Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 50
Capítulo 50 - Desvelamento




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"Gostaria de não ter medo de acordar dessa ilusão..."

 ~ Fernanda Aires

Capítulo 50 - Desvelamento

 Tudo parecia seguir a mesma rotina de sempre. Monalisa acorda, toma seu café de maneira silenciosa juntamente com sua mãe e sai para a escola. Mas como dito, apenas parecia. A mocinha não iria para a escola naquele dia, na verdade, esperava nunca mais ir para aquela escola. Em sua mente, aquele seria seu último dia naquela camada do Labirinto. Tendo a chave que desmascararia o cenário, pretendia enfrentar tudo de frente e ir até as últimas consequências para sair daquele pesadelo. Pesadelo. Essa era a palavra que mais se aproximava de tudo que estava passando. Monalisa respira fundo e corre em direção à praça que combinou de encontrar-se com sua guia Ariadne. As duas iriam juntas até a agência do Labirinto, o único local onde seria possível ativar a chave que ela teve tanto trabalho de conseguir. Por sorte, a ruivinha já estava ali na praça, vestindo o uniforme da escola e olhando para as folhas das árvores que caiam com o vento.

- Ariadne! - acena Monalisa. A guia volta o olhar e sorri para a menina. 

- Opa, bom dia, Mona.

- Bom dia - responde Monalisa, meio ofegante por ter corrido.

- Parece cansada...

- É que não sou muito acostumada a correr - diz ela - Mas o importante é que você está aqui. Vamos?

- Temos tempo - responde Ariadne, olhando para o relógio de seu celuar - A agência abre no mesmo horário de um banco comum, então podemos aproveitar um pouco antes de ir para lá.

- Aproveitar? O que quer tanto fazer?

- Nada demais - Ariadne responde de forma serena, voltando o olhar para as árvores caindo - Só queria  curtir um pouco mais essa camada...aproveitar enquanto é tranquilo.

- Você faz parte do Labirinto. Por que deveria sentir saudade dele?

- Posso fazer parte dele ou até ser ele...mas não sou totalmente o Labirinto e nem faço parte totalmente dele - a voz dela parecia meio triste ou simplesmente pensativa - Se eu morrer, me separaria do Labirinto totalmente, ou...simplesmente deixaria de existir.

- Essa conversa de novo? - bronqueia Monalisa - Não vai morrer a menos que eu cometa um erro muito grave, não é? Mas com você me guiando o tempo todo não corremos esse risco.

- Sempre há riscos - completa Ariadne - Não posso interferir nas suas escolhas, lembra? Dependendo do que você escolher, meu destino também pode ser definido.

- Você está bem séria hoje...

- Além disso...se você sair do Labirinto, eu simplesmente deixarei de existir para você, não? No fim, será o mesmo que morrer.

 Monalisa sente um nó na garganta. Por mais que quisesse sair do Labirinto precisava reconhecer que havia criado um laço afetivo com Ariadne. Esse tempo todo Monalisa só se preocupava em sair do Labirinto e tratava Ariadne apenas como um meio para sair, no fim, claro, ela era parte do Labirinto, mas ao mesmo tempo era sua única amiga. Quando saísse será que ela se lembraria de tudo? Como se fosse um sonho? Ou será que perderia todas as memórias? Esqueceria de tudo como aconteceu na segunda camada. Seria possível. Totalmente possível.

-Ariadne, eu...eu devo muito a você! Ter que te deixar é a pior parte disso tudo, mas...é a escolha que eu fiz. Não aguentaria voltar atrás e...

- Eu entendo - interrompe Ariadne - Não estou te julgando. Compreendo perfeitamente a situação. É um destino que precisamos aceitar.

- Desculpe. Sei que parece egoísta, mas...

- Já disse que não estou te julgando. O Labirinto pode até induzir ou te enganar, mas a escolha final é sempre sua. 

- Já ouvi isso muitas vezes - disse Monalisa - E eu escolhi saber a verdade. Embora sempre me pergunte se não era melhor ter escolhido o café e continuado ignorante. Já ouvi alguém dizer que a ignorância é uma benção.

- Talvez você vivesse mais tranquila se não soubesse de nada, ou talvez mais feliz. É como eu disse, você não pode saber se fora do Labirinto é melhor do que dentro.

