Moi Et Mes Voisins Gangsters escrita por Meg_Muller


Capítulo 2
Salut


Notas iniciais do capítulo

Salut - Oi

Traduções das poucas expressões em francês no final.

Qualquer diferença com o capítulo anterior lembre-se que houveram cinco anos de intervalo entre os dois na vida da autora, ok?

Enjoy :)



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Tudo o que eu queria era o convencional, é o que eu continuo repetindo pra mim mesma o tempo inteiro na esperança de que em um momento qualquer eu realmente acredite nisso. Que tipo de pessoa adora o normal e o habitual se lança em uma caçada frenética atrás de um cara tão enigmático quanto o Oliver? Ah é, já o conheci o suficiente pra esquecer o apelido carinhoso que eu usava baseada apenas na aparência. Pelo menos até ele explicar que diabos eu fazia naquele inverno de Montreuil.

Montreuil é uma cidade vizinha a Paris que não é tão brilhante e romântica como nos filmes e a neve nem tão atraente ou “acalentadora”, completamente o oposto. Porém talvez sejam apenas as circunstâncias que me trouxeram aqui que me dão essa sensação sobre a cidade.

Nem preciso comentar que a cada ser com sobretudo preto que passa do meu lado eu fico mais propícia a um infarto precoce. E tudo isso porque depois de ficar fascinada e interessada pelos vizinhos eu decidi ficar obcecada: aquele estilo psicótico mesmo de invadir lixeiras e vasculhar por informações “valiosas”. Bizarro, deve ser a palavra pra definir minha vida amorosa.

A única coisa que passa pela minha cabeça agora são ameaças de morte, bilhetes secretos e frases soltas sem um significado concreto. Nem mesmo o Enzo parecia disposto a explicar nada antes de me dar a passagem e dizer que eu não precisava pensar porque não eram muitas as opções.

“Pense nisso como férias gratuitas na Europa, Isa”

Claro, era exatamente assim que eu pensava principalmente porque a outra opção que não incluía Paris, incluía risco de vida. Mas tudo bem, vou tentar me concentrar no positivismo (de ser positiva, não do Durkheim) e ver o melhor das coisas. Isso inclui aproveitar o lugar ao meu redor e avançar no meu vocabulário francês que é exatamente o que eu estou tentando fazer durante o meu tempo livre aqui nesse banquinho da praça.

“Salut.”

Reli tentando aprender as duas únicas expressões as quais eu tinha acesso. E é nesse momento que você se pergunta por que não fez todos os cursos de línguas para os quais teve oportunidade na sua adolescência.

–Salut. – Ouvi uma voz grave cumprimentar sentando ao meu lado.

Ótimo agora um francês qualquer acreditava que eu tinha literalmente puxado assunto com ele. Eu realmente não devia ficar dizendo “oi” em francês em alto e bom som pro vento. Olhei pro lado pra um contato visual no qual eu explicaria com um simples olhar desesperado que eu não falava francês.

–Comment t’appelle – tu?

Alto, charmoso com uma bela voz e olhos azuis inebriantes e tudo isso seria muito relevante se o que ele falasse fizesse sentido na minha cabeça confusa. Até pensei em abrir o caderno de urgência nas minhas mãos, mas o Enzo só achou que seriam necessárias duas expressões pra situações como aquela. A primeira era “olá” e a segunda eu preferia não arriscar por não ter certeza do significado.

– Je m’appelle Jean. – Ele começou apontando pra si mesmo e me fazendo raciocinar já que Jean era um nome. – Et toi? – Ele perguntou apontando pra mim.

Eu sorri por ter idéia do que ele queria dizer.

–Je sou Isabella. – Falei finalmente fazendo-o sorrir provavelmente da minha forma rude de responder. Puta ignorância.

–Joli nom. – Ele murmurou se aproximando me fazendo apenas sorrir e acenar, é praticamente uma das regras sociais mais eficientes pra se seguir quando não faz idéia do que está sendo tratado. – D’ou viens-tu?

Agora a minha cabeça literalmente rodava enquanto eu respirava fundo e tentava lembrar a única coisa sentença inteira que eu tinha aprendido a dizer. Abri o caderninho e li como ultimo recurso.

–Je no parle français – Eu tentei falhando miseravelmente já que ali estava a versão light da expressão que eu provavelmente tinha feito nos últimos minutos.

