Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 37
Capítulo 37




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Alexis voltava para casa, sentia-se cansado e esgotado... Nem sequer tinha vontade de jogar com suas presas...Apenas queria dormir.

Já faziam duas noites que Luka havia visitado Cain pela primeira vez, e ele estava esgotado das duas reuniões que havia tido com Valsher e Cartier, até convencer o senhor dos anjos a cooperar e mandar os híbridos para fora da cidade.

Ele suspira, ouvindo os passos do irmão atrás de si, parando ao lado dele na porta.

- Alexis, desencoste a testa da porta e entre...

- Não estou disposto a virar a maçaneta... – resmungou.

- Deus... Já pensou em, sei lá, dormir? Como todo mundo.

- Dormir é para as pessoas que não tem coisas pra fazer... Eu tenho.

- Coisas que não serão feitas se você morrer por exaustão.

- Isso não é fisicamente impossível...

- Vá dormir de uma vez, Alexis.

- Mas eu tenho relatórios a fazer...

- Não, você tem que dormir.

- Mas eles vão se acumular se eu não fizer...

- Eu faço pra você!

- Mas-

- Cala-se!

- Mas Luka, eu preciso...

- Dormir!

- Eu não posso...

- Shh! Você vai dormir nem que eu tenha que te amarrar na cama!

- Mano, eu não curto bondage...

- Sou seu irmão, não quero nada com você! Até por que não sei por onde essas coisas andaram... Cama!

- Como você é insensível... – ele resmunga.

- Não preciso de sensibilidade pra te obrigar a dormir. – ele diz, abrindo a porta e indicando as escadas com o indicador.

Alexis suspira, esfregando os olhos, que possuíam marcas escurar das noites sem dormir.

- Filho da noite...

Luka volta os olhos na direção da voz, com uma expressão confusa.

- Cain... O que faz aqui...? Melhor dizendo...  Como chegou aqui? Você não enxerga absolutamente nada durante a noite...

- Eu me perguntei isso no caminho até aqui... – ele suspira, olhando para o céu sem lua. – Mas eu precisava falar com você... Agradecer.

Ele ignorou completamente a presença de Alexis na porta, olhando apenas para o irmão loiro recostado no batente.

- Agradecer o que...? – perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.

- Por me ajudar... Não era obrigação sua... E também... Por que quero pedir um favor.

- Claro... O que?

- Pedir que mantenha isso em segredo... Não é algo que... Eu quero que saibam.

- Claro... Tudo bem.

Cain sorri, contido e amável, com sempre. Então o olhar dele e de Alexis se cruzam, e o sorriso morre, sua expressão de torna fria e hostil, como a daquele que era então observado.

- O que te faz pensar que tem autoridade para atravessar as fronteiras ao seu bel prazer? – Alexis pergunta, frio.

- O fato de eu não lhe dever nenhum explicação, e também de estarmos em tempos de paz... Eu posso ir para onde eu tiver vontade. – responde, com um sorriso sarcástico. – Até dentro da sua casa, se eu quiser vontade... Aliás, nem me lembro de ter pedido sua opinião.

- O fato de você estar aqui me dá esse direito sem que você precise pedir... Além do que, o irmão é meu, e eu posso influir na vida dele da maneira que eu quiser.

- Alexis!

- Não, tudo bem... Eu já disse o que tinha pra dizer. – ele sorri novamente. – Boa noite Luka.

- Não, eu te dou uma carona, você vai acabar se perdendo.

Ele desce as escadas, parando ao lado de Cain, poucos metros a frente.

- Tudo bem fazer isso...? Ou o cão de guarda vai tentar me envenenar enquanto eu durmo? – ele ri, olhando de soslaio para Alexis, que estreitou os olhos.

- Não, o cão de guarda estava indo dormir... Não estava?

- Hump. Eu vou trabalhar... Ou vou ter pesadelos.

Então ele adentra a residência, contrariado.

- Alexis... – Luka suspira. – Faça como quiser. – ele rola os olhos. – Deixe-me pegar o carro Cain.

- Não se preocupe com um retorno, filho da noite. Não sai exclusivamente para falar com você. Preciso fazer mais algumas coisas.

- No escuro?

- Não há outra forma. – ele dá de ombros.

- Bem... Se você diz... Boa sorte. – ele sorri.

- Obrigado.

Então ele sai, sem dizer mais nada.

Luka volta até o batente.

- Me incomoda ver vocês dois andando juntos. – Alexis resmunga, parado no alto da escada.

- Você não ia trabalhar?

- Não ia conseguir me concentrar com aquele cretino parado na minha porta.

- Ora, pare de reclamar Alexis! Eu e aquele cretinos estamos praticando diplomacia.

- Diplomacia... Sei.

- Pare de pegar no meu pé, foram ordens suas, não foram? Eu estou sendo “persuasivo”. E farei O QUE FOR PRECISO para o bem dessa casa.

- Começo a pensar que você se diverte com isso.

- Bastante, eu admito.

- Eu sabia... – ele suspira, recostando em uma das pilastras.

- Você não sabe nem da metade, irmãozinho...Nem da metade. – ele ri.

