Think Twice escrita por Nuvenzinha


Capítulo 5
C5. Damn Day


Notas iniciais do capítulo

Especial lixo para o Dia dos Namorados, ok? ok. u_u



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Horário de almoço; Melhor dizendo, os dez minutos finais deste. Já haviam se passado duas semanas desde o início das aulas; o tempo que Tsugumi tinha de ficar longe de atividades físicas estava acabando e, graças a sua nova dieta, seus ossos realmente estavam mais fortes; mas, diferente dos outros dias, sua única companhia era Misaki e sua marmita quase vazia. Por que isso? Olhava pela janela da sala e lá estava a resposta: no pátio, estavam Kida e Mikado almoçando juntos de uma menina de cabelos negros. Aquela era a representante de sala, Sonohara Anri.

-Eu não... Acredito... que aqueles dois... Nos trocaram... Por um par... De peitos maiores... - a ruiva rugia entre uma porção de comida e outra, indignada.

Tsugumi apenas tentava amenizar a raiva da amiga com palavras calmas, por mais que também estivesse incomodada com a ausência dos rapazes; Ela mesma sabia que aquilo de nada iria adiantar, mas o que mais ela poderia fazer? Claro que ela sentia inveja do busto voluptuoso de Anri e queria seus amigos de volta - assim como queria iniciar seu treinamento com Shizuo - mas se ela concordasse com Misaki, esta jamais superaria aquilo; por isso, a franzina simplesmente mantinha seus ouvidos atentos e deixava a amiga botar seus sentimentos para fora. "Vai fazer bem para a Misa-chan".

O ciúme que a ruiva não era o natural ciúme de amigos de infância - que Misaki enfatizara várias vezes durante a 'conversa'; era algo muito maior que isso, mas a de cabelos castanhos jamais diria algo a respeito em voz alta. Dizer isso? Para que? Levar patada de uma menina tão irritável e impulsiva como a que estava sentada a sua frente, devorando sua comida? Não, obrigada. A escolha mais sensata é viver.

A tagarelice sem sentido continuou por algum tempo. Misaki falou, falou, falou; mas, antes que ela pudesse dizer algo conclusivo, o sinal fez o favor de calá-la.

-Mas já?! -Tsugumi olhou assustada para a amiga.

-Saco! - grunhiu Misaki-  É a terceira vez que essa merda de sinal me interrompe essa semana!

Engoliram a comida apressadas, escondendo embaixo da carteira as folhas que haviam rabiscado e colocaram suas mesas nos lugares certos, sentando-se. As pessoas foram chegando à sala, tomando seus lugares intimidados pelos rostos sérios que as duas esboçavam. Por algum motivo, aquele semblante assustador servia apenas para que elas não morressem de rir. Não que houvesse um real motivo para rir, apenas as bobagens que passaram por sua mente ao ver o susto que os colegas levavam. Vai saber qual era a graça. Isso se havia alguma. De qualquer maneira, optaram por não rirem. Imagine a bronca que levariam do professor se quebrassem o silêncio.

Tsugumi queria manter a ficha limpa, obrigada.

"Se eu aparecesse com uma advertência, meus pais iriam exigir que eu voltasse para Osaka. E eu ainda tenho muito o que aprender com Shizuo-senpai. Não antes de trazer o Kyo-chan de volta".

Andava pela rua, olhando com desprezo por toda a extensão da rua por onde passava. Era uma rua grande, como é de se esperar de uma avenida principal; olhava para a esquerda, direita, frente, trás. Pessoas usando amarelo em todas os cantos.

-Maldita gangue.

 Shizuo sentia muita raiva daquilo, especialmente por causa do tumultuo que esse grupo, os 'Lenços Amarelos', estavam criando em toda Ikebukuro. Aquela cor já estava enjoando-o de tão presente que era na paisagem urbana. Queria bater no primeiro daqueles baderneiros que ele pegasse fazendo confusão; mas ele tinha bom senso o suficiente para saber que se ele batesse em um, o resto do grupo viria atrás dele; então, resolveu que não correria o risco; Mas aquilo apenas irritava-o mais.

Apesar da irritação constante que aquele amarelo maldito lhe causava, seus dias andavam monótonos. Pouco trabalho; Izaya não aparecia haviam dias ( o que realmente deixava Shizuo contente, mas não o suficiente para sorrir); Nada que ele tivesse que pensar, uma vez que ele não tinha família para sustentar e nenhuma aula para bolar, uma vez que tudo que ele fazia a menina considerava como lição. Mas ela não tinha aparecido nos últimos 3 dias. Acho que ela havia desistido.

Estava errado.