- Mesmo assim...é angustiante demais existir uma verdade que todos sabem, menos eu. Eu sempre imaginei que existissem coisas misteriosas, perguntas que os filósofos fazem o tempo todo, mas seriam segredos para todo mundo. É muito diferente de existir um segredo que seja segredo só para mim. Como se sentiria no meu lugar? E se você fosse eu, Ariadne? O que escolheria?

- Sem dúvida, também gostaria de sair - responde ela - É por isso que eu te entendo...se eu, que sou sua guia, não te entender, quem mais entenderia?

 Monalisa sorri, embora sentisse que estivesse mais perto de se separar de Ariadne. As duas usam as poucas horas que tinham antes de usar a chave para fazer coisas comuns e simples. Tomaram sorvete, viram lojas de brinquedos e passaram alguns instantes apenas deitadas na grama da pracinha, olhando para o céu. Coisas bobas como ver a forma das nuvens. Irônico. As duas sabiam que era tudo falso, mas mesmo assim aproveitavam cada momento.

- É bonito, não é? Nada melhor que um céu azul - comenta Ariadne, sem tirar os olhos das nuvens.

- Sim - concorda Monalisa - Eu nunca parei para ficar olhando as nuvens ou o céu assim, sem pensar em nada, só olhando por olhar.

- Tem coisas que são assim. A gente olha só por olhar. Só por ser bonito. E daí que isso é falso ou não? O importante é que é bonito. Simples assim. 

- Muito simples - concorda a loirinha. Queria simplesmente parar e admirar a natureza, sem se lembrar que estava vivendo uma mentira. Mas ela já havia escolhido o copo com água. Ela já tinha consciência de que havia uma verdade oculta. Não dava mais para ignorar tudo, por mais que quisessem fazer isso. E logo a verdade de seu destino também volta para sua mente.

- Está na hora - lembra Ariadne - Pode ser a última vez que você vê o Labirinto desse jeito.

- É - concorda Monalisa, ainda deitada na grama. Ariadne oferece sua mão para ajudá-la a levantar. Monalisa corresponde e observa os olhos tranquilos da guia. Sem ela como poderia estar agora? Talvez em uma situação tão caótica que fosse quase impossível achar a saída. Achar a guia cortou um bom caminho. Era difícil expressar a gratidão que sentia por ela.

  Logo as duas estavam diante da agência. O local que desvelaria o Labirinto. Ou simplesmente o banco onde os pais de Ariadne trabalhavam. As duas entram facilmente na agência, pegam o elevador e apertam o botão para subir.

- É logo no segundo andar, mas de elevador é sempre mais divertido - comenta Ariadne.

- As pessoas estavam olhando estranho para a gente, né? - fala Monalisa.

- É esquisito duas estudantes estarem aqui ao invés de estarem na escola. Como alguns me conhecem e sabem que estudo de manhã é pior ainda.

- É verdade. 

- Mas que diferença isso faz, não? Todos eles sabem o que está acontecendo. E mesmo que desse problema, essa camada vai sumir logo.

- Ah, é...é mesmo - diz a loirinha, deixando transparecer uma ansiedade evidente em sua voz.

- Nervosa?

- Um pouco...

- Vamos continuar juntas. O problema...

- Problema?

- O problema é que o verdadeiro Labirinto é bem diferente do que você viu até agora. Por outro lado, acho que vai ser mais rápido de chegar aonde queremos.

- Mesmo?

- Sim. Mas acho que o meu pai pode te explicar isso melhor - as portas do elevador se abrem imediatamente assim que Ariadne termina de dizer essas palavras. O pai dela, Ulisses, estava ali, na mesa, trabalhando em seu computador normalmente. As meninas se aproximam. Ariadne mantinha seu olhar tranquilo. O homem tira rapidamente os olhos da tela e dá de cara com elas.

- Meninas? O que estão fazendo aqui? Não deveriam estar na escola?

 Parece que o evento para falar com ele ainda não havia sido ativado. Ariadne suspira.

- Monalisa. Mostre a chave para ele.

- A chave? Mas ela não está com vo...

 Mas assim que a garota coloca as mãos no bolso encontra a chave. Como ela foi parar lá? Esqueça. O importante é que estava ali. Monalisa coloca o objeto na frente de Ulisses.

