Moi Et Mes Voisins Gangsters escrita por Meg_Muller


Capítulo 3
Attaqué




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Loiro de cabelos curtos com olhos castanhos delirantes com um sorriso tão receptivo quanto traiçoeiro. Jean entrou cumprimentando-o com um tapa no braço enquanto eu ficava parada embriagada como uma pré-adolescente perto de cupcake.

-Oliver... – Murmurei em um tom mais dócil do que eu pretendia.

Talvez os acontecimentos a seguir não façam tanto sentido sem certas informações que eu preciso conceder antes de começar, então voltemos ao meu belo apartamento em um dos melhores bairros de Brasília.

No momento feedback acho que paramos no momento em que eu ainda acreditava no Oliver como meu destino. Futuro marido e tudo mais. Talvez eu meio que ainda acredite... mas as coisas ficaram meio complicadas depois de uma tarde muito nublada pra um domingo.

“Tinha dormido a manhã inteira e saído pra almoçar com uns amigos da faculdade. Nada muito emocionante, as mesmas carinhas de sempre, as mesmas críticas aos professores e até as mesmas piadinhas. E olha que eu até acho tolerável um tempo com eles.

E como provavelmente já perceberam há algum tempo eu fico entediada com facilidade, a não ser que minha atividade envolva certo par de olhos castanhos que só na minha imaginação já transformava o almoço em algo mais plausível.

Com isso dito está justificado eu ter deixado passar o convite pro cinema que eles me fizeram. Eu iria pra casa ver o meu filme favorito: as imagens gravadas pela câmera escondida na minha porta. Eu sei. Meu amor beira a doença. Fazer o que?

Sai do restaurante e fiz o caminho de sempre pro meu apartamento sob protestos dos que almoçaram comigo, que não entendem como alguém que fala tanto como eu consegue ser tão anti-social. Devia ter respondido: Não sou anti-social, vocês só não são um grupo social que me causam um interesse maior do que os meus vizinhos. Mas era melhor não arriscar, já era difícil o suficiente sendo a única stalker.

Imagine se alguém dali resolve se candidatar como perseguidor também? Não. Eles eram exclusivos. E meus. Por mais que eles ainda não soubessem disso.

Agora eu tinha uma coleção de coisas que eu passava o dia avaliando. Quebrei algumas leis que envergonhariam qualquer outro estudante de direito, mas os fins justificam os meios, certo? E olha só, ainda teríamos histórias legais pra contarmos pros nossos filhos sobre como o papai conheceu a mamãe. “A mamãe perseguia o papai, filho. Ela roubava minhas correspondências, filmava o papai dentro e fora de casa e ainda remexia no meu lixo.” Fofinho, não?

Ah é, esqueci de mencionar a parte que eu vi que todos tinham saído com malas e quando anoiteceu corri até o Emanuel (Não lembram o porteiro?), e disse que sentia cheiro de gás vindo da casa deles.

Acabamos arrombando o apartamento e quando o Emanuel saiu pra arranjar outra fechadura pra porta, que a original tinha sido quebrada em um momento de “urgência”, lá fui eu com minha outra câmera escondida, não se preocupem que eu sou uma moça descente então eu apenas coloquei na sala.

Essa câmera até então não tinha captado nada interessante, e na minha ignorância pessoal nem passou pela minha cabeça colocar algo que captasse o áudio, coisa que eu me arrependi amargamente na semana anterior.

Hoje chegaria e assistiria todo o final de semana daquela sala de estar e isso seria ótimo, meus programas de domingo á tarde, o que foi? Lembra que dizem que todos têm sua própria versão de felicidade? Pois então.

Só que não aconteceu nada do jeito que eu planejei. Quando virei à chave na fechadura do apartamento só precisei dar uma volta, isso não é motivo pra tanto drama, mas eu realmente senti um frio na barriga quando isso aconteceu. Eu praticamente nunca esquecia.

