CAPÍTULO DEZESSETE - O REFLEXO DE QUEM NOS AMA.

"Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.

Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
-tem que ter reflexo."

(Pablo Neruda)

            Aquela pergunta havia me surpreendido, eu não esperava esta reação de Fábio, não mesmo. Enquanto olhava para ele, percebi o quanto expressivo era. Mesmo tentando esconder sua tristeza em relação a isto, dava para notar o quão estava ao encarar seus olhos. Senti-me em uma arapuca, com a mínima vontade de respondê-lo.

_Sim. _declarei, observando a sua próxima reação. _Porém, estou contigo e não quero te perder. _finalizei ao suspirar, temendo pelo nosso futuro.

            Yeap! Tinha que admitir que eu estava gostando de estar com ele, e não queria, de maneira alguma, ter que voltar a nossa relação passada.

_Eu não sei o que fazer agora, não quero prendê-la a mim, Manu; mas reconheço que terei que seguir, sem desistir ou deixar de batalhar por ti... _começou, ameaçando terminar a frase.

            "Sim, sim!" Gritava em minha mente, desejando que ele fizesse mesmo isso. Por tudo que fosse sagrado, como queria.

_Estaria disposta a correr este risco, Manu? _questionou pausadamente, o pesar em seu tom.

            A consciência dizia o quão arriscado seria aceitar sua proposta, poderia ferir com seus sentimentos, brincar com seu coração. Porém, todavia, quem disse que dou ouvidos a ela?

_Eu que deveria perguntar isto, não? Porque poderia machucá-lo, mas em nada vai me afetar. _respondi com frieza.

_Tens certeza? Pois, sabemos que há sempre uma conseqüência em cada caminho que escolhemos. Você tem duas opções: Aceitar e ficar comigo, ou recusar e voltarmos ao passado. _declarou, convicto de suas palavras.

_Eu não sei, tenho medo de magoá-lo. _confessou, a preocupação em sua voz.

_Não me importo com isso, não agora; apenas quero que sejas feliz. Eu não tenho medo de me arriscar, e você? _respondeu, sorrindo após comentar, deixando-me mais segura.

_Estou contigo, não é? Então não há mais nada a fazer. _finalizou, sorrindo junto com ele.

            Fábio foi em minha em direção, abraçando-me seguida. Droga! Isto não era justo, nunca era. Fazia com que eu tivesse vontade de chorar, desejar que o amasse também. Apesar do nosso passado, brigas e vinganças, sabia o quanto ele estava arrependido.

            Lágrima a lágrima sendo derramada em minha face. "Céus! Era tão injusto", pensava enquanto o loiro me acalentava em seus braços. Ainda não havia notado o meu choro, e eu agradecia por isso. Logo, comecei a soluçar, aquilo era automático e Fábio se afastou de mim ao me escutar.

_O que houve? _perguntou de maneira preocupada.

_Não é correto, isto nunca deveria acontecer! Sabes que não te amo, mas também que queria correspondê-lo. _exclamou, a voz falha pelo choro.

            Ele se aproximou, enlaçando-me pelos braços. Aqueles olhos, estes agora demonstravam tristeza. A mais dolorosa melancolia, um ato que me queimava por dentro. Seus lábios foram de encontro a minha face, dando um doce beijo em meu rosto.

_Por favor, não diga! Não posso permitir que fales isso, que não me ama. Eu não quero isso, pois me quebra, e muito, Manu. _confessou lentamente, não me olhando.

            Isto me surpreendeu mais do que a outra pergunta, de fato me assombrou. Se fosse eu já teria fugido, escondido-me. Porém, reconheço que ele nunca fora igual a mim. A coragem em seus atos me fazia admirá-lo mais, e fez com que eu sorisse por isso.

            Tomei a iniciativa, e fiz algo que não era de meu feitio. Segurei seu rosto e o beijei!

            Ele correspondeu.

            Amor e afeto em suas ações.

            Fábio me tocava de uma maneira única, algo que não poderia deixar de notar. Era a primeira vez que alguém me beijava com carinho, e com... desejo. Sim! Apenas ele me amava para tanto, e isto nunca poderia negar. Paramos o contato depois de um tempo, e o mesmo me olhou de maneira perplexa.

_Eu sei que não devia, porém o aceito por ti, apenas por ti. _respondi finalmente, fazendo-o ficar feliz pelo desfecho.

