Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 13
Capítulo 13




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Alexis permanecia deitado, agora já não mais dormindo, o sono havia sido varrido de seu corpo quanto mais próximo de escurecer chegava.

Ele ouve o som suave da porta se abrindo... Mas não parecia ser seu irmão...

E estava armado.

Silenciosamente ele senta na cama e abre a gaveta lateral, quatro pequenas facas de prata estão lá dentro, polidas até quase a transparência, suas empunhaduras eram talhadas em madeira, com os detalhes das iniciais de Alexis talhadas dos dois lados.

Separando duas em cada mão ele levanta e vai até a sala.

Três mestiços...

Ele só precisa de um.

- AH~! – a faca queimava como se estivesse em brasa, num ponto de suas costas onde ela não alcançava, parecia estar rasgando sua pele, rasgando em minúsculos pedaços, como se pingassem ácido.

Os outros dois olharam a garota sofrendo as ações da saliva corrosiva de seu pai, queimando, envenenando, matando lentamente seu corpo. O olhar de nenhum deles demonstrou qualquer complacência, não iriam ajudá-la.

- Fique atendo, ele sabe que estamos aqui.

Alexis caminha pela sala, atravessando a extensão de tapete até o segundo como se fosse um vulto, uma rajada de ar.

Pegando o outro pela cabeça e torcendo seu pescoço, o som dos seus ossos quebrando encheu a sala, soltando o seu corpo inerte no chão Alexis voltou sua atenção ao terceiro deles, o único de quem precisava pra conseguir informação.

O mestiço agora suava frio.

Pegando a segunda das facas, ele lambeu a extensão da lâmina fria e segurou-a pra baixo.

- Posso ser rápido ou muito, muito demorado. Ninguém vai te ouvir gritar, as paredes são a prova de som.

Um sorriso mortal se abriu nos lábios dele, seus olhos prateados cheios de repulsa pelo mestiço que invadiu sua casa, era uma afronta.

- E-Eu fui mandado aqui pra-...

- Me matar? Mandar uma mensagem? Demonstrar sua superioridade diante da minha raça?

O rapaz ficou em silêncio.

- Tem mais alguma coisa a dizer?

- Tenho...

- Hum?

- Diga ‘X’.

O garoto puxou uma câmera e apertou o botão, disparando quatro flashes luminosos nos olhos sensíveis de Alexis. Ele soltou a faca que tinha nas mãos cobriu os olhos com as mãos, sentindo sua retina queimando com a luminosidade, sentiu as lágrimas vermelhas escorrendo dos cantos de seus olhos, ardendo e deixando-o atordoado.

E com mais raiva.

- Sua criatura maldita!

Suas pupilas estreitaram, enquanto as pequenas gotas de sangue escorriam de seus olhos feridos, deixando-o mais lento, mas não menos eficiente.

Ele puxou o garoto pelo braço, fincando os dentes em seu pescoço.

O contato direto com o veneno de seu progenitor começou a queimar sua pele, fazer ferver o seu sangue, e em pouco tempo o cheiro de carne queimada e o som dos gritos agoniados do garoto encheram a sala.

- Ah~!

Isso é...

Voltando sua visão turva pra porta, Alexis pode visualizar o contorno de sua presa correndo pelo corredor. Ele imediatamente solta o garoto que por si só iria se consumir, e sai atrás da garota histérica que agora descia as escadas em disparada.

- Droga...

Sua camisa está manchada de vermelho, o sangue escorria pelos cantos de sua boca, havia pequenos rasgos provenientes das unhas do mestiço que tentava se soltar, e seus olhos sangravam pela exposição com a luz.

Parecia um monstro assassino.

Absinthe parou na porta da frente, suas mãos trêmulas não a ajudavam a abrir a maçaneta fechada apenas por um trinco simples.

Estavam sozinhos no térreo vazio do prédio.

Ele a puxou pelo braço, colocando contra a parede, ela estava indócil e não parava de tentar se soltar.

- Pare com isso ou eu quebro o seu pescoço! – a dor o estava deixando impaciente.

Em choque ela parou de tentar se soltar, e seus olhos verdes cheios de pânico o encararam, no mais absoluto desespero, ela tinha certeza que ele a mataria.