Nem precisei entrar pra perceber algo errado, senti uma mão contra a minha boca e outra na minha cintura. Ela tinha uma luva de borracha que tornava o atrito entre a mão dele e minha pele dolorido e eu até tentei re rebater e tudo em vão, já que nem quem me segurava eu sabia pelo breu que estava minha sala.

-Eu vou fazer isso rápido. – Ouvi uma voz seca perguntar sem conseguir visualizar um rosto me deixando em um desespero inédito pra mim. – Pra quem você trabalha?

A essa altura eu já tinha percebido que seria em vão me rebater contra o corpo masculino forte atrás de mim e apenas me mantive imóvel. Senti a mão soltar minha boca e nossa, como aquilo ardeu, tipo muito mesmo.

Ah é, nesse momento eu não respondi nada, eu farei o que qualquer uma na minha posição faria, gritei com todo o ar e força que eu tinha, eu gritei.

-Porra, guria!

Ouvi alguém falar e logo depois senti algo atingir meu pescoço não demorando muito pra não sentir mais nada.

Sabe que é nesse momento que eu penso porque os apartamentos mais caros são os que têm as portas mais grossas, e mais eficientes pra abafamento de som. Quero dizer, quanto mais rico você é maior a probabilidade de acontecer coisas ruins então não devia ser legal ter tudo o que acontece no seu apartamento abafado por paredes e portas grossas. Bom, só minha opinião particular.

Voltando a história em algum momento eu acordei. Agora não era mãos e sim uma fita na minha boca, o que devo dizer era igualmente desconfortável e eu ainda ficava imaginando o quanto arderiam quando puxassem. Mas tudo bem, eu já tinha depilado na cera, eu agüentaria aquilo.

-Eu só quero saber pra quem você trabalha. – Ouviu outra voz perguntar e agora agradeci pela claridade. Ele era alto com cabelos castanhos e olhos que beiravam o negro. Bonitinho, devo reconhecer. – E se gritar... – Esse é o momento que ele completa a frase me mostrando uma lâmina e eu sinto minha pupila dilatar. Puta merda. Retiro o bonitinho.

Apenas acenei com a cabeça enquanto observava ao redor. Estava na minha sala que estava mais bagunçada que o normal. Podia reconhecer praticamente todo o arsenal, que mantinha escondido que tinha qualquer relação com os meus vizinhos. Lixo que eu considerava útil. Correspondências e a televisão ligada em uma das cenas que ocorreram na sala deles.

E o ex-bonitinho não estava sozinho, ainda tinham mais dois homens encostados na parede vestidos de preto e calçando coturno, com literalmente o pé na minha parede. Eles provavelmente não sabiam o trabalho que dava pra tirar aquelas marcas.

Senti a fita na minha boca ser arrancada de uma vez sem cerimônia dizendo um “Ai” mais alto do que eu devia pelo olhar do que estava na minha frente.

-Agora responde logo. – Ele perguntou seco como antes. – Pra quem é?

-Como assim? – Eu juro que nem sabia do que ele estava falando, mas ele provavelmente não concordou levando em consideração o tapa que ele me deu ao me ouvir.

O gosto de sangue na boca é horrível, é ruim quando você cai de patins e machuca o lábio e fica lambendo a feridinha sentindo o gosto de ferro. Mas dessa vez era diferente. O gosto estava dentro da minha boca inteira e eu até conseguia engolir um pouco. Não foi uma das melhores sensações que já tive. E a dor do lado esquerdo do meu rosto também não ajudava.

-Tá maluco? Eu não trabalho! Nem estágio eu tenho! Não sei de que diabos ta falando! – Eu era bem ingênua naquele momento, mas imaginem vocês, ter seu apartamento invadido e um louco que te amarra, te bate e ainda deixa os amigos colocarem o pé na sua parede.

-Certo, vou tentar mais uma vez. – Ele meio que sussurrou suspirando. – Os Chevalier. Pra quem você fornece as informações?

