CAPÍTULO VINTE E UM - QUERENDO TE ESQUECER

"Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras, não deixar vestígio de idéias obliteradas."

(Graciliano Ramos)

"Sério, por que vocês tem que me odiar tanto assim?" Pensava enquanto via o ser na minha frente, porque era isso que o mesmo era, uma mera criatura. Fabio ao me ver se levantou apressadamente, perplexo com o que vira. Mas logo, sua expressão que antes formava um sorriso virou algo tristonho. E aquilo... não me deu pena.

Juro, que se eu pudesse, queria apagar o loiro de minha memória. Todos os momentos que passei com ele, principalmente a partir do momento em que havia descoberto que o amava na infância. Com a maior "cara de pau" o mesmo foi em minha direção, os olhos marcavam o quanto não havia dormido. Será que era por causa do que ocorreu ontem?

_Manu, eu... _começou, mas eu o cortei.

_Vamos, Nath. _comentei o ignorando, puxando minha amiga pelo braço.

No momento em que passava por ele, via seu rosto mudar para aborrecido. Aquilo me faria rir, mas estava muito braba para isso. Logo, senti passos atrás de mim, provavelmente correndo. Nathália já me olhava de um forma preocupada, é... acho que o loiro estava me seguindo.

_Espere ai, temos muito o que conversar. _tentou falar comigo novamente, puxando-me pelo braço em sua direção.

A loira ao meu lado apenas disse que ia comprar sorvete, deixando-nos a sós. Então foi neste instante que percebi que teria de encará-lo, contar tudo o que me afligia. Fábio tinha tudo o que queria, e comigo não seria diferente.

_Você saiu ontem sem nem ao menos deixar eu me explicar. Não me deu satisfação e muito menos contou o motivo de nos separarmos. Diz-me, como posso me defender, se nem ao menos sei o por quê? _questionou, a face vermelha pela ira.

_Você sabe o que fez, sabe muito bem. _sibilei palavra por palavra, tentando fazê-lo entender sem precisar explicar ao mesmo.

_Não, realmente não entendo.

Ah, isso já estava me irritando.

_Não? NÃO! Tens certeza disso? _questionei em raiva, não conseguia mais controlar meus atos. _E, larga-me. Isto está me machucando. _dei uma indireta.

_É? Pois é para doer mesmo, para que sinta o que senti. Você me feriu muito também, Manu. _esbravejou.

_Droga! Você está mudando de assunto, Fábio. _exclamei, tentando me desvencilhar dele.

_Eu nego, porque eu não sei do que está falando. E, nem tente fugir de mim, pois não irei te soltar; não agora. _disse, abraçando a mesma a força. _Apenas diga... o que te magoa tanto? _sussurrou, rente ao meu ouvido.

_Foi vo-você que co-colocou o vídeo do dia da webcam na minha casa, não? _sussurrou de maneira constrangida, corando enquanto o fazia.

_Que dia? _sorriu divertido.

_Sabes muito bem, seu idiota! _retrucou, batendo em seu braço.

_Céus! Não acredito... alguém fez isso contigo? _com uma falsa surpresa.

_Para de brincar, garoto! Fale logo de uma vez. _esbravejei, perdendo a paciência.

_Esta bem, fui eu que coloquei. _confirmou, quase em um fio voz.

_Co-como? _mesmo ela tentando jogar verde, não tinha certeza que era ele o culpado. 

_Fui eu, "ta"? Que saco! _berrou, as mãos em punho.

_Ma-mas, por quê? _questionou, olhando diretamente para ele.

Eles ainda continuavam abraçados, deixando-me desconfortável.

_Sinto muito, mas eu fiz pensar. E-eu cometi uma loucura ao ver tu e o Matthew se beijando aquele dia na lanchonete, fiquei quase louco. Então... eu coloquei o CD como vingança. _disse simplesmente, olhando para o chão, árvore, menos para mim.

_A é? E por acaso pensou que meu irmão poderia ter visto isso? Acho que não, né? _a raiva a dominava no momento.

_N-não, já disse que fiz isso em um péssimo momento! _exclamou.

Nathália tinha voltado há um tempo e observava a cena com perplexidade, provavelmente desaprovando a atitude do loiro.

_Como você pode ser tão idiota para chegar a esse ponto, em? _minha amiga quebrou o "clima", gritando para que o mesmo a escutasse.

_Eu estou falando contigo por acaso? _rebateu, soltando-me com brutalidade e se virando em direção a outra.

_Não, mas não pude deixar de comentar. Realmente você é imbecil, agora quem quer me afastar de ti sou eu. _começou, pegando-me pelo braço e me levando a entrada. _Adeus, otário. _finalizou, quase me quebrando ao correr para o local.

Ao olhar para trás gargalhei, pois Fábio parecia não saber o que fazer no momento. E aquilo, definitivamente, não era parte de seu feitio.

_Por que você fez aquilo, Nath? _comecei quando sentamos em um dos bancos na frente da sorveteria, após pegar um sorvete de ninho trunfado.

_Por quê? Você ainda pergunta o por quê? Juro-te por tudo que é sagrado que eu não seria mais sua amiga se você o perdoasse. Ele só faltava esfregar na sua cara o quanto te humilhou, Manu. Deu vontade de quebrar a cara daquele desgraçado ao ouvi-lo te ironizando, só não o fiz porque estamos em um local público. _confessou, a cara emburrada.