Ofegante ele olhava para o chão, tentando fazer com que no mínimo seus olhos parassem de sangrar.

- Eu não vou... Tentar te convencer... Que eu não sou um assassino... – ele tentava desesperadamente tomar fôlego, mas o sangue do mestiço começava a lhe dar indigestão. – Só entenda... Que se contar a alguém... Eu vou matar você... E todas as pessoas pra quem contar... Isso eu juro... – ele voltou seus olhos turvos com sangue na direção dela, pingando pequenas gotas vermelhas em sua camisa.

Os olhos de um predador.

Ela somente o encarava, tremendo no mais absoluto terror.

- Se me entendeu balance a cabeça.

Fracamente, ela balançou a cabeça.

Ele a soltou e se afastou, afastando-se até uma sombra próxima, sentando-se no chão, encostando-se na parede e jogando a cabeça pra trás.

Estava enjoado, o sangue do mestiço não era processado, e ficava rodando em seu estômago como se fosse veneno.

Se apoiando na parede ele voltou pra escuridão do corredor de onde veio, subindo de volta ao seu quarto, onde só restavam pilhas de cinzas onde os corpos dos mestiços estavam.

Ignorando tudo isso, ele foi até o banheiro pra vomitar, tirar aquele monte de porcaria de dentro de si. Tomar banho e trocar de roupa pra tirar aquele cheiro asqueroso de mestiço do corpo, jogar aquelas roupas na lareira, passar aspirador no tapete, e por fim jogar um pouco de sal nos olhos, pra que ele parasse de sangrar.

Esgotado e dolorido, ele ligou para o irmão.

- Luka...

- Credo, o que aconteceu? Você está com uma voz horrível!

- Preciso que você tranque a humana.

- Por quê...? – sua voz estava séria.

- Ela viu.

Ele fecha o telefone e joga no sofá em frente a si, deitando em sua cama, sentindo dor e desconforto no corpo quase todo.

***

Esquecendo-se do carro no meio da rua, abandonando a chave no meio da sala do térreo e voltando pra casa correndo, a pé, Absinthe não presta atenção no cansaço que abate todos e cada um de seus músculos, a respiração forçada e entrecortada.

- Monstro... Aquilo não existe... Assassino...

Vampiro.

O medo e o pânico invadiam cada célula de seu ser, injetando cada vez mais adrenalina em sua corrente sanguínea, cada vez mais, fazendo seu coração martelar no peito tão alto que seus ouvidos, aguçados pelo instinto de autopreservação, escutassem as batidas aceleradas.

Corra! Corra mais! Corra pra casa! Corra até a segurança!

NÃO PARE!

Disparando até em casa, ela tremia, a chave da porta não encaixava na fechadura, lágrimas ardiam em seus olhos, a água borrava sua visão.

Quando finalmente a fechadura abriu, ela se jogou dentro de casa, batendo a porta atrás de si, trancando todas as fechaduras, subindo até seu quarto, batendo a porta, trancando a porta, as janelas, fechando as cortinas e se encolhendo em um canto, trêmula, com todas as suas almofadas, chorando baixinho.

Meia-noite, cinco horas desde o incidente, cinco horas desde que o horror pareceu preenchê-la... Nada veio atrás dela... Nada quebrou a janela, arrombou a porta... Talvez... Nada estivesse vindo atrás dela.

Ainda incerta, ela ouve o som de um carro abrindo e fechando a porta, então a campainha toca. O som da campainha gelou a espinha, a primeira palavra que veio a sua mente foi:

Alexis.

- NÃO! – ela levanta e vai tropeçando até a porta, quase rolando a escada.

Sua mãe falava com alguém na porta. Absinthe se atirou em sua mãe, jogando-a pro lado.

- SAI DE PERTO DELA SEU-... Luka?

- Filha, você está bem? – Emma perguntou, piscando seus longos cílios postiços.

Ainda incerta ela parou alguns passos pra trás.

- Luka... O que faz aqui?...

Ele levanta a carteira dela, com uma expressão de surpresa.

- Está... Tudo bem?