            Beijamo-nos muito neste dia, e fiquei contente por saber que ele tinha me compreendido. Sei que me arrependerei, mas, realmente, eu teria que me arriscar por ele.

***

_Manu, venha aqui! _esbravejou Jared, chamando-me com urgência.

            Fui até ele, os passos pequenos, temendo pelo que ia ocorrer. Ao chegar na sala notei que segurava um CD nas mãos, a expressão irritada. Senti vontade de socá-lo ao perceber que era o objeto que Fábio havia me dado. Meu irmão não podia, aquilo estava indo longe demais!

_Pode me responder o que é isto, Manuela? _questionou, colocando o conteúdo no DVD.

_Você não podia mexer nas coisas do outro, Jared! _exclamou, mas era tarde demais.

            O vídeo começar a passar, e aquilo a deixou arrasado. Fábio não havia me dado o CD da audiência, mas sim outro. Não! Como eu sou estúpida, muito idiota. Fui ingênua demais ao acreditar nele, e aquilo acarretou em conseqüências.

            Na tela estava passando cenas do momento em que havia me mostrado para ele na WEB, algo que ocorreu há muito tempo. Eu não entendi como o mesmo ainda tinha guardado aquele vídeo, ou melhor, que havia filmado aquilo.

            Queria me esconder de tão constrangida que estava e ao olhar para o irmão percebi que ele não acreditava que aquilo era real. Sua raiva era tão grande que seu rosto ficou vermelho, o olhar demonstrava a cólera que sentia. 

_Não vai responder, porque eu estou esperando. _disse de forma afoita, o estresse o consumindo.

_Eu não sabia, juro que não sabia. _declarei.

_Sério? Porque eu ainda não acredito que você fez isso, Manu. E o pior, saber que minha irmã é uma garota p*** e sem valor. _confessou tristemente.

_Por favor, pare! Eu não sabia que era o Fábio, não mesmo.

_Ah, então era um desconhecido? Pior ainda, pois você tinha consciência do quão ruim é fazer isto.

_Não era para ter isto no CD, mas outro conteúdo.

_Oh sim! E qual? Porque o que eu vejo é uma pessoa ingênua que está sendo chantageada pelo que fez, não é verdade? _questionou rapidamente, discordando da mesma.

_É verdade. _concordou, suspirando em seguida.

_E você foi burra o bastante para sair com ele por causa, e o pior, nem contou para mim sobre isso. _comentou espantado, preocupando-se com o futuro da mesma.

_Eu sei, sinto muito.

_Não se desculpe, já é tarde demais. _finalizou, saindo em seguida.

            Mal esperei Jared sair e liguei para Fábio, querendo enforcá-lo com minhas próprias mãos. Eu não deveria ter chorado, não podia, principalmente por causa dele. Tentei parar as lágrimas que saiam, enquanto esperava o mesmo atender.

_Alô. _cumprimentou de maneira contente.

_Está tudo acabado entre nós, seu babaca! Estou com outro, e não quero te ver nunca mais, nunca. _confessei rapidamente, indo desligar o celular.

_Espere ai, por favor. O que houve?_exclamou, o tom desesperado.

_Você acha que eu sou estúpida? Eu acreditei em você, porém tu foi o pior dos idiotas por ter feito isso. ESPERE QUE SE ARREPENDA POR ISSO, E MUITO! _berrei, tentando colocar toda a minha raiva para fora.

_Eu não estou entendendo nada. O que aconteceu? _questionou, realmente confuso.

_Não se faça se sonso, você me entregou o CD de quando eu apareci na WEB com a certeza que eu seria ingênua o bastante para não desconfiar.

_Para com isso! Eu te entreguei o CD do dia do festival, pode ir lá conferir se quiser.

_Eu não posso mais acreditar em você, sinto muito. _finalizei, e mesmo com seus protestos eu desliguei na sua cara.

            Fui para meu quarto, e olhei em minha gaveta. Continha o objeto, o mesmo que eu tinha visto nas mãos do meu irmão, pegando-o em seguida. Fui até a sala e coloquei o conteúdo no DVD, e o que vi fez com que me sentisse culpada. Ali estava o que Fábio havia me prometido, e fiquei com dúvidas em relação ao que ocorreu anteriormente.

            Então... quem teria posto o outro CD para que Jared visse?

            Será que Fábio tinha falado a verdade ou havia planejado tudo isto?

            Aquilo, com toda a certeza, era muito duvidoso; e eu irei descobrir o que há por traz disso, custe o que custar!