- Ah! Poupe-me! Eu NÃO QUERO saber!

- Achei que não quisesse mesmo.

***

Ela já conseguia manter aquela pequena, escura e estreita porta aberta.

Era desgastante, quase doloroso.

Do outro lado era embaçado, uma luz parca e avermelhada parecia encher o recinto, isso lhe trazia o cheiro de madressilva às narinas.

Parecia com alguma coisa deitada... Talvez desmaiada.

Dessa coisa, emitia uma luz alaranjada fraca e trêmula.

Estava olhando para o teto, seus olhos estavam turvos e se sentia levemente atordoada, fazia tempo que não via o mundo com seus olhos reais. Na verdade, nem sabia quanto tempo fazia desde que entrou naquela porta, olhando aquela coisa, fosse o que fosse, que permanecia deitada sem olhar pra ela o seu mexer.

Mas estava cansada.

Levantou, apoiando na parede de cor esverdeada, caminhando em passos trôpegos até os fundos da enorme casa, que agora mais se parecia com uma biblioteca, ou deposito.

Atravessando o jardim mal cuidado de grama alta e plantas silvestres, seguiu o som de água que ouviu assim que pisou no interior da residência pela primeira vez, esta no fim das contas terminava num riozinho estreito iniciado numa cachoeira baixa e murmurante.

O burburinho de água encheu seus ouvidos, ajoelhou ao lado do rio, lavando o rosto e contemplando seu reflexo pálido e cansado na imagem tremida da água corrente.

Suspirou, olhando para o céu.

Já era fim de tarde.

- O que será que tem na casa?

Desde que chegou, somente se afundou em leitura, estudo e testes exaustivos... Há quantos dias não dormia? Há quantos dias não comia direito?

Em baixo de uma das pedras escorregadias da pequena cachoeira, ela se sentou cansada, sentindo os músculos pulsando com a dor e o cansaço... Mas nada disso era suficiente pra impedí-la de completar seu objetivo.

A água gelada caia em suas costas, aliviando a exaustão pesada que lhe esmagava os ombros, ela exala o ar confinado em seus pulmões.

Via-se sozinha, oprimida por uma lembrança amarga de morte, e esse dissabor no fundo de sua garganta parecia não sair... Não tinha mais amigos, família... Não existia mais entre os humanos.

Agora não tinha mais pra quem voltar, ou por que lutar se não por vingança...

Levantou, ensopada, descendo pelas pedras com uma sensação densa de arrependimento em seu peito... Havia tanta coisa que gostaria de mudar, de fazer diferente... Mas não se arrependia em nenhum momento pela entrada de Alexis em sua vida... Ele havia aberto um espectro de uma realidade que para ela sempre havia sido mentira ou fantasia.

E era fantástico comtemplar a verdade. Mesmo que com um custo tão alto, uma vida de mentiras não valia a pena, talvez, quando terminasse sua batalha, pudesse voltar a viver com a humanidade, a vida como humana a agradava.

- Quem é você?

Olhou pra trás de ímpeto, sentindo todos os nervos a flor da pele, como se estivesse sob uma ameaça a qual não compreendia... De fato, ainda não se sentia pronta para conviver ou falar com qualquer um.

Afastou-se na direção de uma árvore, como um animal acuado, mas ao olhá-lo nos olhos, não viu maldade ou agressividade nos olhos pálidos e castanhos daquele homem de aparência calma.

- O que faz na antiga casa dos Eternos Lavoisier?

- Quem é você? – perguntou, um tanto nervosa, pingando água.

- Você é humana?

- Sou... Sou sim? Quem é você?

- Não é seguro que ande sozinha por estas montanhas, quem a trouxe aqui?

- Eu vim sozinha... Quem é você?

- Sozinha? Podia ter morrido, sabia?

Absinthe se calou, simplesmente olhando a pessoa a sua frente, ele deliberadamente a estava ignorando, e ignorando sua pergunta.

- Quem. É. Você.

- Ninguém. Sou um fantasma, um fantasma de alguém que nunca viveu... E você não me viu aqui hoje.

***

Dias se passam de maneira atormentada e inquieta, e quanto mais o tempo passa, mais próximo do confronto frontal todos se aproximam.

- PELO AMOR DE TUDO QUE É MAIS SAGRADO, O QUE É ISSO?! – Alexis carregava uma expressão de repulsa irritada.

Cain dizia algo em tom sussurrado aos ouvidos de seu irmão, tinha as mãos em sua cintura e parecia desconfortavelmente íntimo do seu consanguíneo de cabelos loiros.

- Ora, cale-se Alexiellis, não vê que estamos conversando? – Luka desdenha com certo desinteresse.

- Por Deus! Minha sanidade... – ele diz recostando a testa no tronco de um carvalho próximo.

- Vai acordar os vizinhos, filho da noite.

- Que morram os vizinhos! – disse de imediato. – Não tenho nada com eles! Mas essa... Essa manifestação de descaramento à porta de minha casa é inadmissível!

