- Venham comigo, mocinhos. – ele disse e nos guiou para fora do refeitório até o andar de cima, em direção a sala do diretor.

Nosso diretor, o Sr. Thompson, estava na mesa dele lendo revistas de esporte, como sempre. Ele olhou para a frente e sorriu quando o treinador disse com uma voz assustadora:

- Thompson!

- Oi, Jessica - cumprimentou ele – E Justin. Que surpresa agradável. O que os traz aqui?

- Essa aqui – o treinador apontou para mim – Acabou de socar meu melhor jogador.

- Que exagero! – exclamei dramaticamente – Foi só um tapa, ok?

O Sr. Thompson olhou para mim com reprovação.

- Jessica! Isso é verdade?

- Na verdade, eu pretendia bater mais forte. Eu não pude evitar, o cara é um babaca! – respondi.

O Sr. Thompson balançou a cabeça.

- Jessica, já conversamos sobre isso.

- Eu sei – concordei, com um suspiro. – Mas, foi tudo culpa dele! Ele ofendeu a minha equipe de novo.

- Justin! Me fale, o que aconteceu?

- Eu não sei – ele disse furioso, ainda com a mão no rosto. – Essa garota é maluca, eu estava de brincadeira!

- Eu sou maluca? – exclamei em um tom mais alto. – Você é um idiota, eu devia ter quebrado seu nariz!

É, eu sei que eu exagerei agora, porque eu nunca ia conseguir quebrar o nariz do Bieber, eu não tenha força nem pra socá-lo.

- É, estou vendo que vai começar tudo de novo. Tudo bem então, entrem e sentem-se. Obrigado, treinador. Vou cuidar disso.

Quando o técnico fechou a porta da sala, o Sr. Thompson disse:

- Jess, Justin, pensei que já tivéssemos resolvido isso. E parece que as detenções não adiantam mais, de acordo com a Sra. Farrel, vocês dois andaram brigando até lá.

A Sra. Farrel era a professora que ficava de vigia nas detenções, sim, ela ficava uma hora sentada na cadeira em frente a nós, enquanto líamos revistas ou fazíamos os deveres. O motivo por termos brigado foi porque o Bieber estava se exibindo na minha frente que havia comprado a nova Ferrari vermelha só para aumentar o número de garotas com quem ele vai para a cama. É claro, que eu não agüentei ouvir aquilo, e comecei a discutir com ele.

- Foi culpa dele, diretor.

- A culpa foi minha? – ele perguntou em tom irônico. – Diretor, essa garota me deu um tapa, ela me machucou!

- Justin, sem exageros – o Sr. Thompson disse suspirando – Tenho certeza absoluta que uma garota de dezesseis anos com cinqüenta quilos não machucou muito um atleta de 1,90m e oitenta quilos.

- É – eu disse sarcasticamente – Acho que você vai ter que colocar gelo.

- Não me provoca, Jessica – o Bieber disse com as mãos fechadas em punho, como se ele fosse dar um soco em alguém.

- Parem com isso – disse o diretor outra vez. – Parece que as detenções não estão mais adiantando. Teremos que pensar em outra coisa, certo?

Assentimos com a cabeça e o Sr. Thompson continuou:

- Não vou ligar para os pais de vocês, isso também não funciona – o diretor disse pensativo – Mas, a Srta. Moore, a professora de teatro, está precisando de dois atores para protagonizar a peça dela, e eu tenho certeza, que ela vai ficar muito feliz quando saber que vocês dois se candidataram para atuar.

- O que? – eu e Justin perguntamos juntos – Não!

- Me desculpem, mas é o jeito. Isso sem contar com as sete semanas de detenção que vocês ainda não cumpriram. – ele disse sorrindo. – Ah, e os dois vão estudar juntos pelo menos uma vez na semana, assim vão aprender a ficar em um mesmo ambiente sem brigar.

- Mas... – tentei intervir mas o Sr. Thompson não deixou.

- Sem mas, Jess. – ele parou de sorrir. – Vocês dois já passaram dos limites. Agora podem ir, as aulas de teatro começam amanhã logo depois da aula de matemática.

Saimos da sala do Sr. Thompson em silêncio, resolvi ignorar o Bieber e andar na sua frente. A Callie devia estar me esperando na saída, mas como hoje eu tinha detenção, não poderia ir de carona com ela. Era sempre assim, quando eu não vinha dirigindo para a escola, eu sempre perdia a carona com a Cal, porque normalmente eu tinha detenção, é claro.

- Bieber, eu te odeio – disse enquanto continuava a andar na sua frente.

- Acredite, Jessica. Eu te odeio muito mais, você inferniza a minha vida. – ele disse ainda furioso pelo tapa. – Se os garotos dessa escola soubessem o quanto você é irritante, não falariam todos os dias que você é a garota mais gostosa desse lugar.

Isso foi mais um elogio do que uma ofensa, mas o Bieber devia estar tão furioso que nem percebeu o que falou. Resolvi o ignorar novamente e fui direto para a sala de detenção. Sem olhar para trás.

[...]

Como você já deve ter imaginado, eu fiquei uma hora sentada numa sala sem fazer nada, só encarando a Sra. Farrel. Eu me recusava a olhar para Justin e ele também parecia bastante furioso para querer olhar para mim. Fiquei meio triste com isso, afinal, eu nunca quis deixar o Bieber bravo, mas ele me deixa furiosa. Parece que é a lei da vida para nós dois, nos odiamos há exatos dezesseis anos.