-Pra ninguém, não sei mesmo do que você está falando. – Ele ainda não havia se convencido da minha veracidade nas palavras e lá veio um murro dessa vez na direita. Senti meu maxilar deslocar e uma dor absurda me fazer gemer.

-Eu estou perdendo a paciência. Olha tudo isso, eu só quero o nome, garota. Só isso. – Ele murmurou e eu já quase não enxergava nada direito, eu sei que não foram muitos golpes, mas chequem minha ficha, eu era nova nisso e pelo meu maxilar provavelmente fora do lugar ele não era.

-Eu não trabalho... eu estudo direito na faculdade federal e nunca... – Eu estava falando com pausar pra respirar e tentar impedir que o sangue escorresse livremente pela minha boca. – Eu não... tenho nomes...

Vi o brilho da lâmina e quando imaginei que aquilo seria o fim, sendo que eu nem sabia o motivo do começo ouvi batidas nervosas na porta. Não sei a reação de nenhum deles a isso porque não estava mais em condições de levantar a cabeça.

Ouvi o ranger da porta abrindo e de repente uma voz conhecida invadir o local.

-Que diabos acham que estão fazendo? – Era o Oliver e eu realmente me esforcei pra levantar a cabeça e fitar aqueles olhos castanhos mesmo sabendo que eu não estava no auge da minha beleza com os prováveis hematomas.

-Isa, céus, você... não é claro que não está bem, que diabos há com vocês!? – Essa voz era bem mais desesperada que autoritária e eu senti a figura do Enzo se aproximar de mim e tocar meu rosto. Eu gemi e ele retrocedeu o processo praguejando.

Esse é o máximo que eu consigo lembrar antes de apagar. Pela forma que eles entraram eles não eram os heróis com armas e frases feitas que eu esperava ver, eles conheciam quem estava na sala comigo e em um momento de blackout como aquele eu só me perguntava por quê. E novamente eu voltava ao começo. Eu era só mais uma boba no lugar errado, na hora errada fazendo algo não tão certo.

(... horas desacordada...)

Quando eu abri os olhos novamente não era mais o meu apartamento. Estava em um quarto limpo e organizado demais para ser meu, móveis claros e ambiente sereno. Tentei sentar e pensei que a minha cabeça fosse explodir.

Ainda sentia meu rosto variar entre arder e doer e minha boca ainda continha aquele gosto de sangue. Passei a mão pela minha boca e maxilar e eu pude sentir algo cobrindo, tinha sido tratada e provavelmente tinham colocado remédio na minha boca também pra justificar o gosto amargo.

Acabei conseguindo sentar sentindo a dor de cabeça ir passando aos poucos, depois de alguns minutos só restavam às dores absurdas no rosto e os flashes começaram a vir. Olhei o ambiente em volta de novo me perguntando se realmente estava, onde eu suspeitava estar.

A cama de casal onde eu estava era enorme. Completamente branca desde a cabeceira até a o edredom que a cobria. Os últimos que me lembro de ter visto eram Enzo e Oliver então não era tão difícil de prever em qual apartamento e eu estava e nesse pensamento levantei em um rompante da cama.

Atravessei um corredor e cheguei a uma sala definitivamente conhecida. Por deuses. Eu estava no apartamento dos vizinhos. Pela primeira vez sem inventar uma desculpa esfarrapada e invadir. Mas tinha que voltar aos fatos. Tinha sido agredida sem motivos e maltratada há algum tempo atrás.

-Isa... – Ouvi um moreno de belos olhos azuis murmurar olhando pra mim com um olhar penoso. – Que bom que acordou...

-Que diabos aconteceu? – Perguntei sem pensar duas vezes em um tom bem mais ríspido do que eu sempre usara com ele enquanto eu procurava pela sala um par de olhos castanhos encontrando ao invés disso o de Bruno.

-Você aconteceu problemática. – Ouvi a voz desconhecida comentar fitando Bruno que agora se aproximava de mim, maldito pirralho. – Tem merda na cabeça pra colocar uma câmera aqui!? E correspondência, sua retardada! Isso é crime!