- “Manifestação de descaramento”? – Luka ri. – Como se você tivesse qualquer moral para me repreender, você que já fez coisas absurdamente piores com humanas que mal lhe eram conhecidas. – ele coloca as mãos na cintura com uma aparência desinteressada. – Nós estamos apenas conversando, não estamos nem ao menos nos beijando, ainda.

- NUNCA coloque um AINDA numa hipótese ABSURDA como essa! Pensar a respeito é... É... AH! Eu não quero pensar a respeito.

- Não sabia que era ciumento, filho da noite. – Cain ri, sem tentar esconder a diversão que sentia ao tirar o antagonista de sua serenidade com algo tão provinciano como uma conversa.

- NÃO é ciúmes! A questão é que não gosto de VOCÊ! E essa proximidade de VOCÊ com o meu irmão, me causa ânsia!

- C.I.Ú.M.E.S. – soletrou rindo.

- Está sendo infantil de Vanice.

- EU? VOCÊ está acordando a vizinhança por que eu estou simplesmente tendo uma conversa civilizada com seu irmão, e EU estou sendo infantil.

- Ora, Cale-se de Vanice, você nada sabe sobre mim ou o que faço.

- Mas nunca tive a pretensão de determinar quem você é ou deixa de ser, estou dizendo que está se comportando como uma garotinha, só isso. Isso não implica NECESSARIAMENTE que você seja SEMPRE uma garotinha, apesar de eu não duvidar.

- Eu vou ESGANAR você, de Vanice!

- Ah-Ah! – Luka se interpõe entre Alexis e seus olhos faiscantes de ódio e Cain e seu sorriso convencido. – Você não vai nada, você vai ficar quietinho como um bom diplomata e levar esportivamente o comentário de nosso IMPORTANTE ALIADO POLÍTICO...

- Ah, como você tem sorte de ser necessário para a minha casa, imortal...

Cain ri. – Realmente tenho muita sorte, pois posso insultá-lo livremente como sempre quis fazer.

Alexis fecha as mãos em punho, inalando irritadamente o ar ao seu redor, que parece esquentar com sua raiva.

- Agora é melhor que você vá, Cain. Não é bom que sua casa fique sem você por muito tempo.

- Claro... Tem razão. – ele sorri, doce e simpático. – Nos vemos em breve filho da noite.

- Até. – ele acena, plácido.

Cain entra em seu carro prateado e sai pela estrada com os faróis altos e ofuscantes ligados, Luka suspira e guia o irmão tenso e irritado porta a dentro, fechando delicadamente a porta enquanto o irmão arremessa um dos vasos de porcelana fina em sua direção.

- Não se atreva a me humilhar dessa forma na frente de um de Vanice, Lukariel! Não se atreva ou terei de usar minha autoridade enquanto seu mestre!

Faziam quase setecentos anos que Alexis não se referia ao irmão pelo nome real, e não pelo apelido, estava tão acostumado com o tratamento pelo apelido, que quase havia se esquecido que este na verdade era seu nome.

Luka pegou o vaso no ar, repousando o objeto sobre uma das mesas.

- Eu entendo, mas foi por um bem maior. – disse contendo sua diversão com a irritação do irmão por não ter mais o controle total sobre sua vida nas mãos.

Alexis se atira no sofá respirando fundo, correndo as mãos tensas e doloridas pelo rosto... Estava exausto por muitos motivos, não se lembrava de ter caçado tantos mestiços em sua vida, sentia-se moído e esgotado, além de muito mal humorado, por não estar exercitando ser predador interior.

Mas não sentia mais a mesma ânsia predatória correndo em suas veias, mal conseguia lembra-se dos humanos na verdade, estava completamente absorvido pelos problemas de sua casa, e nunca estivera tão temeroso por um cataclisma desde a última guerra... Via-a muito claramente, diante de seus olhos, quase uma verdade incontestável... Ah, como queria que os humanos não soubessem de nada... Que pudessem resolver isso sem que os originais fossem envolvidos.

O irmão se sentou ao seu lado, olhando-o com indiscrição e tranquilidade, o mesmo olhar que teve durante todos os anos de conhecimento que tinham, era seu melhor amigo... Talvez o único, não havia ninguém com quem se identificasse tanto, e de certa forma, sentia-se idiota por estar tão ligado ao irmão, que via como o único que sabia o que era estar em seu lugar.

- Está cansado, faz dias que não dorme... Ouça, vá tomar um banho, durma um pouco, saia, vá caçar... Desligue-se do trabalho por algumas horas. Ou não estará em condições de lutar quando chegar a hora.

- Não posso, tenho obrigações, tenho responsabilidades... Sou um Lorde, prometi cuidar de minha casa até meu último suspiro... Tenho tanto a fazer, nem mesmo consigo pensar em me alimentar, mal tenho fome, estou preocupado com Evan...

- Eu posso segurar as pontas até você voltar, se não estiver em condições, não será útil.

Um suspiro exausto. - Eu serei rápido.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo.
Olá gente o/
Bem, eu voltei às aulas, e agora vai ser muito corrido, então não se desesperem, eu não abandonei nada, eu só estou sendo uma aluna desesperada, ok?
Me digam o que axaram o/



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