Ela o observava, ele tinha as mesmas características de Alexis, os olhos, os dentes... Tentou imaginá-lo com todo o sangue e os olhos brilhantes...

- Mãe... Pode nos dar licença um minuto?

- Claro. – Emma se dirige a sala de jantar, com seu passo rebolativo.

- Não. Lá pra cima.

- Tudo bem...

Emma sobe lentamente as escadas, fazendo as contas brancas de seu vestido tilintarem.

- Feche a porta.

- Está tudo bem, filha? – ela para na escada, olhando-a com preocupação.

- Está. – estas palavras custaram a ser processadas na mente de Absinthe.

Ainda na incerteza se ela dizia a verdade, Emma encosta a porta num clique suave.

- Não vou ficar de rodeios Absinthe. – Luka começa, tirando as luvas brancas que usava. – Você viu o que não devia, e assim não pode ficar.

- Então apague a minha memória! Use algum truque da mente de vampiro e me faça esquecer!

- Vampiro não. Filho da noite. Somos muito mais civilizados e conscientes de nossos atos.

- CIVILIZADOS?! ENTÃO ME MOSTRE A CIVILIDADE POR QUE EU NÃO VEJO NENHUMA!

Luka estreita o olhar.

- Abaixe esse tom de voz, ou eu rasgo sua garganta, garota.

Absinthe sente a espinha gelar quando as pupilas de Luka se alongam numa fina linha vertical.

- Não existe mágica de vampiro. Só posso controlar alguém que tenha o meu veneno correndo nas veias.

Absinthe da alguns passos pra trás.

- Se eu quisesse matá-la não teria nem batido na porta. Não é meu objetivo... Pelo menos não inicialmente. – ele deixa a carteira dela sobre a mesinha. – Só seja boazinha e me escute antes de começar a fugir, tudo bem pra você?

A uma distancia “segura” ela assentiu, a testa franzida e a expressão defensiva.

- Tanto eu como Alexis somos os senhores da primeira geração de seres que andou sobre a Terra, nós éramos um dos cinco poderes que vivia em harmonia, estabelecendo relações de antagonismo pacifico.

 Absinthe o seguir fixamente com os olhos enquanto ele se sentava confortavelmente no sofá e cruzava as pernas.

- Alexis e eu representamos os guardiões de nossa família, os filhos da noite, criaturas de olhos prateados, intolerantes a luz solar, de sentidos apurados e instintos muito primais.

Ao ver que ele não parecia ter a intenção de se mexer, ela se deslocou um pouco mais pra trás, colando na lareira atrás de si.

- Alexis carregava consigo o peso das grandes decisões, relações diplomáticas e ações bélicas. – ele suspira e olha o fogo atrás de Absinthe. – Mas então veio e primeira grande guerra... – ele então volta seu olhar na direção da lâmpada. – Os humanos se corromperam na ânsia por poder... E se voltaram contra os outros poderes...

Luka olha o fogo estourar e crepitar com intermitência de um ser vivo, com movimento próprio.

- O pandemônio e o caos se espalharam pelo planeta, e movidos pelo ódio, quase nos matamos... Até restarem apenas sete de nós... – um suspiro pesado. – Quando a guerra acabou, nós novamente nos unimos aos humanos, e infelizmente, descobrimos que na humanidade, haviam mulheres capazes de suportar a genética de um filho da noite. Foi ai que surgiram o que você chama de vampiro.

- Espera... Vampiros, vocês que criaram eles?

- Essa combinação criou uma maneira de misturar a nossa genética com a humana, e a mordida passou a ser um contágio de uma doença infecciosa...  E o que eu chamo de mestiço começou a habitar a terra, vivendo nas sombras, seres decadentes e imundos, sem nenhum sentimento, consciência... Puramente animais. Animais que nós NÃO somos! Pode dizer e pensar o que quiser, mas NUNCA ouse nos colocar no mesmo patamar que aquela raça.

- Eles não... Pensam...?

- Só agem por instinto, e o desejo por sangue cresce, e cresce, e cresce... Quando perdem o controle, nós estamos lá, e expurgamos suas existências da face da Terra.

- O que...?

- Por nossa irresponsabilidade e impulsividade nasceram essas feras, e é por nossas mãos que eles hão de morrer.