-Shizuo-senpaaaaai! ~

O loiro ouviu seu nome em meio ao barulho da multidão, sendo chamado por uma voz doce que não reconhecera de cara, mas não teve nem tempo de vasculhar o local atrás de quem tivesse chamado-o: logo sentiu algo - no caso, alguém - agarrar-se ao seu tronco. Erguendo os braços na altura dos ombros, olhou para baixo e cruzou olhares com o de Tsugumi, que mirava-o com suas enormes e brilhantes orbes violetas e com um sorriso igualmente radiante em seu rosto infantilizado.

Não demorou em livrar-se da menina, num susto. Não que aquilo lhe inspirara qualquer tipo de medo, mas não esperava algo tão repentino como aquele abraço, muito menos dela, que estava sumida; Repreendeu-a com um peteleco em sua testa, lhe dizendo um par de palavras rígidas.

-Achei que tivesse desistido. - terminou de falar, passando um dos dedos embaixo do nariz e cruzando os braços em seqüencia.

-Desistir?! Eu?! - A pequena bateu o pé - Nem pensar! Faltei quatro dias e você já acha que eu vou desistir?! Só estava passando um tempo com os amigos que fiz aqui. - ela tirou uma caixinha de leite de dentro da bolsa e tomou um gole - Já estamos nos dando muito bem! Então, cá estou. - sorriu outra vez.

Shizuo ficou quieto. Pensou um instante. Ele ainda era mestre dela... Era? Ele estava era com uma grande interrogação em sua mente, isso sim; Imaginou todos os problemas que uma adolescente poderia trazer-lhe, dentre eles havia o detalhe de que ele potencialmente não conseguiria gerenciar seu tempo para pensar em tudo. Mas aquilo foi descartado de cara. Ele mesmo sabia que não tinha muito que pensar durante o dia, sem falar que ele já estava se acostumando com isso, mesmo.

"Sem falar que, se ela me olhar com aquela carinha de choro de novo, não vou conseguir esquecer de jeito nenhum".

-Shizuo-senpai, que sorriso bobo é esse no seu rosto?

-Hã? - chacoalhou a cabeça, confuso, franzindo as sobrancelhas - Nada, nada de importante. - Depois de mais uma mudança facial, virou-se de costas para a menina e pôs-se a andar em meio às pessoas, chamando a aprendiz com um gesto de mão - Anda. Se não formos logo, você não vai conseguir dormir de noite por ter atrasado na primeira aula.

-Hai!

Tsugumi apertou seu elástico de cabelo para deixar firme seu rabo de cavalo e seguiu-o com um sorriso no rosto, balançando a cabeça de um lado para o outro enquanto saltitava.

Mas não saltitou por muito tempo; não demorou para correr um pouco e grudar em seu mestre, assim que viu um rapaz de amarelo observando-a ao longe.

Acabara de chegar em casa. Tirou seus sapatos negros ao lado da porta, calçando um par de chilenos velhos, que eram seus companheiros da madrugada. Estava cansado do treinamento daquele dia; quase morreu ao escorregar enquanto tentava erguer um latão de lixo que era pouco maior que ele; Shizuo foi arrastando-se pelo corredor estreito da casa escura e silenciosa - que, um dia, habitou com sua família- em direção à cozinha, onde sentou-se à mesa e, com um copo de leite na mão, pôs-se a observar o luar pelo vidro da porta que dava para a área externa da casa.

Sua casa não havia mudado muita coisa desde que ele havia tentado jogar a geladeira em cima de Kasuka, seu irmão mais novo, tirando o fato de que agora ele mora sozinho naquela casa. Era meio solitário pensar que ele não tinha mais nada que o impedisse de sair daquele lugar, mas mesmo assim sequer tentou vender. Entre um suspiro frustrado e outro, tomava devagar seu leite; A temperatura do líquido acalmava sua garganta, cansada de ter de gritar com Tsugumi. Mas o que ele podia fazer? Não dava para simplesmente pular fora agora que ele havia aceitado-a como aprendiz.

Mesmo que ele quisesse.

Sem falar que ele sabia muito bem que o motivo de seu cansaço não era esse. Tampouco sua rotina solitária e monótona; Nem mesmo Izaya era seu motivo principal de frustração e raiva. Shizuo sabia que tinha algo a ver com a época do ano, mas só ao rolar o olhar pelas paredes da cozinha e ver em seu calendário, lembrou-se o motivo.

O Dia dos Namorados era no dia seguinte.

Levou a mão à testa, massageando-as têmporas. Desde a época da Raira, detestava aquele dia. Aquelas colegiais com hormônios a flor da pele que gastavam suas preciosas mesadas para comprar chocolates para as pessoas amadas, apenas para, no mínimo, assistirem os garotos se lambuzarem com o doce sem nem ao menos agradecer. Claro que ele, sempre que recebia um, agradecia, mas nunca consumia. Ou devolvia, ou jogava no lixo.