_Tens razão. _suspirei, olhando para o meu pote de comida que começava a derreter.

_Que tal esquecermos isso e irmos para o playground? Aposto que ganho de você na dança. _isso era um desafio? estou dentro!

Preciso mesmo falar o final? Bem... ela ganhou com uma grande vantagem de diferença. Eu era completamente destrambelhada no brinquedo, como em qualquer outro que eu use. Estou começando a pensar que não sou boa em nada, e isto não é algo interessante de se falar.

Saímos do shopping e fomos para a parada de ônibus, sendo que este demora para chegar. Nathália não parava de olhar para o outro lado, e aquilo me deixou curiosa. Ao olhar para o mesmo ponto, arrependi-me.

_Aquele ali não é o Matthew, Manu. _Sua voz foi morrendo enquanto completava a frase, já que a mesma notou que eu já sabia disso.

Como não é novidade para ninguém, ele estava com a Bianca. Seu braço estava no ombro da mesma, enquanto a outra o enlaçava pela cintura. Estavam rindo como se nunca tivessem feito isso antes, e aquilo me enojava.

_Por que não vai falar com ele, em? _comentou minha amiga, destruindo o meu pensamento.

     Havia apenas um detalhe, ela não sabia que nós havíamos combinado de não nos falarmos mais.

_E-eu e ele não somos mais amigos, Nath. _E aquilo era como uma facada a cada palavra que eu proferia.

Não sabia que ia doer tanto ou que preferia nunca ter dito isso. Melhor, nunca deveria ter o conhecido. Maldito o dia em que entrei naquele auditório ou que fiquei nele até tarde. Por que ele não se comportou quem nem outros e me ignorou? Mas não, ele tinha que burlar essa regra e virar a minha vida um inferno. O ônibus chegou, deixando-me aliviada.

Neste momento o moreno me viu pela janela do veiculo, e o mesmo não parava de me fitar. Eu fiz igual, tentando buscar segurança em seu olhar. Um apoio para que eu não desistisse de ignorá-lo, mas era quase impossível. Eu estava quase no limite de minha resistência, sendo que a saudade causava isto em mim. Apenas um dia sem falar com o mesmo e... parecia o fim.

_Por quê? _disse simplesmente após um longo tempo de silêncio.

Não, sabia que não aguentaria. Lágrimas começaram a rolar de meu rosto, denunciando minha fraqueza. É... Matthew era meu ponto fraco, nunca poderia evitar. Desde o instante em que me descobri apaixonada por ele sabia das conseqüências, mas mesmo assim fui idiota para tanto.

_Se não se importa, prefiro não falar sobre isso. _sussurrei em um fio de voz, aquele que restara para pronunciar apenas essa frase.

O meio de transporte parou no ponto perto de minha casa, fazendo com que eu caminhasse até a porta. Nathália apenas percebeu que eu estava chorando quando o ônibus partiu e ela pode me ver pelo vidro. E isto, deixou-me muito aliviada.

***

Meus pais estavam na sala, as expressões transbordavam felicidade. Tão diferente do que eu estava sentindo. Eles eram fortes para aguentar seus problemas, por que eu não poderia? Aliás, o único motivo para os mesmos não verem minhas lágrimas era porque eu havia as limpado antes de entrar.

_Estávamos esperando por você, meu anjo. _começou minha mãe, apontando para a cadeira ao seu lado com o intuito de que eu sentasse nela.

_Então... Manu. _começou meu pai, porém pausou antes de continuar. _Nós estávamos pensando sobre o vídeo e a prova que temos de que não roubamos a empresa e... _ele tentou continuar, mas foi cortado.

O mesmo rolou os olhos ao saber que D.Clara sempre quer terminar uma conversa.Yeap! Ele não tinha como deter isso.

_Sim, filha. Decidimos, juntos, que iremos enfrentar este caso novamente na justiça. _finalizou, deixando-me surpresa.

Eu sabia da coragem que os mesmos tinham, e admirava isso, porém isso era muito arriscado agora. Eles não estarão enfrentando um alguém "qualquer", mas uma pessoa poderosa. Que poderia pagar o impossível para não ser presa.

_Vocês tem certeza disso? _questionou, mirando-os com receio.

_Sei que se preocupa conosco, minha filha, porém sabemos o que estamos fazendo. Não há mais como voltar atrás, pois falamos com o delegado hoje a tarde e o mesmo aceitou nossa proposta. O advogado virá amanhã, meu anjo. _respondeu.

Então por que falaram isso para mim? Yeah! Agora apenas resta desejar-lhes boa sorte.

_Então, está bem. Rezarei para que vençam o caso. _despedi-me dando um beijo em cada um.

Céus! Meus pais não tomavam jeito. Logo, comecei a pensar em Matthew e no olhar que o mesmo me direcionou. Era como se ele também sentisse saudade de mim. "Droga! Para de se iludir, Manu, por favor". Pensou, antes de completamente se jogar na cama. Terminou suspirando em tristeza e esperança, da qual ainda acreditava que o mesmo queria o seu bem.