresta, e ela suspeitava que ele finalmente fosse pedi-la oficialmente em namoro. Como o corvinal tinha medo de quebrar as regras, resolveram ir bem cedo, já que não tinha problema algum em acordar assim. Ele que pensa, pensou ela enquanto ajeitava os cabelos, porque pra mim tem um problema enorme acordar agora.

Seus passos eram silenciosos, mas o coração da garota só se acalmou quando seus sapatos foram abafados pela grama coberta de orvalho dos jardins, e Dorcas puxou o casaco para si enquanto seguia na direção da floresta. Quando finalmente alcançou o local do encontro, procurou por uma árvore para sentar, só encontrando uma mais seca depois de alguns metros. Tomando cuidado para não se aproximar do grande Salgueiro Lutador, sentou-se na base de uma árvore próxima, fechando os olhos.

Já conseguia imaginar a cena linda que aconteceria, com Gideon chegando através da névoa segurando uma flor. Ela levantaria e sorriria tímida, pois não faria ideia do que ele queria. Dorcas sorriu enquanto imaginava o ruivo se ajoelhando e perguntando: "Dorcas Meadowes, seja minha?".

- Sim. – murmurou para o vazio, rindo de sua tolice. Suspirando pesadamente, viu o sol começar a despontar no horizonte, e ao longe pode ouvir um ganido. Assustada, olhou para os lados, procurando a origem do som. Assustada, levantou-se, querendo que Gideon chegasse logo para poder sair dali.

Enquanto virava a cabeça, outro ganido, dessa vez mais alto, foi ouvido. Dorcas apalpou as vestes, se amaldiçoando por ter deixado a varinha no dormitório, e pegou um pedaço de graveto próximo para se defender. Agitando a madeira de um lado ao outro defensivamente, começou a andar a passos lentos na direção de onde, mais uma vez, veio um ganido.

- Quem está aí? – gritou para a escuridão, ouvindo sua própria voz reboar nas árvores. Conforme se aproximava, suas mãos tremiam de nervoso, e Dorcas deixou o graveto cair no chão em choque quando, aos pés de uma frondosa árvore, viu um corpo. – Ai, Deus.

Correndo mais, viu que era um garoto, deitado de costas na grama. Seu uniforme, da grifinória, estava todo rasgado, e havia sangue escorrendo pelos seus ombros. Os cabelos cor de palha estavam sujos de poeira e arrepiados, e as mãos pálidas estendidas traziam arranhões e cortes feios por toda a extensão dos dedos até os braços. Dorcas desviou de outras árvores que bloqueavam o caminho até chegar ao garoto, que para seu alívio ainda respirava, mesmo que com dificuldade.

- Moço... – chamou, tocando de leve os dedos estendidos do garoto. O toque fez com que todo o corpo do garoto convulsionasse, e Dorcas sentiu um aperto de dó no peito. Aquele garoto havia claramente sido atacado por alguma coisa na floresta, e a garota ficou com receio de ver o estado em que estava seu rosto. – Moço...

Vendo que ele não tinha forçar para sentar, Dorcas se agachou e, delicadamente, virou o garoto. Na metade do caminho seu coração já havia parado. Era Remus.

O rosto do amigo estava tão pálido que a respiração era o único indício de que estava vivo, e havia manchas de sangue em todo o seu pescoço. Olheiras profundas marcavam seus olhos, e Dorcas pode distinguir a marca da pata de um cão em seu peito. Desesperada, chacoalhou o garoto de leve.

- Rem, Rem, acorda, por favor. Remus, o que está fazendo aqui? Oh, Deus, Remus?

As pálpebras do garoto se abriram lentamente, e a visão que Dorcas teve só piorou. Ela se lembrava dos olhos de Remus Lupin muito bem, já que o maroto tinha o costume de conversar com as pessoas olhando-as nos olhos. Muitas vezes a garota já imaginara se era só com ela, mas Lily comentara o quão desconcertante era a situação. Os orbes do garoto eram castanhas, profundamente castanhas. Marlene dizia que nunca vira um marrom tão vivo brilhar nos olhos de alguém quando Remus dizia que gostaria de ter nascido com os olhos cinza ou esverdeados como dos amigos, e isso marcara Dorcas.

Mas não era isso que ela via ali na Floresta. Os olhos que a encararam fracamente eram amarelos, de pupilas dilatadas ao máximo. Dorcas se viu refletida ali, olhando assustada para o amigo.

- Remus, o que aconteceu? – perguntou, deixando de lado a contemplação. Remus não parecia perceber que ela estava ali, já que não esboçava reação nenhuma. Dorcas procurou nas roupas pela varinha do garoto, mas não achou também. – Remus, precisa me dizer, por favor!

Ainda assim não houve resposta, e Remus continuava jazendo no colo dela, os olhos levemente abertos, encarando o vazio. Dorcas olhou para cima nervosamente, e viu que o sol estava quase saindo. Puxou Remus mais para perto, recostando seu corpo numa árvore, e começou a olhar os ferimentos. Pareciam garras, que atravessaram a carne como se fosse massa, e após um olhar mais atendo, notou que as marcas de patas de cão em seu peito pareciam defensivas. Seu rosto se contorceu ao imaginar se o cão estaria morto.