-Bruno você não... – Ouvi Enzo tentar acalmá-lo, mas agora nem eu queria que ele calasse a boca.

-Crime!? Quer falar de crime agora!? Que tal sobre aquele caras que invadiram meu apartamento, me amordaçaram, me bateram e ainda ficaram fazendo perguntas sem nexo! E vocês conheciam, ok! Eu sei que sim!- Eu praticamente gritei e ele não pareceu ter nada a dizer e Enzo engoliu seco, enquanto a única resposta que eu tive veio do corredor atrás de mim.

-Nós pedimos nossas sinceras desculpas quanto a isso. – Oliver, era ele com certeza. Não virei pra que a raiva que eu estava sentindo se transformasse em nada em segundos. Precisava me manter firme e não me distrair com a beleza dele. Eu tinha sido seriamente agredida e ainda nem sabia por quê. – Recolhemos tudo do seu apartamento referente à nossa família e jogamos fora, espero que não se importe.

-Quanto a isso... – Tentei começar e reconhecer um pouco da minha culpa já que agora eles também sabiam das leis que eu tinha infringido só pra persegui-los.

-Não se preocupe Isa – Enzo murmurou em um tom até bem amável. – Sabemos que você não fez nada daquilo por mal, somos amigos, não é?

Na verdade sim, por fim eu e o Enzo tínhamos o que podia se chamar de amizade. Saímos algumas vezes e ficávamos horas conversando porcaria nas ultimas semanas. Ele me conhecia. E agora eu percebia que mesmo com todas as câmeras e invasão de privacidade era eu quem não o conhecia. Ou melhor. Os conhecia.

-E também recolhemos a suas. – Essa frase do Oliver me fez finalmente olhar pra ele incrédula. Que diabos ele tinha falado sobre as minhas coisas? – Acho mais seguro não ficar naquele apartamento por um tempo.

-Você acha o que? – Eu tentei e ele não respondeu por causa do telefone que tocava na hora mais inoportuna possível. Agora eles deixavam algum conhecido me agredir e me faziam me mudar da minha casa?

Ele foi atender ao telefone e eu vi o Enzo se aproximar com uma passagem só de ida pra França.

-Pense nisso como férias gratuitas na Europa, Isa.  – A frase de Enzo é uma das únicas coisas que ainda me lembro direito.

Minhas malas já estavam prontas, a passagem comprada e ninguém me deu a oportunidade de perguntar novamente o que estava acontecendo. Algo muito sério envolvia aquela família, isso eu sabia.

E por fim eu acabei aceitando e embarcando no mesmo dia.

“Ela sabe demais temos que fazer algo a respeito.”

É a ultima coisa que eu lembro o Oliver falando e não foi nem pra mim. O Bruno emburrado olhando pra mim com desprezo e Enzo tentando me fazer me sentir bem em meio a todo aquele caos.

Eu só sabia que agora teria que ir pra Europa e que não era bem opção, já que aparentemente minha vida dependia disso.”

E agora ali estava eu, uma semana após os fatos ocorridos com as feridas já curadas. Olhando fixamente pros olhos castanhos sem saber o que dizer. O vi abrir a boca pra dizer algo, que bom, ele ia se responsabilizar pra deixar o momento menos constrangedor.


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Notas finais do capítulo

Aeeeee, enfim postei.

Valeu, valeu, valeu a todas as reviews e a todos que acompanham... de verdade. Fiz esse capítulo pra acabar com o buraco entre o primeiro e o segundo capítulo e no próximo já começa tudo o que eu tenho planejado =)

O legal é que ela ainda encontra os agressores de novo, que como vocês podem suspeitar tem e muito a ver com a família.

O que acharam de tudo o que aconteceu? Do sobrenome da familia do Ollie? E bom é isso, falem tudo o que quiserem e como sempre... censura zero. E ah, eu tentei por muito mais virgulas esse capítulo! De verdade!

Bjoooo e espero saber o que vcs acharam =)