Tentei novamente adicionando uma forma de comunicação mais universal. Apontei pra mim mesma, fiz não com as mãos, apontei minha própria boca e finalmente fechei com algo mais verbal “français”.

Jean continuou com o olhar confuso me fazendo tapar o rosto com as mãos porque me fazer entender melhor do que daquele jeito não daria. Senti um alívio quando um celular tocou e ele fez um sinal com as mãos como se pedisse licença pra atender.

–Sim, já cheguei. – Ouvi ele dizer me fazendo dar um pequeno grito de susto, raiva ou os dois. Ele sabia falar português e me fazia passar por um momento desastroso como aquele? Mas ele nem sabia quem eu era então talvez não fosse proposital afinal, a culpa era mais minha por... – Sim, ela tá aqui.

Arqueei a sobrancelha olhando pro lado tentando ter certeza de que o ela era eu. Porque se fosse...

–Isabela, não é? – Ele perguntou ainda no telefone enquanto eu sentia meu sangue ferver. O palhaço sabia quem eu era e tirou uma com a minha cara sem o menor pudor. – É acho que é ela sim. Vamos sim.

Ele desligou o telefone e me olhou com um sorriso estampado no rosto.

–Mas que diabos?... – Foi só o que eu consegui pronunciar enquanto ele estendia a mão ainda sem parar de rir.

–Sou Jean e é um prazer Isabelle. – Ele falou enquanto eu ainda olhava pra mão dele confusa – Não sei como é o costume brasileiro, mas na França é feio não responder aos cumprimentos.

Apenas balancei a cabeça negativamente me dando por vencida e apertando a mão dele.

–Porque simplesmente não disse que sabia quem eu era depois que eu falei meu nome? – Perguntei simplesmente tentando não parecer muito irritada, provavelmente falhei.

–Soube quem você era desde que te vi falando sozinha. – Ele comentou levantando estendendo as mãos pra me ajudar a fazer o mesmo.

–Até o meu “oi” em francês é tão abrasileirado assim? – Perguntei levantando sem ajuda das mãos dele.

–Oi em francês se pronuncia salît e não salut. – Ele comentou casual começando a caminhar me fazendo segui-lo. Se eu sigo qualquer um que saiba meu nome? Sim, se ele falar minha língua no meio de um inverno rigoroso na França.

Acompanhei o passo lardo dele praticamente com saltos pra não ficar muito pra trás e não pude evitar de apreciar minimamente o ambiente. Saímos do parque onde a quantidade de pessoas era mínima por causa do frio e seguimos a pé pela calçada que tinha vários postes acesos apesar de não ter anoitecido ainda.

A maioria das lojas pelas quais passávamos estavam fechados e apenas cafeterias pareciam estar funcionando e assim que entramos em uma delas senti um conforto com a temperatura que me permiti um sorriso satisfeito.

Jean tirou o casaco e saiu em direção a uma mesa e eu fiz exatamente o mesmo sentindo meu sangue voltar a circular no meu corpo e meu raciocínio voltar ao normal, a minha versão do normal pelo menos.

Quando sentei finalmente comecei a processar tudo e lembrei que eu não conhecia o moreno que sorria pra mim e muito menos quem perguntara por mim no telefone, e bom eu nem sabia exatamente que diabos eu fazia na França então...

–Quem era no telefone? – Perguntei enquanto ele estendia um cardápio que eu jurei ser piada. Ele já tinha zombado da minha capacidade lingüística antes e eu tinha certeza que ele investia no segundo round com aquele cardápio sem figuras pra auxiliar.

–Bruna. – Ele respondeu simplesmente mesmo sabendo que eu não tinha a mínima idéia de quem ele estava falando o que eu deixei bem claro com minha expressão ao devolver o cardápio – Minha irmã.

–E que interesse ela teria mim? – Tentei pra ver se conseguia o máximo de informação possível de um desconhecido, porque de um conhecido estava praticamente impossível. (Que se entenda por isso os três nos quais vocês estão pensando).

–Nenhum eu acho. – Ele comentou enquanto um garçom se aproximava com um pequeno bloco de papel pros pedidos. – Quer alguma coisa?

“Saber o que estou fazendo aqui?” Era a resposta imediata, mas eu preferi ir com um simples cappuccino porque a manhã não tinha sido fácil e em respeito ao jovem trabalhador que anotava os pedidos. Assim que o garçom saiu olhei irritada pros olhos azuis a minha frente.