- A chave. Nós a conseguimos - diz Monalisa.

- Você conseguiu, né? Quanto a isso eu não ajudei em nada - corrige Ariadne - Mas o fato é que a chave está aí. Temos o requisito necessário para desvelar o Labirinto. Pode fazer isso agora?

 Ulisses fica em silêncio por alguns instantes e muda para uma expressão séria. Com as mãos entrelaçadas, ele pergunta:

- Diga, Monalisa, quer mesmo continuar com isso?

- Vocês sempre fazem a mesma pergunta e a resposta é sempre a mesma. Vou até o fim, por pior que seja. Não dá mais para voltar atrás.

- Então sigam-me. Essa chave deve ser usada no cofre central.

- O cofre central do banco? - pergunta Monalisa - Onde colocam todo o dinheiro?

- Isso é uma das opções, mas o cofre também guarda a trava da máscara.

- A trava da máscara... - Monalisa repete baixinho, enquanto seguia Ulisses que caminhava em direção ao cofre. Enquanto ele andava, todos abriam caminho e olhavam para as meninas. Agora não com uma expressão de estranhamento, mas com uma expressão séria ou mesmo de reprovação. Ulisses também não mostrou nenhum sorriso depois de ver a chave. Monalisa não sabia que destino a aguardava, mas como havia dito há poucos instantes, simplesmente não dava para voltar atrás.

- É aqui - diz Ulisses, após parar em frente a uma enorme porta redonda. Era o cofre central do banco. Ele digita uma senha, mostra sua digital, sua retina e, finalmente, consegue abrir. Era tudo bem seguro. Monalisa nunca tinha visto algo assim antes.

- Bem protegido, né? - ela comenta baixinho com Ariadne.

- Bem, é um banco. Precisa ser assim - responde a ruivinha - Mas meu pai não trabalha  como responsável pela segurança do cofre. Se ele conseguiu chegar aqui é porque o evento do Labirinto está ativado.

- Uau.

 Quando a porta se abre totalmente, Monalisa esperava encontrar pilhas e pilhas de dinheiro, mas tudo que vê é uma enorme sala vazia. No centro da sala havia um tipo de pedestal com uma fechadura. Ulisses se aproxima.

- É aqui - é tudo que ele diz - Vou colocar a chave na fechadura e, após terminá-la de girar, o Labirinto será desvelado. A partir daqui, é com você.

- Entendo - diz Monalisa acenando a cabeça positivamente, embora estivesse claramente nervosa. Como seria o Labirinto desvelado?

- Preparada? - pergunta Ariadne.

- Você disse que seria mais rápido achar a saída com o Labirinto desvelado, não é? - pergunta Monalisa.

- Mais rápido com certeza - responde a guia - Mas de modo algum será mais fácil. Pelo contrário, vai ficar bem mais difícil agora.

- Como?

- Tarde demais - falou Ulisses-  Já girei a chave. Não tem mais como voltar atrás. Agora, é com vocês.

- Obrigada, Senhor Ulisses - agradece Monalisa.

- Não me agradeça - disse ele - Na verdade, talvez você nem queira me agradecer.

- Como?

- Vamos, Mona? - chama Ariadne - Quanto antes, melhor.

- C-Claro.

 Monalisa apenas olha para Ulisses que fica ali parado. Ele sequer desejou boa sorte. Será que o Labirinto verdadeiro é tão diferente assim? As meninas saem do cofre e a agência parecia normal. Tudo parecia estar do mesmo jeito de antes.

- Mudou mesmo? Parece tudo do mesmo jeito de antes...até as pessoas trabalhando - reparou Monalisa, ao ver que os mesmos funcionários que a olhavam com seriedade agora retornaram a seus trabalhos corriqueiros.

- Ainda estamos dentro da agência - respondeu Ariadne - Vamos ver quando sairmos pela porta.

  Monalisa sentia uma sensação parecida de quando saiu da papelaria que iniciou todo aquele pesadelo. Agora iria ver algo diferente. Totalmente diferente. Assim que as portas da agência se abrem, Monalisa arregala os olhos. O cenário na sua frente era algo simplesmente inacreditável...


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, iniciamos a saga final da história. Mas como disse Ariadne, as coisas ficarão mais difíceis daqui para frente. Fique esperto.
Até lá!



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