Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 49
Capítulo 49 - Retorno




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\"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará\"

 ~ João cap. 8, v. 32

Capítulo 49 - Retorno

 Monalisa parecia cansada e ofegante, como se tivesse acabado de sair de dentro da água após nadar por milhas. Mas havia voltado a sua condição anterior. Estavam todos ali: seu pai Fábio, sua guia Ariadne e a detestável assistente de Fábio, Cinthia. O que será que aconteceu? Essa é a pergunta que a garota mais gostaria de ver respondida naquele momento.

- Primeiro, é melhor se acalmar - diz Ariadne, oferecendo um copo de suco de laranja para a garota. Ela bebe tudo com vontade, enquanto seu pai pigarreia e começa aquilo que ela sentia ser mais uma conversa complicada. Era melhor estar mesmo calma para ouvir tudo aquilo.

- Imagino que deva estar confusa, mas você conseguiu a chave que precisava - diz o Mestre, com um sorriso de satisfação estampado em seu rosto - Tente ver no seu bolso.

  Ela remexe no bolso da calça e encontra uma chave dourada. E ela se lembrava muito bem de que não a possuía antes.

- Essa chave...é a chave que desvela o Labirinto?

- Isso mesmo. Você conseguiu encontrá-la. Em menos tempo do que imaginávamos.

- Tsc. Fiz bem em não ter apostado nada - Cinthia comenta cinicamente. Monalisa a ignora.

- Mas o que era aquele mundo onde estava? Não parecia ser apenas mais um sonho como os vários que já tive.

- E não era. Embora os sonhos possam ser considerados dimensões à parte, aquele mundo era simplesmente a chave que você estava procurando.

- O mundo era a chave? Espera, espera, explica melhor! Se puder...

- Ela não vai entender, Fábio - Cinthia se intromete - Deixe isso para lá.

- Está tudo bem. Vou tentar ser mais claro.

 Fábio caminha até a pequena cerca da fachada da casa de praia onde estavam e olha o oceano à sua volta. Estava com uma expressão bem serena.

- Bem, filha, antes de você entrar naquele mundo, dissemos que ele era um tipo de segunda camada do Labirinto...ou, explicando de forma ainda mais grosseira, um Labirinto dentro do outro.

- S-Sim, eu lembro.

- Embora os sonhos também possam ser considerados mundos dentro de outro, eles são mais simples. No entanto, aquele mundo era muito mais elaborado que um sonho. Na verdade, ele era real. Totalmente real.

- Isso explica essa sensação. Nos sonhos normalmente eu não lembro de coisas ou passo por tantos detalhes como passei ali. Era como se estivesse mesmo no corpo de uma outra pessoa em um outro universo.

- Não. Na verdade era você mesma, no mesmo corpo. Apenas estava em uma vida diferente, mas era você mesma. Era como se estivesse interpretando uma peça de teatro sem saber.

- Como...uma peça de teatro sem saber.. - repete Monalisa - Sim. Isso mesmo. Olhando agora, essa é exatamente a sensação que eu senti. Aquele mundo parecia real, mas chegou um momento onde eu percebi que não poderia ser.

- E era isso que você precisava descobrir - completa o Mestre das Chaves - Aquele mundo estava programado para se desfazer quando você ativasse esse evento: duvidar da existência dele. Digamos que era um mini-Labirinto, com uma saída bem mais simples.

- Um mini-Labirinto...boa definição - comenta Ariadne - No entanto, você não precisou de uma guia ali. Foi capaz de sair de lá sozinha.

- Não foi bem assim...teve uma pessoa lá que me ajudou.

- Oh, sim, aquela pessoa - interrompeu Fábio - No entanto, ao contrário da guia, ele não mostrou a saída diretamente...apenas te mostrou alguns questionamentos. O passo final foi dado por você mesma.

- Entendo...era um mundo perfeito demais. Um lugar onde tudo dá certo e não há problema nenhum não pode ser real.

- Na verdade até poderia - fala Fábio - Mas se fosse realmente perfeito, você não precisaria ter dúvidas, precisaria?

- Olhando por esse lado...realmente.