–Nenhum eu acho? Que espécie de resposta é essa? Eu tenho aulas importantes só que ao invés disso to tomando cappuccino em algum lugar da França te faço uma pergunta séria e você responde com esse descaso?

–Não é descaso... – Ele respondeu com a habitual irritante calma bem-humorada. – É que eu realmente acho que ela não tem nenhum interesse em você, é só um favor pro Enzo.

–Enzo. – Repeti frustrada. – Ele não se deu nem ao trabalho de me falar algo sobre o que está acontecendo ou o que eu estou fazendo aqui.

–Ouvi dizer que é porque a quantidade de informação que você reunia começou a ficar não só ameaçador pra eles, mas meio arriscado pra você.

As palavras dele causavam o mesmo efeito que quando esfregam pedaços de isopor um no outro pra mim, uma agonia indescritível que ninguém sente mesmo estando presente e que pra você é aterrorizante.

Esqueci de comentar alguns pedaços sobre todo o acontecido, porque não são coisas que eu tenha lá muito orgulho de ter feito e tudo mais. Eu infligi leis que eu estudo diariamente de varias formas diferentes: câmeras escondidas, correspondências violadas e até mesmo invasão de propriedade privada. Mas na guerra e no amor vale tudo certo? Se é que o que eu sentia podia ser chamado de amor.

E isso tudo só ficava entre eu e minha consciência até que o vendido do Emanuel se mostrou mais capitalista do que nunca e começou a espalhar boatos de que eu sabia mais do que aparentava sobre meus vizinhos suspeitos. Isso sim foi o começo da merda catastrófica, daquele tipo que tem conseqüência que você não imagina nem em seus piores pesadelos.

–Achei que fosse esperar por ele. – Jean comentou e quando eu ia perguntar “Como é?” percebi que a atenção dele não estava sobre mim e segui com o olhar com quem ele falava.

–Não sou conhecia pela minha paciência. – A voz feminina soou assim que eu alcancei a bela figura com o olhar. Ela tinha lisos cabelos negros que iam até a cintura, pele branca e olhos negros que chegavam a ser quase ameaçadores de tão intensos. Usava uma calça de couro preta e uma blusa de frio verde escarlate, acompanhados por um belo salto vermelho que eu podia jurar ser um autêntico Jimmy Choo.

–Bruna essa é a Isabela. – Ouvi o Jean apresentar apesar de ainda estar com os olhos fixos nos sapatos, na roupa, no corpo, no cabelo e nos sapatos! – Isabela essa é a Bruna.

Acompanhei com os olhos ela olhar pra mim como se enxergasse algo além do que eu mostrava e sentar na cadeira á minha esquerda.

–Achei que você fosse mais alta. – Ela falou de uma forma curiosamente não provocativa, como se apenas observasse um fato.

–Eu... – Achei que tinha algo pra dizer e acabou que minha boca estava aberta e nada saia, e como poderia eu me frustrar se essa nem era a primeira vez.

O garçom apareceu com um belo cappuccino e um café preto colocando na minha frente e na do Enzo respectivamente enquanto eu agradecia pela interrupção necessária.

–Eu vou parar por aqui... – Jean comentou enquanto eu pegava o cappuccino e tomava tentando disfarçar nas olhadas de rabo de olho que eu dava pra Bruna.

Ela era tão cheia de si, com um ar quase arrogante sem nem precisar falar ou fazer qualquer coisa. Ser fitada por ela já era ameaçador por si só.

–Parar por aqui? – Ela perguntou pegando o café que ele mal havia tido o primeiro gole e tomar sob visível protesto do ex-dono do café. – Você vai levá-la até a casa.

–Eu? E o que faz você aqui então? – Ele rebateu mostrando visivelmente que tinha algo mais importante pra fazer o que me levar pra onde quer que fosse.

–Tomo café. – Ela murmurou simplesmente já na metade da xícara que antes ele chamava de dele.

Ele bufou com um inédito mau humor pra mim e resmungou algo que eu não tinha mínima idéia do significado, mas podia adivinhar.

–Se é assim, que seja logo. – Ele falou olhando finalmente pra mim como se indicasse que a gente já estava indo.