Seu olhar subiu pelas pernas do garoto, e a garota corou quando viu que suas calças estavam arrasadas, deixando parte das coxas à mostra. A barriga, arranhada, também aparecia, e Dorcas tirou a camisa de Remus, agora apenas trapos, para secar o sangue que escorria. Quando passou o pano por um ferimento particularmente ruim perto do peito do garoto, Remus rosnou. Dorcas se ergueu, assustada, e viu que por entre os lábios do garoto havia presas. Aterrorizada, deu um passo para trás, tropeçando num galho. Paralisada, viu o sol bater no rosto do garoto, e as presas começarem a se encolher, fazendo a garota duvidar do que havia visto.

Subitamente, os olhos de Remus arregalaram. Dorcas soltou um gritinho, mas paralisou de novo quando Remus começou a se mexer, balançando a cabeça. Como se tivesse acabado de acordar, Remus demorou em perceber que não estava sozinho, e a garota achou que fosse desmaiar quando as orelhas dele se mexeram, como se tivessem vida própria, quando ela pisou num graveto para tentar se levantar.

- R-Remus? – gaguejou, tentando lembrar que aquele era o garoto a quem considerava melhor amigo. Subitamente, as orelhas pararam, e o rosto aterrorizado do menino Lupin se virou.

- Dorcas? – balbuciou o garoto, seus olhos ficando do tamanho de duas bolas de tênis conforme ele se dava conta da situação em que se encontrava. Olhou para si mesmo e em volta, tremendo muito, e quando Dorcas achou que ele fosse sair correndo para se esconder, sentiu um arrepio percorrer a coluna, pois Remus se apressou até ela.

- Eu te machuquei? Você está bem?

- Eu... Remus, o que está acontecendo?

- Só me diz, o que está fazendo aqui? Ficou louca, vir assim na floresta? – Remus retrucou irritadiço. Dorcas nunca vira o garoto tão fora de si de medo. – Pelo amor de Deus, Dorcas, me diz o que eu te fiz.

- Nada! Eu vim aqui agora de manhã para ver Gideon, e encontro você quase morto no chão, o que queria que eu tivesse feito?

- Ai, Merlin, Merlin. – Remus murmurou, se levantando com dificuldade. – Vamos, você precisa voltar ao castelo.

- Não vou sair daqui.

- VAI SIM! – Remus rosnou, agarrando a garota pelos ombros. Dorcas congelou no lugar, sentindo vontade de chorar. Remus nunca levantava a voz para ninguém, e agora havia gritado com ela. – Vai embora, me deixa aqui!

- Você está com medo do que?

- Sai daqui, Dorcas, sai, sai, sai!

- Não vou! – gritou a garota de volta, revoltada. – Se você não vier andando comigo até e enfermaria, eu juro que vou começar a gritar e correr.

Ficaram assim um tempo, cada um de um lado se encarando, assustados. A respiração de Remus saia em arfadas nervosas, e Dorcas reprimiu um súbito desejo de acalmá-lo com um beijo. Nunca imaginara ficar em situação parecida, especialmente com o sempre bem-humorado e calmo Remus Lupin.

- Tudo bem. – o maroto baixou a cabeça, resignado. – Vamos, eu levo você.

- Como... – começou Dorcas, mas Remusa interrompeu.

- Que horas são?

- Quase seis. – murmurou a garota, e Remus deu de ombros.

- Ainda tenho um pouco, vamos.

E com um movimento rápido, pegou a garota no colo. Dorcas arregalou os olhos, imaginando de onde ele tirava tanta força, e percebeu que Remus não estava exatamente bem. Suas canelas estavam mais compridas, e seus dedos haviam deformado na forma de patas, como se estivesse apenas meio transformado em alguma criatura.

Remus correu com Dorcas em seus braços, sem dizer uma palavra. Derrapou diante da enfermaria, e bateu com os nós dos dedos na porta. Madame Pomfrey apareceu surpreendentemente rápido, e Dorcas ficou muda enquanto e mulher soltava uma exclamação e cuidava de Remus.

- Era para o Senhor esperar, Lupin! – reclamou a enfermeira, dando uma trouxa com roupas limpas para o garoto, que a apanhou e começou a trocar. Dorcas olhou para o outro lado, mas quando percebeu que ele já estava vestido, sentou ao lado da cama do garoto, olhando com firmeza para ele.

- Agora vai me contar.

- O que? – perguntou Remus.

- O que estava fazendo?

- Fui atacado. – responder Remus, de prontidão. Iria inventar qualquer coisa, como sempre fazia.

- Atacado por quem? – Dorcas se mostrou preocupada, e Remus suspirou.

- Não sei, foi muito rápido.

- E essa coisa transformou você. – as sobrancelhas de Dorcas se levantaram, e Remus sentiu o estômago dar uma volta. Não sabia o que ela tinha visto.

- Me transformou? Não sei do que está falando.

- Remus, você pode ser muitas coisas, mas mentiroso não. Seja honesto comigo.

- Estou sendo.

- Remus Lupin, é bom você medir as palavras e parar de bancar o idiota comigo. Acordei de madrugada, não vi meu namorado e estou na enfermaria com as mãos manchadas de sangue enquanto podia estar comendo. Se você não contar agora o que está acontecendo eu juro que vou armar um escândalo. Grande.

Diante das palavras dela, Remus arregalou os olhos.

- Por favor, não me faça contar. Sério.

- Estou esperando.

Remus baixou a cabeça.

- Dorcas...

- REMUS, NA ENFERMARIA! – gritou a garota, e Remus segurou os braços dela, implorando.

- Tá legal, tá legal. Sou um lobisomem. Pode sair correndo, mas não conta. Por favor.


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