-Que investimento besta e sem valor.

Era o que ele dizia para si e também disse para sua aluna aquela noite inteira, ainda mais quando passavam na frente de algumas lojas e viam muitas coisas em forma de corações e embrulhos de papel laminado rosa ou amarelo, quase dourado. Por mais que gostasse de amarelo, muitas coisas em Ikebukuro ( como, por exemplo, a gangue que usava a cor como identificação ) estavam fazendo ter um desgosto muito grande da mesma.

Bateu o copo vazio na mesa e levantou-se da mesa. Todos os seus músculos clamavam por descanso. Subiu as escadas em um esforço sôfrego. Chegou em seu quarto; Colocou seu pijama; Sentou-se em sua cama e deu uma última olhada no luar antes de adormecer automaticamente quando sua cabeça atingiu o travesseiro.

Desta vez, era dia. Por volta das dez da manhã, para ser mais exata; Já era a segunda vez que Tsugumi encontrava-se sentada no sofá de couro negro do escritório de Orihara Izaya, esperando para ser atendida, segurando apreensiva sua pequena bolsa branca de florezinhas avermelhadas que combinava com sua blusa de verão. E, mais uma vez, o motivo de ela estar lá era Shizuo.

Novamente, levou algum tempo para que finalmente fosse chamada pela secretária do informante, que a colocou para dentro da sala da mesma maneira que da última vez. O que diferia da última visita é que, desta vez, ela não tinha um rosto para imaginar. Enfim.

Entrou na sala e deparou-se com Izaya, que saudou-a sonoramente, mesmo sem tirar os olhos da tela de seu PC. Sequer conversaram; o informante logo sacou um papel e uma caneta e escreveu algumas coordenadas, entregando para Tsugumi com um sorriso cínico no rosto. Mas não era como os outros que ela havia visto em sua estadia em Ikebukuro. Parecia mais... pervertido que os outros. Mas, como sempre, sua coragem não era suficiente para perguntar a respeito daquilo e se foi, apenas agradecendo.

Ela tinha de pegar um taxi logo, antes que as ruas ficassem lotadas demais.

Ela tinha algo importante para entregar.

Eram quase onze horas da manhã. A luz do sol finalmente começou a perturbar os olhos de Shizuo, que permaneciam cerrados por pura teimosia havia pelo menos meia hora. Seu estômago roncava; sua mente não queria mais saber de desligar-se novamente, por mais que bocejasse; os irritantes raios de luz batiam diretamente em seu rosto, irritando-o ainda mais.

-Katsu*... O jeito é levantar, mesmo.  

Esfregou os olhos, levantando-se de sua cama com uma preguiça grande demais para ser expressa em palavras. Calçou seus chinelos velhos outra vez e saiu de seu quarto, rumo à cozinha. Desceu as escadas devagar, apoiando uma das mãos na parede enquanto a outra coçava a cabeça. Os pássaros cantavam do lado de fora naquela manhã.

Mas o que foi realmente surpreendente aos ouvidos de Shizuo foi o barulho de um carro estacionar em sua rua.

'O que será isso?' Pensou, pendendo a cabeça para a esquerda e olhando curioso para a porta da frente no final do corredor. Desceu alguns degraus com passos largos e, num pulo, abriu a porta para dentro. Mas tudo que pôde ver foi um taxi amarelo cor de gema de ovo partindo. Esticou o pescoço para ver quem era, mas não conseguiu apenas com isso. Deu um passinho à frente...

E deu um leve chute num objeto que desconhecia.

-Nani?

Olhou para baixo e viu um embrulho amarelo razoavelmente pequeno, com um laço branco de fita de seda no topo. Não entendeu. Afastou seu pé do objeto e viu que, embaixo dele, havia um papel. Presumiu ser um bilhete e resolveu lê-lo.

"Shizuo-senpai,

Eu sei que você não gosta do dia de hoje. Sei que acha um desperdício de mesada. Sei que você provavelmente não ficará muito feliz com isso, mas eu tinha que fazer algo para lhe agradecer. Por favor, aceite o que vim até aqui para lhe deixar.

                  xxx Amano Tsugumi"

Parou um instante, pasmo.  Olhou ao redor mais uma vez.

Apenas para ver se não havia ninguém na rua para vê-lo corar, abaixar, pegar o embrulho e entrar novamente em sua casa.

Maldito dia.


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Notas finais do capítulo

*Katsu - Termo do zen budismo usado expressar emoção que dificilmente poderia ser dita em palavras.



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