- Por outro lado, se aquele mundo não permitisse que você sequer refletisse sobre ele, também não seria um mundo perfeito, afinal, te privaria da liberdade de pensar.

- É verdade...agora, olhando por esse lado...ai, estou ficando confusa.

- O importante é entender que aquele mini-Labirinto era uma metáfora para a chave que você está segurando. Se reparar bem, o mundo em que você está agora não é muito diferente daquele.

- Bem...mas nesse caso eu soube que o Labirinto não é o mundo real e mesmo assim não saí dele.

- Bom, isso apenas porque a saída desse Labirinto é ativada por um evento diferente. Assim como qualquer coisa poderia causar o evento inicial do Labirinto, qualquer coisa poderia ser o evento que produz a saída dele. Naquele caso, você tinha um grau de dificuldade bem mais baixo.

- E mesmo assim poderia demorar anos para descobrir...ou talvez nunca descobrisse - disse Cinthia, maldosamente.

- Apesar disso...consegui perceber em menos de um dia - retrucou Monalisa - Deviam agradecer por não fazê-los esperar tanto.

- Do que está falando? Nós estávamos lá também - falou Ariadne.

- O quê? Então...vocês me acompanharam o tempo todo?

- Você não se lembra, Monalisa? - pergunta Fábio - O Labirinto é simplesmente tudo que está fora de você. Nós não apenas fazemos parte do Labirinto. Nós SOMOS o Labirinto.

 A garota sente um arrepio ao ouvir essa última frase. De certo modo, era assustador saber que a única coisa que não era o Labirinto, era ela mesma.

- Somos partes de um todo, mas ligados integralmente nesse todo - explica Cinthia - Alguns de nós tem mais poderes que outros, mas, no fundo, somos todos o mesmo.

- Mas o mais importante de tudo é que você, Monalisa, conseguiu a chave e para isso saiu da segunda camada do Labirinto. - parabeniza Fábio - Como foi a sensação?

- De alívio - responde ela - Embora seja meio esquisito, não sei, é difícil de explicar.

- É...acho que valeu a pena esconder a chave em uma segunda camada - diz ele - Agora você sabe como é a sensação de sair de um Labirinto, mesmo sendo um mais simples.

- Não. Ainda não sei.

- Não? - estranha Fábio - Mas você acabou de sair da segunda camada...

- Mas foi só a segunda camada. Ainda estou aqui, não estou?

- É. Infelizmente aqui você ainda tem consciência de que está em um Labirinto.

- O problema é saber o que acontece, não é? - comenta Cinthia - Mas e aí? Você nunca parou para pensar que o lado de fora do Labirinto também possa ser outro Labirinto?

 Monalisa também sente um arrepio ao ouvir isso. E o pior de tudo é que ela pode ter razão.

- Mas...se isso for verdade...seria um ciclo infinito.

- Talvez sim, talvez não - fala Fábio - Você só saberá se chegar à saída.

- Estou pronta para te guiar até lá - fala Ariadne, desencostando da cerca - E você? Está pronta?

- Sempre estive - responde Mona - Mesmo...você sempre dizendo que não posso saber se o lado de fora é pior que o lado de dentro.

- Bem, a escolha foi sua. O único jeito de saber é chegando lá. Mas para isso, precisamos levar essa chave até a agência.

- A chave...

 Monalisa olha para o item que acabara de receber. Por um lado, estava orgulhosa de tê-lo conseguido mais rápido do que imaginava. Por outro, sentia um certo medo, um certo receio a cada vez que chegava mais perto da saída. O lado de fora também poderia ser outro Labirinto, não poderia? Mas se for verdade, de que adiantou ter saído de um? É a mesma sensação de agora. Ela saiu de uma camada para chegar em outra. Que diferença isso fez? Que sentido teria sair, se o outro lado também fosse uma mentira? Talvez estivesse fazendo a pergunta errada. A questão não era sair do Labirinto, mas, antes de tudo, saber por que estava lá!

- Pai...Ariadne... - balbucia ela - Respondam se puderem...

- Sim? - atende Fábio.

- Antes de sair do Labirinto...vou saber pelo menos o motivo de eu ter sido colocada aqui?