Assim que me levantei da cadeira, percebi que lá fora estava chovendo. Ótimo, além de ter que ir a pé para casa sozinha, eu ainda teria que ir na chuva. Quando eu estava saindo da escola, avistei todos os alunos que estavam na detenção entrarem correndo em seus carros para não se molhar. Que merda, por que logo hoje eu não vim dirigindo meu carro? Uma BMW vermelha novinha que eu havia ganhado no meu aniversário de dezesseis anos.

Por sorte, os garotos vieram me perguntar se eu queria carona.

- Hey, gata – eles diziam sorrindo sedutoramente. – Precisa de uma carona?

É claro que eu não ia aceitar, eu sei que eu teria que ir na chuva. Mas meus pais sempre me ensinaram a nunca aceitar carona de estranhos, mesmo que eles fossem da sua escola, ou da sua sala. Normalmente, o pessoal que ficava de detenção eram delinqüentes juvenis, filinhos de papais e chefes de máfias. Eu não era corajosa o bastante para aceitar, então eu simplesmente negava.

- Jessica - ouvi alguém me chamar. – Vai na chuva?

Me virei para trás e vi que era Justin.

- Voltou a falar comigo? – perguntei o provocando. – Pensei que você estava bravinho.

Ele respirou fundo e disse:

- Está chovendo muito, daqui a pouco pode começar a trovejar e pode ser perigoso. – Tudo bem, onde ele queria chegar com essa conversa? – Aceita uma carona? Eu te levo em casa.

Fiquei parada enquanto o encarava. Ele estava falando sério? Ele me ofereceu uma carona? Há uma hora atrás ele tava falando que eu era a garota mais irritante que ele conhecia e agora está preocupado com a minha segurança?

- Não, obrigada – disse orgulhosa voltando a andar em direção a saída. – Prefiro ir a pé nessa chuva a aceitar uma carona sua.

- Jess – ele disse com aquela voz rouca e sexy dele – Vem logo aceita.

- Não – disse de novo, dando de ombros.

- Jessica, qual é! – ele exclamou tentando me puxar pelo braço. – Vem logo, você mora do lado da minha casa, e não se esqueça que eu posso ligar para sua mãe agora mesmo e falar que você quer ir para casa sozinha.

- O que? – exclamei, os meus pais e os de Justin se conhecem há muito tempo. E eles não aceitavam a idéia de nos odiarmos. Então, se Justin ligar para minha mãe, ela com certeza vai dar razão a ele. – Não, tudo bem, eu vou.

- Ótimo – ele disse e saiu andando na frente, o segui tentando não reparar o quanto a calça jeans emoldurava bem seu bumbum perfeito. E o bumbum não era a única coisa perfeita nele. Calma, calma. No que eu estou pensando?

Respirei fundo e entramos em seu carro e ele deu a partida. Justin ligou o rádio no mesmo instante em que seu celular começou a tocar.

Enquanto ele falava no celular, eu fiquei pensando no porque de eu estar tendo esses pensamentos sobre o Bieber esses dias, quer dizer, é claro que todas as garotas acham ele lindo, mas eu nunca tive nenhuma queda por ele, nunca mesmo. Eu tenho certeza que é tudo culpa da Cal, ela fica colocando na minha cabeça que na verdade eu amo o Bieber.  Ela fala tanto isso, que eu já estou acreditando. Antes que eu pudesse concluir meus pensamentos sobre o que eu sinto por Justin, ele me interrompeu:

- Jess, o Chaz acabou de falar que vai fazer uma festa hoje e pediu para eu te chamar. – ele disse entretido em algum outro pensamento.

- Na casa dele? – perguntei. Chaz amava fazer suas festas na casa dos amigos.

- Acho que sim, vai começar às dez horas. – ele disse e eu percebi que estava tocando Peacock da Katy Perry na rádio, rapidamente desliguei a música. – Por que você desligou?

- Eu não gosto dessa música. – disse simplesmente, mas na verdade, em parte eu queria irritá-lo e também porque essa música é muito indecente.

- Aham – ele disse e ligou o rádio de novo, mas a música já tinha acabado. – Então, você vai?

- Não sei, mas acho que sim. E você?

- Acho que não, mas não tenho certeza.

- Por quê? – perguntei incrédula. Justin nunca faltava a uma festa, ainda mais a festa do seu melhor amigo.

- Eu tenho um compromisso. – explicou ele. – Mas talvez dê tempo, não sei.

- Ah...

- E você e o Zac? – ele disse rindo.

- Hã... - Zac era meu “namorado”, ele estudava lá na escola também, mas era uma série acima. Eu não o amava, é claro. Mas, ele era tão lindo que eu não resisti ao pedido dele de namoro.  – Como assim?

- Vocês ainda estão juntos?

- Mais ou menos – disse, mas a resposta era mais para não. Pode se dizer que estávamos livres, se eu quisesse eu podia ficar com outro garoto e ele podia ficar com outra garota. É, livre como um passarinho. – Nós quase não nos vemos mais, ele está muito ocupado com os planos para a faculdade.  

- Ah... – ele murmurou assentindo com a cabeça.

Justin estacionou na frente da minha casa e eu abri a porta.

- Bom, obrigada – eu disse e entrei em casa.