CAPÍTULO DEZESSEIS - SENDO CONTRARIADA

"Hoje sou vontade

Quero saciar essa minha sede de loucura

Quero olhares proibidos

Encontros desmedidos

Sem preceitos e sem pudor

Beijos insanos e toques profanos

Quero o que a vida tem de nu e cru

Minha alma é ardente e só se branda ,

quando saciada a minha sede."

(Bruna Reichter)

            Apertava, fracamente, o pacote com CD em minhas mãos, tentando entender o porquê dele fazer isto. As palavras "Eu confio em ti, sei que farás o que me prometeu" ficaram gravadas em minha mente, algo que Fábio disse antes de me deixar em casa no nosso segundo encontro.

            Nunca entenderei seus gestos, acho que seria inútil perder o tempo tentando decifrá-lo. Era mutável, alguém com mil facetas. Falso não era, mas sim alguém que não dá credibilidade em suas decisões. Por esse motivos e outros que tendo a desconfiar do mesmo, pois reconheço que posso me machucar.

            Aceitava-o a um ano atrás, ou até há 2 meses, pois sabia que ainda o amava; porém está afirmação parece deveras impossível atualmente. Algo passou por meu pensamento neste momento... mostrar ou não o vídeo para minha família. Receio ter de fazer e magoá-los mais ainda, mas não poderia permitir que eles continuam a ter a fama de "sujos" na sociedade.

            Escutei um som vindo de baixo, uma alta batida de uma música conhecida, provavelmente era meu irmão chegando do trabalho. Estava bravo, dando de saber por causa de suas fortes pisadas, que dava de ouvir mesmo sendo abafado por outro barulho. Subiu a escada, dando apenas para esconder o CD antes de o mesmo abrir a minha porta de uma rude maneira.

_Por acaso você enlouqueceu, Manuela? _a primeira coisa que perguntou antes de pegar meus braços, após me levantar de forma brusca da cama, e sacudi-los. Isto me levava a pensar que a maioria da minha família tem um certo problema com... agressividade.

_Eu me recuso a responder antes de você especificar o assunto, eu... _tentei continuar, porém ele novamente me sacudiu.

_Cale esta boca! Não precisa responder a pergunta que já está explicito em sua "cara". A única coisa que eu não admito é que queira acabar com a sua vida tão precocemente, sua idiota. _comentou, a voz e o olhar em cólera. _Deves ter esquecido o quão mal aquele miserável te fez para aceitar sair com o mesmo, ou pior, beijá-lo! _finalizou, deixando-me boquiaberta.

_Você não sabe o que aconteceu para me julgar desta maneira, Jared! _disse irritada.

_Sei o bastante para saber o quanto você vai se machucar com isto. Aquele animal não tem sentimentos, e muito menos coração para amar alguém. _declarou.

_Eu reconheço que ele errou, mas pediu perdão. Apenas dei uma segunda chance ao mesmo. _respondi, acalmando-me.

_A é? E como sabes que isto não passa de um truque? Que ele não vai te magoar igual da última vez? Porque eu não irei mais te consolar, Manu, não mais! _protestou.

_Apenas me cansei de ter medo e não arriscar, pois nunca saberei a verdade se não acreditar mais uma vez nele.

_Não existe somente ele no mundo, Manuela. Não precisar dar crédito a alguém que já lhe fez muito mal e que poderá errar novamente. _disse suspirando, mostrando o quanto estava cansado deste assunto.

_Eu não quero mais conversar sobre isto, por favor deixe-me sozinha. _disse tristemente, levando-o para fora do quarto e batendo a porta em seu rosto.

            Reconheço que meu irmão está certo, porém não posso mais recusar qualquer decisão que mude minha rotina. Deitei-me na cama, pensando em Matthew. Provavelmente ele estaria com Bianca e nem saberia sobre meu caso com Fábio, porém tinha a esperança de que o mesmo ainda se importe comigo. Um toque tirou de meus devaneios, atendi o celular ao vê-lo na cabeceira.

_Alô. _falei rapidamente, não dando para ver o visor.

_Alô, meu amor. _disse, a voz mostrava-se contente.

_Fábio? Por que está me ligando? _questionou surpresa, pois sabia que ele não tinha o número de meu celular.

_Apenas queria ouvir sua voz, Manu. _respondeu aos risos.

_Sério? Então vou desligar, já que era somente para isso que ligou... _comecei, mas fui cortada.

_Não... eu também quero que se encontre comigo. _confessou rapidamente.

_E eu posso recusar? Porque eu não estou com vontade. _ironizei.

_Pode, porém iremos voltar a nossa antiga relação. _chantageou, provavelmente com um sorriso maroto no rosto.

_Você, você... não iria fazer isso, ou iria? _questionei nervosamente, admitindo que não desejava mais brigar com ele.

_Tu me conheces o bastante para saber que cumpro minhas promessas, Manuela. _confirmou.

_Oh, céus! Então... que hora você vem me buscar, mesmo? Às seis? _questionei, fazendo-o rir do outro lado da linha.

_Claro, encontro-te na lanchonete perto da escola. _finalizou, desligando em seguida.

            Arrumei-me rapidamente, pois já eram 5h30. Jared chegou a implorar para eu não ir, mas eu o ignorei e fui para o local. Cheguei na lanchonete e Fábio estava me esperando, porém estava acompanhado de outra pessoa. Matthew estava na mesma mesa, sem Bianca, de braços cruzados, olhando-me com irritação.

_Ainda bem que veio, meu amor. _disse indo em minha direção, enfatizando a palavra 'amor', e me dando um selinho.

_Se dependesse do Jared eu não estaria aqui. _respondi aos risos.

_Eu não sabia que era tão burra para se envolver com alguém como o Fábio, Manu. _interferiu Matthew, seu tom estava frio e áspero.

_Estais insinuando que eu sou apenas um troféu, Matt? Porque prefiro estar com ele do que ser enrolada por alguém que nem se importar comigo faz. _comentei, dando uma indireta para o mesmo.

_ A é? Pois eu prefiro enrolar do que ser corno. _declarou, o rosto vermelho pela irritação.

_E tu não é ninguém para se meter em minha vida, Matthew. Por favor, deixe-me em paz! _esbravejei.

            Ele se levantou e saiu do estabelecimento a passos largos, mostrando o quanto estava incomodado com isto. Fábio e eu ficamos sozinhos porém ficamos em silêncio, fazendo o mesmo me olhar preocupado. Logo, sua expressão se tornou melancólica, falando algo que me deixou atordoada.

_Você o ama, Manu? _questionou seriamente, esperando a minha resposta.