 Fábio e Ariadne se entreolham. Antes que algum dos dois respondesse, Cinthia intervém.

- Se quer mesmo saber isso, terá que lutar por isso também.

- Cinthia... - diz Fábio, olhando para a assistente com uma cara pouco amigável.

- Estou falando alguma mentira? - acrescenta a mulher - Você pode acompanhar a guia e sair daqui sem problemas, mas se quiser saber mais do que isso...vai ter que correr atrás.

- Ela está certa - concorda Ariadne - Você deve se lembrar que na agência, meu pai disse que esse Labirinto foi projetado, mas nunca garantiu que você conseguiria se encontrar com quem o projetou. Caso queira se encontrar com ele, estaria disposta a correr os riscos para isso?

 Monalisa assente com a cabeça.

- Se possível...quero entender direitinho o que é isso tudo.

- Bem, é mais uma escolha que você fez - diz o Mestre - Mas...não vai conseguir nada se ficar aqui. Vamos. Levarei vocês de volta para casa e amanhã poderão seguir até a agência para terminarem com isso.

- Não podemos ir para a agência agora? - pergunta Monalisa.

- É noite no lugar de onde saímos - explica Cinthia - Só poderão ir lá pela manhã.

- Achei que tivesse passado um dia aqui também - pensou Monalisa.

- O tempo não flui do mesmo jeito em dimensões diferentes - explicou Fábio - Espaço e tempo podem mudar o tempo todo.

- Tá. Chega desse assunto. É até bom que só precisemos ir para lá amanhã....acho que minha cabeça vai explodir se eu não descansar um pouco.

- Hihi. Boa escolha - fala Cinthia, enquanto retira uma chave no meio das outras infinitas que estavam na maleta de Fábio - Durma enquanto pode.

 Fábio retira a chave.

- Vou mandá-la próximo a porta de casa, Monalisa - disse ele - Claro que sua mãe sabe de tudo, mas...

precisamos interpretar tudo direitinho.

 Ela concorda e, antes que se desse conta, estava ali. Bem na porta da sua casa. Viagens dimensionais são mesmo muito práticas. Ela bate na porta e sua mãe abre, usando um roupão e com cara de que tinha acabado de se deitar. Estava em sua personalidade normal, ou seja, séria e indiferente.

- V-Voltei - diz Monalisa, meio sem graça - Vim de carona...desculpe por chegar tarde.

- Ah, tudo bem. Seu pai também não chegou. Conseguiu terminar o trabalho na casa da sua amiga? - pergunta ela.

- Sim. Já terminei - responde - Só quero tomar um banho e descansar agora.

- Bom banho - é tudo que sua mãe fala.

- O-Obrigada - gagueja a loirinha, indo para o quarto. Ao chegar lá, coloca a mão no bolso para ver a sua chave, mas leva um susto ao perceber que não estava lá. Será que sua mãe já? Não, não poderia. Mas, por sorte, no lugar da chave ela encontra um bilhete com a seguinte mensagem:

 \"Esqueci de avisar, mas deixei a chave com Ariadne apenas por motivos de segurança. Encontre-se com ela, amanhã de manhã, na praça próxima à escola e sigam para a agência.

 Boa sorte

 Mestre das Chaves \"

 A garota sente-se aliviada. Pelo menos seu pai estava do seu lado.

 Após tomar banho, vestir seu pijama e se deitar na cama, Monalisa olha para o teto do quarto e reflete sobre os acontecimentos. Aconteceu muita coisa naquele dia, desde descobrir a verdadeira identidade de seu pai até viver uma vida totalmente diferente em uma dimensão paralela enganadora. Será que o outro lado também era um Labirinto? Será que conseguiria descobrir por que precisava passar por tudo aquilo? Amanhã ela finalmente saberia como é o Labirinto desvelado. O que mudará? Que tipos de testes ela terá que passar para vencê-lo? Estava difícil de dormir, mas ela tenta pegar no sono. E, por incrível que pareça, naquela noite ela não sonhou...talvez porque não precisasse mais.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, começamos o arco final da série. Fique atento às emoções finais da fic!
Até!



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