Eu tentei apontar o cappuccino e fazer cara de difícil, mas não pareceu funcionar já que ele acenou e um garçom chegou levando meu cappuccino em segundos.

–Também não tinha necessidade disso! – Briguei porque como eu já expliquei tinha tido uma manhã difícil, cappuccino era necessidade agora oras.

–Ele só foi colocar em uma embalagem plástica. – Ele explicou ainda emburrado lançando olhares nada amorosos a Bruna. – E eu posso ao menos saber se o que vai fazer depois do café é mais importante do que o que eu ia?

–Vou a pub, mon frére. – Ela murmurou enquanto eu me perguntava o que a ultima metade significava e o garçom voltava com um cappuccino embalado pra viagem. Como são eficientes essas cafeterias francesas.

–Você paga. – Jean murmurou com um mau humor que continuava surpreendente pra mim levantando e me olhando como se me mandasse fazer o mesmo.

Antes de sair correndo atrás de um apressado Jean vi ela se virar pra mim com um sorriso e murmurar. “Bienvenue en France”, algo que finalmente eu pude deduzir o que significava e me fez sorrir de volta.

No caminho para “a casa” eu simplesmente nem puxei assunto com o que até agora continuava de péssimo humor ao meu lado. Fora que eu fazia uma leve corrida com direito a saltinhos pra acompanhar os passos gigantes que as pernas dele conseguiam dar.

–Desculpa te fazer me levar. – Murmurei finalmente depois de ficar insuportável agüentar a tensão do silêncio.- Era algo muito importante o que tinha pra fazer agora?

–Não me importo de te levar. – Ele murmurou sem parar pra me olhar.

–Parece incomodado. – Rebati agora me concentrando pra manter minha respiração que com a curta caminhada já começava a ficar ofegante. Maldito sedentarismo.

–Me incomodo com o comportamento da soeur.

–Soeur?

–Irmã, desculpa. Não se fala tanto português aqui posso misturar ás vezes.

Balancei a cabeça negativamente mostrando que não tinha importância.

–Ela tinha que fazer isso, o Enzo disse que eu te deixaria na cafeteria e pronto. Só que ela acha que o mundo simplesmente gira ao redor dela.

–Ah... mas podia ter dito não, certo?

Ele parou olhando sério e quando eu pensei que tinha falado merda ele deu um sorriso divertido.

–É... provavelmente tem razão. – Algo na voz dele me soou meio frustrante e eu realmente achei aconselhável não prolongar o assunto enquanto ele voltava a caminhar e eu a seguir do meu jeito estranho.

–Bruna não é um nome lá muito francês, né?

–Italiano.

–Porque italiano? E aliás nem perguntei sobre seu português...

Antes que eu tivesse oportunidade de continuar puxando assunto ele parou em frente a uma bela casa com um ar antigo, porém bem estruturado. Era bem séria e a porta era enorme e de madeira e antes que ele batesse vi uma figura masculina conhecida abrir a porta.

Loiro de cabelos curtos com olhos castanhos delirantes com um sorriso tão receptivo quanto traiçoeiro. Jean entrou cumprimentando-o com um tapa no braço enquanto eu ficava parada embriagada como uma pré-adolescente perto de cupcake.

–Oliver...


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Notas finais do capítulo

Tentei fazer com que a maioria das expressões em francês fossem compreendidas no contexto, mas aí está:

Salut - Oi.
Comment tappelle tu? - Qual o seu nome?
Je mappelle Jean - Meu nome é Jean.
Et toi? - E o seu?
Joli nom. - Belo nome.
Dou viens-tu?- De onde você vem?

f*** pra sair esse capítulo, se imaginem cinco anos depois retomando algo que você parasse de escrever agora. Seria pelo menos estranho, né? Pra mim foi bizarro então espero que me falem o que acharam da diferença.

Criticas são aceitas mesmo por isso não se preocupem, ok? (Pq eu tenho quase o dobro de leitores pra quantidade de reviews... não façam isso com uma pobre autora iniciante e imatura D:)

No começo não saia nada e no fim acabou ficando enorme e eu até tive que tirar um pedaço de quase 1000 palavras D: e já são quase 1:30 da manhã.

Problemas na revisão, sorry, ta de madrugada e eu confesso que não houve nada disso /o/

Bjo e me falem sobre o que acharam, o que querem, o que lamentam, o que trocariam, e como está frio hoje, ok?

=*