- Mas vocês também... Bebem... Você sabe...

- Sangue? Claro. Um dos poucos alelos que ainda compartilhamos com nossos filhos, mas nossa sede é muito menor, precisamos nos alimentar a cada três ou quatro dias, menos se nos desgastamos demais.

- E vocês... Matam?

- Muito raramente. Só matamos em casos extremos, geralmente usamos pessoas aleatórias. Eu particularmente prefiro manter familiares, eu mato com mais frequência.

Absinthe engole seco.

- Entenda, eu não mato por prazer. Meus familiares têm doenças terminais, síndromes incuráveis ou tem tendências de desejo suicida.

- Como você sabe...?

- Moro numa boate. Todo tipo de gente passa por lugares assim.

- O que é um familiar?

- É um humano que vive junto a um filho da noite, e lhe fornece sangue quando ele precisa.

- Sangue...

- Só lhe incomoda por que você não consome, e por que é VOCÊ que fornece, eu duvido que você fique tão chocada quando come carne.

Ela o observa de repente surpresa.

- Eu sou muito menos assassino que você. Não preciso matar ninguém pra sobreviver, a culinária de vocês mata, tortura e mutila todo tipo de criatura viva, VOCÊS vivem de morte, NÓS vivemos de doação.

Ela sente ter levado um tapa de cada lado do rosto.

- Eu só pego o que preciso, e então não resta nenhuma memória do processo, que aliás é muito prazeroso. Você segue vivendo normalmente como se nunca tivesse me encontrado. Você pode dizer o mesmo da SUA comida?

- Eu-...

- EU sou o monstro, mas foram VOCÊS que começaram a guerra, VOCÊS que nos caçaram, VOCÊS que matam sua própria raça, VOCÊS que assassinam sua fonte de vida, VOCÊS que matam todo o que tem vida pra tirar tudo o que é possível dela, VOCÊS que destroem habitats inteiros com seus resíduos, VOCÊS, não EU. – ele apoia a cabeça nas mãos. - E depois o parasita sanguessuga sou EU, não VOCÊS.

Ela o encara atônita.

- É curioso ver como os papeis se invertem, não é? – um sorrisinho sarcástico.

Ele levanta, ela da um pequeno salto de surpresa, estava acostumando-se a vê-lo lá parado.

- Vamos. – ele recoloca as luvas.

- Pr-Pra onde...?

- Te contei a minha história, acha mesmo que vai ficar por isso mesmo?

- Calma, está pensando em me levar com você?

- Não estou pensando, eu VOU levar você comigo.

- Eu não quero ir!

- É melhor que venha comigo, eu detestaria ter de apelar pra ignorância. E acredite, está mais segura comigo.

- ... Me de uma boa explicação.

- Por que se Vincent te encontrar ele vai te transformar numa mestiça pra irritar Alexis, e ai eu serei obrigado a te matar pra acabar com o sofrimento de ser um ser tão repulsivo quanto um mestiço. – ele disse tudo isso sorrindo.

Ela engole seco, seu sangue pulsa rápido nas veias, ela ainda os teme... Mas... Será que existe escolha?

Um suspiro frustrado exala dos pulmões de Luka.

- Absinthe, você pode não me entender agora, mas terei de mudar meus termos... Infelizmente.

- O que... quer dizer?

- Se não vier comigo, eu matarei sua mãe. – ele diz, o pesar em ter de usar esse tipo de argumentação, detestava o uso de força ignorante para convencer os outros do que queria.

Porém nesse caso, não havia muito tempo, e ele ainda tinha que ajudar seu irmão com a guerra que se aproximava.

A diplomacia teria de ser dispensada nesse caso.

Absinthe ficou branca.

- Eu vou. - ela disse, temia que ele dissesse a verdade, e seria demais viver sabendo que ocasionou a morte de sua mãe.

- Então vamos.


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Notas finais do capítulo

Olá! o/
Tudo bem leitores? ^^
Esse é o último capítulo que vou postar essa semana, e talvez na próxima também. :(
Espero que gostem desse, eu fiz bem longo, tem umas 11 páginas.
Eu disse que ia rolar encrenca XD
E ai? O que acharam? :D